Receitas
do turismo cada vez menos dependentes dos principais mercados europeus
No público de 4 de Março, Raquel Almeida Correia(Aqui)
publica um bom trabalho, que o Editor brindou com um título algo enganador: “Receitas
do turismo cada vez menos dependentes dos principais mercados europeus”.
Na realidade, “Receita do turismo” refere a nossa já conhecida
Receita da rúbrica de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos, já referia em
outros posts (Aqui). É
matéria que exige o esclarecimento de alguns pontos.
*Falta
de Informação Estatística
Nunca é demais lembrar que, em 2007/2008, o Governo decidiu
descontinuar o Protocolo entre Banco de Portugal, INE e Turismo de Portugal que
permitiu a realização (entre 2004/2007) de dois Inquéritos indispensáveis para
elaborar e conhecer melhor a Rubrica de Viagens e Turismo na Balança de
Pagamentos:
-Inquérito aos Movimentos de Pessoas nas Fronteiras,
-Inquérito aos Gastos Turísticos Internacionais.
Por esta e por muitas outras,
-Portugal ocupa o 72º lugar no Ranking dos países com “Qualidade e
cobertura da informação estatística disponível para o Turismo (1).
Tudo o que sabemos e escrevemos sobre a macroeconomia do Turismo
está inquinado por esta insuficiência.
*País
de Residência e não de Nacionalidade
Toda a Economia do Turismo e as Estatísticas que a quantificam
assentam no País da Residência do Turista e não no da Nacionalidade. Este facto
tem consequências relevantes:-a Despesa dos Emigrantes Portugueses durante as suas estadias em Portugal (não as Remessas) são contabilizadas na Receita da rubrica de Viagens e Turismo,
-a repartição desta Receita por País é muito influenciada pela
Despesa dos Emigrantes – em países como França a Angola, passando pelo conjunto
de Bélgica/Luxemburgo, muita da Receita de Viagens e Turismo é gerada por
Emigrantes.
Muitas pessoas ignoram que ‘os Emigrante afinal são Turistas’ e
algumas ainda recusam a ideia, por não os considerarem qualificados para isso –
o conceito elitista de Turismo é mais forte do que imaginamos.
*Conceito Abrangente de Turismo
A referência a “Receitas do Turismo”, a propósito da Receita da rubrica de Viagens e Turismo,
-deixa em aberto, no espírito do leitor, a possibilidade da confusão
corrente com as outras “Receitas do Turismo”: os Proveitos do Alojamento
Turístico Classificado (Indústria da Hotelaria).
Nunca é demais insistir sobre-Proveitos da Hotelaria referem apenas o Alojamento Turístico Classificado,
-Receita da rubrica de Viagens e Turismo resulta da despesa de todos os Turistas, quer alojados no Alojamento Classificado quer no Não Classificado.
Mais
concretamente,
-a Receita
de Viagens e Turismo inclui as despesas de Turistas Não Residentes (Cidadãos
Estrangeiros e Emigrantes Portugueses) que alojam na Residência Secundária Por
conta Própria, no Alojamento Gratuito Por Familiares e Amigos ou na chamada
Oferta Paralela.
*Europa
e Países
A Receita gerada por Turistas Residentes em países como China, EUA,
Rússia ou Brasil deve ser compara com a gerada por Turistas Residentes na
‘Europa do Turismo Emissor para Portugal’ (2) e não com cada um dos Países desta
‘Europa’. Há razões para esta opção:
-a maior parte da Procura pela Oferta de Turismo de Portugal é
intra-europeia, por uma questão de market awareness, imagem de Portugal como
Destino Turístico e facilidade da viagem de avião de short haul – algo de
parecido ocorre com a Procura intra-EUA por estadias na Florida,
-a Procura Intercontinental por Portugal está num patamar diferente
de market awareness, imagem de Portugal como Destino Turístico e dificuldade da
viagem de avião.
Para efeito de comparação, seleccionamos os Países mencionados no
Gráfico 1, que ilustra a repartição da Receita de Viagens e Turismo pelos
Mercados Emissores da ‘Europa do Turismo Emissor para Portugal’, entre
2911/2012 (3).
Gráfico
1 – Repartição da Receita de Viagens e Turismo Pelos Mercados Emissores Mais
Importantes (Europa)
(€milhares)Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas do Turismo
Em relação à Receita total de Viagens e Turismo, este
conjunto de Países representa 79,20% em 2011 e 77.2% em 2012 – este
número ilustra melhor a realidade do que o que resulta de Espanha, França e
Reino Unido.
A diminuição de 2% entre 2911/2012 resulta da
contracção de alguns destes Mercados, no seguimento da Crise de 2008/2009 e
incapacidade das empresas portuguesas em ultrapassar as consequências da Crise.
*Possível Efeito Colateral do Artigo do Publico
O trabalho de Raquel Almeida Correia poderia apenas justificar algumas das observações que fazemos. Na realidade, o que motiva este post é o possível efeito colateral deste trabalho:
-reforçar a ideia de justeza e dinamismo de alguma
‘política em curso’, que consiste em transpor para o Turismo a tendência de
crescimento das Exportações para fora da União Europeia,
-por outras palavras, reforçar a (falsa) ideia
mainstream que ‘a Europa já foi’ e agora ‘o que está a dar é fora da Europa’.
Dito isto e fora do mainstream, os países que têm
vindo a ser mencionados para esta ‘Diversificação de Mercados’ exigem atenção
diferenciada segundo cada um deles. Há dois que, sendo diferentes, justificam a
prioridade das prioridades:
-Brasil é o caso mais importante, pelas ligações da
TAP, o hub de Lisboa, a realidade que já é e o potencial que representa,
-Angola é importante, por tudo isto e pelo interesse
em reforçar uma nova relação entre Portugal e Angola: as viagens de Emigrantes
(dos dois lados) e Turistas Residentes em Angola (enquanto não os houver de
Portugal para Angola) são cruciais para o sucesso desta relação.
Israel e a Diáspora são um caso aparte pela relação
histórica de Portugal com o Povo Judeu e pelo potencial que representam.
Dois outros países justificam atenção: a Rússia, pela
possibilidade de recuperar parte do (muito) tempo perdido e a China, onde já
estamos a perder tempo e cujo potencial para Portugal pode não ser o sonhado.
Por fim, surgem países que não podem ser ignorados (India,
vários do Médio Oriente, Colômbia), mas que não nos podem fazer esquecer o
essencial da Procura pelo Turismo em Portugal.
Albufeira 4 de Março de 2014
Sérgio Palma Brito
Notas
(1)Ver PwC
– PricewaterhouseCoopers, Desafios do Turismo em Portugal Para 2014, p. 14.
(2)O INE destaca os Países Europeus da OCDE (e separa os da União
Europeia dos Outros Países Europeus da OCDE), os Países Americanos da OCDE
(Canadá e EUA) e Outros Países da OCDE.
(3)Um problema técnico e a urgência em publicar o post conjugam-se
para impedir a indicação dos números de 2013 – esta insuficiência será
corrigida.
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