Este é o segundo post de uma
série de sete (Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto, Sétimo) sobre
Turismo em Portugal – Números de
2013 e Objectivos Para 2015
Esta Série
de posts é uma contribuição para avaliar os ´Resultados do Turismo em 2013’ e
situar os Objectivos que o Governo deve atingir ainda nesta Legislatura.
Nota – Uma primeira versão deste
Post foi publicada em 17 de Fevereiro de 2014 com o título: Turismo 2013 e Desafio
2015 – Proveitos da Industria da Hotelaria.
A 13 de Fevereiro de 2014, o INE publica o Destaque “Actividade
Turística – Dezembro de 2013”. É a primeira divulgação dos resultados do
Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria, que existe desde 1965. A ‘Hotelaria’
do INE é sinónimo do que designamos por Alojamento Turístico Classificado ou
Indústria da Hotelaria.
O presente Post
-começa por propor Uma Leitura Diferente dos Proveitos da Industria da
Hotelaria,
-continua com uma Introdução ao Inquérito à Permanência de Hóspedes na
Hotelaria, para ajudar o leitor a contextualizar a Leitura Diferente,
-termina com a base analítica do esmiuçar, e que o diferencia positivamente
em relação a uma qualquer opinião pessoal (1).
1.Leitura Diferente dos Proveitos da
Industria da Hotelaria
*Proveitos Totais do Alojamento
Turístico ClassificadoEntre 1996/2013, o Valor dos Proveitos da Industria da Hotelaria
-cresce
108.3% a Preços Correntes e 39.6% a Preços Constantes.
A Preços
Correntes,
-entre
2008/2009, o valor dos
Proveitos cai 10.2%, consequência directa da Crise,
-entre
2009/2013, a evolução dos Proveitos é positiva, com a excepção de 2012, mas
lenta porque cresce 11.1% e €194 milhões em valor absoluto,
-entre
2012/2013, o valor dos Proveitos cresce 5.5%, mas o valor de 2013 ainda é
inferior (muito pouco mas inferior) ao de 2008.
Em síntese
-o
crescimento dos Proveitos entre 2012/2013 não nos pode distrair da dura
realidade: no seu conjunto, a Industria da Hotelaria ainda não recuperou da
Crise de 2008/2009.
*Dormidas e Proveitos
Entre
1996/2013, o Índice de Crescimento dos Proveitos a Preços Constantes é apenas
pouco superior ao das Dormidas, e é ultrapassado por este a partir de 2011.
Entre
2004/2013, a evolução da do Proveito Médio Por Dormida confirma a inflexão de
2011:
-entre
2004/2008, crescimento com um incidente em 2005,
-entre
2008/2009, uma queda que é consequência directa da Crise,
-entre
2011/2013 outra queda, consequência da incapacidade da Industria da Hotelaria
em recuperar da Crise.
Esta
análise deve considerar possível margem de erro dos números do INE e ser
detalhada a nível Regional, por Tipo de Empresa e Estabelecimento. Reconhecido
isto,
*Proveitos Totais a Preços Correntes
Por NUTS II
A análise
da Repartição por NUTS II (2002/2013) dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria
a Preços Correntes ilustra uma realidade conhecida da Procura/Oferta de Turismo
mas não suficientemente tida em conta:
-Algarve e
Lisboa são dois casos casos à parte,
-Norte e
Centro apresentam valores que os diferenciam do Alentejo.
Estas realidades
regionais diferentes implicam que a Politica de Turismo
-trate de
maneira diferente Destinos Regionais que são diferentes, com destaque para a
Valorização da Marca do Destino Regional e o Marketing & Vendas da Oferta
associada à Marca.
*Tirar as Consequências da Leitura
Diferente dos Números
Em nossa
opinião, a Politica de Turismo deve ser agente activo no
-trazer o
debate sobre os ‘números do Alojamento Classificado’ e a Análise Estratégica
(2) da Industria da Hotelaria para terreno bem mais objectivo do que aquele em
que se tem situado,
-iniciar o
movimento para termos melhor Informação Estatística pelo INE e adequada
Business Intelligence (3), necessária para a Análise Estratégica da Industria
da Hotelaria de Portugal.
Propor que
o driver do processo seja a Politica de Turismo não é brilhante, mas é atitude
realista no Portugal que ainda temos.
*Inquérito do INE e Análise Estratégica
O Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria existe desde 1965. Disposições comunitárias (4) obrigam Portugal a “produção de informação estatística relativa aos estabelecimentos de Alojamento Turístico Colectivo” (5). Na prática o Inquérito apenas abrange os “estabelecimentos hoteleiros classificados pelo Turismo de Portugal”, isto é os Empreendimentos Turísticos do que designamos por ‘Alojamento Classificado’ e que formam a Industria da Hotelaria ou Hotelaria. Esta precisão é importante porque o Inquérito
-apenas recolhe macro Informação Estatística sobre o que na realidade
é a Industria da Hotelaria,
-esta Informação deveria uma das bases para a Análise Estratégica da Industria
da Hotelaria (6), elemento da business intelligence de que carecem as partes
interessadas na gestão das Empresas da indústria.
*Turistas, Hóspedes, Dormidas,
Proveitos e RevPar
Durante
dezenas de anos, a avaliação do Turismo assenta em tês indicadores operacionais
do Alojamento Turístico Classificado: Turistas, Hóspedes e Dormidas. O número
de Dormidas é considerado como o mais significativo.
A estes
indicadores o INE acrescenta o dos Proveitos (em 1993) e o do RevPar (em 2008).
Desde 2008,
deixa de haver quantificação sobre os Turistas e ficamos reduzidos a dois
indicadores operacionais: Hóspedes e Dormidas do Alojamento Turístico
Classificado.
Concentramos
a nossa análise nos Proveitos por ser um indicador mais significativo do estado
da Economia do Turismo e a ligação com a Receita de Turismo na Balança de
Pagamentos.
*Adequada Informação Estatística
Sobre Economia do Turismo
Desce o início
da década de 1990, há um movimento internacional para melhorar a informação
estatística sobre a Economia do Turismo. A genealogia deste movimento remonta à
Conferência de Ottawa de 1991, que reconhece
-o desequilíbrio resultante de, nos últimos trinta
anos, “the
environment for tourism has undergone rapid changes”, mas “the development of statistical
concepts and frameworks for tourism have not kept pace with this changing
environment”,
-a Procura de “deeper understanding by governments,
industries, academia and the public of tourism’s contribution to the social,
cultural and economic development” (7).
Este
reconhecimento chega a Portugal tarde (início da década de 2000), chega mal
(integrado na Politica e Serviços de Turismo e não no Sistema Estatístico
Nacional) e ainda hoje tem aplicação insuficiente: a Conta Satélite do Turismo
publicada pelo INE em Dezembro de 2010 é rudimentar e acaba por ser
descontinuada.
Em síntese,
não dispomos nem de Informação Estatística adequada, nem de Análise Estratégica
sobre a Industria da Hotelaria.
*Dois Equívocos Inúteis e Estéreis
Desde há
dezenas de anos, o Inquérito do INE alimenta dois equívocos:
-é
apresentado e entendido como abrangendo ‘todo o Turismo’ ou, pior, a “Actividade
Turística” [ver título do Destaque], quando apenas abrange o Alojamento
Turístico Classificado,
-é
instrumento de excessivo protagonismo de actores da Politica e querelas estéreis
entre agentes da Intervenção Pública e Iniciativa Privada.
OS TRÊS PONTOS SEGUINTES SÃO A BASE
ANALÍTICA DO POST
*Proveitos Totais do Alojamento
Turístico Classificado (1996/2013)
O Gráfico 1
ilustra os Proveitos Totais dos Meios de Alojamento Turístico Classificado
entre 1996/2013, a Preços Correntes e Constantes.
Gráfico 1 – Proveitos Totais do Alojamento
Classificado a Preços Correntes e Constantes (1995/2013)
(€ milhões)
Entre 1996/2013,
-o crescimento dos Proveitos Totais é de 108.3% a Preços
Correntes, e 39.6% a Preços Constantes.
*O Ano de 2012 – Valor Estimado e
Corrigido
O valor de
2012 exige uma explicação:
-o valor
estimado pelo INE dos Proveitos Totais de 2012 começa por ser € 1.909 mil
milhões, o que representa estabilidade em relação ao valor de 2011 (€ 1.906 mil
milhões),
-meses
depois, nas Estatísticas de Turismo referentes a 2012, o valor corrigido é de €
1.856 milhões, o que representa uma descida de 2.8%em relação a 2011 e não
estabilidade – entretanto, o discurso politico baseou-se no valor mais elevado
e já ninguém ligou a este valor corrigido,
-no
Destaque de Fevereiro de 2014, o valor corrigido dos Proveitos Totais de 2012
continua a ser € 1856 mil milhões,
-é em
relação a este valor corrigido que o valor dos Proveitos Totais de 2013 represente uma subida de
5,5%.
*Proveitos Totais do
Alojamento Turístico Classificado (2008/2013)
O Gráfico 2
ilustra os Proveitos Totais do Alojamento Classificado entre 2008/2013.
Gráfico 2 – Proveitos Totais do
Alojamento Classificado 2008/2013
(€ milhões)
Nesta
evolução há três tempos,
-entre
2008/2009, o valor dos
Proveitos cai 10.2%, consequência directa da Crise,
-entre
2009/2013, a evolução dos Proveitos é positiva, com a excepção de 2012, mas
lenta porque cresce 11.1% e €194 milhões em valor absoluto,
-entre
2012/2013, o valor dos Proveitos cresce 5.5%, mas o valor de 2013 ainda é
inferior (muito pouco mas inferior) ao de 2008.
Em síntese
-o
crescimento dos Proveitos entre 2012/2013 não nos pode distrair da dura
realidade: no seu conjunto, a Industria da Hotelaria ainda não recuperou da
Crise de 2008/2009.
*Índices de
Dormidas e Proveitos (1996/2013)
O Gráfico 3
ilustra a evolução entre 1996/2013 dos Índices de Dormidas e Proveitos, a
Preços Correntes e Constantes. Se compararmos os dois Índices,
-entre 1996
e 2010, o dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao
das Dormidas,
-a partir
de 2011, as Dormidas crescem a ritmo mais acelerado do que os Proveitos a
Preços Constantes.
Gráfico 3 – Índices de Dormidas e
Proveitos, a Preços Correntes e Constantes (1996/2013)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo
*Proveito Médio Por Dormida
O Gráfico 4
ilustra a evolução entre 2004/201 do Proveito Médio Por Dormida. Nesta
evolução arece haver três tempos:
-entre
2004/2008, crescimento com um incidente em 2005,
-entre
2008/2009, uma queda que é consequência directa da Crise,
-entre
2011/2013 outra queda, consequência da incapacidade da Industria da Hotelaria
em recuperar da Crise.
Esta
análise deve considerar possível margem de erro dos números do INE e ser
detalhada a nível Regional, por Tipo de Empresa e Estabelecimento. Reconhecido
isto,
-a
Competitividade da Industria da Hotelaria conhece problemas graves, que a
ligeira subida das Dormidas entre 2012/2013 não pode escamotear.
Gráfico 4 – Proveito Médio Por
Dormida
(euros)
*Proveitos Totais Por NUTS II
(2002/2013)
O Gráfico 5
ilustra a evolução 2002/2013 dos Proveitos Totais do Alojamento Turístico
Classificado, por NUTS II.
Gráfico 5 – Proveitos Totais a
Preços Correntes do Alojamento Turístico, por NUTS II (2002/2013),
(milhares de euros)
A análise
da Repartição por NUTS II (2002/2013) dos Proveitos Totais da Industria da
Hotelaria levanta duas observações. A primeira tem a ver com números que
confirmam:
-pela sua
importância, Algarve e Lisboa são caso à parte, Norte e Centro apresentam
valores que os diferenciam do Alentejo,
-a
diferença de Algarve e Lisboa e a dispersão da Procura/Oferta comum a Norte,
Centro e Alentejo devem ser reconhecidas.
A segunda
observação é sobre a necessidade de
-ligar a
Procura/Oferta de Norte, Centro e Alentejo com a Oferta de Alojamento Turístico
Não Classificado do Turismo Receptor e Interno – tema que analisamos em outra
série de Posts,
-ter em
conta esta realidade diferente para efeito de Valorização da Marca do Destino
Regional e Marketing & Vendas da Oferta.
A Bem da
Nação
Albufeira 8
de Março de 2014
Sérgio
Palma Brito
Notas
(1)Sugerimos a leitura da Declaração de
Interesses, que
define o nosso trabalho. Repetimos o que nela se afirma sobre
-o
texto não ter sido objecto de revisão, correcção e edição profissionais,
-agradecermos o envio de
críticas, sugestões, correcções, propostas de acção e tudo o que seja positivo,
aberto e concreto para sergiopalmabrito@gmail.com.
Temos sempre presente a frase de Bento de Jesus Caraça: “Se não receio
o erro, é porque estou sempre disposto a corrigi-lo”.
(2)Estamos
a transferir a Análise Estratégica do campo empresarial e privado que é o seu,
para o campo da Intervenção Pública na Economia do Turismo, o que exige
considerável dose de bom senso – ver livro de Michael Porter citado pela Nota
(6).
(3)Ver PwC
– PricewaterhouseCoopers, Desafios do Turismo em Portugal Para 2014, Ponto 2.
(4)A última
disposição em data é o Regulamento (UE) nº 692/2011, de 6 de Julho, sobre o
sector do Turismo.
(5)Sobre
citações, ver ponto 6.1.Metodologias, em INE –
Estatísticas de Turismo referentes a 2012.
(6)Ver Michael Porter, Competitive Strategy,
Techniques for Analyzing Industries and Competitors, Free Press, New York,
1980.
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