Turismo 2013 e Desafio 2015 – Proveitos da Industria da Hotelaria


O INE acaba de publicar o DestaqueActividade Turística – Dezembro de 2013”. É a primeira divulgação dos resultados do Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria, que existe desde 1965. Aqui, ‘Hotelaria’ é sinónimo do que neste Blogue designamos Alojamento Turístico Classificado ou Indústria da Hotelaria.

Como já referimos (Post), os comentários a esta informação do INE deram lugar

-a excitação política a mais sobre ‘o melhor ano turístico de sempre’,

-informação a menos sobre o Desafio de 2015, isto é sobre os objectivos do Governo até ao fim da Legislatura.

O presente Post esmiuça

-o Inquérito do INE em relação com a Análise Estratégica da Industria da Hotelaria,

-a contextualização dos Proveitos da Industria da Hotelaria no período entre 1996/2013,

-as consequências a tirar pelo Governo para vencermos, nós todos, o Desafio de 2015.

Numa segunda parte, apresentamos a Base Analítica do Post.

Sugerimos a leitura da Declaração de Interesses, que define o nosso trabalho. Repetimos o que nela se afirma sobre

-o texto não ter sido objecto de revisão, correcção e edição profissionais,

-agradecermos o envio de críticas, sugestões, correcções, propostas de acção e tudo o que seja positivo, aberto e concreto para sergiopalmabrito@gmail.com.

Temos sempre presente a frase de Bento de Jesus Caraça: “Se não receio o erro, é porque estou sempre disposto a corrigi-lo”.

 

*Nota Sobre o Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria
-Inquérito do INE e Análise Estratégica
O Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria existe desde 1965. Disposições comunitárias (1) obrigam Portugal a “produção de informação estatística relativa aos estabelecimentos de Alojamento Turístico Colectivo” (2). Na prática o Inquérito apenas abrange os “estabelecimentos hoteleiros classificados pelo Turismo de Portugal”, isto é os Empreendimentos Turísticos do que designamos por ‘Alojamento Classificado’. Esta precisão é importante porque o Inquérito

-apenas recolhe macro Informação Estatística sobre o que na realidade é a Industria da Hotelaria,

-esta Informação deveria uma das bases para a Análise Estratégica da Industria da Hotelaria (3), elemento da business intelligence de que carecem a Politica de Turismo e as partes directamente interessadas na gestão das Empresas da Indústria da Hotelaria.

-Dois Equívocos Inúteis e Estéreis
Desde há dezenas de anos, o Inquérito do INE alimenta dois equívocos:

-é apresentado e entendido como abrangendo ‘todo o Turismo’ ou, pior, a “Actividade Turística” [ver título do Destaque], quando apenas abrange o Alojamento Classificado (Post),

-é instrumento de excessivo protagonismo de actores da Politica e querelas estéreis entre agentes da Intervenção Pública e Iniciativa Privada.

É justo reconhecer que o actual Ministro e Secretário de Estado insistem sobre os resultados serem da responsabilidade das empresas. Haja esperança no seu esforço, apesar de ainda recentemente terem caído na pecha de ‘o melhor ano turístico de sempre’ e do ‘crescimento em relação ao ano anterior’ [ver Post anterior]. 

*Para Uma Leitura Diferente dos Proveitos da Industria da Hotelaria
Se situarmos o Valor dos Proveitos da Industria da Hotelaria em 2013 no quadro da evolução entre 1996/2013

-no intervalo de 1996/2013, o crescimento dos Proveitos é anémico – é de 108.3% a Preços Correntes, e 39.6% a Preços Constantes,

-em 2013, o valor dos Proveitos está ao nível de 2008 a Preços Corrente e 4.9% abaixo a Preços Constantes.

Se situamos o Valor dos Proveitos em 2013 no quadro da evolução entre 2005/2013, temos de considerar dois tempos:

-no intervalo 1996/2013, o valor dos Proveitos a Preços Constantes cresce entre 2005/2008 e estabiliza entre 2009/2013,

-em 2013, o Valor dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao de 2011.

A análise dos Índices de Crescimento de Proveitos, Hóspedes e Dormidas deve ser feita a dois tempos:

-entre 1996/2013, o Índice de Crescimento dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao das Dormidas, e é ultrapassado por este a partir de 2011,

-entre 2008/2010, o Índice dos Proveitos a Preços Constantes diminui, mas está acima do das Dormidas, mas entre 2011/2013 estabiliza e é ultrapassado pelo do das Dormidas, que aumenta de ano para ano.

A análise da Repartição por NUTS II (2002/2013) dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria a Preços Correntes levanta duas observações. A primeira tem a ver com números que confirmam:

-pela sua importância, Algarve e Lisboa são caso à parte, Norte e Centro apresentam valores que os diferenciam do Alentejo,

-a diferença de Algarve e Lisboa e a dispersão da Procura/Oferta comum a Norte, Centro e Alentejo devem ser reconhecidas.

A segunda observação resulta a necessidade de

-ligar a Procura/Oferta de Norte, Centro e Alentejo com a Oferta de Alojamento Turístico Não Classificado do Turismo Receptor e Interno,

-ter em conta esta realidade diferente para efeito de Valorização da Marca do Destino Regional e Marketing & Vendas da Oferta,

-estes três últimos pontos são vias para uma análise mais profunda da Procura /Oferta de Turismo nas NUTS II do Continente.

Em síntese,

-todos estes factos reforçam a tese de que a Industria da Hotelaria enfrenta, desde há 10/15 anos dificuldades estruturais, que se agravam nos últimos anos,

-reconhecer os bons resultados de 2013 não pode escamotear ou sublimar esta realidade, antes tem de ser estímulo para o Desafio 2015 – quais os Objectivos do Governo até ao fim da Legislatura?

*Tirar as Consequências da Leitura Diferente dos Números
Em nossa opinião só a Politica de Turismo pode

-romper com osDois Equívocos Inúteis e Estéreis”, trazendo o debate sobre os ‘números do Alojamento Classificado’ e a Análise Estratégica da Industria da Hotelaria para terreno mais bem mais objectivo do que aquele em que se tem situado,

-iniciar o movimento para termos, simultaneamente, melhor Informação Estatística pelo INE e adequada Business Intelligence (4), que começa pela necessária para analisar a Industria da Hotelaria de Portugal.

Propor que o driver do processo seja a Politica de Turismo não é brilhante, mas é atitude realista no Portugal que ainda temos.

 

OS TRÊS PONTOS SEGUINTES SÃO A BASE ANALÍTICA DO POST

 

1.Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado

*Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado (1996/2013)
O Gráfico 1 ilustra os Proveitos Totais dos Meios de Alojamento Turístico Classificado entre 1996/2013, a Preços Correntes e Constantes.

Gráfico 1 – Proveitos Totais do Alojamento Classificado a Preços Correntes e Constantes (1995/2013)
(€ milhões)

 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e Destaque Hotelaria

Se situarmos o Valor dos Proveitos da Industria da Hotelaria em 2013 no quadro da evolução entre 1996/2013

-no intervalo de 1996/2013, o crescimento dos Proveitos é anémico – é de 108.3% a Preços Correntes, e 39.6% a Preços Constantes,

-em 2013, o valor dos Proveitos está ao nível de 2008 a Preços Corrente e 4.9% abaixo a Preços Constantes.

*O Ano de 2012 – Valor Estimado e Corrigido
O valor de 2012 exige uma explicação:

-o valor estimado pelo INE dos Proveitos Totais de 2012 começa por ser € 1.909 mil milhões, o que representa estabilidade em relação ao valor de 2011 (€ 1.906 mil milhões),

-meses depois, nas Estatísticas de Turismo referentes a 2012, o valor corrigido é de € 1.856 milhões, o que representa uma descida de 2.8%em relação a 2011 e não estabilidade – entretanto, o discurso politico baseou-se np valor mais elevado e já ninguém ligou a este valor corrigido,

-o Destaque de Fevereiro de 2014, o valor corrigido dos Proveitos Totais de 2012 continua a ser € 1856 mil milhões,

-é em relação a este valor corrigido que o valor dos Proveitos Totais de 2013 represente uma subida de 5,5%,

-o paranóico interrogar-se-á: e se o valor de 2013 é corrigido e fica abaixo ou igual ao de 2012?

Recusamos completamente a hipótese, mas um adepto da Teoria da Conspiração dirá que esta correcção tardia permitiu bons ‘números do Turismo’ em 2012 e 2013.

*Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado (2007/2013)
O Gráfico 2 ilustra os Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado entre 2005/2013, a Preços Correntes e Constantes.

Gráfico 2 – Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado a Preços Correntes e Constantes (2005/2013)
(€ milhões)

 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e Destaque Hotelaria

Se situamos o Valor dos Proveitos em 2013 no quadro da evolução entre 2005/2013, temos de considerar dois tempos:

-no intervalo 1996/2013, o valor dos Proveitos a Preços Constantes cresce entre 2005/2008 e estabiliza entre 2009/2013,

-em 2013, o Valor dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao de 2011.

 

2.Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos

*Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos (1996/2013)
O Gráfico 3 ilustra a evolução entre 1996/2013 dos Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes. Apenas analisamos os Índices de Dormidas e Proveitos a Preços Constantes.

A análise confirma que:

-entre 1996/2013, o Índice de Crescimento dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao das Dormidas, e é ultrapassado por este a partir de 2011.

Gráfico 3 – Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes (1996/2013)

 
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

*Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos (2008/2013)
O Gráfico 4 ilustra a evolução entre 2008/2013 dos Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes. Como no caso anterior, apenas analisamos os Índices de Dormidas e Proveitos a Preços Constantes.

Gráfico 4 – Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes (2008/2013)

 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

Entre 2008/2013, há dois tempos:

-entre 2008/2010, o Índice dos Proveitos diminui, mas está acima do das Dormidas,

-entre 2011/2013 estabiliza e é ultrapassado pelo do das Dormidas, que aumenta de ano para ano.

 

3.Proveitos Totais a Preços Correntes Por NUTS II

*Proveitos Totais a Preços Correntes Por NUTS II (2002/2013)
O Gráfico 5 ilustra a evolução 2002/2013 dos Proveitos Totais a Preços Correntes, do Alojamento Turístico Classificado, por NUTS II.

Gráfico 5 – Proveitos Totais a Preços Correntes do Alojamento Turístico, por NUTS II (2002/2013),
(milhares de euros)


 
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

A análise da Repartição por NUTS II (2002/2013) dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria a Preços Correntes levanta duas observações. A primeira tem a ver com números que confirmam:

-pela sua importância, Algarve e Lisboa são caso à parte, Norte e Centro apresentam valores que os diferenciam do Alentejo,

-a diferença de Algarve e Lisboa e a dispersão da Procura/Oferta comum a Norte, Centro e Alentejo devem ser reconhecidas.

A segunda observação resulta a necessidade de

-ligar a Procura/Oferta de Norte, Centro e Alentejo com a Oferta de Alojamento Turístico Não Classificado do Turismo Receptor e Interno,

-ter em conta esta realidade diferente para efeito de Valorização da Marca do Destino Regional e Marketing & Vendas da Oferta,

-estes três últimos pontos são vias para uma análise mais profunda da Procura /Oferta de Turismo nas NUTS II do Continente.

 
A Bem da Nação

Albufeira 17 de Fevereiro de 2014
Sérgio Palma Brito

 
Notas

(1)A última disposição em data é o Regulamento (UE) nº 692/2011, de 6 de Julho, sobre o sector do Turismo.

(2)Sobre citações, ver ponto 6.1.Metodologias, em INE –  Estatísticas de Turismo referentes a 2012.

(3)Ver Michael Porter, Competitive Strategy, Techniques for Analyzing Industries and Competitors, Free Press, New York, 1980.

(4)Ver PwC – PricewaterhouseCoopers, Desafios do Turismo em Portugal Para 2014, Ponto 2.

(5)Estamos a transferir a Análise Estratégica do campo empresarial e privado que é o seu, para o campo da Intervenção Pública na Economia do Turismo, o que exige considerável dose de bom senso.

 

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