O destino turístico Algarve é o mais importante do País em ‘Proveitos’, facto ignorado por o INE errar gravemente na sua estimativa.

 

A elite da Região Algarve parece envergonhada pelo sucesso do destino turístico, não corrige o INE, não se posiciona a sua importância junto do poder politico e administrativo e da opinião publica.

Esta incapacidade envergonhada é a primeira razão do Algarve ser esquecido em importantes políticas publicas do País.

Vamos esclarecer os números.

1.Há diferença conceptual entre

-Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos que abrange os gastos dos turistas não residentes e que em 2024 é de €27.240 milhões,

-Proveitos dos Estabelecimentos de Alojamento Turístico Proveitos, de residentes e não residentes, que têm a ver com Hotelaria, Alojamento Local e Turismo em Espaço Rural, €6.669 milhões em 2024.

No Alojamento Local

-o INE “São considerados apenas os estabelecimentos de alojamento local com 10 ou mais camas, de acordo com o limiar estatístico previsto no Regulamento UE 692/2011,

-esta definição implica que a grande maioria dos Proveitos gerados por vivendas (entre as quais as de luxo) e apartamentos do Algarve não são considerados.

Nos €6.669 milhões de Proveitos, há €5.780 milhões da Hotelaria e míseros €624 milhões do Alojamento Local.

Caramba,

-custa muito reconhecer que milhares de vivendas com piscina são do melhor que há no turismo da Região?

2.Repartição de Proveitos por NUTS II


Com base nos Proveitos em que o os do Algarve são grosseiramente subestimados, temos

-a Grande Lisboa é o destino turístico mais importante do Pais.

Mais importante é o erro do INE.

3.Acordai! que se faz tarde.

Homenagem a David Assoreira e a politica que fale ao Algarve

 

Vale a pena ler até ao fim!

A então Comissão de Coordenação da Região Algarve é criada em 1979. O eng.º David Assoreira é presidente desde 1980 até 1996, quando foi substituído.

Os anos de ouro da sua presidência são os dos governos de Aníbal Cavaco Silva, sem desmerecer das suas qualidades.

É homenageado pela agora Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Algarve no próximo dia 21, homenagem mais do que merecida e que só peca por tardia.



1.A CCRA é filha do turismo, uma filha bem ingrata por nunca ter dado à mãe a atenção devida.

Começa por haver a Comissão de Planeamento da Região Sul, criada em 11 de março de 1969 pelo III Plano de Fomento e que incluía a sub-região Algarve.

Em finais de 1979 foram criadas as COMISSÕES DE COORDENAÇÃO REGIONAL, as atuais NUTs II, entre as quais a CCR do Algarve.

O que mudou entre 1969 e 1979?

Mais do que a história pesou a nova importância do Algarve com o Turismo.

Sem o turismo, o Algarve continuaria a ser uma sub-região da Região Sul com sede em Évora.

2.Uma relação exemplar e um caso muito significativo

Durante os dezasseis anos em que o eng.º David Assoreira é presidente da CCRA

-opus-me estruturalmente à sua visão para o Algarve em múltiplas intervenções,

-teve o meu apoio em muitas das suas decisões,

-sempre houve entre nós uma relação de mutuo respeito e cordialidade [sobre isto publicarei um post].

Durante estes anos, fui critico do ‘cavaquismo’ e intransigente com o seu papa no Algarve, a quem eu chamava ‘o nosso querido amigo Joaquim Manuel Cabrita Neto, NQAJMCN’, que sempre tolerou a minha impertinência,

Eu, na oposição, fui sempre respeitado por David Assoreira como nunca mais voltei a ser… apesar de ser militante do PS… ou talvez por isso.

 E sou apoiado em momento que não esqueço e vale a pena dar a conhecer.

Aí por 1994, é anunciada a vinda ao Algarve de quatro ministros do governo de Aníbal Cavaco Silva. Em cronica da Radio Solar reconheço que ‘vozes de burro não chegam ao céu’ pelo que eu não seria convidado para a sessão solene e faria ali a minha critica.

No dia seguinte, telefonema da CCRA a convidar-me, sabendo DA que eu faria intervenção impertinente.

Assim fiz e saí-me bem ao ponto dos empresários presentes me terem dito ‘tem de ser o nosso representante na sessão da já próxima Presidência Aberta de Mário Soares’.

Quantos presidentes da CCRA teriam esta abertura de espírito, respeito pelo adversário e correr riscos políticos?

Que diferença com um secretário de Estado do PS que durante anos me fez bullying para calar a minha voz!

3.Sempre disse a David Assoreira que ele tinha de ser substituído por outra política e não por outro presidente.

Qual política que ainda hoje não temos?

Desde 1979, com CCRA ou CCDRA, nuca as ouvimos dar resposta a duas perguntas simples:

-quais são os estrangulamentos públicos â sustentabilidade tridimensional (ambiental, social e económica) das industrias de turismo do Algarve, seja no modelo Cote d’Azur seja no modelo hotelaria?

-que medidas de Politicas Publicas devem ser tomadas para anular estes estrangulamentos?

-que ganha o País e a Região no ignorar do modelo Côte d’Azur gerado pela procura por investimento em casas de férias.

4.No Sul de Portugal há um destino turístico que gerações sucessivas formaram, enfrentando políticas publicas absurdas, quando não ‘contra’ o seu desenvolvimento.

Este destino procura política que o apoie.

 

Turismo do Algarve – de Salazar ao futuro previsível

 No dia 18 de março de 2025, os 55 anos do que é a atual Entitade Regional do Turismo do Algarve comemorados com uma Conferência no Algarve Epic SANA.

Lá estarei, mas decidi publicar a minha opinião sobre como a via para os grandes problemas do futuro ganha se conhecermos os anos do Big Bang que vão de 1962 a 1965.

Publico o texto em Word para facilitar a leitura e... o desejado copy/paste.


Os 55 anos da Região de Turismo do Algarve permitem abordar o futuro previsível à luz do passado, tema que idade e experiência me fazem trazer à liça. Com receita das casas de ferias, Algarve é região turística mais importante do País e Albufeira segundo município, antes do Porto – orgulho neste trabalho de gerações.

1.Posicionar destino Algarve na Costa Leste da América do Norte e gerar novo ciclo de crescimento

Em abril de 1962 Salazar decide que despesas do aeroporto de Faro “serão feitas com dispensa no cumprimento de todas as formalidades legais, incluindo o visto do Tribunal de Contas”. Salazar posiciona a Área Turística do Algarve na Bacia Turística Alargada do Mediterrâneo. E revela compromisso que gera iniciativas empresariais. Move-o imperiosa necessidade de divisas e o exemplo de Espanha, onde o turismo é já um sucesso.

Aquisições recentes por investidores institucionais estrangeiros alteram o tecido empresarial e tornam possível programa profissional de branding e marketing & vendas na Costa Este dos EUA de adequada oferta regional. É o caso de golfe e residence, e visitas a Lisboa Sevilha, Granada e Córdova.

2.Identificar e fomentar a cadeia de valor do modelo Cote d’Azur é crucial para a sustentabilidade do turismo do Algarve no futuro

Entre 1963/65, o ministro da Obras Publicas (MOP) licencia empreendimentos que marcam o futuro do turismo do Algarve: Vale do Lobo, Praia Maria Luisa, Vilamoura, Vila Lara, Prainha, Salvor, Anglopor e Penina.

Em Vale do Lobo e Penina é licenciada a venda de lotes de moradias para financiar o hotel e o golfe. Vilamoura acolhe turistas em hotelaria e residência secundária e residentes permanentes. É reconhecida a utilização de alojamentos pelo proprietário na época baixa e exploração turística na época alta. É apoiada a instalação de reformados estrangeiros em residência permanente.

Esta visão do futuro é vítima de políticas publicas e lobi privados, que demonizam a ‘imobiliária’ até hoje com prejuízo da Região e do País.

O modelo Cote d’Azur assenta na procura de investimento em casas de férias (151.269 em 2021) pela classe média. O modelo da hotelaria vendida a operadores de pacotes de férias e voos charter passa a ser dominante e protegido pela política e opinião publicas, erro crasso a corrigir.

3.O ambientalismo radical de fachada científica é substituído pela sustentabilidade holística que compatibiliza ambiente, sociedade e economia.

Em 1963, o Plano Regional do Algarve é pioneiro em compatibilizar ‘conservar e desenvolver’, antecipando o Design with Nature de Ian McHarg (1989) e a sustentabilidade que integra ambiente, sociedade e economia do Relatório Brundtland (1987).

A partir dos anos 90 forma-se o ambientalismo radical de fachada científica com o ambiente a dominar tudo o resto e quase a excluir o desenvolvimento. É a derrota da visão culta, que urge recuperar.

4.O futuro depende da qualificação do território ser a prioridade de nova RTA fora do obsoleto modelo atual

Em 1969, a RTA nasce no MOP com o “plano de obras de infraestruturas urbanísticas e interesse turístico do Algarve”. Na Comissão Regional o MOP tem presença relevante, extinta com o 25 de abril.

A nova RTA tem modelo adequado ao Algarve fora do absurdo quadro legal vigente e nasce com a prioridade à qualificação do território.

Sergio Palma Brito, Analista Sénior em Turismo e Transporte Aéreo

 


O hub da TAP em Lisboa começa com Brasil e é consolidado com Costa Este dos EUA

 

Cito fonte que teve acesso à apresentação da TAP aos investidores:

-“Os dois maiores mercados internacionais [da TAP] estão bem acima dos valores de 2019, pré-pandemia, apesar de o número total de passageiros ainda ser inferior.”.

Parabéns à TAP pela divulgação da informação e pelo sucesso nos dois mercados chave.

E chave por uma razão muito simples

-a sobrevivência da TAP como a conhecemos depende do tráfego intercontinental gerado pelo hub Europa com Brasil e EUA.

Tudo começou com Fernando Pinto a partir de 2000, quando iniciou a captura do mercado Brasil.



E tudo foi confirmado por David Neeleman que posicionou Lisboa no mercado dos EUA a partir de 2016.


O tráfego de hub do Brasil é apoiado pelo tráfego ponto a ponto gerado pela crescente comunidade brasileira em Portugal.

A prazo, o hub dos EUA tenderá a ser mais importante do que o do Brasil, dada a dimensão do mercado e a capacidade de atração turística de Lisboa/Portugal.

Esta dualidade tem influência na escolha do grupo que vai adquirir a TAP, tema para o próximo post.

Miguel Sousa Tavares, privatização da ANA e Novo Aeroporto de Lisboa

 

Na 5ª Coluna de 6 de fevereiro de 2025, perante a atitude embevecida de Sandra Felgueiras, Miguel Sousa Tavares foi longe demais na agitação convicta e firme de números falsos e na complicação de uma realidade simples, complicação que revela desconhecimento da realidade e animosidade excessiva contra a Concessionária da Exploração dos aeroportos do País.

Tudo a desinformar os portugueses.


1.Receita privatização da ANA

Citamos

-“(65) O preço de venda de 3,08 mil milhões de euros realizado no final da segunda e última fase do processo de privatização excedeu […] % a estimativa superior do intervalo de avaliação. O preço de venda foi igualmente 26 % mais elevado do que a segunda maior proposta vinculativa, do consórcio Fraport/IFM (2,44 mil milhões de euros).”*.

Isto é, um múltiplo de 15,5 da EBIDTAR da ANA estatal.

-Está previsto a ANA pagar €2.947 milhões, em percentagem do lucro a partir de 2023**.

Sem ter em conta a inflação, o valor pago e a pagar pela Vinci é €6.000 milhões.

MST afirmou a Vinci ter pagado pouco mais de €1.000 milhões.

Das duas, uma

-ou MST Tavares desconhece os números e devia ter guardado silêncio,

-ou sabe e mente aos portugueses, a coberto da impunidade de que goza.

2.MST apresenta o aumento de Taxas Aeroportuárias que a ANA propõe a Governo no Relatório Inicial no contexto de uma confusão de números que revelam desconhecimento da realidade e inimizade em relação à ‘ANA/Vinci’.

A ANA é Concessionaria da exploração dos aeroportos de Portugal e Regiões Autónomas até 2062 (50 anos) e é nessa condição que apresenta ao Governo o Relatório Inicial previsto no Contrato de Concessão para um Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) no descampado de Samora Correia.

Para não haver custo para os contribuintes, o NAL é pago por um mix de Taxas Aeroportuárias, receita das atividades comerciais e prorrogação do prazo da Concessão.

Os números em causa são para evoluir com o aprofundar do dossier e a negociação com o Governo.

Ser responsavelmente contra o aumento das Taxas implica admitir custo para os contribuintes ou ganho do Governo na negociação com a ANA, o que é incerto.

Esta é a realidade objetiva para além da ignorância do modelo e/ou animosidade de MST contra a ANA.

MST apenas lançou confusão sobre um assunto que exige informação objetiva dos portugueses.

3.Sem querer, MST ilustra o que há de perigoso em análises superficiais de um tema que exige debate profissional por gente com informação, qualificação e seriedade intelectual.

Lisboa 7 de fevereiro de 2025

 

*Fonte – documento da Comissão “Auxílio estatal SA.36197 (N/2013) – Portugal Privatização da ANA – Aeroportos de Portugal” de 2013.06.19.

**Fonte – Orçamento do Estado de 2023, p.171.

 

O hub de Lisboa na privatização da TAP – o que está em causa

 

1.O hub de Lisboa é o maior ativo da TAP e o que leva ao interesse dos três grupos da consolidação das ‘network carriers’ europeias.

Assim:

-o Grupo Lufthansa ‘precisa’ do hub Brasil e ganha em valorizar o hub EUA,,

-o IAG precisa do hub Brasil para consolidar a sua liderança no tráfego Europa/América Latina.

O IAG pretende posicionar o hub de Madrid ao nível dos mais importantes da Europa, tema para outro post.

2.Em 2019, aquisição da Air Europa pelo IAG desencadeia a concorrência para adquirir a TAP.

Em 2019.11.04, o IAG

-anuncia a aquisição da Air Europa por €1.000 milhões,

-“consolidating Madrid as a leading European hub and resulting in IAG achieving South Atlantic leadership, therefore generating additional financial value for our shareholders”, nas palavras do então CEO Willie Walsh, hoje diretor geral da IATA.

O Relatório de 2019, acrescenta “unlocking further network growth opportunities.”.

Fonte: IAG – Air Europa transaction Analyst and investor presentation 4 November 2019

O gráfico mostra que

-se o Grupo Lufthansa adquirir a TAP fica com 17% de parte de mercado e posiciona-se ao nível dos concorrentes,

-se o adquirente for o IAG, descola do Grupo AF/KLM e consagra o atraso o Grupo Luftansa.

É neste contexto que o Grupo LH pretende adquirir as ações do Consorcio Gateway de David Neeleman e Humberto Pedrosa, pagando um bom preço de oportunidade.

A Pandemia adia este processo.

O erro que destrói a credibilidade do Relatório da Comissão Técnica Independente

 

Este é um dos posts curtos destinados a sanear o debate do Relatório da ANA sobre o Novo Aeroporto de Lisboa.

Neste post, denunciamos um erro crucial que

-invalida, de uma assentada, o Relatório da Comissão Técnica Independente (CTI),

-desvaloriza as criticas que a Presidente da Comissão já começou a fazer ao Relatório da ANA.

1.No Podcast de Daniel Oliveira “Perguntar não ofende”, a iniciativa é de Daniel Oliveira :

-“Portugal terá condições pela sua localização para ser porta de entrada das Américas para a Europa?” (Expresso 2023.12.19).

A resposta da Presidente (CTI) ilustra o erro de base em que assenta a análise da Comissão:

-“Toda a análise económica que fizemos está fortemente apoiada neste pressuposto”.

Por outras palavras,

-“Toda a análise económica que fizemos está fortemente apoiada num Pressuposto errado e, logo, está fortemente errada”.

Na Universidade assistimos ao momento em que um erro do aluno mostra desconhecer elementos fundamentais da matéria e o professor diz:

-“O seu exame acaba aqui”.

Aplica-se aqui, porque

-não há ‘porta de entrada das Américas na Europa’. Há Lisboa porta de entrada do Brasil na Europa e Madrid porta da América Latina (ver gráfico) - ainda assim, nas rotas mais rentáveis de Rio e São Paulo a posição da TAP não é dominante.

Contamos publicar uma síntese muito critica dos argumentos do Relatório da CTI, mas este erro, só por si, destrói o documento.

2.A pergunta induz em erro por não haver uma porta de entrada das Américas para a Europa, mas sim várias portas, a maioria das quais mais importante do que o aeroporto de Lisboa, Novo ou Velho.

É megalomania excessiva pensar que o tráfego ‘das Americas’ para Heathrow, Charles de Gaule, Schipol, Francofrte e tantos outros hubs pode ser deslocado para o Novo Aeroporto de Lisboa.

A figura 61 do Relatório da ANA ilustra a Capacidade total de lugares dos aeroportos em voos não europeus para os aeroportos concorrentes ou similares a Lisboa.

Apesar de não ilustrar esta informação de outros hubs, podemos comparar o tráfego a verde e amarelo de Madrid com o de Lisboa, que ninguém imagina ver transferido para Lisboa.

 


Figura 61: Capacidade total de lugares dos aeroportos em voos não europeus (Fonte: OAG}.

 3.Há portugueses que não sabem ou não aprendem.

A abertura do Canal do Panamá em 1914 provoca delírios que é útil recordar. Em 2015, é a vez do porto de Lisboa ser “Caes da Europa, da África, da América e do Oriente”.

Nem mais, Europa, Africa, América e Oriente,

Entre várias fontes, citamos o Relatório de 2015 da modesta Repartição de Turismo:

– “Caes da Europa, da África, da América e do Oriente, é este famoso porto de Lisboa, que os poetas cantaram e que é o nosso orgulho, a nossa esperança e a nossa força, sel-o-ha do mundo, com o corte do istmo do centro-americana, que em ferente dele fica e mais próximo está que aquele outro do velho do continente, pois dista de Colon (Panamá) 4110 milhas, menos 460 que o Havre.”.

O sonho faz sonhar. O Relatório da Repartição de Turismo conclui:

– “Temos assim demonstrado que Portugal é a ponte natural que há-de servir os outros países nas suas relações internacionais.”.

Lisboa 20 de janeiro de 2013

Post da serie Atualidade

Políticas Públicas na privatização da ANA (1996 a 2012) e algumas surpresas

 

António Gutteres, José Sócrates Pedro Passos Coelho animaram políticas publicas diferentes sobre a privatização da ANA.

*Uma empresa a privatizar… mesmo antes de existir –

No Outono de 1995, António Guterres sucede a Aníbal Cavaco Silva como primeiro-ministro. A ANA SA, tal como a conhecemos, ainda não existe, mas já figura nos dois Programas de Privatizações do governo socialista.

-em março de 1996, o de 1996/97 prevê “iniciar os trabalhos tendentes à privatização ANA, E. P., mantendo o Estado o controlo maioritário.”.

-em abril de 1997, o de 1998/99 é perentório: “Em 1998 realizar-se-á a primeira fase de privatização da ANA”..

Quando é criada, em 1998, a ANA já tem a sina traçada.



*António Gutteres e um PS muito diferente do de hoje

Em fevereiro de 1996, uma Resolução do Conselho de Ministros aprova o Programa de privatizações — 1996/1997. Do preâmbulo citamos:

-“É hoje opinião consensual que, pelo menos em determinados domínios da atividade empresarial, a gestão privada é preferível à gestão pública, pelo que haverá que, nesses domínios, operar a transferência dos centros de decisão económica para a esfera do sector privado e garantir a formação de adequados níveis de concorrência indutores de uma eficiente afetação de recursos.”.

*A privatização da ANA passa a ser indissociável do financiamento do Novo Aeroporto de Lisboa… na Ota

Em abril de 1998 é criada a Cria a NAER - Novo Aeroporto, S. A., e são aprovados os respetivos estatutos. O governo considera que

-“a condução dos trabalhos necessários à preparação e execução das decisões referentes ao planeamento e construção de um novo aeroporto seria mais eficaz, flexível e celeremente conduzida por uma estrutura de natureza empresarial distinta da empresa operadora dos aeroportos do continente”.

Em abril de 2000, o governo destaca os objetivos e orientações para o desenvolvimento do aeroporto na Ota:

– “Estabelecimento de uma parceria público-privada que articule a contratação da conceção, construção, financiamento e exploração da nova infraestrutura com a entrada de acionista privado de referência no capital da ANA, mediante aumento de capital;

Escolha de parceiros privados através de um procedimento concursal, a estabelecer em regime jurídico específico;”.

Está em causa o financiamento por PPP e fica no ar qual o controlo do capital da ANA.

*Privatização da ANA com “percentagem de controlo do capital” para o NAL na Ota e, depois, em Alcochete

Em fevereiro de 2007, o governo de José Sócrates “Estabelece o modelo de transação, do novo aeroporto de Lisboa, determinando que a privatização da ANA, S. A., e a contratação da conceção, construção, financiamento e exploração do novo aeroporto de Lisboa, a localizar na Ota, serão efetuadas através de uma operação única que conjugue aquelas duas componentes”.

Esta decisão prevê a “Alienação de uma percentagem de controlo do capital da ANA - Aeroportos de Portugal, S. A.”.

Só posteriormente surge o NAL em Alcochete.



*Maio 2011: Memorandum of Understanding on Specific Economic Policy Conditionality

Cabe ao governo de Pedro Passos Coelho aplicar o Memorando assinado pelo governo de José Sócrates e a Troika. Na altura está em causa recuperar o crédito na República nos mercados financeiros.

A privatização da ANA deixa de ser instrumento para financiar a construção do NAL e passa a ser meio para realizar três objetivos, “no contexto do programa de ajustamento económico para Portugal”

“i) Maximização das receitas provenientes da privatização.

ii)Reforço do crescimento e da eficiência da ANA, aumentando desta forma a sua posição competitiva e o valor a longo prazo dos aeroportos.

iii)Minimização da exposição do Estado português aos riscos de execução relacionados com o processo de privatização, assegurando que o enquadramento deste processo protege cabalmente os interesses nacionais e maximiza as receitas.”.

Estes objetivos estão plasmados no Plano Estratégico de Transportes 2011/15 (ponto 8).



*Quando a política publica é fruto do confronto partidário

Dezassete anos demorou a ANA a ser privatizada e durante esse tempo ficou à vista o que de partidário há no exercício da função acionista pelo Estado.

A critica mais evidente ao excesso de ‘partido’ é a dirigida à privatização em bloco de todos os aeroportos do País,

– em 2000 e 2007, o governo PS era a favor e o PSD criticava fortemente,

– em 2012, o governo PSD/CDS era a favor e o PS criticava e continua a criticar fortemente.

Este confronto meramente partidário pode vir a ser dominante na atualidade.

*A critica mais pertinente à privatização da ANA

A critica mais pertinente à privatização da ANA é a da ausência de uma Regulação forte e independente. Os documentos do ICAO que citamos estabelecem as boas práticas sobre a privatização da gestão aeroportuária que deve sempre ser acompanhada por regulação forte e independente.

O problema de fundo duplo e será descrito no próximo post:

-Portugal não nem tradição nem pratica de Regulação ou Supervisão fortes e independentes,

-a transformação do INAC em Entidade Reguladora sofrer deste mal e da cultura que vem do passado.

A gestão publica pela ANA não era enquadrada por um Contrato de Concessão, elaborado quase à pressa para efeito da privatização. O modelo de Regulação que estava a ser desenhado pelo governo Sócrates é abandonado. Haverá apenas disposições sobre taxas aeroportuárias reguladas em sistema que remunera o crescimento do tráfego.

O Acordo entre o Estado português e a ANA – Aeroportos de Portugal, S.A. de 8 de janeiro de 2019 inclui

-“A competitividade das taxas [reguladas] é assegurada através de um processo comparativo com as taxas praticadas em outros aeroportos europeus, o qual terá como resultado a definição de um cap/limite às taxas reguladas.”.

Este Acordo acaba por não ser aplicado.

*Nota sobre fontes

Recomendamos a leitura de ICAO’s Policies on Charges for Airports and Air Navigation Services, edições de 2008 e 2012.

O livro The Economic Regultion of Airports, edição de 2004 e 2017 [editado por Peter Forsyth e outros] define o que está em causa e aplicações em aeroportos de todo o mundo. A edição de 2017 é mais útil por já poder dar mais exemplos e de forma mais sintética – o caso da ANA não é citado.

 

Lisboa 9 de janeiro de 2015.

 

Post da série Análise critica de ideias e termos correntes

 

O Algarve vai perder o comboio?

 

Proposta para o Algarve não perder o comboio

i)É preciso esquecer uma patética ligação em Alta Velocidade Lisboa / Évora / Beja/ Faro que figura algures num Plano Ferroviário Nacional.

Não justificamos a nossa afirmação por ser a nulidade desta ligação ser intuitiva e basta observar o slide para compreender.


Fonte - Intervenção do eng.º Carlos Fernandes no Congresso da ADFERSIT

ii)É preciso tirar partido da atual ligação Lisboa / Faro em Alfa Pendular ou equivalente.

A Terceira Travessia Sobre o Tejo permite que

-Alfa e Intercidades passem pela ligação entre Pinhal Novo e Gare do Oriente, o que ganha 10 a 15 minutos e evita o arreliante e demorado atravessar da ponte 25 de Abril,

-ligar à futura linha entre Pinhal Novo e o Aeroporto Luis de Camões.

iii)É preciso realizar um investimento de monta, a corrigir o traçado entre Ermidas-Sado e Faro, sobretudo na parte da Serra.

Desconhecemos estimativas, mas as que nos chegaram varia entre €150 a €250 milhões.

Este investimento permite

-eliminar a rota aérea entre Lisboa e Faro,

-melhorar o acesso ao interior da Serra

-desviar tráfego da A2.

Em nossa opinião, as adormecidas forças vivas do Algarve deviam concentrar esforços neste traçado.

Sem este investimento a ligação ferroviária Lisboa/Algarve passa a figurar no museu da ferrovia do passado.

É esta a herança que queremos deixar aos nossos netos?

iv)Esta proposta abre alguma possibilidade à ligação entre Lisboa / Algarve e Sevilha.

A ligação ferroviária Algarve Sevilha permite

-enriquecer a oferta cultural de uma estadia no Algarve com excursões a Sevilha e Granada/Córdoba, cujo posicionamento mundial é conhecido,

-desenvolver o turismo entre Lisboa e Sevilha.

As críticas das Padeiras de Aljubarrota que dormitam em alguns espíritos não devem impedir um forte lóbi do Algarve (… onde está ele?) para esta solução.

v)Ignoramos se contribuímos para acordar as forças vivas do Algarve para este genuíno PIR – Projeto de Interesse Regional.

Quem viver verá.

 

Lisboa 8 de janeiro de 2025


Post da serie Análise critica de ideias e termos correntes

 

A premonição do ministro da Obras Publicas Joaquim Ferreira do Amaral (1990/1995)

 

Neste dia 1 de janeiro de 2025, deixo-vos a premonição do ministro da Obras Publicas Joaquim Ferreira do Amaral (1990/1995) em 1994:


“cheguei à conclusão que construir o NAL não era a prioridade das prioridades. A Portela estava longe de estar esgotada. Por isso, propus adaptar o Aeroporto do Montijo a receber tráfego civil com vista a garantir um backup do aeroporto de Lisboa. Era uma solução provisória bastante barata, e que nos tranquilizava no sentido de, caso acontecesse algo, Lisboa não ficaria sem aeroporto.

Depois deu-se a mudança de Governo e não se avançou.”.

“Para dizer a verdade, julgo que o que fez com que se abandonasse esta hipótese foi o fascínio de um Novo Aeroporto.”.

“havia o fascínio de construir um Novo Aeroporto. As pessoas não gostam de soluções remendadas. Mas não tenho dúvida que teria sido a melhor solução, a mais barata, a mais rápida e teríamos provisoriamente o problema resolvido.

Depois, um dia, quando fossemos ricos, faríamos um Novo Aeroporto”.

Adivinhou! Em 2025 somos ricos!

Enjoy!