Temos turistas a mais? Até quantos turistas podemos crescer?
Crescimento, sim, mas é sustentável ou não? Antes de procurar responder,
importa ter ideia do tráfego aéreo regular no mundo e sua repartição pelas
principais regiões do planeta. Em outro post analisamos a realidade da Europa e
de como Portugal se insere na Europa. Em qualquer dos casos, não esquecer a
sabedoria de Joel Serrão “Ora, como é evidente, a síntese não é possível onde a
análise mal principiou” e perorar antes de aprofundar estes e de outros temas.
1.Tráfego
global – resiliência e crescimento no horizonte de 2037
*Airbus – Global Market Forecast 2018-2037
Segundo a
Airbus, “Traffic has proven to be resilient to external shocks and doubles
every 15 years” (1). O
gráfico 1 mostra dados reais (1997/2017) e previsão até 2032 com base na
observação do passado. A resiliência é um facto, a previsão de voltar a
duplicar em quinze anos não parece excessiva (4,4% ao ano) se considerarmos o
potencial de crescimento, entre outros, na China e Índia. O mais certo é termos
crises conjunturais e este cenário exclui disrupção violenta.
Gráfico 1 – World annual traffic (trillion RPKs)
Nota da Airbus – RPK = Revenue Passenger Kilometre
Source: ICAO, Airbus GMF 2018
Fonte: Copiado de Airbus, Global
Networks, Global Citizens, Global Market Forecast 2018-2037, p. 5
*Resiliência do crescimento do tráfego
aéreo mundial
A resiliência
do crescimento do tráfego aéreo mundial é melhor ilustrada pelo gráfico 2, que
situa as mais importantes crises e mostra como o seu impacte foi conjuntural e
não estrutural (2).
Gráfico 2 – World Annual Traffic Expressed in
Passengers Carried
Fonte: Airbus, ICAO,
recortado de Annual Analyses of the EU Air Transport
Market 2016, March 2017 European Commission, p. 8.
*Commercial Aviation Market Dynamics
O mais
recente relatório da Boeing (3)
sintetiza as
dinâmicas do mercado da aviação comercial (figura 1). A informação da figura
fala por si, mas deve ser completada com a leitura da fonte. A Boeing sabe do
que fala e o que encontramos na literatura não se afasta disto, mas há que
fazer leitura crítica, como sempre – ver Alhos e bugalhos a seguir.
Figura 1 – Commercial aviation market dynamics
Fonte: Elaboração própria com base em Boeing, Commercial Market Outlook 2018–2037, p. 6.
*Alhos e bugalhos
Até a Boeing
não escapa à mistura de tráfegos diferentes:
-o do total de tráfego doméstico e internacional’ nos
“Economic and income growth are key drivers”, quando refere “Socioeconomic
changes in large emerging markets such as China and India have been primary
drivers of both global GDP growth and demand for air travel.” [Depois, acrescenta Ásia do Sudeste].
-o do exclusivo tráfego internacional na “Robust
consumer spending and services growth bolster air travel demand”, quando refere
“According to the World Tourism Organization, international tourist arrivals
grew 7.1 percent in 2017, faster than overall GDP growth. Like air passenger
traffic, overall tourism has grown substantially, with almost 350 million more
international tourists in 2017 than 2010.”.
O gráfico 3
ilustra a repartição por zona geográfica da percentagem do total do tráfego
aéreo regular e do tráfego regular internacional. Destacamos
-o domínio da
Europa no tráfego internacional (47,6%),
-e o domínio da
Ásia (36,5%) no total do tráfego aéreo.
Gráfico
3 – Tráfego aéreo regular de passageiros por regiões
O indicador
número de turistas do turismo internacional é errado e induz em erro. O erro
resulta da Europa ser um patchwork de países e EUA, China e India (estes dois
com enorme crescimento real e potencial) enormes países. Um belga espirra,
acaba no Luxemburgo e temos um turista. Um residente em Nova Iorque vai a Los
Angeles (quase cinco horas de avião e três fusos horários) e não conta para o
turismo mundial – não dou mais exemplos na China ou India. Então qual é o
número total de turistas, doméstico e internacional, no Mundo? Felizmente ainda
não houve um burocrata para o querer calcular e, calculando, qual a utilidade?
A figura 2 é publicada
pela UNWTO e nela aparece a Europa a dominar o turismo internacional, de acordo
com o explicado antes (4).
Os números da UNWTO sobre turismo são, de
facto, sobre turismo internacional.
Figura 2 – International Tourism 2016
Fonte: Recortado de UNWTO,
Tourism Highlights, 2017 Edition.
2 – Tráfego global nas três principais
regiões 2007/2017 (ICAO)
*Tráfego global
O gráfico 4
mostra o tráfego aéreo global a crescer de maneira sustentada entre 2010/17. O ano de 2010 parece ser um ano de
recuperação da queda da Crise e de início de crescimento, com os valores mais
destacados a partir de 2015 (ver gráfico 5).
Fonte: Elaboração própria com base em ICAO – Annual
Reports.
O gráfico 5
ilustra a evolução da variação anual em volume de passageiros e dá leitura mais
rigorosa da evolução descrita antes.
Gráfico
5 – Tráfego regular de passageiros no mundo
Fonte: Elaboração própria com base em ICAO – Annual
Reports.
Gráfico
6 – Tráfego internacional da Europa e total do mundo (taxa variação anual)
Fonte: Elaboração própria com base em ICAO – Annual
Reports.
*Distribuição
regional do tráfego global
Os gráficos 7
a 9 mostram a evolução do tráfego nas três principais regiões do mundo, em
volume, índice e parte do total. O grande driver de crescimento é a Ásia
Pacífico, com Améria do Norte e Europa a perderem influência, com a Europa a
perder menos do que os EUA.
Gráfico
7 – Distribuição regional tráfego regular de passageiros (volume)
Fonte: Elaboração própria com base em ICAO – Annual
Reports.
Gráfico
8 – Distribuição regional tráfego regular de passageiros (2007=100)
Fonte: Elaboração própria com base em ICAO – Annual
Reports.
Gráfico
9 – Parte as três grandes regiões no tráfego regular de passageiros
Fonte: Elaboração própria com base em ICAO – Annual
Reports.
A Bem da Nação
Lisboa 10 de Setembro de 2018
Sérgio Palma Brito
Notas
(1)Airbus,
Global Networks, Global Citizens, Global Market Forecast 2018-2037
(2)European
Commission, Annual Analyses of the EU Air Transport Market 2016, March 2017
(3)Boeing,
COMMERCIAL MARKET OUTLOOK 2018–2037
(4)UNWTO, Tourism Highlights, 2017 Edition
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