Bernardo Trindade dá uma entrevista ao Dinheiro Vivo* e, salvo
o devido respeito, que até é muito, alimenta um equívoco ainda muito presente
na análise do turismo.
Madeira e Faro vivem das deslocações de estadia balnear
(long stay, mais ou menos ativa nos últimos anos) e da herança de operadores
turísticos de package holiday dos últimos cinquenta anos – este é o segmento de
mercado que opta entre Mediterrâneo Ocidental e Algarve e Madeira. Lisboa e Porto
vivem do tour urbano e cultural (city break) que só toma corpo com as low cost,
fruto da liberalização do transporte aéreo de 1993. A proteção das companhias
de bandeira impediu estes destinos de beneficiar dos ditos operadores
turísticos e são filhos do unbundling do transporte aéreo (LCC) e alojamento
(Booking).
Cito: “Depois da primavera árabe e de todos os atropelos
locais que levaram a que os turistas, nomeadamente os europeus, olhassem para
territórios como Portugal, estamos numa inversão de ciclo.”. Não olharam para Portugal,
olharam para Algarve e Madeira. O crescimento de Lisboa e Porto não depende
deste olhar.
Cito: “Portugal está mais preparado e encontrou alternativas
em termos de mercados emissores de turistas. É o caso dos Estados Unidos da
América, Brasil, Canadá e outros territórios longínquos onde há uma maior
disponibilidade para conhecer países como o nosso, fruto também do reforço das
ligações aéreas diretas.”. Estes três mercados não estão presentes no Algarve e
Madeira. Todos têm muito a ver com o hub da TAP na versão Fernando Pinto
(Brasil) ou David Neelemen (EUA e Canadá) e capacidade de atração de Lisboa e Porto.
Cito: “A nossa resposta à recuperação dos países da bacia do
Mediterrâneo passa por termos a infraestrutura do Montijo rapidamente em
funcionamento e pela requalificação do aeroporto de Lisboa.”. O aeroporto do
Montijo será para tráfego ponto-a-ponto entre Europa e Lisboa. Pode aliviar a Portela
e facilitar a vida à Madeira. Não tem a ver com a resposta de que fala BT.
A Bem da Nação
Lisboa 10 de Setembro de 2018
Sérgio Palma Brito
*Bernardo Trindade. “Estamos numa inversão de ciclo”,
Dinheiro Vivo de 10 de Setembro de 2018, em https://www.dinheirovivo.pt/economia/bernardo-trindade/
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