No presente
post mostramos como os diferentes mercados emissores contribuem para a Receita
de Viagens e Turismo. É tempo de insistir que todas as estatísticas de turismo
assentam em ‘país de residência’ e não ‘nacionalidade’. Em termos práticos, a
consequência mais importante é a de ser contada a despesa em Portugal por
emigrantes portugueses em deslocação turística ‘à terra’ – insisto por ainda
haver muito a noção de turismo ser o exclusivo de ‘camones a alojar na
hotelaria’. Assim como também conta a despesa dos turistas que alojam na sua
‘casa de férias’ ou em Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos. Por fim e
no caso de Espanha, há importantes núcleos de excursionismo (sem pernoita)
junto a algumas fronteiras terrestres.
1.Introdução
*Ranking países em 2017
Recordamos a
evolução da Receita de Viagens e Turismo entre 1996/2017 e voltamos a destacar
o crescimento atípico de 2017, a culminar um crescimento sustentado desde 2009.
Gráfico
1 – Receita de Viagens e Turismo entre 1996/2017
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
Do ranking de
países em 2017 (gráfico 2), retemos:
-tudo indica
que os quatro grandes mercados emissores continuarão a destacar-se, não havendo
‘Belenenses à vista’, isto é, nenhum destes mercados baixará ao nível a que
estão os EUA,
-os EUA podem
vir a ser um caso atípico, abaixo dos quatro grandes mas acima dos outros
mercados agora no grupo de ‘mais de €400 milhões’,
-que mercados
poderão subir acima da fasquia de €800 milhões?
-qual a
performance futura da China e Polónia?
Gráfico
2 – Receita em 2017 – ranking por países
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
*Algum detalhe sobre a variação da
Receita entre 2016/17
Da variação
da Receita entre 2017/17 (gráficos 3 e 4), destacamos EUA e Brasil nos lugares
cimeiros, seguidos por médios e pequenos contributos de vários países.
Gráfico
3 – Variação da Receita entre 2016/2017 – ranking por países
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
Gráfico
4 – Variação da Receita entre 2016/17 – parte dos países na variação
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
*Algum detalhe sobre a variação da
Receita entre 2009/17
Da variação
da Receita entre 2009/17 (gráficos 5 e 6), destacamos a liderança dos ‘quatro
grandes’, um segundo grupo com Brasil Holanda e Bélgica, mais Suíça, Angola,
Irlanda, Canadá e Itália num grupo à volta dos €200 milhões.
Gráfico
5 – Variação da Receita entre 2009/2017 – ranking por países
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
Gráfico
6 – Variação da Receita entre 20º9/17 – parte dos países na variação
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
2.Os quatro grandes mercados emissores
A parte dos
quatro grandes mercados emissores no total da Receita de Viagens e Turismo
cresce até 2005, diminui de maneira sustentada até 2013, para subir de novo até
2016 e descer em 2017 Receita (gráfico 7). Destacamos a nossa incapacidade em
explicar esta evolução, sobretudo a queda sustentada entre 2005/13. Falta
análise mais profunda.
Gráfico
7 – Quatro grandes mercados emissores em % da Receita
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
No grupo de mercados com receita
superior a €4.000 milhões (gráfico 8),
-França é o que mais cresce, num misto
de franceses e portugueses emigrantes,
-o Reino Unido, depois da queda de
32,2% entre 2007/2009, cresce
lentamente até 2013 e 16,1% entre 2013/2014, com o valor de 2014 (€1.748
milhões) ainda abaixo dos €1790 milhões de 2007,
-a Alemanha quase ultrapassa a
Espanha, mas Portugal tem a obrigação de fazer melhor no mais importante
mercado emissor da Europa [ver a seguir].
Gráfico 8 – Evolução da Receita nos
quatro grandes mercados emissores
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal
BPStat
Gráfico 9 – Parte da Receita nos quatro
mercados emissores no total da Receita de Portugal
Fonte:
Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat
3.Outros mercados emissores
Os
gráficos que seguem visam apenas sensibilizar o leitor sobre a evolução de
mercados que, por várias razões, são pertinentes.
*Mercados emissores com receita superior
a 400 milhões de euros
No
grupo de mercados com receita superior a €400 milhões (gráfico 10),
-EUA
confirmam a posição de rizing star,
-Holanda
confirma a subida ao grupo e aumento do ritmo de crescimento sustentado que vem
de 2003,
-Brasil
a crescer em 2017 e Bélgica a recuperar do valor de 2000.
Gráfico
10 – Evolução da Receita nos mercados com >€400milhões
Fonte:
Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat
*Mercados emissores com receita entre
€300 e €400milhões
Do
grupo de mercados emissores com receita entre €300 e €400milhões (gráfico 11). Destacamos
o caso especial de Angola onde a questão é saber como e quando volta a crescer.
Depois Suíça, Irlanda e Itália têm evolução próxima, com ligeira tendência de
maior crescimento dos dois primeiros mercados. O grafismo de que dispomos não
nos permite inserir rótulos de dados.
Gráfico
11 – Evolução da Receita nos mercados entre €300 e €400 milhões
Fonte:
Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat
*Mercados emissores com receita entre
€200 e €300milhões
Do
grupo de mercados emissores com receita entre €200 e €300 milhões (gráfico 41),
destacamos a recuperação e potencial de crescimento do Canada e o Luxemburgo
muito ligados a emigrantes portugueses.
Gráfico
12 – Evolução da Receita nos mercados entre €200 e €300 milhões
Fonte:
Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat
*Mercados emissores especiais: Polónia
e China
Por
fim, destacamos os mercados emissores da Polónia e China (gráfico 13),
diferentes na dimensão e no potencial de crescimento e a justificar
acompanhamento.
Gráfico
13 – Receita de dois mercados emissores especiais
9.Notas finais
*Receita
de Viagens e Turismo por Continentes
Comecemos por situar a origem da
Receita de Viagens e Turismo por Continentes dos mercados emissores (gráfico 14).
Gráfico 14 – Receita de Viagens e
Turismo – parte dos continentes no total
Fonte:
Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat
Destacamos:
-estabilidade da Receita com origem na
Europa em que fica por saber a parte atribuída a emigrantes portugueses que se
deslocam a Portugal,
-estabilidade aparente da América, com
pico em 2013, queda até 2016 e recuperação em 2017 por via de Estados Unidos e
Brasil, como vimos antes,
-África com pico em 2013 e queda desde
então e crescimento lento, mas crescimento sustentado da Ásia que, em condições
normais, ultrapassará África pelo efeito China.
*Receita em percentagem da Despesa de
Mercados Emissores
O gráfico 15
ilustra a Despesa de Viagens e Turismo em mercados emissores importantes para
Portugal e o gráfico 16 a parte da Receita de Viagens e Turismo de Portugal na
Despesa de cada País (9).
Destacamos:
-Alemanha com
a Despesa de longe mais importante e em antepenúltimo lugar da percentagem –
mercado a gritar para Portugal o levar a sério,
-Espanha com
Despesa inferior às de Bélgica, Holanda e Suíça, mas com a percentagem mais
alta – porventura por proximidade geográfica e cultural mais excursionismo,
-Bélgica tem
Despesa superior à da Holanda, mas 2.2% de percentagem contra 3.3% da Holanda –
o posicionamento do Algarve parece explicar a diferença,
-Polónia com
percentagem já superior à de Itália, mas Despesa de um terço da de Itália –
pode ou não ser mercado de crescimento?
Estas e mais
questões podem ser levantadas e de maneira mais profunda (série 1996/2017) por
quem tenha acesso à base de dados do FMI. Certo é não podermos ignorar esta
dimensão no branding dos Destinos
Regionais e Marketing & Vendas da Oferta.
Em 1989, a
então Alemanha Ocidental passa a ser o mercado mais importante do turismo
internacional na Europa, acabando com o domínio do Reino Unido que datava do
século XVIII. A reunificação no que é a atual Republica Federal da Alemanha
reforça esta liderança.
Gráfico
15 – Despesa por mercado emissor em 2016
Fonte: Elaboração própria com base em Eurostat.
O gráfico 16
ilustra a percentagem da Receita de Portugal na Despesa de mercados emissores
em 2016. De memória de homem, nunca o vimos publicado, ainda menos analisado e
nem por sombras tido em conta no marketing & vendas da nossa oferta de
turismo. A parte da Espanha é uma surpresa e a da Alemanha um desastre para
nós.
Gráfico
16 – Percentagem da Receita de Portugal na Despesa de mercados emissores em
2016
Fonte: Elaboração própria com base em Eurostat.
*Receita do Turismo, Políticas
Públicas e o exemplo de 1964
Parece ser
consensual que o Saldo
acumulado das balanças corrente e de capital é decisivo para a sustentabilidade
da Economia e Sociedade do País. Já será menos consensual, mas é nossa opinião
que
-as políticas
publicas de Turismo e de Transversalidade do Turismo
devem dar prioridade ao crescimento do contributo da Receita de Turismo para o
superavit do Saldo, antes até da importante contribuição do turismo para o PIB.
Mais
concretamente e face a estes números,
-a prioridade
das Políticas Públicas consiste em facilitar e fomentar a competitividade de
empresas e estabelecimentos que estão na base das deslocações a Portugal por
residentes no estrangeiro,
-estas
Políticas devem também ser avaliadas pela sua capacidade em contribuir para a Receita
de Turismo na Balança de Pagamentos.
*O
exemplo de 1963/64
Perdemos a
clarividência de 1964, quando o País enfrenta problemas cambiais porventura
mais graves dos de hoje e quando o Turismo acaba por ser integrado nos
trabalhos preparatórios do que virá a ser o Plano Intercalar de Fomento para
1965-1967. Citamos:
-“houve um
critério que esteve sempre presente: o de que se deve dar prioridade às medidas
destinadas a fomentar o turismo de estrangeiros, mesmo quando isso implique um
certo sacrifício nas atuações orientadas no sentido do turismo interno.”*.
A Bem da
Nação
Lisboa 14 de
Setembro de 2018
Sérgio Palma
Brito
*Presidência do Conselho, Relatório do Grupo de Trabalho
nº 13, Turismo dos trabalhos preparatórios do Plano Intercalar de Fomento para
1965/1967, Lisboa, 1964.
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