Receita de Viagens e Turismo nas contas exteriores de Portugal


O título do post devia ser “Receita de Viagens e Turismo no Saldo Acumulado das Balanças Corrente e de Capital" (a seguir “o Saldo”, na linguagem de pau do Banco de Portugal, porque é disso que se trata. Quando está em causa a sustentabilidade do País na sua relação com o mundo em que se insere, este ‘saldo’ e tão ou mais importante que do que o “saldo das Contas Pública” (vulgo déficit público). É possível que a mais importante contribuição do turismo para a Economia seja a sua contribuição decisiva para este saldo. A contribuição para o PIB é abordada em post a publicar ainda em 2018.

Neste post percorremos o caminho para chegar a este “saldo acumulado das balanças corrente e de capital”. Enjoy!


1.Despesa de Viagens e Turismo e a chamada Balança Turística

*Sobre a Despesa de Viagens e Turismo e a Balança Turística
Neste documento,

-autonomizamos e damos prioridade à Receita de Viagens e Turismo, como atividade geradora de transferência de recursos do exterior e contributo positivo para “o Saldo”,

-autonomizamos a Despesa de Viagens e Turismo, como atividade geradora de transferência de recursos para o exterior e contributo negativo para “o Saldo”.

Recusamos a noção de Balança Turística por

-resultar da diferença de duas dinâmicas económicas diferentes, a de transferir recursos do exterior e a de transferir recursos para o exterior

-escamotear o verdadeiro contributo positivo e negativo do Turismo para a Balança de Pagamentos,

-não fazer sentido, como não faria a de Balança Vínica ou Sapática.

Dito isto, é inquestionável que o Banco de Portugal contabilize débito e crédito da de Viagens e Turismo e apresente o saldo. Faz parte da sua missão.

Em 2017 temos (gráfico 1):

-a economia do turismo exporta €15.153 milhões de serviços de viagens e turismo, em deslocações a Portugal por residentes no estrangeiro.

-Portugal importa €4.293 milhões de euros de serviços de viagens e turismo, em deslocações ao estrangeiro por residentes em Portugal.

O turismo interno (residentes em Portugal em deslocação turística no País) pode representar alguma substituição de importações, mas não abordamos este aspeto.

O gráfico 1 ilustra a evolução da Receita e Despesa de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos. Constatamos que a Receita é mais importante do que a despesa e cresce a ritmo mais rápido,

Gráfico 1 – Evolução da Receita e Despesa de Viagens e Turismo


Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat

O gráfico 2 apresenta a percentagem da Despesa de Viagens e Turismo na Receita. Esta percentagem

-diminui entre 1996/2004, aumenta até 2010 e diminui de maneira sustentada desde então,

-não tem grande significado por resultar muito do crescimento da Receita.

Gráfico 2 – Percentagem da Despesa de Viagens e Turismo na Receita

Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal BPStat





O gráfico 3 ilustra a evolução das Exportações e Importações de Bens e tem sobretudo a ver com a atividade da Agricultura e Indústria.

Gráfico 3 – Exportações e Importações de Bens



O gráfico 4 ilustra a evolução das Exportações e Importações de Serviços, entre os quais Viagens e Turismo.

Gráfico 4 – Exportações e Importações de Serviços


*Receita de Viagens e Turismo na Exportação de Bens e de Serviços
A comparação entre Receita e valor das Exportações de Bens (gráfico 10) dá uma ideia dos valores em causa e do potencial de crescimento para ambos. Esta comparação tem interesse

-para compreender as Exportações fora do dilema em que as meteram: fazer crescer as Exportações de Bens é ‘de direita’ e o Estado endividar-se para injetar dinheiro na economia e aumentar o poder de compra é ‘de esquerda’,

-por o crescimento das Exportações de Bens e da Receita de Viagens e Turismo ter sinergia a que voltaremos.

O gráfico 5 ilustra a Percentagem da Receita de Viagens e Turismo na Exportação de Bens. Destacamos,

-estabilidade entre 1996/2013 e crescimento da percentagem a partir desse ano, por a Receita de Viagens e Turismo crescer mais do que as Exportações de Bens,

-este fato reforça a importância do Turismo e dá a medida da crítica de ‘Portugal ficar reduzido ao Turismo’, quando as Exportações também crescem.

Momento para situar o Turismo como exportador de Bens in situ:

-a garrafa de vinho vendida à exportação a €2, pode ser vendida num restaurante a €10, com muito maior Valor Acrescentado nacional … mas com os €10 contabilizados na Receita de Viagens e Turismo.

Gráfico 5 – Percentagem da Receita de Viagens e Turismo na Exportação de Bens


Fonte: Elaboração própria com base em BPStat e https://ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=cn_quadros&boui=220637315

O gráfico 6 ilustra a Percentagem da Receita de Viagens e Turismo na Exportação de Serviços e dá outro aspeto da evolução que observamos.

Gráfico 6 – Percentagem da Receita de Viagens e Turismo na Exportação de Serviços


Fonte: Elaboração própria com base em BPStat e https://ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=cn_quadros&boui=220637315


*Receita Viagens e Turismo e Saldo externo de Bens e Serviços
Por fim o gráfico 7 ilustra a evolução do Saldo externo de Bens e Serviços. Este saldo é elemento importante da relação entre Portugal e o Exterior, que inclui ainda movimento de capital e outros (ver figura 1). Para obter este saldo somamos exportações de Bens e de Serviços e diminuímos a sua importação.

Gráfico 7 – Saldo externo de Bens e Serviços


*Receita de Viagens e Turismo no saldo da Balança de Serviços
Vimos antes (gráficos 5 e 6) como a Receita de Viagens e Turismo influencia o saldo da Balança de Serviços na Balança Corrente. O gráfico 8

-compara o Saldo Externo de Bens e Serviços com a Receita de Viagens e Turismo – notar que esta Receita vem a Crédito no cálculo deste Saldo,

-mostra a importância da Receita neste Saldo e, por esta via no Saldo Acumulado das Balanças Corrente e de Capital (figura 1).

Gráfico 8 – Saldo Externo de Bens e Serviços e Receita Viagens e Turismo


Fonte: Elaboração própria com base em INE – Contas Nacionais.


4.Receita de Viagens e Turismo no saldo acumulado das balanças corrente e de capital

A finalizar, a figura 1 ilustra a evolução do Saldo Acumulado das Balanças Corrente e de Capital desde 2008. Não conseguimos aceder a informação estatística até 1996, pelo que nos limitamos a copiar a figura publicada pelo Banco de Portugal.

Figura 1 – Decomposição do saldo acumulado das balanças corrente e de capital


Fonte: Recortado de NOTA DE INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA 19|2018, Balança de pagamentos, Dezembro de 2017 21 de fevereiro de 2018 (5).

Desta figura, destacamos:

-um Saldo negativo até 2011, que atinge o equilíbrio em 2012 e é positivo desde 2013 até à atualidade,

-um contributo fortemente negativo da Balança de Bens e Serviços (esta inclui a Receita de Viagens e Turismo), que passa a positivo a 2013 e é, de facto, o fator que determina esta evolução,

-a importância da sustentabilidade deste Saldo para a reputação de Portugal nos mercados em que Republica e empresas se financiam e junto das instituições internacionais pertinentes.


A Bem da Nação

Lisboa 13 de Setembro de 2018

Sérgio Palma Brito

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