O acionista estado português
partidarizado, agora em versão Pedro Nuno Santos, trouxe para a praça pública a
desconfiança que o ministro alimenta (ele mais do que António Costa, que não o
acompanha) em relação à gestão privada da TAP. Um problema sério deve ser
tratado com profissionalismo no seio da empresa, mas o ministro achou por bem
abrir a caixa de Pandora de que esta notícia faz parte.
O essencial da ‘notícia’ do Expresso de 21 de Setembro de 2019 está no titulo
-Prejuízos na TAP agravam tensão com o Governo
e no lead:
O essencial da ‘notícia’ do Expresso de 21 de Setembro de 2019 está no titulo
-Prejuízos na TAP agravam tensão com o Governo
e no lead:
-“Transportadora teve um mau primeiro
semestre. Tensão aumenta. Estado está insatisfeito com Neeleman e já se procura
comprador para a sua posição. Lufthansa e United são hipóteses”.
O resto é
acompanhamento.
1.”Tudo apontava
para que a sucessão de maus resultados fosse uma página virada da história da
TAP”.
Devo ser o único a denunciar a inaceitável politica de falta de
transparência da TAP no que toca a informação publica. Ver
-“Indicadores da
performance de companhias aéreas e más práticas da TAP” (http://sergiopalmabrito.blogspot.com/2018/01/indicadores-da-performance-de.html).
Eis o quadro que o Grupo IAG publica anualmente:
Fonte: IAG results presentation, Quarter Four 2016,
24thFebruary 2017 slide 14.
É inadmissível que o Expresso alimente a falta de transparência e não exija
os dados que são fundamentais para uma análise séria da realidade da empresa.
2.”Uma crispação
(quase) silenciosa que se tornou visível na sequência da polémica da atribuição
de prémios de desempenho a 180 trabalhadores da TAP, no valor de €1,171
milhões, relativos a 2018, um ano de prejuízos”.
Na Quinta-feira 6 de
Junho de 2019 os administradores da TAP nomeados pelo Estado informam ter
convocado uma reunião extraordinária do Conselho para analisar a decisão da
Comissão Executiva [atribuição de prémios]. De tarde, o ministério de PNS não
se revê na decisão “da comissão executiva, que agiu em desrespeito dos deveres
de colaboração institucional que lhe são conferidos”. Mais, “este procedimento
por parte da comissão executiva da TAP constitui uma quebra da relação de
confiança entre a comissão executiva e o maior acionista da TAP, o Estado
português”.”. No Parlamento, o primeiro ministro distancia-se desta posição.
Afinal, a quebra de confiança é só partilhada pelo ministro.
Em São
Francisco, David Neeleman desdramatiza: “Estas coisas acontecem e virámos uma
página no fim de semana. Foi um mal-entendido”.
Em
28.06.2019, em entrevista à SIC, PNS insiste: O ministro das infraestruturas
lamenta que o Governo não tenha poder para demitir a comissão executiva da TAP.
Pedro Nuno Santos diz que a confiança ainda não foi recuperada, mas saúda o facto
de o Estado poder passar a acompanhar a definição da política de prémios na
empresa.
O ministro traz o assunto para a praça pública e lamenta não ter poder para
demitir a Comissão Executiva, isto é, discorda frontalmente de um ponto chave
do acordo entre o Estado e o Consórcio privado. Sobre isto ver o ponto 8 do
post
“TAP SA – oito perguntas bem explicadas e a exigir resposta” em http://sergiopalmabrito.blogspot.com/2017/11/tap-sa-oito-perguntas-bem-explicadas-e.html.
3.”Neeleman tem às
costa já o processo de falência da Aigle Azur, onde detém uma posição de 32%.”
O Expresso destaca situação menos gloriosa de David Neeleman.
Omite outra
que é mil vezes mais importante e noticia no mundo da aviação comercial: o
projeto da companhia Moxy que vai voar em 2021, para a qual DN recolheu
financiamento de $100 milhões e que promete ser inovador. É um pequeno episódio
da série em curso Porrada no Neeleman.
4.“A data da estreia em bolsa foi um dos pontos de discórdia”
Este ponto é sabido e nada a acrescentar.
5.“encontrar um novo parceiro para a TAP”
Estamos no cerne da notícia, a ‘informação’ sem bases solidas de haver
“peças do xadrez a mexerem-se para encontrar um novo parceiro para a TAP”.
Para além de PNS, é sabido haver mais gente a querer deitar DN pela borda
fora, sem a noção de como ele salvou a TAP da insolvência e de quem ele é –
dentro de dias, há um post sobre as etapas da carreira de David Neeleman.
A
notícia parece mais inspirada por estas “peças” do que pelo dever de informar o
leitor sobre quem são e que interesses querem afastar Neeleman.
6.Interesse de
Lufthansa e United
Voltamos aos
tempo patético de 2012, quando a imprensa de referência anunciava haver
interesse pela TAP por parte de várias companhias aéreas – no fim havia apenas
Efromovitch. Em 2015, apenas houve Efro e Neeleman. A TAP como estava não
interessava a ninguém.
Agora a TAP
pode interessar, sobretudo se for desvalorizada pela instabilidade e embelezada
pelo interesse de grandes companhias.
Cito: “A Lufthansa, por exemplo, para quem
a TAP poderia ser interessante por causa da operação Brasil, aporta como risco
a possibilidade de retirar o hub de Lisboa.”. O autor parece ignorar que, na
sua politica de aquisições (Austrian, SWISS e Brussels), a Lufthansa valoriza o
hub e o de Lisboa tem valor e complementa a rede do grupo – pelo menos, a
informação podia ser melhor.
A United é parceira de David Neeleman e adquirir 45% da TAP não é o que
mais excita uma das três grandes companhias dos EUA. Referir a United dá jeito
e o desmentido é mais do que improvável.
7.Brevemente, mais notícias sobre a instabilidade da TAP e as “peças do
xadrez”.
A Bem da Nação
21 de Setembro de 2019
Sérgio Palma Brito