O aeroporto de Faro no contexto da Península Ibérica -Ibiza e mais


Para intervir em debate sobre o turismo do Algarve importa situar o aeroporto de Faro no contexto da Península Ibérica. Começamos com amostra de aeroportos pertinentes, observados em apenas seis gráficos, com o intuito de suscitar questões e não de dar respostas. É exemplo de base estatística rudimentar de apoio a análise da informação de Business Intelligence de que não dispomos.


1.Proximidade entre aeroporto de Faro e Ibiza

O ranking dos aeroportos da Amostra pelo indicador número de Passageiros (gráfico 1) revela:

-o caso excecional de Palma de Maiorca (29k) e também de Málaga (19k), este com mais do dobro de passageiros do que o de Faro,

-um segundo nível com Alicante (14,0k), Gran Canaria (13,6k) e Tenerife Sul (11,0k) – ver a seguir Alicante e Tenerife Sul,

-Faro (8,7k) surge depois e perto de Ibiza (8,1k),

-por fim aeroportos menores, com Tenerife Norte (5,5k) limitado pela construção do de Tenerife Sul.



Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.

No ranking do crescimento do número de Passageiros entre 2001/2018 (gráfico 2),

-de novo liderança de Palma de Maiorca e Malaga, com Alicante a aproximar-se,

-Porto ilustra o crescimento de um aeroporto de cidade e de deslocações de Tour urbano e cultural mais de Visitas a Familiares e Amigos pela Diáspora e tem o dobro de passageiros de Sevilha,

-depois temos Gran Canaria, Sevilha e Faro com Ibiza a aproximar-se,

-Tenerife Sul é último com crescimento anémico (1,9k).


Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.

Os dois indicadores indicam alguma proximidade entre os aeroportos de Faro e Ibiza, que o gráfico 3 ilustra. Em 2016 e 2017, Faro destaca-se, mas 2018 levanta a interrogação sobre Ibiza conseguir ou não a liderança que nunca teve. Há que ter em conta que

-Faro tem cerca de 10% de passageiros que são regresso de outbound mais turistas para Huelva e Alentejo,

-Ibiza com cerca de 110.000 habitantes está longe dos 10% de Faro e ainda menos em quantidade – o que só agrava a performance de Faro,

-daqui resulta que, em turismo recetor, o aeroporto de Ibiza é mais importante do que o de Faro,

-no Algarve há ainda turistas residentes em países que permitem o acesso rodoviário, mas neste post apenas consideramos aeroportos.
Portugal e alguns países europeus, poucos, mas há.


Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.



2.Aeroporto de turismo só recetor e recetor/emissor

O gráfico 4 ilustra a evolução 2001/2018 em Índice Base 2001 do número de passageiros dos aeroportos da Amostra.


Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.

Deste gráfico, destacamos:

-a liderança de dois aeroportos de cidade (Porto e Sevilha) ou próximo (Tenerife Norte), com short breaks ou deslocações turísticas de tour urbano e cultural em turismo recetor e emissor,

-a boa performance de Faro e Ibiza e a de Malaga que não sabemos situar com base na informação de que dispomos.

Em post futuro, analisamos a diferença entre o crescimento de city short breaks (tour urbano e cultural) e long stays (estadias em local aprazível, na ocorrência, praias).

O gráfico 5 ilustra a evolução entre 2001/2018 do número de passageiros nos aeroportos de Tenerife Sul e Alicante. Na evolução de Tenerife Sul com apenas turismo recetor e domínio de long stays e alguns congressos e incentivos, há

-estagnação entre 2001/2015, que estará ligada a problemas estruturais das long stays no Mediterrâneo (ver próximo post),

-crescimento atípico entre 2015/2017 e queda em 2018 que o ano de 2019 confirmará ou não – parece ser um caso de transferência de turistas do Mediterrâneo Leste (Turquia),



Fonte – Elaboração própria com base em AENA.

No caso de Alicante,

-o aeroporto de Alicante serve uma cidade com cerca de 300k habitantes, uma Região com cerca de 1,8 milhões e a Área Turística de Benidorm com cerca de 70k habitantes – é estruturalmente diferente do de Tenerife Sul,

-a Crise de 2009 quase não se faz sentir e há queda atípica em 2012, retoma de crescimento em 2012, que acelera entre 2015/2017, e desacelera em 2018,

-as três fases de crescimento a partir de 2012 poderão resultar do crescimento da procura europeia por city short breaks e/ou transferência de turistas do Mediterrâneo Leste, MAIS todo o turismo emissor de importante população residente.

Entre 2015/2017, Tenerife cresce 2,1 milhões de passageiros (1,1 milhões de turistas em recetor) e Alicante 3,1 milhões de passageiros ou 1,6 milhões de turistas em recetor/emissor. No que toca a transferências de e para o Mediterrâneo Leste, são números que nada têm a ver com a evolução dos mercados de Reino Unido, Alemanha e Holanda em Faro.


3.Nota final

O texto parece confuso e não é de leitura fácil? Certamente falha nossa, mas também eventual falta de prática ou excesso de leitura fácil de ‘explicações’ simplistas, que dominam a abordagem do turismo do Algarve.

É normal que entre 2001/2018 o número de passageiros nos aeroportos de Cidade cresça mais do que o dos aeroportos de Áreas Turísticas do Mediterrâneo, com quase meio século de crescimento. Dito isto, parece haver um dado estrutural a que se tem dado pouca atenção:

-os orçamentos para viagens das famílias da classe média não são elásticos, antes eram apenas consagrados a long stays em Áreas Turísticas e desde o início do século são repartidos com city short breaks, novidade e mais apelativos em termos de experiências.

Certo é a estadia média de Hóspedes Não Residentes na Hotelaria do Algarve diminuir desde 2001 ou 1995 (gráfico 6) – a hesitação entre 1995/2001 deve-se aos valores atípicos de 1999 e 2000 que estão a ser avaliados.


Fonte – Elaboração própria com base em INE.



A Bem da Nação

Lisboa 2 de Agosto de 2019

Sérgio Palma Brito


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