As
Estatísticas de Turismo – 2018 não deviam incluir o indicador ‘Chegadas de
Turistas a Portugal 2017/2018’ porque o Inquérito ao Turismo Internacional de
que deveria resultar não foi realizado. O valor publicado resulta de modelo
estatístico aplicado aos resultados de um ITI realizado em 2016. Se o governo
não disponibiliza ao INE os meios humanos e materiais para realizar o mais
importante dos inquéritos, tal deve ser dito claramente e não escamoteado. Esmiuçamos
isto em 4 pontos:
-a ausência
de procura exigente está na base da parca Informação Estatística do Turismo,
-na ausência
de um Inquérito ao Turismo Internacional que satisfaça todos os requisitos de
qualidade, o INE nada deve publicar,
-sem um bom
Inquérito ao Turismo Internacional continuamos a ignorar as dinâmicas sociais e
económicas na base do alojamento e despesa de 7,5 milhões de turistas,
-já que temos
o número de 7,5 milhões de chegadas de turistas, tentamos avaliar a sua
verosimilhança.
Declaração de
interesses. Utilizo as Estatísticas de Turismo do INE desde 1969 (50 anos?
Venha lá essa medalha!) e dei muitas e variadas provas de ser um ‘Amigo do
INE’. Dou-me ao trabalho de criticar quando tenho forte motivo para o fazer,
mesmo tendo a consciência de não ser escutado.
*Sem
procura qualificada e exigente, a informação estatística sofre
A não feitura
regular do ITI é o elemento mais evidente da fraqueza estrutural da Informação
Estatística do Turismo e de um ‘centro de saber’, frutos da ausência de procura
qualificada e exigente por parte de política, administração, iniciativa
privada, universidades opinião publica e sei lá que mais. Na ausência desta
procura, não há a Informação Estatística do Turismo necessária ao Conhecimento, Competitividade e
Posicionamento da Economia do Turismo. Como é possível não haver esta procura
exigente ou não se manifestar ruidosamente?
A nível mais
terra a terra, a conversa ou discussão dominantes sobre a Economia do Turismo
começa por sofrer desta insuficiência de Informação Estatística e da Business
Intelligence que as complete, o que as compromete à partida. Em Abril de 2014 publiquei um post sobre “Informação Estatística do
Turismo – Instrumento de Conhecimento,
Competitividade e Posicionamento” uma Proposta Para Debate – 1ª versão. É
evidente que não houve debate e ainda menos segunda versão, mas mantenho o que
escrevi, com a consciência de muito provavelmente ser o único cidadão que se
preocupa com isto.
*A
informação que não devia constar das Estatísticas do Turismo
As
Estatísticas de Turismo assentam essencialmente em dois Inquéritos. O que é
feito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e Outros
Alojamentos data dos anos cinquenta (ou sessenta), tem sido melhorado, mas
continua fiel a ‘Estabelecimentos, quartos e camas’ e ‘Hóspedes Dormidas e
Proveitos Totais e de Alojamento’, mais uns acrescentos – é raro haver uma
série estatística com esta longevidade, o que é bom. Desde 2009, há o Inquérito
às Deslocações dos Residentes. Nas Estatísticas de Turismo, ambos são
apresentados com dignidade e é dada informação sobre Conceitos e Metodologia.
O Inquérito
ao Movimento de Pessoas nas Fronteiras (Inquérito ao
Turismo Internacional em 2016) tem existência atribulada desde o tempo em
que recolhia informação junto de agentes da PIDE pouco dados a estatísticas.
Foi sucessivamente manipulado e utilizado para propaganda do titular da pasta
que anunciava sempre “O melhor ano turístico de sempre”. Existiu com dignidade
entre 2004/08 por iniciativa do secretário de Estado Luís Correia da Silva, e
ressuscitou em 2016 como Inquérito ao Turismo Internacional, mas sem a força
e
vigor que devemos exigir.
Este Inquérito
não aparece nas Estatísticas de Turismo - 2018 com a dignidade dos outros dois.
Acontece que em menos de uma página o INE publica o quadro seguinte, baseado em
modelo que extrapola os resultados de 2016.
Em nossa
opinião esta opção do INE é inaceitável. Se não há meios para repetir um bom Inquérito
ao Turismo Internacional, o INE nada publica e refere não haver meios para o
realizar. Simples.
*Há 7,5
milhões de Turistas Não Residentes que desconhecemos
O gráfico 1
compara o número de Chegadas (turistas) do quadro anterior com o número de
Hóspedes no Total dos Alojamentos Turísticos segundo o inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e
Outros Alojamentos. Segundo o INE, a diferença de 7,5 milhões de Turistas Não
Residentes alojaria em Casa de Férias de sua propriedade, Alojamento Gratuito
por Familiares e Amigos, e Alojamento Local com menos de 10 quartos.
Esta massa de
turistas tem a ver com dinâmicas que continuamos a desconhecer da Economia do
Turismo, nomeadamente
-investimento
de famílias de emigrantes portugueses e cidadãos estrangeiros em residências
secundárias de uso sazonal, a evoluir para residência habitual durante a
reforma,
-Alojamento
Gratuito por Amigos que alojam de emigrantes portugueses e cidadãos estrangeiros
de visita a Portugal,
-Casas de
Férias dispersas, no Interior do País e no caso especial do Algarve, a Villa
with a pool, um dos alojamentos turísticos que melhor posiciona a Região.
Sem um bom Inquérito
ao Turismo Internacional continuamos a ignorar esta dimensão da Economia do
Turismo.
*Serão
mesmo 7,5 de turistas
O número em
si é pouco relevante e só serve para notícias tontas na comunicação social. Uma
vez que INE o publica e dá algum detalhe, assinalamos alguns pontos:
-em 2018, há
19 milhões de deslocações turísticas ao estrangeiro por residentes em Espanha,
mas não sabemos quantos vêm a Portugal.
-o fiável
International Passenger Survey do Reino Unido quantifica jjj deslocações
turísticas a Portugal, 2.320 milhares, abaixo dos 3.500 milhares do
INE.
-os 1,6+0,4
milhões da Alemanha parecem possíveis, já os 1,4 milhões de residentes em
França parece algo de exagerado.
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo – 2018.
A Bem da
Nação
Lisboa 14 de
Agosto de 2018
Sérgio Palma
Brito
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