Ena pá, “contrária aos interesses do país, dos portugueses e da economia nacional”


Um erro pontual mas absurdo numa campanha do Aeroporto de Faro de apoio à venda de passagens aéreas a partir do Algarve desencadeou uma polémica que teve o mérito colateral de revelar muito sobre a cultura regional e nacional na abordagem do turismo da Região. O erro e o exagero inserem-se em contexto sem o qual não podem ser compreendidos.

*O contexto a nunca ignorar

Um decreto-lei de Abril de 1962 estipula que “As despesas resultantes da construção e equipamento do aeroporto de Faro, previsto no II Plano de Fomento, serão feitas com dispensa no cumprimento de todas as formalidades legais, incluindo o visto do Tribunal de Contas”. Só Salazar pode tomar esta decisão que sela o seu compromisso público com o desenvolvimento do novo turismo do Algarve. As primeiras decisões importantes de investimento no Algarve são tomadas logo depois desta data. Em Julho de 1965, é inaugurado o aeroporto e começa o crescimento sustentado de passageiros até à atualidade, interrompido por períodos de queda conjuntural, logo recuperada por procura resiliente, em longo desmentido da volatilidade do turismo. O Algarve passa a ser uma das Áreas Turísticas da Bacia Turística Alargada do Mediterrâneo.

O aeroporto de Faro nasce com duas fraquezas estruturais que perduram até hoje e vão perdurar:

-Não se insere em grande área urbana que gere tráfego emissor de lazer e de negócios que contribua para a sua massa crítica e atenuação da sazonalidade – Malaga é diferente e propulsiona a Costa do Sol para outro patamar de crescimento. 

-Emigrantes algarvios não são em número que gere centenas de milhares de visitas a familiares e amigos – no Porto, este tráfego é decisivo para o crescimento do turismo (emigrantes são turistas). 

No Algarve, sem aeroporto não há turistas da Europa do Norte para estanciar e sem estes não há aeroporto – convém ter isto bem em mente.

*Uma falta de bom senso que incendeia os espíritos

Como diz o Expresso, “A promoção dos destinos com voos a partir de Faro são conteúdos habituais, publicados na página oficial do aeroporto. No caso desta campanha, a indignação prende-se com a referência negativa feita ao Algarve.”. A campanha é dirigida à população residente, portuguesa e estrangeira, e visa mitigar as fraquezas estruturais referidas. Acrescenta valor ao aeroporto e a Região. Na realidade, acrescenta pouco pela reduzida dos 'alvos' (targets) da mensagm.

A campanha inclui cerca de quinze destinos e apenas UM está em causa, Marselha com “marinas, praias, água transparente e calor”. Esta proposta, em quinze, revela uma falta de bom senso, não por promover Marselha, mas por denegrir o Algarve (Fotografia do Observador a partir de Meios e Publicidade).



A partir deste facto menor e logo corrigido espirala uma onda de indignação que encontra eco desproporcionado na comunicação social, alimentada por declarações que merecem atenção. O gabinete do Ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, considerou que a publicidade era “contrária aos interesses do país, dos portugueses e da economia nacional”. (Meios e Publicidade). Uma mísera imagem num portal de pouco acesso não justifica intervenção do governo, nem a sua difusão publica e ainda menos o conteúdo. Contrária aos interesses do País etc. é a degradação da N125 e a ferrovia regional, para só citar casos que dependem do ministro.

Mais, o Turismo do Algarve condenou “veementemente” a campanha por “atentar contra a imagem do principal destino turístico nacional”, empolamento excessivo e desnecessário. E estranho por o Presidente da ERTA ter começado por minimizar o incidente. Passo sobre as posições dos partidos regionais em que se chega a referir ser o caso consequência do Estado ter perdido o controle estratégico sobre a ANA. Passo sobre o Presidente da AHETA falar em “companhias aéreas subsidiadas” pelo turismo recetor e a ganhar com este turismo emissor, o que revela desfasamento com a realidade do transporte aéreo na Região. Empresários do turismo empolaram o assunto, sem ter em conta o que de positivo a campanha tinha e a sua grande difusão apesar da pequena dimensão dos alvos. NENHUM destes atores regionais interveio a dar a devida importância ao incidente e enterrar o assunto. Este sim, inflamável pela silly season e com este apoio regional.

Não havia necessidade


A Bem da Nação

Lisboa 31 de Julho de 2019

Sérgio Palma Brito

*Corrigido às 16:04 - a difusão foi importante.


Ver
-2019.07.29.Meios.Publicidade

-2019.07.29.Expresso.Campanha


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