O regresso ao
Mediterrâneo Leste dos turistas que a insegurança afastou para o Algarve seria
a explicação da ‘crise’ que é voz corrente a Indústria da Hotelaria do Algarve atravessar
(a seguir, Indústria ou Hotelaria). A quantificação rudimentar que segue ajuda
a balizar opiniões que, como este texto, sofrem com insuficiência de Informação
Estatística e de Business Intelligence, e ausência de Análise Estrutural
da Indústria (1)
o que dificulta o diálogo produtivo.
Sublinhamos
mais uma vez que este movimento pendular tem apenas a ver com as deslocações de
estadia (long stays) para Faro e em nada influencia o crescimento das
deslocações de tour urbano e cultural (city breaks) para Lisboa e Porto.
Analisamos as
chegadas de Visitors à Turquia por nacionalidade e Hóspedes não
Residentes nos Estabelecimentos da Indústria e suas Dormidas. No Algarve
utilizamos amostra de 19 mercados emissores que em 2018 representam 96,6% do Total
de Hóspedes Não Residentes e das suas Dormidas. Na Turquia focamo-nos nos
mercados emissores de Reino Unido, Alemanha e Holanda, onde a Indústria do
Algarve enfrenta as maiores dificuldades.
Antecipamos a
conclusão geral. O regresso dos Turistas ao Mediterrâneo Leste parece ter lugar
e algum significado no mercado do Reino Unido, muito pouco no da Alemanha e
Holanda. Certo é haver outros fatores a explicar a evolução do número de
Hóspedes Não Residentes e suas Dormidas destes mercados e estes fatores não
estarem a ser tidos em conta.
O presente
texto é redigido de boa fé, mas não foi revisto por terceiros. Pode conter
erros, que o leitor mais amigo nos fará chegar.
1.Visitors
que chegam à Turquia entre 2003/2018 - variação anual
O Ministério
da Cultura e Turismo da Turquia apenas divulga em inglês o número de Visitors
à Turquia por nacionalidade. Ignoramos se Visitors inclui
Excursionistas e nacionalidade quer dizer País de Residência como mandam as
normas. Dito isto e no caso dos mercados emissores em apreço Excursionistas são
irrelevantes, mas País de Residência é pertinente por residir na Alemanha
elevado número de emigrantes turcos.
Os gráficos 1
e 2 ilustram a evolução entre 2003/18 das chegadas de Visitors à Turquia
por nacionais do Reino Unido, Alemanha e Holanda. Com variações próprias a cada
mercado, os três conhecem crescimento sustentado até 2015 e variações atípicas
depois – 2015 é o único ano de viragem significativa. O mercado mais importante
é o da Alemanha, o Reino Unido representa cerca de 50% do da Alemanha e o da
Holanda cerca de 22%. Não apresentamos a parte destes mercados no total por
este incluir muito movimento de países atípicos.
Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério
da Cultura e Turismo da Turquia.
O gráfico 3
ilustra, para os mesmos mercados, a variação do número de Visitors nos
anos de 2015-2018. A queda importante e brusca em 2016 com réplica em 2017 e
recuperação em 2018 são mais visíveis do que nos gráficos 1 e 2. A variação
anual da Alemanha em 2014 é importante e positiva e compara com variações
insignificantes e negativas do Reino Unido e Holanda.
Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério
da Cultura e Turismo da Turquia.
2.Hotelaria
do Algarve – Hóspedes Não Residentes e suas Dormidas
*Variação
anual entre 1996-2018
Breve
apresentação da Indústria com a evolução 1996-2018 da variação anual de Hóspedes
Não Residentes e suas Dormidas. O gráfico 4 mostra que entre 2009/2016 o número
de Hóspedes Não Residentes na Indústria cresce a ritmo que não conheceu antes.
Este crescimento coincide com o ‘das low cost’, apesar de todo o mal que delas
os entendidos disseram – uma avaliação objetiva teria evitado muito desperdício
de energia e erros que pagamos agora. O número de Hóspedes tem quedas em 1999 e
2009, cresce a bom ritmo até 2016 com picos em 2014 e 2016. Cresce menos em
2017 e cai (-11k) em 2018. A evolução é preocupante, mas não dramática.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
O gráfico 5
ilustra a evolução das Dormidas dos mesmos Hóspedes, influenciadas pelo número
de Hóspedes e Estadia Média. A descida de 2018 (-196k) é a menor das setes
descidas desde 1996. De novo, a evolução é preocupante, mas não dramática. O
facto de, em 2018, os -11k Hóspedes gerarem -196k Dormidas exige pesquisa
adicional.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
*Variação
2017/2018 por mercado emissor da Amostra
A análise por
mercado emissor da Amostra em Hóspedes e Dormidas (gráficos 6 e 7) confirma que
a crise reside nos mercados do Reino Unido, Holanda e Alemanha. Isto não é
novidade para muitos leitores, mas ficamos com ideia dos números em causa. Retemos
desde já que, em 2018, uma queda de 77k turistas no Reino Unido gera uma queda
de -549k Dormidas, o que já é quase dramático.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
3.Mercado
Emissor do Reino Unido
O mercado do Reino Unido é o mais
importante e muitas opiniões sobre ‘o Algarve’ são reflexo do que acontece
neste mercado. Os
gráficos 8 e 9 ilustram a variação anual de Hóspedes e Dormidas do mercado do
Reino Unido e permitem contextualizar o ‘efeito Turquia’.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
A comparação
do mercado do Reino Unido na Turquia e no Algarve (gráfico 10) mostra:
-variação no
mesmo sentido em 2014,
-perda da
Turquia e subida do Algarve em 2015 e 2016,
-queda de
ambos em 2017 e, finalmente queda de -77k Hóspedes e subida de 596k Visitors
que podem estar relacionadas.
Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério
da Cultura e Turismo da Turquia e INE – Portugal.
4.Mercado
emissor da Alemanha
Os gráficos 11
e 12 ilustram a variação anual de Hóspedes e Dormidas do mercado da Alemanha no
Algarve para contextualizar o ‘efeito Turquia’.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
A comparação
do mercado da Alemanha na Turquia e no Algarve (gráfico 13) mostra:
-em 2014 um
grande crescimento de Hóspedes na Hotelaria e variação insignificante, mas
positiva, nos Visitors na Turquia, e em 2015 o mesmo tipo de variação
mas em sentido inverso – que concluir?
-em 2016 há a
grande queda de Visitors na Turquia e em 2017 queda importante, mas o
crescimento de Hóspedes no Algarve é quase insignificante em 2016 e ridícula em 2017,
-em 2018, a
queda de hóspedes de -22k pouco terá a ver com a subida de 928k Visitors
na Turquia.
Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério
da Cultura e Turismo da Turquia e INE – Portugal.
5.Mercado
emissor da Holanda
Os gráficos 14
e 15 ilustram a variação anual de Hóspedes e Dormidas do mercado do Reino Unido
e permitem contextualizar o ‘efeito Turquia’. O mercado da Holanda é o menos
importante dos três mercados em causa e registamos variações frequentes de
Hóspedes e Dormidas ao longo dos anos em análise. Certo é haver perdas de
Hóspedes desde 2014 (de Dormidas desde 2013) com crescimento em 2016 em linha
com o de muitos outros anos e a perda mais importante de todas em Hóspedes e
Dormidas em 2018 – caso para comentar não identificarmos quando os residentes
na Holanda se refugiam no Algarve, mas parece sabermos que em 2018 regressam à
Turquia.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
de Turismo.
A comparação
do mercado da Holanda na Turquia e no Algarve (gráfico 16) mostra:
-variações no
mesmo sentido em 2014 e 2015 e em sentidos inversos entre 2016-2018,
-nestes três
anos, as variações de Hóspedes no Algarve são insignificantes em relação às de Visitors
na Turquia.
Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério
da Cultura e Turismo da Turquia e INE – Portugal.
A Bem da
Nação
Lisboa 12 de
Agosto de 2019
Sérgio Palma
Brito
Notas
(1)Ver post sobre “Informação Estatística do Turismo –
Instrumento de Conhecimento, Competitividade e Posicionamento” uma Proposta
Para Debate – 1ª versão” de Abril de 2014. A Indústria é mistura de
estabelecimentos competitivos e obsoletos, de boa gestão e ausência dela, de
degradação de estabelecimentos que degradam o mercado etc. e também de
renovações fantásticas, de contexto de excelência ou de envolvente urbana, de
grupos hoteleiros e de estabelecimentos independentes e por aí adiante – em
conhecermos esta realidade o debate sobre a Indústria está prejudicado.
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