Aeroporto Sá Carneiro – celebrar sucesso e posicionar para o futuro

Desde há anos, o aeroporto Sá Carneiro no Porto é uma história de sucesso, na base do também sucesso do turismo no Porto, Douro e parte do Norte de Portugal. Neste post celebramos indicadores do sucesso e abrimos debate sobre o seu posicionamento no futuro, factor decisivo da sustentabilidade do sucesso que tem vindo a conhecer.

Num segundo post mostramos a urgência em desTAPizar os espíritos de políticos que não compreendem nem o sucesso nem as exigências de o manter. E desfazemos equívocos que estão a toldar a visão aberta que o futuro do aeroporto Sá Carneiro exige.

Dada a relevância da TAP e da reversão da sua privatização, sugerimos a consulta de posts sobre o assunto (primeiro, segundo, terceiro, quarto).  

Boa leitura e previa consulta dos Princípios Gerais do Blogue em:

1.Aeroporto do Porto – indicadores para celebrar o sucesso
Neste ponto mostramos como

-o aeroporto do Porto é o de maior sucesso de entre os aeroportos do País,

-este sucesso assenta no crescimento do tráfego das companhias aéreas estrangeiras, com o tráfego das nacionais a estabilizar.

Nota sobre estatísticas

-toda a quantificação de ‘passageiros’ é da ANA e conta passageiros desembarcados e embarcados.

-a quantificação ‘passageiros desembarcados’ do gráfico 2 é do INE.

*Aeroportos de Lisboa, Porto e Faro entre 2001/2014
Comecemos por indicadores que comparam o tráfego dos três aeroportos do Continente – gráficos 1 e 2.

Entre 2001/2014

-o número de passageiros aumenta 156% no Porto, contra 97% em Lisboa e 33% em Faro – gráfico 1,

-a parte do aeroporto do Porto no total dos três aeroportos do Continente passa de 16.3% a 22%, enquanto Lisboa passa de 55.9% a 38.3% e Faro desce de 27.8% para 19.6% – gráfico 2.

Os dois gráficos ilustram o sucesso do aeroporto do Porto.

Gráfico 1 – Passageiros aeroportos Lisboa, Porto, Faro – índice
(2001=100)


Fonte – Elaboração própria com base em informação da ANA

Gráfico 2 – Passageiros do aeroporto do Porto – parte do total

Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

*Passageiros aeroporto do Porto – evolução recente e longo prazo
O gráfico 3 ilustra a evolução 1980/2014 dos passageiros desembarcados no aeroporto do Porto por companhias nacionais e estrangeiras e os de tráfego internacional. Temos a medida de dinâmicas que conhecemos:

-importância do tráfego internacional como driver do crescimento,

-domínio das companhias aéreas nacionais (TAP, Portugália e SATA) até 2007, com ritmo de crescimento lento do número de passageiros,

-arranque do crescimento em 2005, por acção de companhias estrangeiras.

As ‘companhias nacionais’ dão primeira indicação sobre a TAP no Porto.

Gráfico 3 – Aeroporto do Porto – passageiros por companhias nacionais e estrangeiras e tráfego internacional (1980/2013)
 (milhares)

Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

O gráfico 4 ilustra muito simplesmente o crescimento do número de passageiros no aeroporto do Porto entre 2001 e 2014.

A informação do gráfico deve ser completada com a de países de origem do tráfego e de companhias na sua contribuição para o crescimento do tráfego.

Neste nosso rudimentar trabalho,

-descrevemos o essencial da análise por mercado emissor,

-o segundo post inclui análise mínima do tráfego das companhias aéreas que operam no aeroporto do Porto, pois falta ligar cada uma destas companhias ao crescimento anual do tráfego do aeroporto.


-o tráfego intercontinental ponto a ponto do aeroporto do Porto é reduzido e não é factor crítico do seu desenvolvimento,

-críticas do sistema político local e regional sobre a TAP cancelar as rotas intercontinentais são excessivas, deslocadas e inadequadas.

Gráfico 4 – Passageiros do aeroporto do Porto – quantidade
(milhares)

Fonte – Elaboração própria com base em informação da ANA

*Passageiros do aeroporto do Porto por país de origem
Os gráficos 5-6-7 dão a informação de base sobre os países de origem dos passageiros no aeroporto do Porto, segundo três avaliações:

-valor em 2014, variação entre 2013/2014 e entre 2001/2014.

Deixamos a leitor a análise que relaciona o valor em 2014 com o crescimento desde o ano anterior e desde 2001, quando a dinâmica actual do aeroporto ainda não estava em marcha.

A título de exemplo, assinalamos:

-a liderança da França é evidente e seria importante conhecer a importância da diáspora,

-dada a dimensão do país, a Suíça exige atenção em relação com a actividade da filial local da Easyjet,

-os números da Espanha confirmam a existência de procura importante e diferente da de self drive e a exigir atenção profissional na relação entre promoção e distribuição,

-a deslocalização do tráfego intercontinental pela TAP reduzirá os números do Brasil,

-Portugal, sendo ainda 2º em 2014, dá contributo menor ao crescimento do aeroporto do Porto, o que é normal dadas a distância entre as cidades, as auto-estradas e o comboio Alfa.

Gráfico 5 – Passageiros no Porto por país (2014)
(milhares)


Fonte – Elaboração própria com base em informação da ANA

Gráfico 6 – Passageiros no Porto por país (2013/14)
(milhares)

Fonte – Elaboração própria com base em informação da ANA

Gráfico 7 – Passageiros no Porto por país - 2001/2014
(milhares)

Fonte – Elaboração própria com base em informação da ANA


2.Posicionamento do aeroporto Francisco Sá Carneiro na Europa
O posicionamento do aeroporto Francisco Sá Carneiro na Europa deve

-estar virado para a rede de cidades e aglomerações da Europa e na qual se integra a cidade e urbe envolvente,

-ter em conta os seus pares com os quais colabora na operação de rotas.

Salvo o devido respeito e neste contexto, o aeroporto de Lisboa é pouco relevante e não justifica a atenção que lhe é prestada.  

*O Porto nas cidades da Europa
A figura 1, escolhida entre mil, dá uma ideia da cidade do Porto e área urbana adjacente no contexto da Europa (1). O mapa da figura 1 ajuda a situar na Europa o aeroporto do Porto e envolvente urbana. Com efeito, o aeroporto é e será o que a cidade e envolvente urbana representem como origem/destino de tráfego aéreo na relação com urbes deste sistema.

O turismo receptor é o driver do crescimento. O turismo emissor será sempre menos relevante, mas não podemos ignorar o seu contributo para a massa crítica de que depende a competitividade do aeroporto – Faro é exemplo de fraqueza endógena gerada pela quase ausência de tráfego outbound. A realidade é simples:

-o aeroporto do Porto e o turismo que nele assenta dependem da capacidade da cidade e urbe adjacente se posicionarem nesta rede de cidades e aglomerações urbanas em que se integram.

*O aeroporto Sá Carneiro no conjunto dos aeroportos da Europa
O gráfico 8 ilustra a macro composição do conjunto de aeroportos europeus de que o aeroporto Sá Carneiro é um elemento, segundo o Airports Council International (ACI).

O aeroporto do Porto situa-se no limite inferior do tráfego de passageiros do Grupo III da classificação de aeroportos pelo Airports Council International (2).

*Tópicos para o posicionamento do aeroporto do Porto
Intervenções do sistema político e de boa parte da opinião pública confirmam não haver consenso sobre o posicionamento do aeroporto Sá Carneiro no País e na Europa, com leve referência ao mundo.

Com base no que observamos neste post e no seguinte, podemos levantar tópicos para reflexão que terá de ter lugar.

A ligação do aeroporto Sá Carneiro a outros continentes passa por
-conexão com os grandes hubs da Europa (Charles de Gaule, Heathrow, Frankfurt e Schipol) e com os hubs próximos de Lisboa e Madrid,
-eventuais rotas ponto-a-ponto que não parecem de concretização próxima.

O trafego do aeroporto Sá Carneiro é e será quase exclusivamente intra-europeu, o que tem consequência imediata:

-os drivers de sustentabilidade e crescimento serão as cinco Low Cost Carriers paneuropeias (Ryanair, Easyjet, Vueling, Norwegian e Wizz) e das que ambicionam ser (Transavia) ou se assemelham (TAP Express).

No seio da Iberia,

-os drivers serão Iberia/Iberia Express, mais focadas no feeding do hub de Madrib, a Vueling a partir de Barcelona/Madrid e talvez a Air Nostrum, sem esquecer a TAP Express

Em Portugal,

-a capacidade de atracção de Lisboa mais do que concorrente, é complementar à oferta do aeroporto Sá Carneiro e deve ser avaliada no turismo receptor e emissor.

Passado o tempo em que basta abrir uma rota para que o tráfego cresça, vai ser preciso planear uma intervenção conjunta de Turismo de Portugal, ANA, e Iniciativa Privada (do produto e distribuição) para garantir a sustentabilidade e crescimento do aeroporto Sá Carneiro.

Este será um momento de verdade para o qual a politica local e regional só estará preparada de desTAPizar o espírito e desfazer os equívocos que rumina – tema do segundo post.

O observador exterior que somos fica num misto de fascinado, admirado e até irritado com o desequilíbrio entre o sucesso do turismo e do aeroporto e a atenção dada a um facto irrelevante (concorrência da Portela) e uma mera consequência do mercado:a relativamente menor importância que a TAP teve, tem e terá no aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Figura 1 – “Proportion of population who are national in European cities, 2012
(% of total population)


Gráfico 8 – Grupos de aeroportos da Europa (ACI)

Fonte: Elaboração própria com base em estudo do ACI


A Bem da Nação

Lisboa 4 de Março de 2016

Sérgio Palma Brito

Notas

(1)Ver

(2)Airports Council International, Airport Industry Conectivity Report, 2004/2014.
O estudo do ACI divide os aeroportos da Europa em quarto grupos ilustrados pelo gráfico 8. Em Portugal, Lisboa (18.2 milhões de passageiros em 2014) pertence ao grupo II, Porto (6.9 milhões) e Faro (6.2 milhões) ao grupo III e Funchal (2.5 milhões) ao IV.


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