Quando
falamos de têxtil, calçado, agricultura ou vinho, falamos do valor das
exportações e do preço à exportação. É raro que na mesma ocasião se fale de
importações de têxtil,
calçado ou vinho e cada vez se fala menos da ‘balança alimentar’ por já não ser
o problema que foi.
Hoje não é
isto que nos preocupa, mas começamos por lembrar que a ‘receita de viagens e
turismo’ é parte de realidade económica mais vasta: a da ‘receita de turismo na
balança de pagamentos’ (aqui).
O que nos
ocupa é algo de aparentemente anódino:
-quando se
fala de turismo, é demasiado frequente ouvir falar de ‘balança turística’,
resultado da subtracção entre receita e despesa de viagens e turismo.
Qual é a
importância? Simples:
-falar de ‘receita’
é falar de exportação de serviços de viagens e turismo e pôr o acento na
economia macro e micro,
-falar de ‘balança
turística’ é ignorar a economia e insistir em ver o turismo à luz ‘do sector’,
uma realidade ensimesmada e arcaica.
Em 2014
temos:
-a economia
do turismo exporta €10,4 mil milhões de serviços de viagens e turismo, em deslocações
a Portugal por residentes no estrangeiro.
-Portugal
importa €3,1 mil milhões de euros de serviços de viagens e turismo, em
deslocações ao estrangeiro por residentes em Portugal.
O turismo
interno (residentes em Portugal em deslocação turística no País) pode
representar alguma substituição de importações e deve ser a segunda grande
prioridade da política de turismo.
Face a
estes números,
-a
prioridade da política de turismo consiste em facilitar e fomentar a
competitividade de empresas e estabelecimentos que estão na base das
deslocações a Portugal por residentes no estrangeiro,
-a política
de turismo é avaliada pela sua capacidade em contribuir para a exportação de
serviços de viagens e turismo.
Não é por
acaso que o Banco de Portugal contabiliza débito e crédito (receita e despesa)
de viagens e turismo. Talvez por inércia, o INE insiste em publicar a Balança
Turística, apesar das International Recommendations for Tourism Statistics não
a mencionarem, e alimenta o arcaísmo.
Ainda recentemente
o espírito aberto e sem teias de aranha do meu camarada Adolfo Mesquita Nunes
caiu na ratoeira da ‘balança turística’. Estou certo que recupera.
Passemos a
alguma quantificação.
O gráfico 1
apresenta a percentagem da despesa de viagens e turismo na receita e quantifica
de maneira mais explícita a evolução que o gráfico 2 ilustra. Esta percentagem
-diminui
entre 1996/2004, aumenta até 2010 e diminui de maneira sustentada desde então.
Coincidência
ou não, esta evolução surpreendeu-nos (nunca tínhamos feito esta quantificação)
por coincidir com uma visão política do ‘despesismo’.
Gráfico 1 – Percentagem da despesa
de viagens e turismo na receita
(percentagem)
Fonte: Elaboração própria com base em BPStat
O gráfico 2
ilustra a evolução da receita e despesa de viagens e turismo na balança de
pagamentos. Constatamos que
-a receita
é mais importante do que a receita e cresce a ritmo mais rápido,
-a ‘balança
turística’ é a diferença entre duas actividades largamente independentes.
Gráfico 2 – Receita e despesa de
viagens e turismo
(€milhões)
Fonte: Elaboração própria com base em BPStat
A Bem da
Nação
Lisboa 8 de
Abril de 2015
Sérgio
Palma Brito
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