Procura-se gente com conhecimento para comentar a TAP, SA


António Pedro de Vasconcelos publica opinião no Publico (a tornar-se num albergue espanhol ou novel banda da Salvada) que diz mais sobre a sua pessoa do que sobre a TAP. Hoje é o suplemento Economia do semanário de referência a contribuir para a entropia do Universo*. Precisamos de gente que saiba da poda para comentar TAP e transporte aéreo.

1.Tensões entre acionistas é o grande título. O texto nada acrescenta ao que se sabe sobre a tensão que o ministro Pedro Nuno Santos veio introduzir na relação Estado e privados ao trazer para a praça publica assunto interno da empresa e assim mostrar a sua falta de preparação para exercer a função acionista e o perigo da extrema esquerda do PS, quando fora de controlo. O texto não informa que o acordo entre Estado e privados assenta em a gestão privada da empresa pela Comissão Executiva. Sobre a tensão entre privados nada de concreto diz e não põe o cenário que é possível pôr: agora que é cidadão comunitário, quererá Neeleman livrar-se de Humberto Pedrosa?.

2.David Neeleman continua a ser desconhecido por quem escreve sobre a TAP, a entrevista à Revista do Expresso passa ao lado e a entrevista na SIC Notícias chega para enterrar o casalinho de jornalistas que o entrevistou. Com Jane Morris, fundou a Morris Airways que vendeu à Southwest Airways, foi cofundador da West Jet hoje a terceira companhia aérea do Canada, uma empresa sua inova com o bilhete eletrónico, funda a Jet Blue nos EUA uma low cost inovadora na cabine e animação, no Brasil funda a Azul pioneira do transporte low cost e, depois de ter recolhido financiamento de   $100 milhões, prepara atualmente uma companhia revolucionária, a Moxy, que voará a partir de 2021 nos EUA com base no novo Airbus 220, vocacionado para o mercado dos 120-160 lugares. 

Neeleman é um nome conhecido, respeitado, que atrai financiamento e apoio e que assume o risco da Moxy. Este é o homem que discretamente acompanha o dossier TAP, não precisa que nenhum ministro lha venda e a vai salvar da falência no final de 2015. Este é o homem que está na moda denegrir e caluniar.

3.O acordo de reversão da privatização da TAP negociado por Diogo Lacerda Machado dá 50% do capital ao Estado mas retira-lhe direitos económicos (fica com 5%) e cria obrigações que levam o Tribunal de Contas a a considerar que “Não conduziu ao resultado mais eficiente. Com efeito, não foi obtido o consenso necessário dos decisores públicos, tendo as sucessivas alterações contratuais agravado as responsabilidades do Estado e aumentado a sua exposição às contingências adversas da empresa.”. 

Para grande desgosto do arvorado acionista que representa o Estado português partidarizado, o acordo impede o Estado de demitir a Comissão Executiva, o que em Portugal é condição mínima da gestão. PNS não lê o Financial Times e ainda menos o de 2012.07.17 que refere Neeleman ter aprendido a lição com a Jet Blue e na Azul ter apenas 15% do capital, mas não poder ser demitido pela administração.

4.Ainda é cedo para avaliar a gestão privada da TAP, mas já é possível e justo tirar-lhe o chapéu. O artigo cita ‘fontes’ que reconhecem “a ‘liderança’ de Neeleman na empresa é natural — e até desejável — porque com os seus conhecimentos e contactos no mundo da aviação a TAP só pode sair beneficiada.”. Vamos por partes, que o texto ignora. 
Ao lançar o hub Lisboa nos EUA Neeleman gera a receita que evita a falência e cria base para o futuro e ao juntar o stopover Lisboa dá-lhe a dimensão turística que Fernando Pinto ignora em 2000 quando lança o hub Brasil … ao qual Neeleman acrescenta o stopover Rio – há diferença entre um gestor e um acionista.
Reformula a frota da TAP, saindo da esparrela dos Airbus A350-900 difíceis de rentabilizar, indo para os 330neo mais ágeis e sobretudo o A321LR que rentabiliza rotas para a costa Este e Nordeste do Brasil – a renovação da frota está em curso (os 4 Airbus A340 de 1994 ainda voam até Dezembro) e reduz o custo estrutural do fuel. Parece simples, mas só quem sabe e tem amigos é que consegue.

5.A história da HNA está muito mal contada, quando exige ser conhecida e o importante não é, de certeza, “os chineses da HNA entraram na TAP se falou na possibilidade de a prazo substituírem Neeleman, pelo menos parcialmente”. Em Julho de 2015, a americana United investe $100 milhões no capital da Azul.  Em Novembro de 2015, a HNA adquire 24% do capital da Azul o que exige longas negociações prévias. Parece ser DN quem os atrai para a TAP, que financiariam, com base no hub de Lisboa concorrer com o de Vancouver na ligação entre China e América Latina. 
Em Setembro de 2016 David Neeleman refere HNA Airlines como “É bom ter um tio rico”. No início de 2018, quando a HNA é obrigada a liquidar sonhos e sai da Azul e TAP, Humberto Pedrosa afirma "Se HNA não investir na TAP será preciso outro parceiro", acrescenta “estava também previsto que a HNA pudesse investir ainda mais na TAP, em termos até de empréstimos, se houvesse dificuldades. Daria uma ajuda bastante valiosa. Não se estava a contar com a situação em que a HNA está hoje.” e interrogado sobre um Plano B, conclui “Não tenho, mas vamos ter de encontrar.”. 

Em tudo isto, como no passado e no futuro com a Moxy, David Neeleman é o driver e o homem a reter.

6.Não podemos voltar ao ridículo de 2012 quando fomos bombardeados com o interesse das grandes companhias aéreas pela TAP de maneira provinciana e ficámos reduzidos ao Efromovitch. O texto do Expresso dá voz a “vários protagonistas do sector” que “com a tendência de consolidação do sector na Europa, não enjeitam a possibilidade de a Lufthansa vir a olhar para a TAP, que tem como grande atrativo para a companhia alemã o mercado africano e o Brasil.”. Nas notícias sobre transporte aéreo, não há qualquer referência ao assunto e, quando se conhece a história recente da Lufthansa e perspetivas de futuro, a TAP não encaixa. E então o político que o Estado português partidarizado vai arvorar em acionista ainda menos.

7.Este post vai ser fundamentado por trabalho em curso sobre a privatização da TAP em 2015, o antes e o depois. As afirmações mais firmes são justificadas em posts anteriores sobre a TAP.


A Bem da Nação

Lisboa 13 de Julho de 2019

Sérgio Palma Brito


*Ver

-Não TAP os olhos: o “rei” Neeleman vai nu!

-Turbulência entre acionistas da TAP


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