Com este
título, o Publituris a 1 de Julho de 2019 publica um texto de
opinião de Luís Coelho*,
presidente do Secretariado da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos
Economistas. Acompanho com a atenção possível a opinião das novas gerações
sobre a procura/oferta de turismo no Algarve, desde este caso até à série Lugar
a Sul e outros. Comento este texto por ser uma boa base.
Comecemos
pelos erros mais frequentes:
-O texto
apenas considera a indústria da Hotelaria e ignora haver no Algarve cerca de
120.000 alojamentos (apartamentos e vivendas) que são investimento de famílias nacionais
e estrangeiras – são utilizados pelo proprietário ou colocados no mercado do
holiday rental, agora batizado de Alojamento Local.
-A história de sucesso do
turismo do Algarve começa a ser escrita a partir de 1962, quando a decisão de Salazar
sobre o aeroporto de Faro desencadeia grandes projetos, de Vale do Lobo a Penina,
passando por Vilamoura, Alvor etc. Facto positivo e raro, o autor reconhece que
a prosperidade de que o Algarve beneficia (segunda região do País em PIB per capita)
se deve ao turismo.
-Quanto à volatilidade da procura turística, a evolução
1966/2018 dos passageiros no aeroporto de Faro mostra crescimento sustentado
com curtas crises conjunturais rapidamente ultrapassadas – tudo menos
volatilidade. O problema não é esse. É nós não sermos capazes de criar governação
e regulação públicas que permitam a adaptação da oferta à procura.
A preocupação
com a dependência do Algarve em relação ao turismo remonta ao IV Plano de
Fomento e suscita abundante publicação de relatórios por CC(D)RA e outros. Quase
todos apresentam a diversificação da economia em ‘alternativa’ ou mesmo ‘contra’
o turismo. Nenhum considera aquilo que está já timidamente no terreno, as
infraestruturas do turismo e sobretudo o cosmopolitismo gerado serem
incubadoras de atividades. Se a malta nova permite um conselho, vão por aqui e
interroguem a elite regional sobre o seu falhanço e interroguem-se porque diabo
nenhuma das propostas foi implementada.
Os impactes
negativos do turismo não são inerentes ao turismo. Resultam de sucessivas políticas
e intervenções da Administração Central e autarquias pertinentes assegurarem a
regulação do turismo. Brevemente virei a público com trabalho de fundo sobre
isto.
Por fim
atribuir ao turismo a desgraçada realidade da “total incapacidade do Algarve
para se afirmar no contexto nacional” é passar ao lado da questão, mas a
conversa seria longa e penosa.
Completamente
de acordo com “encetar um esforço sério com vista à diversificação da base
económica da Região procurando um posicionamento na cadeia de valor
internacional que deixe mais riqueza no Algarve”, mas seguido de uma
implementação concreta por agentes públicos claramente responsabilizados por
políticas que atraiam pessoas, atividades e empresas ‘aos montes’ porque sem
isso a tal diversificação será fracota. Avante.
A Bem da
Nação
Lisboa 2 de Julho
de 2019
Sérgio Palma
Brito
Ou aqui [destaques
nossos]:
O Algarve assume-se como a
capital turística de Portugal, pretensão que encontra eco numa miríade de
argumentos como sejam as suas extensas paisagens naturais, o seu clima
temperado mediterrânico ou a magnífica linha de costa que serve a Região. Dados
oficiais do Instituto Nacional de Estatística revelam que, em 2018, a Região
registou 18,8 milhões de dormidas na sua hotelaria classificada (i.e., um terço
do total nacional) e um volume de negócios de 1,081 milhões de euros. Esta é a
página mais recente de uma história de sucesso que começou a ser escrita em 11
de Julho de 1965, dia em que o Aeroporto de Faro começou a operar, e que
permitiu que Algarve se transformasse na segunda região mais rica do País em
termos de produto interno bruto por habitante.
Podemos então contar com o turismo para assegurar o futuro da
Região? Gostaria de salientar três aspectos-chave neste contexto. O
primeiro diz respeito ao risco que resulta de ter a economia regional
totalmente dependente do fenómeno turístico. Historicamente, mais de 60% do
Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Algarve está concentrado em torno de
sectores como o Comércio por grosso e a retalho, os transportes e armazenagem,
as actividades de alojamento e restauração e a promoção imobiliária. Este
padrão de especialização é único no País, sendo gerador de uma economia marcada
pela sazonalidade e dependência de factores externos, assente num mercado de
trabalho repleto de peculiaridades e idiossincrasias. Um segundo aspecto
prende-se com os impactos negativos do turismo, nomeadamente em matéria
ambiental e de (des)ordenamento do território e, bem assim, com o efeito
inflacção – local e regional – que é ditado pela procura turística. O terceiro
e último aspecto merecedor de destaque é, quiçá, o mais importante e está
relacionado com a total incapacidade do Algarve para
se afirmar no contexto nacional. Em particular, é notório que os
problemas estruturais da Região nunca são prioridade para os diferentes
governos, algo bem visível na questão da construção do novo Hospital Central e
na total falta de investimento na rede de transportes que serve o Algarve.
Que
balanço podemos então fazer? Há que reconhecer que o turismo tem e terá um
papel importante na economia do Algarve, razão pela qual deverá ser sempre
acarinhado. Dito isto, é fundamental encetar um
esforço sério com vista à diversificação da base económica da Região procurando
um posicionamento na cadeia de valor internacional que deixe mais riqueza no
Algarve. Só assim será possível criar mais emprego qualificado, melhor
remunerado e mais estável, ao mesmo tempo que se mitiga o risco resultante da
volatilidade da procura turística mundial. Este é o caminho que temos de
percorrer para que possamos responder afirmativamente às legítimas aspirações
de todos os que vivem e trabalham no Algarve. Hoje e, sobretudo, no futuro.
Por
Luís Coelho, presidente do Secretariado da Delegação Regional do Algarve
da Ordem dos Economistas
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