Importância da TAP para Portugal - qual é a sua opinião?

A importância da TAP para Portugal é tema polémico e que suscita as mais diversas emoções, desde o amor assolapado ao ódio que cega. Estamos a rever a ficha que consagramos à TAP no Relatório sobe Turismo e Transporte Aéreo em Portugal que publicámos recentemente. Nesta revisão procuramos dar base objectiva à Importância da TAP para Portugal. Publicamos este texto na talvez vã esperança de suscitar contributos dos leitores. O texto inclui remissões para a parte da ficha que ainda está a ser completada, a estrutura da ficha e a numeração dos gráficos.

a)Importância da TAP para Portugal
a.1)Higiene cultural prévia                                  
*TAP transportadora aérea nacional desaparece em Janeiro 1993
Entre a nacionalização de 1975 e a Ajuda de Estado de 1994, a TAP é a transportadora aérea nacional,

-na qual “o Estado paga’ permite à TAP receber apoio público, acumular prejuízos (nunca deu lucro) e não se adaptar às exigências do mercado,

-da realidade sublimada da TAP ‘garantir’ (em termos da actualidade) “estabelecer ligações permanentes com as comunidades portuguesas” e “com os países de expressão oficial portuguesa”, assegurar “transporte para as regiões autónomas” e ser “dinamizador da actividade turística nacional”.

‘Esta TAP’ morre com a liberalização europeia de 1993 e a Ajuda de Estado que salva a TAP da falência em 1994. Arrasta-se até 2000/2001 e conduz de novo a TAP à beira da insolvência. Apesar destas duas situações dramáticas o equívoco da transportadora aérea nacional é alimentado por muita da elite politica/cultural e da opinião pública do País.

Desde 1993, a TAP é uma transportadora aérea europeia que opera segundo as regras do mercado como qualquer companhia privada. Antes de identificamos a importância para o País da TAP é uma transportadora aérea europeia, temos de passar por higiene cultural prévia que liberte mentes, corações e espíritos da tralha acumulada durante anos.

*Higiene cultural prévia à TAP transportadora aérea europeia
Contrariamente aos discursos que dominam o processo de privatização da TAP e ainda revelam,

-a TAP está obrigada a ser rentável em mercado aberto, com concorrência intensa e sem ajuda do Estado, como está qualquer empresa privada,

-uma excepcional e esporádica, a Ajuda do Estado à TAP está associada a plano de reestruturação e outras condições gravosas que alterariam profundamente a TAP como a conhecemos,

-se durante este processo a TAP for considerada inviável, será a sua falência,

-o plano B à falência da TAP consiste em assegurar a conectividade do aeroporto de Lisboa com base em outras transportadoras aéreas europeias ou não,

-a TAP não pode ‘garantir’ hub, base, rotas e ‘serviço público’ se tal for incompatível com a rentabilidade que lhe garante a sobrevivência,

-mais concretamente, a TAP só pode operar rotas deficitárias enquanto tal representar um contributo sistémico para a rentabilidade da empresa,

-é o hub que garante a TAP, porque a TAP seria inviável sem o tráfego de longo curso que o hub ‘vai buscar’ a mercados fora de Portugal,

-“exigir” que a TAP mantenha a base de Lisboa é uma ilusão, que escamoteia a verdadeira exigência, a da TAP ser rentável face à concorrência das companhias low cost, 

-não há Obrigações de Serviço Público que a TAP deva garantir, e o serviço publico de que se fala só é possível se não violar as regras europeias da concorrência e não comprometer a rentabilidade da TAP,

-a TAP não pode beneficiar de decisão publica que descrimine outras transportadoras aéreas europeias, como é o caso de obrigar (quem obriga?) companhias low cost a voar para Montijo ou Beja e assim diminuir a concorrência à TAP na Portela.

A TAP pode ser indicada pelo governo como companhia nacional para operar em rotas sujeitas a acordos bilaterais entre estados. 

A importância da TAP para Portugal

-surge geralmente ligada a argumento contra a privatização, o que está ultrapassado, e à ideia do Estado a proteger contra a concorrência de LCC, o que é liminarmente excluído pela regulação europeia,

-deve sair deste quadro caduco e ser avaliada segundo dados objectivos.

*A prioridade nacional é acessibilidade aérea competitiva a Portugal
O desenvolvimento económico, social e cultural de Portugal

-assenta em acessibilidade aérea competitiva assegurada por operadores públicos e privados e regulação pública,

-implica o País dispor de acessibilidade aérea competitiva, com o contributo da TAP como companhia aérea mais importante, mas não única porque o conjunto das companhias estrangeiras já transporta mais passageiros.

a.2)Passageiros da TAP em Lisboa, Porto e Faro
*Base quantitativa mínima da importância da TAP para Portugal
Os gráficos II.4.6.n e II.4.6.o são a base quantitativa mínima para dar objectividade à avaliação da importância da TAP para Portugal. Da evolução do tráfego da TAP em Lisboa, Porto e Faro (gráfico II.4.6.n), destacamos:

-o crescimento do tráfego em Lisboa em comparação com a estabilidade do tráfego em Porto e Faro,

Gráfico II.4.6.n – Passageiros TAP em Lisboa Porto e Faro – quantidade
(mihares)


Fonte: Elaboração própria com base em informação ANA (2001/13), e ANAC mais informação do mercado em 2014 e 2015.

Da evolução da parte do tráfego da TAP no total no tráfego de cada um dos três aeroportos (gráfico II.4.6.o), destacamos:

-a diminuição da parte da TAP no total de passageiros do aeroporto, menos acentuada em Lisboa e Faro, mas a partir de valores diferentes,

-os valores muito parecidos da parte de mercado em Lisboa e Porto antes do surto de crescimento que tem lugar no Porto a partir de 2005,

-em Lisboa e no Porto, diminuição acentuada da parte da TAP no total nos anos de 2014 e 2015 [em 2016 a parte da TAP em Lisboa fica abaixo dos 50%].

Gráfico II.4.6.o – Passageiros TAP em Lisboa Porto e Faro parte no total do aeroporto (%)


Fonte: Elaboração própria com base em informação ANA (2001/13), e ANAC mais informação do mercado em 2014 e 2015.

*Hub de Lisboa
Em teoria, o tráfego de hub apenas exige transferência rápida e fácil dos passageiros em trânsito e pouco contribui para o turismo na cidade em que se situa o aeroporto. No hub de Lisboa,

-o tráfego de hub contribui para o valor acrescentado nacional a partir de transferência do exterior, é uma exportação de serviços,

-uma percentagem crescente dos passageiros de hub com origem no Brasil faz stopover em Lisboa,

-no caso do mercado dos EUA, o stopover em Lisboa é factor crítico do sucesso do tráfego de hub,

-no caso da China, a concretizar-se, o tráfego de hub contribui para a massa crítica de passageiros que justifica a rota.

Por outro lado, a conjugação do tráfego intra-europeu de alimentação do hub mais o tráfego ponto-a-ponto viabilizam rotas que sem esta conjugação dos dois tráfegos seriam inviáveis.

Uma estimativa muito grosseira dá 700.000 turistas de hub em 2014, o que representa 2,8 milhões passageiros TAP no aeroporto de Lisboa – 28% do tráfego da TAP no aeroporto e 15,4% do tráfego do aeroporto de Lisboa.
Importa destruir a ilusão da TAP garantir o hub intercontinental de Lisboa. O hub só existe enquanto a TAP for suficientemente competitiva para resistir à concorrência [ver alíneas b) e c) do ponto II.4.6.1] e haja procura na América do Sul e do Norte e em África.

Em síntese:

-depois de fase inicial de tensão entre tráfego de hub e turismo receptor, o tráfego de hub tem importância crescente no turismo de Lisboa e não só.

*Base de Lisboa
O tráfego da base da TAP em Lisboa resulta da conjugação de quatro factores,

-capitalidade, centralização e modelo cultural,

-capacidade de atracção de turistas pelo destino Lisboa,

-efeito legacy do tempo de acordos bilaterais entre estados que fixavam rotas entre as capitais,

-tráfego de hub desde 2001.

A concorrência das LCC nas rotas intra-europeias do aeroporto de Lisboa (de que o gráfico II.4.6.g dá ideia parcelar) tem sido e vai ser cada vez mais intensa. Nestas condições de mercado

-para resistir à concorrência, a TAP tem de ser muito eficiente, o que nomeadamente implica pressão constante sobre a redução de custos [ver a.1)Higiene cultural prévia].

O tráfego intercontinental ponto a ponto da TAP começa a ter concorrência de FSC ligadas aos grandes hubs da Europa e até de companhias do Golfo.

*Passageiros da TAP no Porto e em Faro
Os gráficos II.4.6.n e II.4.6.o revelam como a TAP

-nunca é relevante no turismo do Algarve,

-não participa no crescimento do turismo do Porto.

A estratégia da TAP [ver alínea e) e d) do ponto II.4.6.1] exclui a alteração significativa desta realidade, porque implicava a TAP entrar em concorrência directa com as mais competitivas de entre as companhias low cost.

a.3)Segmentos nos passageiros da TAP
*Ainda a legacy da transportadora aérea nacional
A narrativa da TAP transportadora aérea nacional garantir transporte aéreo turismo e emigração omite um dado essencial do contexto em que este modelo de negócio se forma:

-uma regulação publica do transporte aéreo de limitar a oferta para que TAP e congénere estrangeira pudessem vender as passagens mais caras.
 muitos dos que conheceram o mercado não esquecem como a protecção oficial à transportadora aérea nacional foi um dos factores de uma

A recente liberalização das rotas para a Região Autónoma dos Açores mostra como mais oferta acessível a mais pessoas faz crescer a procura e obriga as companhias antes dominantes a baixar preços.

*TAP é fundamental e indispensável para o turismo em Portugal
Como vimos,

-o tráfego da TAP é irrelevante em Faro, ainda é importante no Porto mas desde o arranque do crescimento do turismo no Poro a TAP não cresce no aeroporto Sá Carneiro,

-em Lisboa, a TAP é importante para o turismo, mas o tráfego do conjunto das outras companhias aéreas já é superior ao da TAP [a previsão de parte do total em 2016 é de 48,2% - ver gráfico II.4.6.h].

A importância da TAP é mais visível em rotas de longo curso:
-caso extraordinário do Brasil onde voa para onze aeroportos, América do Norte (de Miami à nova politica animada pelo accionista privado) e China em que a participação da HNA no capital da Azul abre um potencial antes inexistente.

A TAP é muito importante mas não é indispensável ao turismo nacional, porque, no âmbito da regulação europeia em que opera,

-se a TAP não for viável sem Ajuda do Estado, a TAP está condenada a falir [ver último item da alínea c) do ponto II.4.6.h] e a conectividade dos aeroportos nacionais passar a ser assegurada por companhias estrangeiras.

*A TAP é muito importante para a diáspora
Na actualidade a importância da TAP para a diáspora

-é significativa mas as companhias aéreas estrangeiras, LCC ou não, são quantitativamente mais importantes,

-a imagem de marca da TAP na diáspora tem dimensão emocional que é activo da empresa, mas não justifica que a TAP opere rotas estruturalmente inviáveis.
Hoje a TAP voa para Caracas onde quase de certeza tem prejuízo estrutural e para Luanda para onde uma empresa privada talvez já não voasse ou voasse menos [ver alínea b) a seguir].

*TAP garante rotas para os países da CPLP
Desde há dezenas de anos, Cabo Verde, Angola e Moçambique têm transportadoras aéreas nacionais que partilham com a TAP a operação nas rotas estabelecidas por acordos bilaterais entre Portugal e estes países.

A TAP esteve mais de dois anos sem voar para Bissau, inicialmente por razões de segurança e depois por opção comercial. Durante este período e até hoje uma companhia aérea privada e portuguesa opera a rota Lisboa-Bissau.

A TAP opera a rota para S. Tomé, em paralelo com a companhia nacional ou a companhia aérea portuguesa e privada referida antes.

Em nossa opinião, o argumento de ‘TAP garante rotas para os países da CPLP’ vem das origens da TAP que liga Lisboa ao Imperio Colonial. É ainda política e culturalmente obsoleto desde a normalização politica nas ex-colónias.

*A TAP assegura serviço público em rotas para Regiões Autónomas
Em Portugal, já não há Obrigações de Serviço Publico, na definição da União Europeia, nem ‘serviço publico’ (seja la o que isto quer dizer) nas rotas entre o Continente e as Regiões Autónomas. Por outro lado, a recente chegada de LCC a ilhas da Região Autónoma dos Açores levou ao desenvolvimento do turismo.

a.4)Hub da TAP e Portugal plataforma de relações intercontinentais
Em Portugal fala-se muito da ambição do País vir a ser plataforma intercontinental de relações entre Europa e os outros três continentes do Atlântico: África, América do Sul e América do Norte.

O hub da TAP

-é factor crítico de sucesso de Portugal concretizar esta ambição, pelo tráfego que já gera e por a plataforma intercontinental ser de mais difícil concretização sem a TAP,

-pode passar a outro patamar de desenvolvimento na medida em que a esta plataforma gera tráfego adicional. 

a.5)Avaliar a importância da TAP para Portugal
*Contribuição da TAP para a economia sociedade, cultura e política
Identificámos os mecanismos em que assenta a importância da TAP para o País, mas ignoramos

-a verdadeira dimensão da contribuição da TAP para a economia sociedade, cultura e política do País e sobretudo, como a tornar mais eficiente.

A contribuição da TAP para a economia sociedade, cultura e política do País não pode ser avaliada por argumentos retóricos ou avaliações subjectivas, sobretudo quando ignoram a realidade da empresa e do transporte aéreo.
Em nossa opinião, devemos começar por identificar a contribuição da TAP para a economia do País, por ser a mais facilmente quantificável.

*Contribuição da TAP para a economia
Como é habitual, abundam informações e referências dispersas sobre como

-a TAP contribui directamente para a economia do País em investimento, emprego e exportações,

-o tráfego da TAP é fundamental para o turismo em Portugal.

Apesar do descrédito em que caíram os estudos, é nossa opinião que só estudo por universidade de primeira linha pode situar a contribuição da TAP para a economia do País.

Este estudo visa

-qualificar o conhecimento e debate sobre tema importante do transporte aéreo em Portugal,

-minimizar os efeitos nefastos do falso conhecimento e agitação de slogans que dominam,

-ser mais um contributo para criar confiança entre a maioria dos dezasseis milhões de accionistas que o Estado representa.

*Dimensão emocional na importância da TAP para o País
A importância da TAP para o País tem dimensão emocional que deve ser valorizada de maneira objectiva e racional. Identificamos dois aspectos

-a imagem da TAP na mente, coração e espírito de muitos portugueses, da diáspora ou não, é um activo evidente e a desenvolver por accionistas e gestores,


-juntar a emoção à avaliação da importância da TAP para o País é legítimo, desde que não assente na deturpação de factos e excessos em que as emoções frequentemente caem. 


A Bem da Nação

Lisboa 12 de Novembro de 2016

Sérgio Palma Brito

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