Basta de informações parcelares – perguntas aos accionistas da TAP

O presente post ilustra o tipo de informação que a TAP devia prestar aos milhões de accionistas representados pelo Estado, para estes não serem meros sujeitos passivos e a gestão da empresa estar balizada por números públicos. Já discordámos varias vezes da comunicação da TAP com base em notícias positivas, mas dispersas e não contextualizadas, como é o caso das que originam este post (1). Vamos que que interessa [sublinhado nosso]:

-Given the outlook, it is not an exaggeration to say that for many carriers, the decision for executives—and the governments that may own them, and the workforces that depend on them—is between an airline fit to compete effectively or no airline at all.”.

No virar de 2000/2001 e no final de 2015, a TAP esteve à beira da insolvência. No virar de 2016/17, tomar decisões difíceis em função de “an airline fit to compete effectively or no airline at all.”.

*“European airlines have had a brief moment in the sun”
Em 2015 e 2016 as companhias aéreas da Europa vivem tempo de bonança, sobretudo fruto do baixo preço do fuel. Com efeito,

-“The sector has been returning its cost of capital for the first time, after a decade that was, as usual, unforgiving for most European airlines, with only three generating enough profit to cover the cost of capital.”,

-“The run of profits from 2015 to 2016 is the result mainly of an unanticipated fall in the price of jet fuel.”.

Assim,
-“European airlines improved performance too, achieving an average operating margin that was higher in 2015 than at any time in the past decade and, at 5.3 percent, three times higher than the 1.5 percent average of 2006 to 2014. […]
The IATA projects profits to continue in 2016 as fuel prices stay low, with Europe’s operating margin in 2016 projected at 5.6 percent.” (2).

*Primeira pergunta aos accionistas da TAP
Neste panorama (aumento da média europeia da operating margin de 5,3% para 5,6%),

-qual a explicação dos accionistas da TAP para a empresa ter tido uma operating margin negativa em 2015 (gráfico 1)?

-que medidas tomaram para, em 2016, já ter operating margin positiva e de quanto?

Gráfico 1 – European airlines operating margin 2015 (%)


Fonte: Elaboração própria com base em McKInsey&Company, Winter is coming: The future of European aviation and how to survive it, September 2016

Deste gráfico destacamos,

-a excelência do resultado do IAG (British Airways e Iberia) e os bons resultados do Lufthansa Group e Finnair (esta uma companhia aérea comparável com a TAP),

-o quase bodo aos pobres, quando os dois patinhos feios (Air France/KLM Group e SAS) da competitividade obtêm bons resultados,

-o desastre da TAP.

*O que sabemos sobre o futuro de “Winter is coming”?
Entre outros, sabemos que,

-“some secular trends are known, will continue, and should make most flag carriers in particular redouble their efforts to become fit for the future. [..]
In the future, jet-fuel prices may rise, or prices may fall. But either way, competition will erode the increase in margin from low fuel costs.

-“The second reason to believe in a return to winter is the continuing and remorseless force of two prevailing winds: LCCs within Europe and the Gulf Plus airlines on intercontinental routes.”,
Sabemos também que

-a TAP está extremamente vulnerável ao aumento do custo do fuel, se este subir a mais de €50 (3),

-na base e hub de Lisboa, a intensa concorrência entre LCC ameaça a sustentabilidade das rotas intra-europeias, de alimentação do hub ou não, o que pode pôr em causa o centro nevrálgico da sustentabilidade da TAP.

*”Preparing for winter”
Voltamos ao texto da McKinsey:

-“Knowing that harder competitive dynamics will return, airlines can take concrete actions to prepare now. Used well, the temporary windfalls of oil price can have permanent effects. […]

-First, airlines can invest windfalls to permanently reset their cost structure.

-Second, windfalls can be invested to improve products, including zero-based budget reviews of all spending on customer experience to evaluate what truly drives satisfaction. […]

- Third, some airlines might use their windfalls to make cash acquisitions of other carriers [não se aplica à TAP].”.

*Segunda pergunta aos accionistas da TAP
É sabido que

-“Used well, the temporary windfalls of oil price can have permanent effects. And it is imperative that they do so. Given the outlook, it is not an exaggeration to say that for many carriers, the decision for executives—and the governments that may own them, and the workforces that depend on them—is between an airline fit to compete effectively or no airline at all.”.

O que estão os accionistas da TAP a fazer na escolha

-“between an airline fit to compete effectively or no airline at all”?

Mais concretamente, o que está a TAP a fazer para

-cortar os €150 milhões de custos, já identificados (4)?

-avaliar todos os gastos com a “consummer experience” em função da avaliação do passageiro e não de interesses corporativos ou outros que falam em nome do consumidor?

Explicitamos este último ponto. Já vimos a crítica devastadora de ‘a TAP não vir a ser uma low cost’ para defender normas do estatuto do pessoal de cabine/cockpit que muito provavelmente não acrescentam nada à “consummer experience”.

A Bem da Nação

Lisboa 9 de Dezembro de 2016

Sérgio Palma Brito

Notas

(1)Entre várias, são duas notícias

2016.12.06.Expresso.Rotas.TAP

TAP vai voar para Toronto, Las Palmas, Alicante, Estugarda, Bucareste e Budapeste a partir de junho
2016.12.08.DVivo.RotasResultadso
TAP lança nova rota para o Canadá já em 2017 Canadá já estava nos planos mas sem data para arrancar

Ver o post Falta informação formal e sistemática sobre a TAP e isto tem de mudar

(2)Todas as citações deste post são de McKInsey&Company, Winter is coming: The future of European aviation and how to survive it, September 2016.

(3)Ver 2016.09.28 Eco, Neeleman: TAP tem de “melhorar resultados”, mas corte de custos será pela eficiência. Sem despedimentos

(4)Ver 2016.09.26 Eco, Estudo: TAP tem de poupar 150 a 200 milhões de euros até 2020 para ser eficiente




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