1.Hub
A palavra hub entrou no português corrente, não figura bos
dicionários e é frequentemente utilizada a desproposito. Este post pretende
explicar os rudimentos do hub na Europa e dar uma ideia da rede de hubs no
Continente.
Na Europa, o hub faz-nos recuar aos primórdios do transporte
aéreo, isto é, antes do Mercado Único de 1992 e da Liberalização de 1993:
-em cada País, há uma verdadeira companhia de bandeira com uma
base na capital, onde estacionam todos os aviões e da qual partem todas rotas,
com pouca ou nenhuma coordenação de horários entre elas;
-a transformação da base em hub, simplificando muito, pela
estruturação dos horários em ondas temporais que permitem ao passageiro tomar
outros avião com espera máxima de três horas … o que nem sempre acontece.
Em Lisboa,
-a passagem da base de Lisboa a hub é iniciada em 1999 por
técnicos destacados pela Swissair em vias de adquirir participação no capital
da TAP,
-a partir de 2001, Fernando Pinto utiliza o modelo de hub
para captar tráfego intercontinental entre a Europa/Brasil e vice versa,
-em 2016, David Neeleman utiliza o modlo de hub para captar
tráfego intercpntinental entre Europa/América do Norte e vice versa,
-a privatização de 2015 assenta em financiamento da TAP pelo
grupo chinês HNA e com o hub a ligar a China a Brasil e América do Norte com a
Hainan Airways a ligar a China a Lisboa.
O hub pode operar como
-mero transporte aéreo com os passageiros a não saírem
sequer do aeroporto Humberto Delgado, o modelo de Fernando Pinto,
-contribuir para o turismo em Portugal, fomentando visita a
Portugal entre dois voos, o modelo de David Neeleman.
Digo Europa por no EUA ser frequente a mesma companhia aérea
ter mais de um hub.
2.Os hubs na Europa
O gráfico 1 ilustra a dispersão de hubs na Europa,
classificando-os em três categorias e acrescentando os aeroportos e
acrescentando uma quarta categoria de que não nos ocupamos para não alongar o
texto.
Há três grandes categorias de hubs na Europa.
Nos seis hubs Principais, destacamos
-Frankfurt e Munique, com a Lufthansa em via de concentrar
todo o tráfego de hub no primeiro,
-o grupo AF/KLM a integrar os dois hubs de importância logo
a seguir a Frankfurt,
-Istambul, na Europa, mas com tráfego muito específico,
-Londres Heathrow em sexto lugar, talvez muito pela demora
em construir uma nova pista.
Nos hubs Secundários distinguimos
-Madrid que o International Airlines Group pretende promover
a Principal,
-Viena e Zurique, hubs do Lufthansa Group,
-Helsínquia até há pouco classificado como hub de Nicho,
-Roma Fiumicino (FCO) que parece resistir às peripécias da
Alitalia/Ita,
-Moscovo Sheremetievo (SVO) que não consideramos.
Nos hubs de nicho distinguimos
-Lisboa a liderar o pelotão da frente,
-Bruxelas do Lufthansa Group,
-Dublin do IAG,
Gráfico 1 –
Classificação dos hubs da Europa (clicar na imagem)
3.Ranking de hubs aeroportuários da Europa e evolução
entre 2009/2019
O gráfico 2 ilustra o ranking dos hubs da Europa e a
variação da conectividade de hub entre 2009/2019.
Os hubs estão ordenados segundo métrica do ACI - Airports
Council International para a conectividade de hub, na qual confiamos e não
detalhamos para não sobrecarregar o post.
Destacamos
-o crescimento de Istambul entre 2009/2019 contras com a perda
de Charles de Gaule e a estagnação de Heathrow.
-Dublin ainda é um hub menor, mas os 408,8% de crescimento
resultam muito da integração no IAG, o que desmente a teoria da British Airways
o desnatar, quando é a BA que também o utiliza para ultrapassar as limitações
de Heathrow.
Não detalhamos o crecimento de Varsóvia, Domodedovo
Internacional (DME), Ataturk em Istambul (SAW) e KEF (Helsinquia), justificando
este uma nota história a publicar quando tivermos disponibilidade
Gráfico 2 – Ranking
dos hubs da Europa (clicar na imagem)
4.Consolidação de companhias aéreas e hubs da Europa
As companhia aéreas da Europa não conhecem, nem de perto nem
de longe, a consolidação por que passam as suas congéneres dos EUA, fator
frequentemente citado como um dos que explicam a sua menor rentabilidade em
relação às congéneres dos EUA.
As mais variadas previsões sobre uma ‘vaga de consolidação’
não se concretizam.
A consolidação de hubs na Europa começa a ser o segundo
monstro de Loch Ness (parece que existe, mas ninguém ainda o viu …)
5.Curta nota final sobre Lisboa
Qualquer referência ao hub de Lisboa tem de ter em conta
este panorama e, entre outros,
-a competitividade da TAP neste panorama de concorrência,
-a possível integração da TAP e hub de Lisboa num dos três
grupos da consolidação do transporte aéreo não implicar a sua canibalização,
antes poder potenciar o seu crescimento,
-salvas as devidas proporções e como no caso de Heathrow, a
maior ameaça ao hub de Lisboa resultar da limitação do aeroporto Humberto
Delgado e da estatização da TAP com o peso que tal acionista representa para a
empresa (ver o post http://sergiopalmabrito.blogspot.com/2021/07/tap-so-sobrevive-privatizada-em-80.html
).
Voltaremos ao assunto.
Lisboa 3 de Janeiro de 2022
Sérgio Palma Brito
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