Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo – Desfazer o Equívoco


A nossa posição sobre a Politica de Turismo do SET Adolfo Mesquita Nunes é conhecida

-acordo sobre muitas das suas afirmações mais polémicas, porque coincidem com as posições que defendemos desde há muitos anos,

-discordância sobre a sua aproximação ao ‘alojamento paralelo/alojamento local’ e sobre a incapacidade de compreender o Turismo Residencial, pontos sobre os quais finalizamos uma série de posts (1).

Alimentamos esperanças que o Ministro Pires de Lima reforce a intervenção do SET e contribua para o esclarecimento do papel do Alojamento Turístico Não Classificado e Turismo Residencial na Economia do Turismo.

Na Conferência de Imprensa em apreço, Ministro e Secretário de Estado continuam a alimentar o equívoco entre Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos. Acontece que este equívoco está no cerne da Contribuição do Alojamento Não Classificado, com destaque do Turismo Residencial, Para a Economia.

O presente post é apenas uma modesta contribuição para esclarecer o equívoco.

A Bem da Nação, como veremos.

 

*Em Portugal Não Há Conta Satélite do Turismo
Admitimos que o texto do Publituris não seja o melhor, mas citamos:

-Adolfo Mesquita Nunes acrescentou que ‘este foi o ano em que a Conta Satélite do Turismo teve o contributo mais decisivo e determinante com o seu melhor resultado’.

Independentemente do que o SET tenha afirmado, a realidade é esta:

-a Conta Satélite do Turismo é o instrumento da Macroeconomia que permite quantificar a Conta Satélite do Turismo,

-em Dezembro de 2010, o INE publica uma CST rudimentar e com lacunas, por falta de recursos humanos e materiais,

-entre outros, o INE considera que o Inquérito aos Gastos dos Turistas Internacionais “possibilitou uma melhoria significativa da CST” e que “Este inquérito foi descontinuado temporariamente o que tenderá a condicionar a frequência e o detalhe da CST.” (2).

Neste contexto, não é prudente que um SET, independentemente da pessoa ou Governo, mencione a CST, sem deixar claro que retoma o projecto com força e vigor.

*Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo
Na má tradição do Turismo, o Ministro da Economia analisa Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo dando a impressão que são dois indicadores compatíveis e não estruturalmente diferentes, como realmente são. Voltamos a insistir na diferença estrutural entre estes dois indicadores:

-Proveitos da Hotelaria referem apenas o Alojamento Turístico Classificado,

-Receita de Viagens e Turismo refere a Despesa de todos os Turistas, quer os alojados no Alojamento Classificado, quer os do Não Classificado.

A diferença é dupla: i)Quantitativamente Significativa; ii)Decisiva para a Adequação da Politica de Turismo à realidade do Mercado.

*Diferença Quantitativamente Significativa Dos Dois Conceitos
O Gráfico 1 ilustra a evolução 2001/2012 (3) da Receita de Viagens e Turismo, na Balança de Pagamentos e dos Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado, de Não Residentes e de Residentes.

O Gráfico 1 põe em evidência dois factos que já detalhámos (Aqui):

-entre €1.9 bi e € 8.8 bi, há uma diferença que resulta da Despesa de Turistas hospedados no Alojamento Turístico Não Classificado,

-o contributo destes Turistas é decisivo para o sucesso de uma Politica que vise aumentar esta Receita.

O Gráfico 1 põe ainda em evidência que o ritmo de crescimento da Receita de Viagens e Turismo é muito superior ao do crescimento anémico dos Proveitos Totais da Hotelaria. Esta diferença resulta da diferença estrutural dos dois conceitos:

-a Receita de Viagens e Turismo acompanha a Procura e resulta do Consumo de todos os Turistas, dentro e fora dos Empreendimentos e Estabelecimentos em que alojam,

-os Proveitos da Hotelaria a oferta da Definição Legal Alojamento Turístico utilizado pelos Turistas e resulta apenas do Consumo destes no seio dos Empreendimentos Turísticos.  
Gráfico 1 – Receita de Viagens e Turismo Proveitos Totais do Alojamento Classificado
(€ milhões)
  Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e BPstat

Dito isto, o Indicador a ter em conta pela Politica de Turismo é o da Receita de Turismo na Balança de Pagamentos, que integra, para além da Receita de Viagens e Turismo, três outros:


-Investimento Directo de Não Residentes em Residência Secundárias,

-Transferências do Exterior Para Reformados Ex Não Residentes,

-Rúbrica de Transportes Internacionais de Passageiros.

Neste quadro alargado, o contributo da Despesa dos Turistas alojados no Alojamento Não Classificado

-é total, no caso dos dois primeiros indicadores e é relevante no caso do último.

Em síntese,

-aumentar a Receita de Turismo na Balança de Pagamentos depende do contributo dos Hóspedes do Alojamento Não Classificado.

*Diferença Decisiva Para a Adequação da Politica de Turismo
Ao não explicitar nem ter em conta o Consumo dos Hóspedes do Alojamento Turístico Não Classificado, a Politica de Turismo comete dois erros cujos efeitos se acumulam.

A Politica de Turismo concentra toda a atenção apenas em parte da Oferta (muito importante Hotelaria, mas não exclusiva) e ignora/hostiliza outra parte muito relevante (Alojamento Não Classificado). É um erro porque

-ao intervir no Alojamento Turístico Não Classificado sem conhecer as suas dinâmicas, com aplicação de legislação inadequada e repressão pela ASAE, a Politica de Turismo está a prejudicar a Receita de Turismo na Balança de Pagamentos,  

A Politica de Turismo não utiliza os conceitos das Instituições Internacionais (United Nations Statistics Division, World Tourism Organization, Eurostat - Commission of the European Communities, OECD) sobre Turismo, Alojamento Turístico e Turismo Residencial. É erro grave, porque

-intervém apenas na parte da Receita de Viagens e Turismo que resulta dos Turistas do Alojamento Classificado e ignora o vasto campo dos quatro indicadores integrados na Receita de Turismo na Balança de Pagamentos.

*Last but not the least: “melhor ano turístico de sempre”
Antonio Pires de Lima ignora uma das mais pindéricas tradições da Economia do Turismo em Portugal

-durante anos e anos, Ministros e Secretários de Estado anunciam “o melhor ano turístico de sempre” e dão a perceber a sua genial contribuição para o feito.

Reconhecemos que António Pires de Lima e Adolfo Mesquita Nunes têm sido exemplares em insistir que os resultados do Turismo são fruto das Empresas e não dos Políticos do Turismo.

Esta atitude é a registar, mas

-a expressão “melhor ano turístico de sempre” está queimada e queima quem a profere, porque ninguém a leva a sério e passa a identificar o Ministro com o pior do passado,

-o anúncio de bons resultados do Turismo deve ser tão discreto como o que acontece com os da Industria e Agricultura – Conferências de Imprensa como esta são contraproducentes.

A Bem da Nação

Albufeira 14 de Fevereiro de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Em série de posts a publicar brevemente, mostramos que a parte mais importante do Alojamento Turístico Não Classificado é o Turismo Residencial do conceito Abrangente.

(2)INE, Destaque, Conta Satélite do Turismo 2000-2010, Lisboa, 17 de Dezembro de 2010


(3)A Receita de Viagens e Turismo referente a 2013 ainda não é conhecida.

 

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