Turismo 2013 e Desafio 2015 – Proveitos da Industria da Hotelaria


O INE acaba de publicar o DestaqueActividade Turística – Dezembro de 2013”. É a primeira divulgação dos resultados do Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria, que existe desde 1965. Aqui, ‘Hotelaria’ é sinónimo do que neste Blogue designamos Alojamento Turístico Classificado ou Indústria da Hotelaria.

Como já referimos (Post), os comentários a esta informação do INE deram lugar

-a excitação política a mais sobre ‘o melhor ano turístico de sempre’,

-informação a menos sobre o Desafio de 2015, isto é sobre os objectivos do Governo até ao fim da Legislatura.

O presente Post esmiuça

-o Inquérito do INE em relação com a Análise Estratégica da Industria da Hotelaria,

-a contextualização dos Proveitos da Industria da Hotelaria no período entre 1996/2013,

-as consequências a tirar pelo Governo para vencermos, nós todos, o Desafio de 2015.

Numa segunda parte, apresentamos a Base Analítica do Post.

Sugerimos a leitura da Declaração de Interesses, que define o nosso trabalho. Repetimos o que nela se afirma sobre

-o texto não ter sido objecto de revisão, correcção e edição profissionais,

-agradecermos o envio de críticas, sugestões, correcções, propostas de acção e tudo o que seja positivo, aberto e concreto para sergiopalmabrito@gmail.com.

Temos sempre presente a frase de Bento de Jesus Caraça: “Se não receio o erro, é porque estou sempre disposto a corrigi-lo”.

 

*Nota Sobre o Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria
-Inquérito do INE e Análise Estratégica
O Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria existe desde 1965. Disposições comunitárias (1) obrigam Portugal a “produção de informação estatística relativa aos estabelecimentos de Alojamento Turístico Colectivo” (2). Na prática o Inquérito apenas abrange os “estabelecimentos hoteleiros classificados pelo Turismo de Portugal”, isto é os Empreendimentos Turísticos do que designamos por ‘Alojamento Classificado’. Esta precisão é importante porque o Inquérito

-apenas recolhe macro Informação Estatística sobre o que na realidade é a Industria da Hotelaria,

-esta Informação deveria uma das bases para a Análise Estratégica da Industria da Hotelaria (3), elemento da business intelligence de que carecem a Politica de Turismo e as partes directamente interessadas na gestão das Empresas da Indústria da Hotelaria.

-Dois Equívocos Inúteis e Estéreis
Desde há dezenas de anos, o Inquérito do INE alimenta dois equívocos:

-é apresentado e entendido como abrangendo ‘todo o Turismo’ ou, pior, a “Actividade Turística” [ver título do Destaque], quando apenas abrange o Alojamento Classificado (Post),

-é instrumento de excessivo protagonismo de actores da Politica e querelas estéreis entre agentes da Intervenção Pública e Iniciativa Privada.

É justo reconhecer que o actual Ministro e Secretário de Estado insistem sobre os resultados serem da responsabilidade das empresas. Haja esperança no seu esforço, apesar de ainda recentemente terem caído na pecha de ‘o melhor ano turístico de sempre’ e do ‘crescimento em relação ao ano anterior’ [ver Post anterior]. 

*Para Uma Leitura Diferente dos Proveitos da Industria da Hotelaria
Se situarmos o Valor dos Proveitos da Industria da Hotelaria em 2013 no quadro da evolução entre 1996/2013

-no intervalo de 1996/2013, o crescimento dos Proveitos é anémico – é de 108.3% a Preços Correntes, e 39.6% a Preços Constantes,

-em 2013, o valor dos Proveitos está ao nível de 2008 a Preços Corrente e 4.9% abaixo a Preços Constantes.

Se situamos o Valor dos Proveitos em 2013 no quadro da evolução entre 2005/2013, temos de considerar dois tempos:

-no intervalo 1996/2013, o valor dos Proveitos a Preços Constantes cresce entre 2005/2008 e estabiliza entre 2009/2013,

-em 2013, o Valor dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao de 2011.

A análise dos Índices de Crescimento de Proveitos, Hóspedes e Dormidas deve ser feita a dois tempos:

-entre 1996/2013, o Índice de Crescimento dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao das Dormidas, e é ultrapassado por este a partir de 2011,

-entre 2008/2010, o Índice dos Proveitos a Preços Constantes diminui, mas está acima do das Dormidas, mas entre 2011/2013 estabiliza e é ultrapassado pelo do das Dormidas, que aumenta de ano para ano.

A análise da Repartição por NUTS II (2002/2013) dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria a Preços Correntes levanta duas observações. A primeira tem a ver com números que confirmam:

-pela sua importância, Algarve e Lisboa são caso à parte, Norte e Centro apresentam valores que os diferenciam do Alentejo,

-a diferença de Algarve e Lisboa e a dispersão da Procura/Oferta comum a Norte, Centro e Alentejo devem ser reconhecidas.

A segunda observação resulta a necessidade de

-ligar a Procura/Oferta de Norte, Centro e Alentejo com a Oferta de Alojamento Turístico Não Classificado do Turismo Receptor e Interno,

-ter em conta esta realidade diferente para efeito de Valorização da Marca do Destino Regional e Marketing & Vendas da Oferta,

-estes três últimos pontos são vias para uma análise mais profunda da Procura /Oferta de Turismo nas NUTS II do Continente.

Em síntese,

-todos estes factos reforçam a tese de que a Industria da Hotelaria enfrenta, desde há 10/15 anos dificuldades estruturais, que se agravam nos últimos anos,

-reconhecer os bons resultados de 2013 não pode escamotear ou sublimar esta realidade, antes tem de ser estímulo para o Desafio 2015 – quais os Objectivos do Governo até ao fim da Legislatura?

*Tirar as Consequências da Leitura Diferente dos Números
Em nossa opinião só a Politica de Turismo pode

-romper com osDois Equívocos Inúteis e Estéreis”, trazendo o debate sobre os ‘números do Alojamento Classificado’ e a Análise Estratégica da Industria da Hotelaria para terreno mais bem mais objectivo do que aquele em que se tem situado,

-iniciar o movimento para termos, simultaneamente, melhor Informação Estatística pelo INE e adequada Business Intelligence (4), que começa pela necessária para analisar a Industria da Hotelaria de Portugal.

Propor que o driver do processo seja a Politica de Turismo não é brilhante, mas é atitude realista no Portugal que ainda temos.

 

OS TRÊS PONTOS SEGUINTES SÃO A BASE ANALÍTICA DO POST

 

1.Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado

*Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado (1996/2013)
O Gráfico 1 ilustra os Proveitos Totais dos Meios de Alojamento Turístico Classificado entre 1996/2013, a Preços Correntes e Constantes.

Gráfico 1 – Proveitos Totais do Alojamento Classificado a Preços Correntes e Constantes (1995/2013)
(€ milhões)

 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e Destaque Hotelaria

Se situarmos o Valor dos Proveitos da Industria da Hotelaria em 2013 no quadro da evolução entre 1996/2013

-no intervalo de 1996/2013, o crescimento dos Proveitos é anémico – é de 108.3% a Preços Correntes, e 39.6% a Preços Constantes,

-em 2013, o valor dos Proveitos está ao nível de 2008 a Preços Corrente e 4.9% abaixo a Preços Constantes.

*O Ano de 2012 – Valor Estimado e Corrigido
O valor de 2012 exige uma explicação:

-o valor estimado pelo INE dos Proveitos Totais de 2012 começa por ser € 1.909 mil milhões, o que representa estabilidade em relação ao valor de 2011 (€ 1.906 mil milhões),

-meses depois, nas Estatísticas de Turismo referentes a 2012, o valor corrigido é de € 1.856 milhões, o que representa uma descida de 2.8%em relação a 2011 e não estabilidade – entretanto, o discurso politico baseou-se np valor mais elevado e já ninguém ligou a este valor corrigido,

-o Destaque de Fevereiro de 2014, o valor corrigido dos Proveitos Totais de 2012 continua a ser € 1856 mil milhões,

-é em relação a este valor corrigido que o valor dos Proveitos Totais de 2013 represente uma subida de 5,5%,

-o paranóico interrogar-se-á: e se o valor de 2013 é corrigido e fica abaixo ou igual ao de 2012?

Recusamos completamente a hipótese, mas um adepto da Teoria da Conspiração dirá que esta correcção tardia permitiu bons ‘números do Turismo’ em 2012 e 2013.

*Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado (2007/2013)
O Gráfico 2 ilustra os Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado entre 2005/2013, a Preços Correntes e Constantes.

Gráfico 2 – Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado a Preços Correntes e Constantes (2005/2013)
(€ milhões)

 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e Destaque Hotelaria

Se situamos o Valor dos Proveitos em 2013 no quadro da evolução entre 2005/2013, temos de considerar dois tempos:

-no intervalo 1996/2013, o valor dos Proveitos a Preços Constantes cresce entre 2005/2008 e estabiliza entre 2009/2013,

-em 2013, o Valor dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao de 2011.

 

2.Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos

*Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos (1996/2013)
O Gráfico 3 ilustra a evolução entre 1996/2013 dos Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes. Apenas analisamos os Índices de Dormidas e Proveitos a Preços Constantes.

A análise confirma que:

-entre 1996/2013, o Índice de Crescimento dos Proveitos a Preços Constantes é apenas ligeiramente superior ao das Dormidas, e é ultrapassado por este a partir de 2011.

Gráfico 3 – Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes (1996/2013)

 
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

*Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos (2008/2013)
O Gráfico 4 ilustra a evolução entre 2008/2013 dos Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes. Como no caso anterior, apenas analisamos os Índices de Dormidas e Proveitos a Preços Constantes.

Gráfico 4 – Índices de Hóspedes, Dormidas e Proveitos, a Preços Correntes e Constantes (2008/2013)

 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

Entre 2008/2013, há dois tempos:

-entre 2008/2010, o Índice dos Proveitos diminui, mas está acima do das Dormidas,

-entre 2011/2013 estabiliza e é ultrapassado pelo do das Dormidas, que aumenta de ano para ano.

 

3.Proveitos Totais a Preços Correntes Por NUTS II

*Proveitos Totais a Preços Correntes Por NUTS II (2002/2013)
O Gráfico 5 ilustra a evolução 2002/2013 dos Proveitos Totais a Preços Correntes, do Alojamento Turístico Classificado, por NUTS II.

Gráfico 5 – Proveitos Totais a Preços Correntes do Alojamento Turístico, por NUTS II (2002/2013),
(milhares de euros)


 
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

A análise da Repartição por NUTS II (2002/2013) dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria a Preços Correntes levanta duas observações. A primeira tem a ver com números que confirmam:

-pela sua importância, Algarve e Lisboa são caso à parte, Norte e Centro apresentam valores que os diferenciam do Alentejo,

-a diferença de Algarve e Lisboa e a dispersão da Procura/Oferta comum a Norte, Centro e Alentejo devem ser reconhecidas.

A segunda observação resulta a necessidade de

-ligar a Procura/Oferta de Norte, Centro e Alentejo com a Oferta de Alojamento Turístico Não Classificado do Turismo Receptor e Interno,

-ter em conta esta realidade diferente para efeito de Valorização da Marca do Destino Regional e Marketing & Vendas da Oferta,

-estes três últimos pontos são vias para uma análise mais profunda da Procura /Oferta de Turismo nas NUTS II do Continente.

 
A Bem da Nação

Albufeira 17 de Fevereiro de 2014
Sérgio Palma Brito

 
Notas

(1)A última disposição em data é o Regulamento (UE) nº 692/2011, de 6 de Julho, sobre o sector do Turismo.

(2)Sobre citações, ver ponto 6.1.Metodologias, em INE –  Estatísticas de Turismo referentes a 2012.

(3)Ver Michael Porter, Competitive Strategy, Techniques for Analyzing Industries and Competitors, Free Press, New York, 1980.

(4)Ver PwC – PricewaterhouseCoopers, Desafios do Turismo em Portugal Para 2014, Ponto 2.

(5)Estamos a transferir a Análise Estratégica do campo empresarial e privado que é o seu, para o campo da Intervenção Pública na Economia do Turismo, o que exige considerável dose de bom senso.

 

Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo – Desfazer o Equívoco


A nossa posição sobre a Politica de Turismo do SET Adolfo Mesquita Nunes é conhecida

-acordo sobre muitas das suas afirmações mais polémicas, porque coincidem com as posições que defendemos desde há muitos anos,

-discordância sobre a sua aproximação ao ‘alojamento paralelo/alojamento local’ e sobre a incapacidade de compreender o Turismo Residencial, pontos sobre os quais finalizamos uma série de posts (1).

Alimentamos esperanças que o Ministro Pires de Lima reforce a intervenção do SET e contribua para o esclarecimento do papel do Alojamento Turístico Não Classificado e Turismo Residencial na Economia do Turismo.

Na Conferência de Imprensa em apreço, Ministro e Secretário de Estado continuam a alimentar o equívoco entre Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos. Acontece que este equívoco está no cerne da Contribuição do Alojamento Não Classificado, com destaque do Turismo Residencial, Para a Economia.

O presente post é apenas uma modesta contribuição para esclarecer o equívoco.

A Bem da Nação, como veremos.

 

*Em Portugal Não Há Conta Satélite do Turismo
Admitimos que o texto do Publituris não seja o melhor, mas citamos:

-Adolfo Mesquita Nunes acrescentou que ‘este foi o ano em que a Conta Satélite do Turismo teve o contributo mais decisivo e determinante com o seu melhor resultado’.

Independentemente do que o SET tenha afirmado, a realidade é esta:

-a Conta Satélite do Turismo é o instrumento da Macroeconomia que permite quantificar a Conta Satélite do Turismo,

-em Dezembro de 2010, o INE publica uma CST rudimentar e com lacunas, por falta de recursos humanos e materiais,

-entre outros, o INE considera que o Inquérito aos Gastos dos Turistas Internacionais “possibilitou uma melhoria significativa da CST” e que “Este inquérito foi descontinuado temporariamente o que tenderá a condicionar a frequência e o detalhe da CST.” (2).

Neste contexto, não é prudente que um SET, independentemente da pessoa ou Governo, mencione a CST, sem deixar claro que retoma o projecto com força e vigor.

*Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo
Na má tradição do Turismo, o Ministro da Economia analisa Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo dando a impressão que são dois indicadores compatíveis e não estruturalmente diferentes, como realmente são. Voltamos a insistir na diferença estrutural entre estes dois indicadores:

-Proveitos da Hotelaria referem apenas o Alojamento Turístico Classificado,

-Receita de Viagens e Turismo refere a Despesa de todos os Turistas, quer os alojados no Alojamento Classificado, quer os do Não Classificado.

A diferença é dupla: i)Quantitativamente Significativa; ii)Decisiva para a Adequação da Politica de Turismo à realidade do Mercado.

*Diferença Quantitativamente Significativa Dos Dois Conceitos
O Gráfico 1 ilustra a evolução 2001/2012 (3) da Receita de Viagens e Turismo, na Balança de Pagamentos e dos Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado, de Não Residentes e de Residentes.

O Gráfico 1 põe em evidência dois factos que já detalhámos (Aqui):

-entre €1.9 bi e € 8.8 bi, há uma diferença que resulta da Despesa de Turistas hospedados no Alojamento Turístico Não Classificado,

-o contributo destes Turistas é decisivo para o sucesso de uma Politica que vise aumentar esta Receita.

O Gráfico 1 põe ainda em evidência que o ritmo de crescimento da Receita de Viagens e Turismo é muito superior ao do crescimento anémico dos Proveitos Totais da Hotelaria. Esta diferença resulta da diferença estrutural dos dois conceitos:

-a Receita de Viagens e Turismo acompanha a Procura e resulta do Consumo de todos os Turistas, dentro e fora dos Empreendimentos e Estabelecimentos em que alojam,

-os Proveitos da Hotelaria a oferta da Definição Legal Alojamento Turístico utilizado pelos Turistas e resulta apenas do Consumo destes no seio dos Empreendimentos Turísticos.  
Gráfico 1 – Receita de Viagens e Turismo Proveitos Totais do Alojamento Classificado
(€ milhões)
  Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e BPstat

Dito isto, o Indicador a ter em conta pela Politica de Turismo é o da Receita de Turismo na Balança de Pagamentos, que integra, para além da Receita de Viagens e Turismo, três outros:


-Investimento Directo de Não Residentes em Residência Secundárias,

-Transferências do Exterior Para Reformados Ex Não Residentes,

-Rúbrica de Transportes Internacionais de Passageiros.

Neste quadro alargado, o contributo da Despesa dos Turistas alojados no Alojamento Não Classificado

-é total, no caso dos dois primeiros indicadores e é relevante no caso do último.

Em síntese,

-aumentar a Receita de Turismo na Balança de Pagamentos depende do contributo dos Hóspedes do Alojamento Não Classificado.

*Diferença Decisiva Para a Adequação da Politica de Turismo
Ao não explicitar nem ter em conta o Consumo dos Hóspedes do Alojamento Turístico Não Classificado, a Politica de Turismo comete dois erros cujos efeitos se acumulam.

A Politica de Turismo concentra toda a atenção apenas em parte da Oferta (muito importante Hotelaria, mas não exclusiva) e ignora/hostiliza outra parte muito relevante (Alojamento Não Classificado). É um erro porque

-ao intervir no Alojamento Turístico Não Classificado sem conhecer as suas dinâmicas, com aplicação de legislação inadequada e repressão pela ASAE, a Politica de Turismo está a prejudicar a Receita de Turismo na Balança de Pagamentos,  

A Politica de Turismo não utiliza os conceitos das Instituições Internacionais (United Nations Statistics Division, World Tourism Organization, Eurostat - Commission of the European Communities, OECD) sobre Turismo, Alojamento Turístico e Turismo Residencial. É erro grave, porque

-intervém apenas na parte da Receita de Viagens e Turismo que resulta dos Turistas do Alojamento Classificado e ignora o vasto campo dos quatro indicadores integrados na Receita de Turismo na Balança de Pagamentos.

*Last but not the least: “melhor ano turístico de sempre”
Antonio Pires de Lima ignora uma das mais pindéricas tradições da Economia do Turismo em Portugal

-durante anos e anos, Ministros e Secretários de Estado anunciam “o melhor ano turístico de sempre” e dão a perceber a sua genial contribuição para o feito.

Reconhecemos que António Pires de Lima e Adolfo Mesquita Nunes têm sido exemplares em insistir que os resultados do Turismo são fruto das Empresas e não dos Políticos do Turismo.

Esta atitude é a registar, mas

-a expressão “melhor ano turístico de sempre” está queimada e queima quem a profere, porque ninguém a leva a sério e passa a identificar o Ministro com o pior do passado,

-o anúncio de bons resultados do Turismo deve ser tão discreto como o que acontece com os da Industria e Agricultura – Conferências de Imprensa como esta são contraproducentes.

A Bem da Nação

Albufeira 14 de Fevereiro de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Em série de posts a publicar brevemente, mostramos que a parte mais importante do Alojamento Turístico Não Classificado é o Turismo Residencial do conceito Abrangente.

(2)INE, Destaque, Conta Satélite do Turismo 2000-2010, Lisboa, 17 de Dezembro de 2010


(3)A Receita de Viagens e Turismo referente a 2013 ainda não é conhecida.

 

Introdução à Nova Realidade dos Hostels & Similares


Este post propõe um breve percurso sobre a Nova Realidade dos Hostels & Similares:

*Hostels e Transformação Estrutural do Mercado Europeu da Viagem de Lazer

*Portugal no Seu Habitual (ou Pior?)

*Web Reservations International

*Os Hostel Awards

*À Atenção dos Mais Distraídos

 

*Hostels e Transformação Estrutural do Mercado Europeu da Viagem de Lazer
Sem ir mais longe, desde a década de 1950, quando a Europa do Norte recomeça a viajar, forma-se a oferta de Hostels e de outros Tipos do Alojamento Turístico informal e de preço reduzido.

Desde o início da década de 1990 e no quadro da Transformação Estrutural do Mercado Europeu da Viagem de Lazer, há uma transformação profunda desta oferta.

Esta Transformação é mais conhecida no caso da Viagem de Estadia, mas atinge também a Viagem de Tour Urbano e Cultural, pelo duplo efeito

-das novas Gerações e outros factores de formação da Procura,

-da acessibilidade aérea facilitada pelas companhias ditas Low Cost – uma inovação nas rotas entre Centros Urbanos, privados de ligações em voos charter devido ao proteccionismo das Companhias Bandeira.

*Os Hostels em Lisboa e Outras Cidades do País
Desde há anos, os Hostels chegam a Lisboa e outras cidades de Portugal. Com os Hostels, chegam os Bed and Breakfast, as Inns e Apartamentos Dispersos nas Zonas Históricas das Cidades. A eles se junta alguma da mais dinâmica da oferta budget tradicional.

Esta inovação na Oferta de Alojamento Turístico

-é obra de empreendedores que compreendem o potencial de uma Procura, diferente da do modelo Hoteleiro tradicional.

-tem um rosto visível nos jovens com ideias, que fazem pela vida e a promovem,

-começa a ter ícones nos estabelecimentos premiados nos Hostels Awards. Chegados.

O País descobre que os Hostels de Lisboa e outras cidades estão no topo dos rankings internacionais.

*Portugal no Seu Habitual (ou Pior?)
Como tantas vezes acontece em Portugal,

-não há informação estatística sobre a Procura/Oferta por estes Tipos de Alojamento Turístico,

-não sabemos como contribui para a reabilitação urbana e revitalização das zonas históricas das cidades,

-a rigidez do Regime Jurídico do Alojamento Turístico não permite legalizar os seus estabelecimentos sem alterar um Decreto-Lei e aprovar uma ou mais Portarias.

Esta ignorância não impede que

-a parte mais conservadora da Industria da Hotelaria faça lobby contra a ‘Oferta Paralela’ e apele à defesa da Concorrência Leal,

-o Governo prometa não um, mas dois Decretos-Lei – a alteração para legalizar os Hostels e outro para reprimir os Apartamentos Dispersos.

*Web Reservations International
A Web Reservations International (http://www.webresint.com/index.html) é uma empresa ‘privada’, criada em 1999 e detida, desde 2009, por Hellman and Friedman LLC, uma ‘private equity investment firm’ (www.hf.com). Se bem percebemos, é uma iniciativa ‘entrepreneurial’ que corre bem e vê o seu desenvolvimento apoiado por uma firma institucional. Por cá, teria sido ‘incentivada’ e apoiada pelo Turismo de Portugal, apoiada pelo QREN e … acabado mal.

A Web Reservations International opera na base de quatro marcas:

-Hostelworld.com (http://www.hostelworld.com), a ‘flagship brand’ da WRI, com 35.000 estabelecimentos em 35 países,

-HostelBookers.com (http://www.hostelbookers.com), que afirma ser ‘the first budget accommodation website’, com 20.000 estabelecimentos em 3.500 destinos,

-Hostels.com (http://www.hostels.com), que afirma ser ‘the ultimate guide to hostels and budget accommodation on the internet featuring over 35,000 properties worldwide),

-BedandBreakfastworld.com (http://www.bedandbreakfastworld.com), ‘the largest database of B&Bs worldwide, featuring over 7,000 bed and breakfasts bookable online’.

Esta empresa dá uma ideia da dimensão internacional em que se insere a nossa oferta de Hostels, Bed and Breakfast, Inns e Apartamentos Dispersos alguma da mais dinâmica da oferta budget tradicional – tudo nas Zonas Históricas das Cidades.  

*Os Hostel Awards
A Hostelworld organiza os Hostel Awards, onde os Hostels portugueses têm posição de destaque – a informação está no site, que vale a visita.

Com base em pesquisa no portal Hostelword, temos uma ideia sobre o Posicionamento de Barcelona, Lisboa e Porto na Hostelworld. O Gráfico 1 ilustra o número de Estabelecimentos nas três cidades, com detalhe por Tipo de Estabelecimento.

Gráfico 1 – Posicionamento de Barcelona, Lisboa e Porto na Hostelworld

(unidades)

Fonte: Elaboração própria com base nos sítios indicados

O resultado é idêntico ao obtido com pesquisa semelhante em quatro outros operadores – Booking, TipAdvisor, Flipkey e Homeaway (1):

-Barcelona mais importante do que Lisboa e Lisboa mais importante que o Porto,

-o caso de Barcelona indiciar o potencial de crescimento para Lisboa.

(1)Ver Camas Paralelas na Cidade – Factos a Observar e Quantificar (Aqui).

*À Atenção dos Mais Distraídos
O presente post visa apenas chamar a tenção dos mais distraídos sobre

-uma dimensão pouco conhecida da Procura/Oferta de Turismo, a sua escala internacional e o potencial de crescimento que Barcelona confirma,

-o interesse em conhecermos o que esta Procura/Oferta representa para a reabilitação urbana e revitalização das zonas históricas das cidades,

-a necessidade da Politica de Turismo intervir com base no conhecimento da realidade, virada para o Interesse Público e não sob pressão ou demasiado influenciada pela parte mais conservadora da Industria da Hotelaria.

 
A Bem da Nação

Albufeira 13 de Fevereiro de 2014

Sérgio Palma Brito