Hoje, na SIC Noticias, vi um português residente em França,
filho de emigrantes da primeira geração (pela idade e sotaque) reagir mal ao
ser encaminhado por uma placa, onde “Estrangeiros” está escrito em várias
línguas. O homem apenas dizia “Estrangeiro? Mas estou no meu País!”.
Temos de voltar à Carta ao Primeiro-Ministro do Governo
Português, com data de 16 de Abril (Carta)
e acrescentar umas coisinhas.
Þ Politica
Errada e a Inversão Que se Impõe
Estamos perante uma politica errada, que consiste em o
Governo não ter tomado, desde o início, a decisão política que se impunha e IMPÕE:
·
Todos os Veículos Ligeiros de Matrícula
Estrangeira estão isentos do pagamento de Portagens nas Ex SCUT.
O que se perde em receitas ganha-se
·
nas despesas, em Portugal, de quem agora desiste
de vir a Portugal,
·
no evitar de danos à Imagem de Marca de Portugal
como País e como Destino Turístico,
·
no respeito pela Diáspora Portuguesa.
Þ A
Base do Problema o Desconforto/Perda de Visitantes
O problema reside na base do sistema, que gera desconforto e
perda de visitantes (excursionistas e turistas):
·
as ex-SCUTs não foram concebidas para serem
portajadas,
·
o sistema instalado não é adequado a veículos
ligeiros de matrícula estrangeira,
·
estes veículos são conduzidos por Não Residentes
cidadãos de outros países e, MUITO MAIS IMPORTANTE, estrangeiros ou portugueses
da Diáspora Portuguesa – esta última realidade não está a ter a consideração
que deve,
·
a inevitável complexidade do pagamento de
Portagens, mais do que o custo, desincentiva viagens a Portugal.
Þ Imagem
de marca de Portugal e de Portugal como Destino Turístico
A Imagem de Marca do País
·
é construída por “comunicadores”, de entre os
quais o Turismo é talvez o mais importante, pelos milhões de visitantes anuais
que ficam a conhecer a Identidade do País,
·
as
experiências vividas durante a estadia contribuem decisivamente para a
percepção que se forma no espírito “das pessoas” (a Imagem de Marca) – imaginamos
que tipo de percepção cria a cena do pagamento das Portagens.
No caso da Imagem de Portugal Como Destino Turístico, o
pagamento das Portagens
·
cria a Imagem de “não ser fácil vir a Portugal”
e de Portugal tomar medidas a que falta bom senso,
·
pode influenciar negativamente o visitante não
residente.
Estão a ser subestimados ou esquecidos os danos que o actual
sistema de pagamento de portagens causa à Imagem de Portugal como País e à
Imagem de Portugal como Destino Turístico.
Þ Vã
Busca de Soluções Técnicas Para Erro Político
Não há soluções técnicas para uma política errada. A busca
de “soluções técnicas” para o erro político apenas o reforça e não o soluciona.
Para começar, ninguém previu o problema que se estava a
criar e a solução que exigia. Em condições normais, o responsável desta falha
de previsão devia ser demitido. O Governo ainda não mudou Portugal, pelo que
não aconteceu nada.
A primeira solução técnica consistiu em instalar terminais
de pagamento, à entrada da Via do Infante. Foi a Geringonça 1.0, solução apenas
local, a que se acrescentou uma campanha de informação, na Andaluzia. Na Páscoa,
a falta de previsão continuava: o problema seria local.
A segunda solução é a Geringonça 2.0, algo mais sofisticada,
mas que continua a não responder à questão essencial:
·
as pessoas até pagariam, se o sistema fosse
fácil e evidente – o caso da raspadinha é exemplo do que não deve ser feito.
·
para os técnicos era um problema com
“estrangeiros” e tudo foi concebido em função deles.
Nesta fase, já há uma responsabilidade política: ninguém
considerou as duas faces da realidade
·
estavam em causa Não Residentes em Portugal e
não Estrangeiros,
·
entre os Não Residentes está muita gente que
pertence à Diáspora Portuguesa, aos quais devemos, no mínimo, uma atenção
especial.
Þ Da
Emigração à Diáspora Portuguesa
O passado não é brilhante. No “Sector e Politica de
Turismo”,
·
já tivemos acções para o Mercado Étnico e
Emigração/Emigrantes
·
o pensamento dominante ainda não considera as
visitas dos emigrantes como visitas turísticas,
·
ainda se afirma que os emigrantes têm uma
influência negativa sobre a Imagem de Portugal como País e como Destino
Turístico (1).
O conceito de Diáspora não sublima a realidade social, económica
e cultural criada pelos que emigraram desde a década de 1960. Integra-a na
realidade mais vasta, a que a mais de que centenária Emigração deu origem – a Diáspora
Portuguesa. A Diáspora integra várias gerações, num misto de português e de
residente no estrangeiro, com uma ou duas nacionalidades e que se situam entre
dois extremos:
·
para muitos dos seus elementos, Portugal é a
terra de avós ou bisavós e da qual já não falam a língua, mas à qual algo os
liga,
·
para outros, Portugal é o País onde acabam de
deixar família, à espera do seu regresso ou da versão actual da tradicional
“carta de chamada”.
A Diáspora Portuguesa partilha uma ligação a Portugal, que
vai muito para além da Economia do Turismo, mas é desta que nos ocupamos.
Þ A
Diáspora Portuguesa Numa Mais Abrangente Politica de Turismo
O Governo tem de alterar a abrangência da Politica de
Turismo do País:
·
Portugal não pode continuar a ser um dos países
em que “Short-term accommodation services are considered so important for
tourism that many countries consider the establishments providing food and
beverage services and travel agency services as constituting their whole
tourism industry” (2) – a Economia do
Turismo é bem mais vasta do que esta noção redutora em que a Politica de Turismo
a encafua,
·
a Diáspora pode de ser considerada como um
“Segmento Emocional”, envolvente do tradicional Segmentação por Geographics, Demographics, Psychographics,
do Marketing Estratégico da Oferta de Turismo do País.
Em termos práticos, basta
·
as empresas analisarem o mercado à luz desta
óptica e implementarem Programas de Marketing Adequados – quem não fizer a
aproximação certa a este “Segmento Emocional” … estão, quase de certeza, a
perder procura,
·
o Governo
implementar a reconversão cultural e politica da Secretaria de Estado do
Turismo (3), seguindo as Recomendações
Internacionais sobre Estatísticas e Conta Satélite do Turismo.
Þ A
Importância de um Painel
A Lei do Menor Esforço leva a que falemos de Estrangeiros em
vez de Não Residentes, ou de Férias dos Portugueses e não de Férias dos
Residentes em Portugal. O escriba do desastrado painel tem desculpa. O Governo
não.
Dito isto, no modelo cultural e institucional da Politica de
Turismo, tem mesmo de ser Residentes e não Residentes em Portugal, E, entre
estes últimos, dar a importância devida à Diáspora Portuguesa.
Þ Lição
Para um Futuro Próximo: Clientes Cativos e Competitivos
A rapaziada do Ministério das Obras Públicas tem uma longa
experiência em lidar com Clientes Cativos, em geral, residentes em Portugal:
·
os que têm a obrigação de viajar e fá-lo-ão, mesmo
que a viagem seja cara e haja desconforto no serviço.
No caso das Portagens e da
Privatização da ANA, estão a lidar com Clientes Competitivos, em geral,
residentes no Estrangeiro:
·
os que têm a possibilidade de escolher o destino
da viagem e ao qual desejam aceder de maneira fácil, segura e barata – os elementos
da Diáspora Portuguesa já não são tão Cativos, como eram os emigrantes de há
40/50 anos e os turistas estrangeiros são Competitivos e sensíveis ao “1” do
Portela.
Seria excelente pensarem no assunto e nós cá estaremos para lhes
lembrar com quem lidam.
A Bem da Nação
Albufeira 17 de Julho
de 2012
Sérgio Palma Brito
Referências
(1)Em próximo post sobre a
Campanha West Coast, justificamos esta afirmação.
(2)International Recommendations on Tourism Statistics, 2008, Department
of Economic and Social Affairs, Statistics, Division, United Nations e UNWTO,
New York 2010
(3)Esta frase exige explicação.
Ao longo de dezenas de anos, temos tido vários titulares da Secretaria de
Estado do Turismo e uma Politica de Turismo, que apelidamos de Tradicional.
Desde há quase os mesmos anos, defendemos um Politica de Turismo mais
abrangente, vocacionada para a Economia do Turismo, criada a partir da procura
de Não Residentes, de visita ou residência em Portugal e financiando as suas
despesas por transferências do exterior. Esta alteração radical de Politica de
Turismo é da responsabilidade do Primeiro-Ministro. Como aconteceu com os seus
antecessores, a Dr.ª Cecília Meireles dá o melhor do seu esforço, numa Secretaria
de Estado do Turismo cuja alteração profunda ultrapassa a sua missão.
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