Não haverá Cidade Aeroportuária da “creative class” para justificar o aeroporto de Alcochete

 

Comissão Técnica Independente justifica investimento em Alcochete com a formação de um ‘hub’ (update da Cidade Aeroportuária de 2008). É uma ilusão que importa desmontar.

O problema para a CTI é que, sem a Cidade Aeroportuária, não consegue justificar o aeroporto de Alcochete.

1.1.Retomamos o primeiro slide o Problema de decisão

Slide 1.1.1

 


Resolução Conselho de Ministros não explicita “hub intercontinental”, mas a Comissão Técnica Independente justifica esta extrapolação e faz do ‘hub’ a grande justificação do novo aeroporto que será mais do que um mero aeroporto.

A CTI deveria ter evitado a palavra ‘hub’, que designa o modelo de negócio da TAP, criando confusão, e a Cidade Aeroportuária de 2008, talvez para não acordar as criticas de então, hoje em hibernação.

Vejamos a sucessão de slides e texto que explicitam a noção de ‘hub’

1.2.Um segundo slide representa a escolha da CTI, mas o “Hub intercontinental” é aqui apenas o modelo de negócio da TAP.

Slide 1.2.1



1.3.Dito isto, o ‘hub’ da CTI é sintetizado num slide

Slide 1.3.1

 


1.4.E o “planeamento do hub” no slide seguinte

Slide 1.4.1

 


1.5.No Relatório da I Fase (Ponto 6 – Aeroporto Ideal) há a definição do “Aeroporto Ideal” [sublinhado nosso]:

-“Um aeroporto hub garante uma elevada conectividade nas ligações intercontinentais e europeias, e assegura uma elevada capacidade de movimentos para potenciar a sua competitividade internacional. Assegura uma área de potencial expansão de pelo menos 1000 hectares, e flexibilidade para uma evolução modular, projetando o seu crescimento à medida que a procura cresce, tornando-se economicamente viável ao longo das várias fases de crescimento. Uma elevada conectividade contribui para a competitividade do país e para o crescimento das exportações, constituindo um gerador de economias de aglomeração. A elevada conectividade e diversificação de destinos e de receitas, aeronáuticas e não aeronáuticas, contribui para a resiliência do modelo de negócio do aeroporto e da economia, nomeadamente no contexto de eventos disruptivos, como o da pandemia Covid-19.”.

Mais explicitamente, na mesa temática “Que modelo de aeroporto?” é definido como

-“Novo aeroporto deve ser visto como um atractor de serviços de valor acrescentado no âmbito de um ecossistema social e económico.” (Relatório Fase I, p.19).

1.6.Sem querer sermos exaustivos, da temática “Que modelo de aeroporto?”, citamos da mesma fonte

-“Foi consensual que, no longo prazo, a região de Lisboa deverá ser servida por um único aeroporto hub. A existência de um único aeroporto é necessária para permitir a concentração de serviços e atividades numa única região e, desta forma, maximizar os benefícios do hubbing [entendemos hubbing como atração de atividades para a Cidade Aeronáutica].

1.7.Do Relatório da Fase I (p.27), citamos:

-“ Por último, na análise da capacidade aeroportuária é necessário considerar também a capacidade de expansão do aeroporto para além da operação aérea strictu sensu, isto é a cidade aeroportuária. A Figura 20 apresenta a dimensão da área global dos principais aeroportos Europeus, que nos permite ter uma estimativa das áreas necessárias.

E eis que surge formalmente a “cidade aeroportuária”!

Slide 1.7.1

 


2.Fernando Alexandre e tirar a economia portuguesa da estagnação pela alteração de paradigma do “Do made in ao created in”.

2.1.O estudo para a Fundação Francisco Manuel dos Santos

Acelerar a mudança de paradigma da economia portuguesa

Slide 2.1.1

 


Slide 2.1.2

 


2.2.O aeroporto de Alcochete como indutor da mudança de paradigma

Em linhas gerais concordamos com a análise de Fernando Alexandre e com a proposta de alteração de paradigma “Do made in ao created in”.

Fernando Alexandre não é o primeiro a propor soluções deste tipo, que morrem na praia por nunca ocorrer a alteração radical de políticas publicas que impedir a alteração de paradigma e antes a apoiem com toda a firmeza.

Receamos que a proposta de Fernando Alexandre morra na praia, mas ultrapassamos este receio.

No estudo publicado pela FFMS não há qualquer referência a aeroportos em geral e ao de Lisboa em particular. E não há por os atuais aeroportos não estarem no caminho critico da mudança de paradigma.

Ao integrar a Comissão Técnica Independente Fernando Alexandre cauciona o modelo do novo aeroporto ser gerador da formação da Cidade Aeroportuária, no espaço rural em que se insere?

2.3.Admitamos que, em 2038, quando Alcochete abra ao tráfego aéreo, a Economia e Sociedade portuguesas estejam a atrair a “creative class” que contribui decisivamente para a alteração de paradigma.

Haverá em Portugal, várias localizações a competir para atrair esta gente. Têm escolas internacionais, acesso fácil a golf e surf, pacote de oferta cultural acessível, etc.

-qual é a competitividade de uma ‘cidade aeroportuária’ em formação, no meio do campo e longe de tudo, só porque está a 10 minutos do novo aeroporto de Lisboa?

2.4.Em nossa opinião, zero, mas a nossa opinião não conta.

Rosário Macário é co-autora de artigo científico publicado em 2011: Critical  Factors for de the development of Airport Cities

http://web.tecnico.ulisboa.pt/~vascoreis/publications/2_Conferences/2011_1.pdf

Citamos o Abstract:

-“This paper addresses the recent trends of airport-centered real-estate development, with emphasis in the concept of airport city. Airport cities are major economic hubs exhibiting over the past decades substantial growth and profits. However, the process of evolution towards an airport city revealed being difficult, as airports worldwide have failed in the attempt.

The purpose of this research was to identify the essential conditions or critical factors necessary for the emergence of an airport city. The authors conducted a key informant survey to thirty respondents complemented with personal interviews to eight of them.

The results suggest the existence of four main critical factors for the development of an airport city, being:

-the connectivity of the airport and its surroundings;

-the economic potential of the hinterland;

-a sustainable development context;

-a commercial attitude by the airport operator.

O espaço rural em que o novo aeroporto se insere não responde aos três critérios decisivos – ver slide 2.5.1

 

2.5.A Cidade Aeroportuária de 2008

Na preparação do aeroporto de Alcochete de 2008 há um estudo da consórcio Augusto Mateus & Associados, Bruno Soares Arquitectos e DHV/FBO

-“ O relatório procura sistematizar quer as grandes tendências de evolução do transporte aéreo e dos aeroportos, quer os grandes eixos do conceito de cidade aeroportuária, nascido de respostas diferenciadas aos grandes desafios colocados por aquelas tendências, para reflectir sobre o enquadramento do NAL neste modelo de aeroporto.”.

Slide 2.5.3.Mateus.2008



O estudo de 2008 reproduz uma figura de 2000 sobre as cidades aeroportuárias de Schipol e Milão.

Em nossa opinião e senso comum esta imagem destrói a ideia de transpor para o Portugal atrasado de 2023 e para o espaço rural de Canha um conceito que nasce em duas das zoas mais desenvolvidas do Pentágono Europeu.

O Centro de Tiro de Alcochete está situado num descampado.



Estra transposição é de um irrealismo que importa denunciar, antes que os seus defensores criem mais um elefante branco.

Vai forçosamente haver desenvolvimento urbano na vizinhança do aeroporto de Alcochete para alojar os que aí trabalham.

No contexto desta urbe pode haver instalação de alguns serviços.

 

Lisboa 24 de setembro de 2023

Sérgio Palma Brito

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