Todo este
post gira em torno do crescimento atípico da Receita de Viagens e Turismo em
2017: €2.473milhões ou 19.5%. A análise que segue pretende reforçar a mensagem
que procuramos comunicar desde há anos: conhecer melhor a realidade e criar um
discurso sobre turismo baseado em números que sejam base para informação,
debate e decisão. Sugerimos a leitura prévia das Notas finais (ponto 4).
Os valores
extraordinários do crescimento da Receita de Viagens e Turismo em 2017 deveriam
ter levado Banco de Portugal, Turismo de Portugal ou uma universidade a responder
a duas perguntas pertinentes:
-a que se
deve o crescimento de 19.5%, numa série que tem crescimento sustentado desde
2010 mas a ritmo menor?
-qual a parte
destes €2.473milhões no crescimento do Consumo Privado no PIB de 2017.
No último
ponto, recusamos aceitar, sem mais análise, explicação imediata, mas não
descabida, sugerida pelo gráfico 9. A divergência entre o crescimento da
Receita, quando comparado com o dos Passageiros em Lisboa, Porto e Faro e
Dormidas na Hotelaria resulta do feito conjugado de:
-perda das
Dormidas na Hotelaria compensada pela conjugação de Alojamento Local e de
emigrantes portugueses que se deslocam em automóvel e alojam em casa própria ou
de Familiares e Amigos,
-estadias
longas de vistos Gold e ‘reformados fiscais’ em suas casas.
1.Receita de Viagens e Turismo -
evolução 2003/2017
Os três
gráficos seguintes contextualizam as perguntas mencionadas antes na evolução da
Receita de Viagens e Turismo e da sua variação anual em quantidade e percentagem.
Estes gráficos ilustram a já reconhecida retoma do crescimento da Receita a
partir de 2010 e seu excecional valor em 2017.
Gráfico
1 – Evolução da Receita de Viagens e Turismo
Gráfico
2 – Evolução da variação anual da Receita em €milhões
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos.
Gráfico
3 – Evolução da variação anual da Receita em percentagem
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos.
*Sete países e ligar diversificação de
mercados à Receita
Se
considerarmos valor em 2017 e crescimento entre 2016/17 e 2009/17, há sete
países que se destacam. Encontramos na Receita de Viagens e Turismo situação
idêntica à do Transporte Aéreo: há estabilidade de um número reduzido de
mercados mais importantes e com potencial de crescimento mais nuns do que
noutros.
A insistência
na ‘diversificação de mercados’ deve ser temperada pelo
-aprofundar
da penetração em mercados onde Portugal e os seus Destinos Regionais já têm
algum posicionamento,
-pelo
relacionar a diversificação em hóspedes e dormidas com a Receita de Viagens e
Turismo.
*Ranking da Receita de Viagens e
Turismo em 2017
Escolhemos os
países que, em 2017, geram mais de €200milhões de Receita e representam 89.2% do
valor total de 2017 (Gráfico 4). Destacamos:
-a
importância que os emigrantes têm no caso da França e, muito menos, nos casos
do Reino Unido, Espanha e Alemanha,
-o quarto
lugar da Alemanha, o mais importante mercado emissor da Europa e mis uma
confirmação de que há algo de errado como os destinos regionais nele se
posicionam.
Gráfico
4 - Ranking da Receita de Viagens e Turismo em 2017
*Ranking
do Crescimento da Receita de Viagens e Turismo em 2017
O gráfico 5 ilustra os Países que mais
contribuem para o crescimento em 2017. Retemos os países que crescem pelo menos
€50milhões, com tolerância mínima para a Polónia e que geram 82.4% do
crescimento total em 2017. Os seis primeiros países representam 62% do
crescimento em 2017.
Gráfico
5 – Ranking Crescimento da Receita de Viagens e Turismo em 2017
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos.
*Ranking Crescimento Receita Viagens e
Turismo entre 2009/17
O gráfico 6
ilustra os 17 países que mais contribuem para o crescimento da Receita entre 2009/2017, com cada um a crescer pelo
menos €100milhões, e que geram 91.5% do crescimento total durante este período
e os sete primeiros representam 70%.
Gráfico
6 – Ranking Crescimento Receita Viagens e Turismo entre 2009/17
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos.
3.Receita de Viagens e Turismo e
dinâmica de crescimento
Os gráficos 7
e 8 ilustram o crescimento da Receita de Viagens e Turismo entre 2009/2017 em
percentagem. Sem surpresa, os países mais maduros e importantes tendem a
crescer menos. Entre os países que mais crescem (gráfico 7) e fora o caso
atípico da China, destacamos:
-EUA e Brasil
por estarem também entre os maiores crescimentos em quantidade,
-Federação
Russa, Polónia e Canadá pelo potencial de crescimento em quantidade.
Gráfico
7 – Receita Viagens e Turismo, países que mais crescem 2009/17
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos.
Entre os
países que menos crescem (gráfico 8), destacamos:
-entre os
Quatro Grandes, a fraca performance de França, Reino Unido e Espanha, e o
crescimento da Alemanha,
-entre os
Nórdicos, a boa performance da Suécia e a má de Dinamarca, Noruega e Finlândia,
nos três últimos lugares.
Gráfico
8 – Receita Viagens e Turismo, países que menos crescem 2009/17
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos.
4.Receita de Viagens e Turismo,
Passageiros três aeroportos e Dormidas na Hotelaria
O gráfico 9
compara as taxas de crescimento anual de Receitas de Viagens e Turismo, do total
de Passageiros em Lisboa, Porto e Faro, e das Dormidas na Hotelaria. Destacamos
uma evolução muito próxima dos três indicadores, com divergências recentes:
-o já muito
conhecido surto de crescimento do número de Passageiros a partir desde 2015,
-o
crescimento sem anos atípicos de Dormidas na Hotelaria, mas com baixa em 2017,
-o
crescimento atípico da Receita de Viagens e Turismo em 2017, superior ao da
Receita e quando a taxa de crescimento das Dormidas diminui.
Gráfico
9 – Receita, Passageiros e Dormidas – variação anual em %
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal,
Balança de Pagamentos, ANA Aeroportos e Destaques da
Hotelaria, INE.
5.Notas finais
*Realidade a ter em conta
A Receita de
Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos é gerada por despesa corrente de não
residentes aquando da deslocação a Portugal:
-não
residentes inclui emigrantes,
-despesa
corrente não inclui investimento em habitação própria e (a verificar) na sua
manutenção, desde condomínio a IMI.
Admitimos que
a despesa dos ‘reformados fiscais’ e vistos gold não residentes conte também
para esta Receita. Ignoro até que ponto as mais recentes normas do FMI sobre
Balança de Pagamentos e a informação de que dispõe o BdP [ver
a seguir] podem
influenciar a estimativa deste indicador.
Seria bom que
Banco de Portugal e Turismo de Portugal informassem até que ponto estão
satisfeitos com os dados dos Inquéritos às Deslocações de Não Residentes e ao
seu Consumo durante a deslocação.
A Bem da
Nação
Lisboa 30 de
Abril de 2018
Sérgio Palma Brito
Sem comentários:
Enviar um comentário