Passageiros desembarcados em aeroportos de Portugal


Na análise de passageiros desembarcados os quatro aeroportos mais importantes do turismo em Portugal (94,9% do total de todos os aeroportos de Portugal, consideramos

-os períodos entre 1980/2013 e 2002/2013 de modo a contextualizar a última dezena de anos na perspectiva dos últimos trinta,

-passageiros desembarcados em tráfego internacional (não considerando o territorial e o interior) e repartição do tráfego total por companhias aéreas nacionais e estrangeiras (1).

A partir de 2006 e nos quatro aeroportos, o número de passageiros desembarcados por companhias aéreas estrangeiras é maior e cresce a ritmo mais elevado do que o das companhias nacionais. Entre 2002/2013, as companhias aéreas estrangeiras

-ganham quota de mercado às nacionais, com excepção do aeroporto de Lisboa (4), onde atingem 41% em 2007, para depois estabilizar em 38%,

-em Faro, aumentam a quota de mercado de 89% para 97%,

-no Porto, depois de apenas representarem 41% de quota, atingem 70% e parecem estabilizar,

-no Funchal, depois de apenas representarem 37% de quota, atingem 60% em tendência crescente.

Em todos os aeroportos, o número de passageiros desembarcados em tráfego internacional é o factor que influencia o crescimento

 

*Privatização da TAP e acessibilidade aérea competitiva a Portugal
A série de posts sobre Privatização da TAP e acessibilidade aérea competitiva a Portugal compreende

Introdução (aqui)

I Parte

-Deslocações turísticas, conectividade aérea e aeroportos em Portugal (aqui)

-Introdução à conectividade dos aeroportos de Portugal (aqui)

-Passageiros desembarcados em aeroportos de Portugal – o presente post

-Desenvolvimento de Portugal e política para a acessibilidade aérea competitiva a Portugal (aqui)

-Introdução à acessibilidade aérea competitiva a Portugal – síntese (aqui)

II Parte – Reestruturação da TAP por accionista Estado ou privado

Três posts em elaboração

-A TAP no futuro – reestruturação ou insolvência?

-Reestruturação da TAP pelo accionista privado

-Reestruturação da TAP pelo accionista Estado

III Parte – Processo de privatização da TAP

Três posts já publicados:

-Transparência e competência na privatização da TAP aqui

-Privatização da TAP – realidade e ilusão de ‘garantir serviço público’ aqui

-Actualidade de erros no processo de privatização da TAP em 2012 aqui

A publicar

-Privatização da TAP – pontos críticos do Caderno de Encargos

 

*Informação ao leitor
O presente post tem versão em PDF está disponível (aqui).

O leitor deve

-estar informado sobre os Princípios Gerais do blogue.

-percorrer o conjunto de definições e convenções que utilizamos em todos os posts (aqui).

O leitor mais curioso pode consultar a lista dos posts que temos vindo a publicar sobre a TAP (aqui).

 

1.Aeroportos do Continente e Funchal – análise do conjunto

*Aeroportos do Continente e Funchal – passageiros desembarcados
O gráfico 1 mostra que a partir de 2006,

-o número total de passageiros desembarcados nos quatro principais aeroportos do País por companhias aéreas estrangeiras é maior e cresce a ritmo mais elevado do que o número dos que desembarcam de companhias nacionais,

-o número de passageiros desembarcados do tráfego internacional cresce de maneira sustentada e recupera da crise de 2008/2009.

O total de passageiros desembarcados num aeroporto é repartido por companhias aéreas (nacionais e estrangeiras) e tipo de tráfego (internacional, territorial e interior).

Gráfico 1 – Aeroportos do Continente e Funchal – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (1980/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

O gráfico 2 quantifica a evolução anterior durante o período 2002/2013. Em 2013, os passageiros desembarcados nos quatro principais aeroportos

-representam 94,9% do total dos passageiros desembarcados em todos os aeroportos,

-viajam mais em companhias aéreas estrangeiras (57,9%) do que nacionais (42,1%),

Se considerarmos os 16.151k passageiros desembarcados em todos os aeroportos do País (2),

-8.906k (55,1%) viajam em companhias aéreas estrangeiras e 7.245k em companhias aéreas nacionais (44,9%).

Gráfico 2 – Aeroportos do Continente e Funchal – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (2002/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

*Aeroportos do Continente e Funchal – tendências comuns
Na evolução do tráfego observado no total dos quatro aeroportos, há tendências que resultam de factores comuns:

-liberalização dos direitos de tráfego aéreo no espaço da União Europeia de onde desembarcam mais de 90% dos passageiros destes aeroportos (3),

-a profunda transformacao- mercado-europeu-viagens-lazer, iniciada na década de 1990 e de que as companhias low cost são a manifestação mais evidente,

-crise de 2008/2009, com destaque para o mercado emissor do Reino Unido, em portugal-no-mercado-de-turismo-do-reino,

-crescimento da procura por destinos urbanos (Lisboa e Porto) e alguma estabilidade na procura por viagens-de-estadia em áreas turísticas (Algarve e Madeira).

Depois, há factores que se manifestam de maneira específica em cada um dos aeroportos, evidenciadas pela evolução da quota de mercado das companhias aéreas estrangeiras – ver a seguir.

*Aeroportos do Continente e Funchal – especificidades
O gráfico 3 quantifica a evolução entre 2002/2013 da quota das companhias aéreas estrangeiras no total de passageiros desembarcados em cada um dos quatro aeroportos. As companhias aéreas estrangeiras

-ganham quota de mercado às nacionais, com excepção do aeroporto de Lisboa (4), onde atingem 41% em 2007, para depois estabilizar em 38%,

-em Faro, aumentam a quota de mercado de 89% para 97%,

-no Porto, depois de apenas representarem 41% de quota, atingem 70% e parecem estabilizar,

-no Funchal, depois de apenas representarem 37% de quota, atingem 60% em tendência crescente.

Gráfico 3 – Passageiros desembarcados nos aeroportos do Continente e Funchal – quota das companhias aéreas estrangeiras
(percentagem)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

 

2.Aeroportos do Continente e Funchal – análise por aeroporto

*Aeroporto de Faro – passageiros desembarcados
O Aeroporto de Faro é criado a partir de nada para servir o desenvolvimento de uma das áreas turísticas da Bacia Turística do Mediterrâneo – ainda hoje, o trafego outbound de Faro representa apenas 3% contra cerca de 35% e 40% em Lisboa e Porto.

O gráfico 4 ilustra a evolução do aeroporto de Faro entre 1980/2013. O tráfego aéreo de Faro começa por assentar no modelo de negócio de deslocacoes-turisticas-package-holiday, com transporte aéreo em voo fretado. A TAP não pode concorrer com estes operadores, dado o seu modelo de negócio de full service carrier, a sua cultura empresarial e estrutura de custos – a tentativa de criar uma companhia charter filial da TAP com base em Faro, a Air Atlantis, é frustrada pelo mercado e pela tecnoestrutura da companhia (5).

Gráfico 4 – Aeroporto do Faro – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (1980/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

O gráfico 5 ilustra e quantifica esta evolução entre 2002/2003:

-o número de passageiros desembarcados por companhias estrangeiras cresce 37%, reflexo de alguma estagnação da procura pela oferta de turismo da região,

-o número de passageiros desembarcados por companhias nacionais diminui 63% e atinge uma quota de 3% em 2013,

-como é óbvio os indicadores de passageiros desembarcados em tráfego internacional e por companhias estrangeiras quase coincidem.

Gráfico 5 – Aeroporto do Faro – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (2002/2013)
(milhares)

 Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

Podemos afirmar que

-o desenvolvimento do turismo do Algarve é desde sempre assegurado por companhia aéreas estrangeiras, antes com predomínio de charters, mais recentemente com domínio das companhias low cost.

*Aeroporto do Porto – passageiros desembarcados
Até 2003, o crescimento de passageiros no aeroporto do Porto é anémico. A Ryanair começa a voar para o Porto em 2003 e em 2007 comemora os 2 milhões de passageiros – corresponde a um milhão desembarcados e outro embarcados (aqui). Em 2009 a Ryanair abre uma base no Porto, com três aviões e um total de 21 rotas (aqui).

O gráfico 6 ilustra a evolução 1980/2013 dos passageiros desembarcados no aeroporto do Porto em tráfego internacional e por companhias nacionais e estrangeiras no total de tráfego internacional e nacional. Constatamos

-o domínio tradicional das companhias aéreas nacionais (TAP e Portugália) até 2007, domínio marcado por ritmo de crescimento lento do número de passageiros,

-a partir de 2005, o arranque do crescimento acentuado de passageiros das companhias estrangeiras.

Gráfico 6 – Aeroporto do Porto – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (1980/2013)
 (milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

O gráfico 7 ilustra e quantifica esta evolução entre 2002/2003:

-o número de passageiros desembarcados por companhias nacionais cresce 23% e por companhias estrangeiras 332%.

-o número de passageiros desembarcados em tráfego internacional cresce 192%, impulsionado pelo crescimento do tráfego das companhias estrangeiras.

Gráfico 7 – Aeroporto do Porto – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (2002/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

 

*Aeroporto do Funchal – passageiros desembarcados
O gráfico 8 ilustra a evolução 1980/2013 dos passageiros desembarcados no aeroporto do Funchal em tráfego internacional e por companhias nacionais e estrangeiras no total de tráfego internacional e nacional. Constatamos

-uma fase de crescimento dos três indicadores que vai de 1980 até ao início ou meados da década de 2000,

-diminuição do números de passageiros das companhias nacionais, desde 2007, a antecipar a queda brusca em 2009 em consequência da crise de 2008/2009,

-evolução diferente nos números das companhias estrangeiras e do tráfego internacional.

Gráfico 8 – Aeroporto Funchal – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (1980/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

O gráfico 9 ilustra e quantifica esta evolução entre 2002/2003:

-o número de passageiros das companhias nacionais estabiliza entre 2002 e 2006, para iniciar uma queda de 30% entre 2006/2013,

-o número de passageiros das companhias estrangeiras cresce até 2008, cai 8% até 2010 e recupera 27% para máximo de sempre em 2013 (708k),

-o número de passageiros desembarcados em tráfego internacional evolui em linha com o das companhias estrangeiras e excede-o a partir de 2009, o que implica passageiros em tráfego nacional – a partir de Outubro de 2008, a Easyjet começa a ligar Lisboa ao Funchal com dois voos diários (aqui).

Gráfico 9 – Aeroporto Funchal – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (2002/2013)
(milhares)

 Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

*Aeroporto de Lisboa – base da TAP e hub intercontinental
O aeroporto de Lisboa é base histórica e racional da TAP. sujeita a concorrência crescente por full servisse carriers e companhias low cost,

-é sede do hub intercontinental cujos passageiros não contam directamente para a acessibilidade aérea para Portugal mas para ela contribuem decisivamente (6).

O aeroporto de Lisboa é também sede do hub intercontinental da TAP.

-é reforçado pelas ligações intercontinentais ponto a ponto com Lisboa e é indispensável à sobrevivência da TAP tal como a conhecemos,

-mas assenta e depende da competitividade da TAP em gerar tráfego intercontinental em trânsito por Lisboa e que aí não conta para os passageiros desembarcados.

A base e o hub intercontinental da PAP em Lisboa são analisados no post sobre Reestruturação ou insolvência da TAP.

*Aeroporto de Lisboa – passageiros desembarcados
O gráfico 8 ilustra a evolução 1980/2013 dos passageiros desembarcados no aeroporto de Lisboa em tráfego internacional e por companhias nacionais e estrangeiras no total de tráfego internacional e nacional. Constatamos

-a supremacia histórica das companhias nacionais, que resistem à liberalização dos direitos de tráfego aéreo da actual UE a partir de 1993,

-a importância das companhias estrangeiras é melhor ilustrada pela evolução da sua quota de mercado ilustrada pelo gráfico 4,

-constatamos que a quota passa de 34% a 41 % entre 2002 e 2005, para descer a 38% em 2010 e estabilizar até 2013 (7).

Gráfico 10 – Aeroporto Lisboa – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (1980/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

O gráfico 11 ilustra e quantifica esta evolução entre 2002/2003:

Gráfico 11 – Aeroporto de Lisboa – passageiros tráfego internacional e companhias nacionais e estrangeiras (2002/2013)
(milhares)

 
Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes

 

3.Nota final
O presente post termina a triologia ‘deslocações turísticas, conectividade aérea e aeroportos’ em cuja integração assenta a acessibilidade aérea competitiva a Portugal.

Separámos para analisar e melhor integrar. No post sobre a reestruturação da TAP, vamos mais além na integração destes números de modo a situar a importância do turismo receptor, primeira prioridade da política de acessibilidade aérea competitiva ao serviço do turismo.

 

A Bem da Nação

Lisboa 17 de Fevereiro de 2015

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Os números incluem todas as companhias aéreas nacionais: TAP, Portugália e SATA são as mais importantes. Com alguma prudência, podemos ter uma ideia da importância da TAP/Portugália no total dos passageiros desembarcados.

(2)A diferença entre os quatro grandes aeroportos do turismo e o total reside no aeroporto de Porto Santo e nos aeroportos da Região Autónoma dos Açores.

(3)Na ausência das estatísticas que o INAC deveria publicar, este valor é aproximado e fruto de estimativa pessoal.

(4)Em 2013, no aeroporto de Lisboa desembarcam 673.221 passageiros do tráfego territorial e 298.616 passageiros do tráfego interior – ver Anexo.

(5)No início da década de 1980 e no âmbito da nossa actividade pessoal, testemunhámos como os responsáveis de operadores turísticos da França e Bélgica se divertiam com a cena da TAP ‘oficial’ dificultar a vida à Air Atlantis.

(6)As referências correntes a ‘hub nacional ou europeu’ designam ligações entre Europa e Regiões Autónomas mais Faro ou entre aeroportos em território nacional, só complicam. As críticas que desvalorizam a contribuição do hub intercontinental de Lisboa para a acessibilidade aérea a Portugal ignoram a importância indirecta do hub por gerar tráfego adicional que cria massa critica para ligações que trazem passageiros a Lisboa. Entre outros, ver Airports Council International, Airport Industry Conectivity Report, 2004/2014, 2010, citado no post sobre conectividade.

(7)Ver texto da Nota (4).

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