O novo
Centro de Congressos de Lisboa vem a público nas piores condições:
-o governo
opõe-se e integra o assunto na campanha eleitoral em curso,
-a
Associação da Hotelaria de Portugal, sem estudo prévio, exclui um novo Centro
de Congressos em Lisboa.
O debate
sobre o novo Centro de Congressos em Lisboa justifica dois posts:
-Do Centro
de Congressos que falece à cidade de Lisboa – contexto da sua promoção (aqui),
-Do Centro
de Congressos que falece à cidade de Lisboa – fase zero da sua promoção.
O título
comum aos dois posts é inspirado por Francisco de Holanda com a sua Da fábrica
que falece à cidade de Lisboa (wiki).
Intervimos
como outsider atento, interessado e preocupado. Não somos ‘a favor/contra’, não
escondemos o apoio à promoção do novo CdeC, mas aguardamos o estudo prévio que
confirme a sua viabilidade.
Os dois
posts são a nossa contribuição para o escrutínio dessa viabilidade.
2.Pontos prévios e críticos da
promoção do novo Centro de Congressos em Lisboa
2.1.Pontos prévios na promoção do
Centro de Congressos
*Consenso que ultrapassa a politics
da política e do associativismo
Criadas as
Taxas Turísticas Municipais e do Fundo de Investimento Turístico, a CML tem de
-abrir a
via para consensos políticos, a nível nacional e local, porventura facilitados
pelas próximas eleições legislativas,
-trabalhar
com a iniciativa privada directamente interessada (1) no negócio do novo CC e
em função desse interesse.
Neste âmbito,
iniciativa privada directamente interessada inclui
-a indústria
da hotelaria de Lisboa, com papel fundamental e sem politics,
-estabelecimentos
de restauração/bebidas, de comércio de luxo, de intermediação especializada e
outros.
Em função
do interesse, porque estamos no âmbito do negócio turístico e não do democrático
‘uma empresa/um voto’.
*Separar o CdeC da criação das Taxas
Turísticas Municipais
A promoção
do novo CdeC deve ser analisada e avaliada sem começar pelas Taxas Turísticas
Municipais. As taxas estão criadas, pelo que
-muito do
que se passou é ultrapassado pela realidade (post
anterior),
-devem ser
consideradas no âmbito do modelo de financiamento do CdeC.
*Abertura de informação e
transparência
A CML
-abandona a
confidencialidade que tem marcado a preparação do CdeC, e
-garante abertura
de informação e transparência em todo o processo.
Estes
pressupostos são condição do sucesso da promoção do CdeC porque
-responsabilizam
os actores do processo e avaliar o seu desempenho,
-permitem o
escrutínio público de investimento público a fundo perdido e de gestão privada.
*Plataforma informal de concertação
e task force no seio da ATL
Para
assegurar estes princípios, a CML cria
-plataforma
informal com a iniciativa privada interessada, que evolui para parceria na
promoção e funcionamento do Centro,
-task force
no seio da ATL para coordenar todo o processo.
Insistimos
em estar em causa a iniciativa privada directamente interessada no CdeC e que
intervém em função desse interesse.
*Avaliar Hipótese
Zero versus novo centro de congressos
A parceria
informal avalia a Hipótese Zero com base em respostas a questões como
-pode a
actual FIL responder às exigências novo CC, com reconversão de instalações,
equipamento tecnológico e modelo de gestão com empresa especializada e não AIP?
-e se não
pode, quais os termos em que o actual Centro de Congressos da Junqueira sai do
mercado?
*Centro de Congressos, envolventes e
localização
O Centro de
Congressos é indissociável
-de actividades
envolvente que o completam e sem as quais é apenas um edifício,
-da
envolvente urbana propriamente dita em que se insere.
Fixar a localização
óbvia do CdeC simplifica o trabalho que segue. Salvo incidente, a localização é
o alto do Parque Eduardo VII, entre outros por ser
-local
nobre da cidade, de acesso fácil e proximidade a muitos hotéis do turismo, com vários
a walking distance.
A
localização deve ser validada pela abertura ao exterior [ver a seguir].
2.2.Pontos críticos na promoção do
Centro de Congressos
*Grandes linhas da justificação económica
do DdeC
A
justificação económica do CdeC assenta em três grandes linhas (2):
-as
deslocações turísticas para eventos da Meetings Industry (3) geram mais valor
do que as individuais, e em muitos casos exigem centro de congressos
indispensável à sua captação em mercado muito competitivo,
-o
prioritário aumentar da rentabilidade da indústria da hotelaria de Lisboa passa
por mais procura nas deslocações de lazer e sobretudo em eventos da MI, para os
quais o novo Centro de Congressos é determinante,
-quantificação
profissional credível que exclua o frequente iludir a realidade.
*Abertura ao exterior e exigências
do mercado
O post anterior
o CdeC ilustra falta de abertura ao exterior por parte dos actores do processo,
que ignoram exigências do mercado da MI do futuro como assinalámos de maneira
algo canhestra (aqui e aqui).
Abertura ao exterior e exigências do
mercado da meetings industry do futuro devem dominar todos os passos que seguem, da estimativa da procura à elaboração
do projecto.
*Estimativa da procura
Uma
correcta estimativa da procura é factor crítico de sucesso na promoção do CdeC.
Entre outras, é preciso estimar
-a procura
que foi perdida até hoje por insuficiência do actual CdeC,
-a que se
pode ganhar com maior capacidade do CdeC e qual capacidade para qual nível de
procura.
Na prática,
a estimativa da procura está interligada com o programa do CdeC:
-só procura adicional pode
justificar investimento adicional.
A responsabilidade
e escrutínio referidos antes são indispensáveis a uma séria conjugação de
procura/programa.
*Definição do programa
Para além
da abertura ao exterior, o programa do CdeC resulta de escutar os utilizadores,
analisar a concorrência, opinião de empresa exploradora:
-não há euro de investimento sem
justificação pelo valor que cria, nem investimento que ignore a rentabilidade
da gestão e ainda menos instalação que concorra com salas existentes – do
Coliseu ao Campo Pequeno.
O programa
do CdeC é diferente de casos como CCB, Casa da Música, Gare do Oriente,
Pavilhão de Portugal, CdC de Santa Maria da Feira, entre outros.
O programa
deve ter em conta as envolventes referidas nos Pontos Prévios.
*Modelo de exploração
Salvo
informação que desconheçamos, a exploração do CdeC deve ser assegurada por
empresa internacional especializada, com provas dadas e activa na captação de
eventos [ver Barcelona].
A
exploração deve ser sustentável e a cargo de empresa privada com respeito de
regras de mercado [ver a seguir].
A valia do
contributo da empresa de exploração e a necessidade de a responsabilizar fazem
com que deva participar na definição do programa, elaboração do projecto e
acompanhamento das fases seguintes da promoção – há que esclarecer como
conciliar este acompanhamento com a decisão sobre a empresa exploradora.
*Barcelona – investimento impossível
e gestão inspiradora
O modelo de
promoção e programa do Centre Convencions Internacional de Barcelona não são
replicáveis em Lisboa. Diferente é o caso da exploração do CCIB, concedida à GL
events CCIB, empresa com 80% do capital detido pela GL – Events (gl-events), 12% pelo Município e 8% pela Associados
Hoteleiros de Barcelona.
Esta opção
deve ser considerada em Lisboa. A GL – Events e empresas similares valem
contacto exploratório.
*Modelo de investimento e
financiamento
Há dois
grandes princípios a respeitar:
-investimento municipal não
remunerado e garantia de manutenção pela exploração,
-exploração privada rentável depois
de assegurada a manutenção do CdeC e fundo de reserva para grandes reparações.
O
investimento municipal é financiado pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico e pelo
orçamento municipal. A responsabilização e escrutínio que propomos criam um
risco:
-passarmos
de investimentos perdulários para excesso de exigências sobre a rentabilidade
do CdC que pode comprometer a sua promoção.
Erros
crassos e evidentes como o de Santa Maria da Feira não podem levar a excesso de
rigor no caso do CdeC.
*Governança do Centro de Congressos
A promoção
do CdeC é da responsabilidade da CML e é por esta conduzida. A parceria
informal entre CML e iniciativa privada interessada deve evoluir para parceria
na exploração segundo um de dois modelos:
-mero
acompanhamento,
-participação
na empresa de exploração, como acontece em Barcelona.
*Elaboração do projecto
A elaboração
do projecto do CdeC supõe decisão de o promover e implica
-escolha de
gabinete de arquitectura com experiência comprovada em centros de congressos de
sucesso,
-acompanhamento
pela parceria entre CML e iniciativa privada, com recurso a todos os inputs
considerados úteis,
-input da
empresa de exploração e sua responsabilização.
A Bem da
Nação
Lisboa 29
de Novembro de 2014
Sérgio
Palma Brito
Informação adicional
(1)Iniciativa privada directamente
interessada e em função do interesse
A CML
decide informar a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) e negociar com esta
associação a criação de Taxas Turísticas Municipais ligadas à promoção do
Centro de Congressos. O princípio de informar a AHP deveria ser alargado à
AHRESP e está certo.
Está em
causa é a industria da hotelaria de Lisboa directamente interessada no CdeC e é
com ela que a CML deve ir mais longe do que negociar, para criar parceria
informal co possível formalização na exploração do CdeC. Esta opção tem duas
consequências importantes:
-evita a
proeminência da fatal oposição da AHP que tem âmbito e base eleitoral nacionais
e sensível ao facto de uma taxa em Lisboa fomentar taxas em muitos municípios,
-em função
do interesse altera o peso dos parceiros – basta considerar que o Grupo Pestana
tem uma Pousada e um hotel (este perto do CdeC da Junqueira) e o Grupo Vila Galé
tem apenas um hotel … com a localização mais competitiva em relação ao CdeC da
Junqueira.
(2)Grandes linhas da justificação
económica do centro de congressos e sua quantificação realista e credível
As grandes
linhas justificação económica do novo Centro de Congressos de Lisboa podem ser
sintetizadas como segue:
i)Importância de um novo Centro de
Congressos
Na economia
do turismo as deslocações por motivo de negócios são as que geram mais valor
para o destino.
Estas
deslocações dividem-se em dois grupos:
-o das
deslocações individuais (em linguagem corrente, o corporate individual), que
dependem de haver sedes de empresas e estabelecimentos em Lisboa e do
crescimento da economia – em grande parte são um mercado cativo e gerado por
estas empresas,
-o das
deslocações da Meetings Industry [definição em Anexo], que geram mais valor do
que as individuais e são decididas em mercado muito competitivo.
Para Lisboa
ter sucesso neste mercado, o Município, oferta de serviços e intermediação
especializada têm de conjugar esforços para atrair eventos da MI.
Quando a
realização destes eventos exige um centro de congressos (1), a capacidade deste
responder às exigências do mercado é factor crítico de sucesso na sua captação.
ii)Rentabilidade da industria da
hotelaria e deslocações turísticas da Meetings Industry
Por outro
lado, a indústria da hotelaria em Lisboa tem conhecido problema de
rentabilidade insuficiente.
A título de
exemplo, o Hotel Valuation Index da HVS mede a rentabilidade dos hotéis de
quatro e cinco estrelas em cidades da Europa, e nele,
-Lisboa
ocupa a 27,ª posição, com €131, melhor do que Atenas (€112, 29.ª), mas abaixo
da líder, Paris (€671), de Barcelona (€243 11.ª) e de Madrid (€185, 19.ª),
-em 2013, e
a preços correntes o Valor por Quarto de Hotel é inferior ao de antes da crise:
€131 contra os €167, de 2007.
Em síntese,
-os ganhos
de rentabilidade da indústria da hotelaria de Lisboa passam por mais procura
nas deslocações de lazer e sobretudo em eventos da MI, para os quais o novo
Centro de Congressos é determinante.
iii)Quantificar a justificação
económica
Quantificar
a justificação económica do novo Centro de Congressos de Lisboa exige trabalho
profissional realista e credível.
A tentação
de iludir a realidade, como tantas vezes acontece, tem de ser liminarmente
excluída.
(3)De MICE à Meetings Industry
O mercado
do MICE compreende Meetings, incentives, conferences, and exhibitions, podendo
o E ser de Events e o C de Conventions. Podemos traduzir Exhibition por Feira – esta é a
actividade principal dos pavilhões da FIL no Parque das Nações.
A mais recente designação
de Meetings Industry justifica-se por haver Meetings que não cabem na definição
rígida de MICE – entre outros é o caso de ‘meetings’ tão importantes como as
apresentações de novos modelos de automóveis.
Por outro lado, há
muitos ‘meetings’ que não exigem um Centro de Congressos.
Segundo a IAPCO – International Association of
Professional Congress Organizers (aqui), as definições são:
-Meeting - general term indicating the coming together
of a number of people in one place, to confer or carry out a particular
activity. Frequency: can be on an ad hoc basis or according to a set pattern,
as for instance annual general meetings, commitee meetings, etc.
-Incentive - meeting event as part of a programme
which is offered to its participants to reward a previous performance.
-Conference - participatory meeting designed for discussion,
fact-finding, problem solving and consultation. As compared with a
congress, a conference is normally smaller in scale and more select in
character - features which tend to facilitate the exchange of
information. The term "conference" carries no special
connotation as to frequency. Though not inherently limited in time,
conferences are usually of limited duration with specific objectives.
-Exhibition - Events at which products and services
are displayed.