Ventos de Mudança na Industria da Hotelaria em Portugal?

*A Entrevista de Jorge Rebelo de Almeida (Exame)
Jorge Rebelo de Almeida é fundador do Grupo Vila Galé e “conhecido por dizer o que pensa, consequência da ‘vantagem’ de não depender do Estado”. Entre muitas posições públicas, em Setembro de 2012 no programa de José Gomes Ferreira, “classificou a austeridade em 30 segundos” (Link).

Recentemente, Rebelo de Almeida dá uma entrevista genuína (é ele a “dizer o que pensa”) e verdadeira, nos antípodas do palavreado politicamente correcto sobre turismo ou do da Hotelaria a pedir a protecção do Estado (1).

Este post é inspirado pela entrevista e pretende ser mais um contributo para o conhecimento da transformação em curso da Industria da Hotelaria em Portugal.

*Um Liberal na Secretaria de Estado do Turismo
Adolfo Mesquita Nunes é militante do CDS - Partido Popular desde 1997, mas não o militante típico de partidos politicas (2)

Em 2007, no programa Prós e Contras sobre a legalização da interrupção da gravidez por vontade da mulher, defende o "Sim" no referendo desse ano. 

Em Fevereiro de 2012, Mesquita Nunes foi o único deputado do seu partido a votar favoravelmente a proposta de lei para permitir a adopção por casais de pessoas do mesmo sexo. 

Foi crítico do Orçamento de Estado de 2013 e signatário da carta que o CDS - PP enviou à Troika, pedindo flexibilidade para o País.

Adolfo Mesquita Nunes é Secretário de Estado do Turismo desde 1 de Fevereiro de 2013. Em pouco tempo estrutura um discurso coerente sobre a Politica de Turismo, mas um discurso novo e inovador, afirmando-se liberal e agindo em consequência. É um político a seguir.

*Posições Conservadoras de Alguma Industria da Hotelaria
As posições de Jorge Rebelo de Almeida e de Adolfo Mesquita Nunes rompem com a relação tradicional, construída ao longo de décadas, entre a Politica e Serviços de Turismo e a Industria da Hotelaria.

Percorremos rapidamente propostas recentes da AHP e de dois empresários de peso no panorama nacional: Raul Martins e Jorge Armindo.

Constatamos uma diferença de posições que indicia Ventos de Mudança na Industria da Hotelaria em Portugal.


1.Jorge Rebelo de Almeida – Entrevista Genuína e Verdadeira

*”um disparate absoluto, uma mentira”
À pergunta de “Também está eufórico com os resultados do turismo em Portugal, que o Governo diz que são recorde?” responde:

-“Este ano houve um aumento da procura por Portugal, e é bom valorizá-lo. Foi o primeiro ano pós crise em que se verificou crescimento. Mas quando se houve dizer que se bateu um recorde e foi o melhor ano turístico de sempre, é um disparate absoluto, uma mentira redonda.”.


*”pelo grau de profissionalismo, pelas instalações”
Pergunta: “Os operadores tinham abandonado o Algarve porque as transportadoras low cost secaram o destino?”.

Resposta:

-“Tinham esse argumento, que Portugal se virou para as low cost e por isso largaram o Algarve. E nós, para sermos realistas, precisamos de correr arás dos operadores convencionais, como também precisamos de dar amor e carinho às low cost, aos operadores de Internet (as modernas Booking, Expedia, etc.) porque todos são importantes para o desenvolvimento de uma região turística como o Algarve. E as low cost tiveram um papel muito importante em Lisboa ou no Porto, se calhar até mais que no Algarve. Temos que aconchegar toda esta gente, cativá-los. Como é que isso se faz? Pelo grau de profissionalismo, pela qualidade das nossas instalações.”.

*“a gente que se vire, a concorrência é estimulante, é vital”
Pergunta: “Preocupa-o também o rápido crescimento da oferta hoteleira nos últimos anos?”

Resposta:

-“Acho que não é por isso que devemos restringir as oportunidades de aparecimento de novas unidades. Oiço gente defender que, como há muita oferta hoteleira que não está vendida, se devia travar o crescimento. É um absurdo, deve-se é deixar o mercado funcionar, porque isso traz produtos inovadores e contribui para a diversidade da oferta. Pode ser uma chatice para as empresas ver aparecer produtos mais modernos e enxutos em termos de custos, mas eu contra mim falo: a gente que se vire, a concorrência é estimulante, é vital. Nasci numa época em que havia condicionamento industria e nunca concordei com isso.”.

Esta afirmação contraria posições da AHP – Associação Portuguesa da Hotelaria e dos empresários Raul Martins e Jorge Armindo [ver a seguir].

*”estimular quem tem vindo para o mercado hoteleiro com novos produtos e novas ideias”
Na senda do condicionamento industrial, Rebelo de Almeida acrescenta:
-“Como hoje, também muita gente vive obcecada com a questão do alojamento local e dos apartamentos paralelos.”.

A pergunta é inevitável: “Mas o alojamento local não o afecta como hoteleiro?”:

-“Claro que afeta. Mas o que se deve fazer é impor a essas ofertas complementares o mesmo nivel de exigência que nos é imposto a nós: respeitar normas de segurança contra incêndios, de qualidade e de segurança alimentar, pagar os devidos impostos, o IVA, etc. Discordo das vozes que defendem que se devia proibir o alojamento paralelo. Não acho que se deva proibir o que quer que seja, o mercado deve ser livre. Pelo contrário, devemos estimular quem tem vindo para o mercado hpteleiro com novos produtos e novas ideias.”.

Há uma diferença de fundo entre esta posição e a da AHP sobre “inibir” que a oferta maciça de fracções autónomas que nasceram para habitação seja descarregada no mercado turístico (Post).

*”temos de parar de inventar coisas, de dizer que a nossa oferta é excessiva – não é”
Pergunta : “A realidade é que hoje mais de metade da capacidade hoteleira do país está por o preencher. Não haverá excesso de oferta?

-“Não há excesso de oferta, o que falta é procura. Dizia muitas vezes ao nosso ex-ministro Álvaro (Santos Pereira), quando ele vinha com algumas fantasias, que as camas hoteleiras instaladas no país estão prontas para vender, não precisam de investimento. Só falta a última etapa do ciclo produtivo que é vender.  Temos de parar de inventar coisas, de dizer que a nossa oferta é excessiva – não é. Temos é de mexer-nos o suficiente para divulgar promover, vender o destino Portugal, que indiscutivelmente tem uma série de atributos.”.

Esta afirmação reforça a anterior sobre não “restringir as oportunidades de aparecimento de novas unidades”.

*”Porque não vendem uma coisa que têm de maravilhoso, que é o sol e praia?”
No seguimento de vender o destino, JRA deita abaixo mais um nariz de cera do Turismo Português:

-“Mas somos um país meio estranho. Quantos do sector do turismo apareceram a falar mal do sol e praia, que estava esgotado, estava não sei o quê … O vice presidente da TUI, quando veio agora ao Algarve, disse ‘vocês adoram falar mal daquilo que têm. Porque não vendem uma coisa que têm de maravilhoso, que é o sol e praia?’ E até temos as melhores praias da Europa. Mas houve uma época aqui em Portugal em que os próprios responsáveis diziam em eventos oficiais que ‘sol e praia’ estava esgotado, eu até ficava parvo a ouvir aquilo.”.

*”Quem quiser ter um impacto importante na promoção, que meta algum dinheirinho”
A pergunta surge naturalmente “E quem deve promover Portugal?” e a resposta é pronta:

-“Quem deve promover Portugal são os privados. Como sou muito independente dos governos, ao longo de todos estes anos dou-me ao luxo de dizer que penso e ter sentido crítico. Mas há muitos neste país em variadíssimos sectores, e também no turismo, que acham que devem ter uma dependência grande de apoios e subsídios. Eu defendo que a promoção turística tem de ser conduzida e controlada pela iniciativa privada. Claro que isto obriga a responsabilidade, obriga as empresas a chegarem-se a frente, não ficarem só a mandar palpites. E aqui que a porca torce o rabo. Porque há muita gente neste sector que vai aos congressos mandar umas bocas, criticar o ministro ou o secretário de Estado, e quando chega a hora da verdade tira o cavalo da chuva. Fazer uma agência para desenvolver o destino Portugal envolve esforço e dinheiro. Mas ‘quem quer a festa, sua-lhe a testa’. Ou seja, quem quiser ter um impacto importante na promoção, que meta algum dinheirinho.”.

A afirmação da responsabilidade dos privados e destes investirem é rara. A proposta dominante é exigir ao Estado que faça mais promoção.

*“era mais inteligente contratar uma empresa de relações publicas de Xangai”
A pergunta não é muito frequente “Como avalia as campanhas de promoção feita pelo Turismo de Portugal”, e a resposta ainda menos:

-“Sofrível. Acho que para 2015, decididamente, o que tem de aparecer é uma campanha, uma agência que seja controlada pelo sector privado. O nosso drama é que as coisas não estão adaptadas à realidade actual. O Governo fala agora em abrir um escritório de representação turística em Xangai. Para quê. Para meter lá quatro ou cinco pessoas portuguesas – e a fazer o quê? Era mais inteligente contratar uma empresa de relações públicas de Xangai que se mexa nos meios de comunicação para fazer este trabalho de propaganda, para vender Portugal a sério. Hoje não interessa criar mais estruturas ou abrir mais escritórios.”.

É frequente ouvirmos a proposta de substituir as Equipas do Turismo de Portugal no Estrangeiro por agências locais, mas de memória de homem é a primeira vez que um empresário faz a defesa publica e concreta deste modelo.

*Muita gente “com corda na garganta, endividadíssima, atrapalhada da vida, com muito encargo financeiro para pagar”
Pergunta: “O facto de haver maior interesse dos operadores augura tempos de crescimento para o turismo em Portugal?

Na resposta, Jorge Rebelo de Almeida cai na pecha do empresário que toma o seu caso particular pela realidade do sector.

-“Sim, prevê-se que haja no próximo ano uma melhoria na Europa – e, infelizmente para nós portugueses, não vai acontecer em Portugal. […] E admito que nós, Vila Galé, que nos temos mantido heroicamente com uma quota elevadíssima no mercado interno, possamos cair para o ano.”.

Dito isto, a entrevista retoma o ritmo:

-“E gostaria de deixar uma mensagem aos senhores que nos governam: não pensem que, lá por ser um ano que coreu melhorzinho, não podem entrar em desaforos de criar taxas para as dormidas e fantasias similares. Continua a haver neste sector muita gente que está com a corda na garganta, endividadíssima, atrapalhada da vida, com muito encargo financeiro para pagar, e não é por um ano ter corrido melhor que conseguem endireitar as contas. Para nossa sorte, o turismo é um dos sectores que melhor resistiu à crise. Mas que está extraordinariamente bem, não é verdade.”.

*As Contribuições Extraordinárias do Turismo e o Seu Retorno
A pergunta: “Teme que possam ser exigidas ao turismo contribuições extraordinárias?” tem resposta clara:

-“O sector do turismo não aguenta. O turismo deu o que deu, não obstante os aumentos do IVA para o golfe e restauração, o aumento das taxas aeroportuárias, e outras circunstâncias. A ir mais pelo Turismo, no próximo ano, corre-se o risco de estrangular um dos poucos sectores económicos que têm mostrado resiliência, vitalidade e dinamismo. […] A única coisa que irrita é que, em paralelo, está-se a ver alguma perspectiva de melhoria no funcionamento da administração publica? Estamos a passar sacrifícios, mas não vemos medidas nenhumas para inverter isto. O que se está a fazer é o mais fácil, cortar benefícios. […] Ninguém está a puxar pela imaginação e ver como é que se reorganizam os serviços para produzir o mesmo, ou melhor, sem ter este desperdício.”.

A terminar:

-Todos sabemos que na administração publica há imensa gente que não faz porra nenhuma, mas há muitos que se fartam de trabalhar e são tratados da mesma maneira. O modelo que este Governo tem vindo a seguir é demolidor.”.

*Investir num “país maravilhoso para tirar figos”, apesar de “alguns parvos e economistas cretinos”
A resposta à pergunta “Neste cenário complicado, continua a fazer hotéis?” tem dois pontos:

-o da definição da definição pessoal: “Às vezes penso que se calhar devia pôr algum dinheiro a bom recato. Mas não vou fazê-lo porque tenho um principio: se eu o ganhei aqui, e comecei de zero, sinto obrigação de continuar a investir aqui. E acho que este continua a ser um país maravilhoso para tirar figos

-o do final da entrevista: “O drama é que se gerou neste país uma onda, com alguns parvos e economistas cretinos, de não valorizar as pessoas. E isto não vai a lado nenhum sem as pessoas.”.

Mais claro, é muito difícil.

2.Um Secretário de Estado Liberal e Propostas Politicas Diferentes

De entre as declarações de Adolfo Mesquita Nunes, escolhemos duas que constam da entrevista ao Sol, dois meses depois de ter tomado posse (3). O título da entrevista dá o tom:

-“Falências: 'Governo não tem de perpetuar maus investimentos'”.

*”O dinheiro do contribuinte não serve para perpetuar projectos inviáveis”
É a primeira vez que um Secretário de Estado do Turismo fala claramente sobre “um mecanismo de destruição e um de criação”, “grupos hoteleiros atomizados” e limita a intervenção do Governo a apenas garantir que projectos viáveis ultrapassem dificuldades conjunturais. 

A recusa de “perpetuar maus investimentos” rompe com tradição longa e passado recente. Por extenso:

-A selecção natural pressupõe um mecanismo de destruição e um de criação. Se há vários grupos hoteleiros atomizados que podem ter dificuldades, temos aqui uma área de negócio. Podemos profissionalizar a gestão. Existe pouca tradição em Portugal, no sector hoteleiro, de ter a propriedade e a gestão diferenciadas. A crise cria esta oportunidade. A obrigação do Governo é garantir que os projectos que têm viabilidade e que têm dificuldades conjunturais não possam ser destruídos apenas por essas dificuldades. Mas não é obrigação do Governo perpetuar maus investimentos, que não têm condições de viabilidade. Não é popular dizer isto, mas não podemos ter financiamento público para criar novos investimentos e depois ter financiamento público no momento em que se revelam inviáveis para tentar perpetuar um investimento público que é inviável. O dinheiro do contribuinte não serve para perpetuar projectos inviáveis.”.

*”o Estado é financiador, mecenas, licenciador, comprador, fiscalizador, regulador”
À perguntaOs empresários gostam ou não de ter o Estado por perto?”, responde:

-“Num sector e numa economia em que o próprio Estado habituou as pessoas a que o Estado é financiador, mecenas, licenciador, comprador, fiscalizador, regulador, não é fácil. Os empresários adaptam-se à realidade que têm. E adaptaram-se a um sistema que vivia com o Estado como motor e central. No sector hoteleiro, os grupos que estão mais sólidos são os que precisam pouco do Estado e que tiveram uma estratégia de internacionalização. Conseguiram ter uma estratégia de sucesso, apesar do peso do Estado. O Estado é sócio maioritário da vida de todas as pessoas em Portugal e podia ser um silent partner [termo tem inglês para dizer que não interfere], mas nem isso é e isso tem de acabar.”.

Simples. Um político jovem, dois meses depois de tomar posse, divulga o diagnóstico escamoteado da Industria da Hotelaria:

-Os empresário “adaptaram-se a um sistema que vivia com o Estado como motor e central”,

-“os grupos que estão mais sólidos são os que precisam pouco do Estado”.


3.Sobre a Relação Tradicional Entre Estado e Industria da Hotelaria

*As Narrativas da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal
A Relação Entre o estado e a Industria da Hotelaria já começou a ser abordada por este Blogue (Aqui e Aqui).

Há transformações externas que ainda não foram internalizadas por responsáveis associativos e empresário da Industria da Hotelaria.

A relação entre o Estado (na realidade, Politica e Serviços de Turismo) e a Industria da Hotelaria exige ser revista à luz de duas alterações profundas

-a Transformação Estrutural do Mercado Europeu da Viagem de Lazer, isto é, do mais importante mercado da oferta de turismo do País,

-de estarmos a viver o Período do Após Crise de 2008/2009 num País da periferia da Europa e de uma centralidade cujos efeitos no Turismo são relevantes em si mas limitados em relação à Oferta.

Pedir que o Estado intervenha no «combate à imobiliária», no limitar/inibir do crescimento da Oferta e no controle da Distribuição, é expressão de uma relação ultrapassada entre o Estado e a Industria da Hotelaria.

*”Planeamento da oferta hoteleira e alojamento turístico”
Um grupo restrito de empresários e um académico elbora “oito programas para o turismo em Portugal”. Num deles, o Nome da Acção é “Planeamento da oferta hoteleira e alojamento turístico” (4)

A Justificação é:

-“A oferta de alojamento tem crescido mais do que a procura, situando-se a utilização da oferta abaixo do valor médio de ocupação da nossa concorrência”.

A “Meta (quantificação do objectivo)” é:

-“Atingir o crescimento da procura alinhados com o crescimento da oferta (atingir um crescimento da procura de +30%)”.

De entre as “Acções (para implementar)” destacamos

-“Delimitação das zonas onde é vedada a construção de nova oferta de alojamento e onde a mesma é autorizada;”.

A leitura dos programas mostra que “Atingir” e “Delimitação” estarão a cargo do Estado.

*"Não são precisos novos hotéis, o problema é o serviço da dívida"
Citamos extractos de declarações recentes de Jorge Armindo, Presidente da Amorim Turismo, jornal ao Sol:

-"há um excesso de oferta" hoteleira e sublinhou que a descida de preços nos hotéis é negativa para a imagem do país e para as empresas.

-"Há um excesso de oferta. A taxa média de ocupação é cerca de 50%", […] "é preciso atrair mais gente para vir a Portugal".

-"a descida dos preços nos hotéis não contribui nem para a imagem do país, nem para a melhoria das empresas".

-"Não são precisos novos hotéis, o problema é o serviço da dívida", […] "é preciso ajustar a maturidade do crédito" às condições actuais.

-os hotéis, sobretudo os que foram construídos, na última década, têm uma dívida associada que "não é fácil de digerir", reclamando mais promoção e apelando aos empresários para que "se associem mais e façam campanhas no exterior em conjunto".

-" Mesmo fora de Portugal, penso que não há condições para financiar mais hotéis, temos de gerir o que temos, que são investimentos pesados e temos de aumentar a nossa prestação de serviços" (5).

Parece possível ligar o reconhecimento de dívida que "não é fácil de digerir" à afirmação sobre o excesso de oferta. Jorge Armindo não refere a regulação restritiva pelo Estado, que parece ser a consequência lógica do seu discurso.

4.Excessos Neoliberais e Alternativa à Relação Tradicional Entre Estado e Hotelaria
O discurso neoliberal do Governo tem efeito colateral a que temos de escapar:

-hoje, qualquer crítica ao Estado excessivo que asfixia Portugal é identificada com os excessos dos nossos neoliberais e não com a profunda transformação da Intervenção do Estado na Economia, Sociedade e Cultura em Portugal.

As declarações de Jorge Rebelo de Almeida e Adolfo Mesquita Nunes são exemplo

-do que pode ser uma Politica de Turismo que nada tem a ver com o neoliberalismo, mas que é a alternativa crítica a uma relação excessiva e de consequências perversas, entre o Estado e Industria da Hotelaria.

Por outro lado, posições recentes da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal retomam a relação que consideramos excessiva entre Estado e Hotelaria.

Declarações de dois empresários de peso e que alinham com as da AHP mostram que esta visão não é exclusiva de pequenos empresários indefesos, mas que é muito mais transversal.


A Bem da Nação

Albufeira 30 de Novembro de 2013

Sérgio Palma Brito

Notas

(1)Exame de 1 de Dezembro de 2013. Texto de Conceição Antunes e de Pedro Lima.

(2)Informação biográfica recolhida na Wikipedia

(3)Entrevista ao Sol, em 9 de Abril de 2013.

(4)Raul Martins, Administrador do Grupo Fernando Martins/Altis, em Raul Martins, Francisco Sá Nogueira. José Theotonio e Jorge Vasconcellos e Sá, Crescimento (sem Keynes) no Turismo, Vida Económica 2012, p.111.

(5)Declarações de Jorge Armindo, Presidente da Amorim Turismo ao Sol, em 28 de Novembro de 2013.


Alojamento Turístico Não Classificado no Após Crise de 2008/2009



Post em curso de Publicação.

Camas Paralelas na Cidade – Debater Ilações de Narrativas e Factos


O presente post é o sexto de uma série de seis (Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto) sobre o tema:

Camas Paralelas na Cidade – Quando Factos Contrariam Narrativas

O objectivo do presente post é

-suscitar o debate sobre as Ilações a tirar das Narrativas e Factos sobre as Camas Paralelas na Cidade que descrevemos em posts anteriores.
Em pano de fundo continua a estar a nossa preocupação em

-dar uma ideia do trabalho profissional a fazer para dispormos de informação objectiva sobre o Alojamento Turístico Não Classificado,

-contribuir para convencer quem de dever, na Iniciativa Privada e Governo, que a tomada de posição e a decisão política sobre Camas Paralelas exigem conhecer melhor a realidade e “partilhar uma maneira diferente de a analisar”.


1.Ilações a Tirar das Narrativas Sobre Camas Paralelas na Cidade

*Concorrência Desleal: Desvirtuar Alojamento Local
É um facto que

-Camas Paralelas na Cidade violam a legislação em vigor sobre Alojamento Turístico, como acontece com as do Algarve desde há cinquenta anos,

-alguma da sua legalização pelo Alojamento Local, sobretudo no Algarve, viola a letra e o espirito do Regime Jurídico que define esta modalidade de Alojamento.

Face a esta realidade, a proposta de Portaria sobre Alojamento Local que a AHP apresenta vai no sentido de restringir o leque da Oferta Camas Paralelas a legalizar, e “inibir” o seu crescimento.

Em nossa opinião, há uma maneira diferente de analisar a regulação pública desta Oferta. Podemos demonstrar que a oferta de Camas Paralelas na Cidade

-resulta dos sucessivos Regimes jurídicos do Alojamento Turístico serem concebidos para a excluir,

-é manifestação de iniciativa empresarial privada, em resposta a dinâmicas da Procura por alojamento que é objecto desta exclusão,

-em conjunto com toda a oferta de Camas Paralelas do País, é objecto de Atitude Equívoca (misto de «esquecer, ignorar, hostilizar, tolerar, proibir») por parte da Politica de Turismo,

-aumenta a Contribuição do Turismo para a Economia (no Produto e Emprego), por via do aumento da Receita de Turismo na Balança de Pagamento.

Estamos em pleno no lema deste Blogue: “Vamos partilhar uma maneira diferente de analisar o Viajar e o Turismo?”. No contexto desta maneira diferente, propomos

-não seguir a politica de limitar ou “inibir” o crescimento das actuais Camas Paralelas,

-inovar e integrar no âmbito da Politica de Turismo toda a oferta de alojamento utilizado por turistas, com concorrência leal entre todos os Tipos de Alojamento.

*Concorrência Desleal: ”evasão fiscal como vantagem competitiva”
O secretário de Estado do Turismo aceita como boa a narrativa da AHP sobre a ”evasão fiscal como vantagem competitiva” e faz dela bandeira. A exemplo do que acontece há trinta anos de Camas Paralelas no Algarve, a evasão fiscal tem duas dimensões:

-empresários a aproveitar a incompreensível passividade do Fisco, que não fiscaliza a Oferta de Camas Paralelas como é seu dever – perante a visibilidade da oferta, o Fisco só não cobra impostos se não quiser e para isso não precisa de nenhuma legislação do Turismo,

-a Hotelaria a agitar este argumento para que a Politica de Turismo venha a “inibir” o leque de Oferta do Alojamento Local – assim se compreende que, na indiferença geral, haja actividades com dimensão turística onde a evasão fiscal parece ultrapassar a das Camas Paralelas na Cidade.
Questionamos o Principio Orientador do Secretário de Estado do Turismo que reduz o modelo de negócio das Camas Paralelas à “evasão fiscal como vantagem competitiva” – no ponto 2, apresentamos o que pensamos dever ser a orientação do Ministério da Economia.

*Relação Entre o Estado e a Industria da Hotelaria
A relação entre o Estado (na realidade, Politica e Serviços de Turismo) e a Industria da Hotelaria exige ser revista à luz de duas alterações profundas

-a Transformação Estrutural do Mercado Europeu da Viagem de Lazer, isto é, do mais importante mercado da oferta de turismo do País,

-de estarmos a viver o Período do Após Crise de 2008/2009 num País da periferia da Europa e de uma centralidade cujos efeitos no Turismo são relevantes em si mas limitados em relação à Oferta.

Pedir que o Estado intervenha no «combate à imobiliária», no limitar/inibir do crescimento da Oferta e no controle da Distribuição, é expressão de uma relação ultrapassada entre o Estado e a Industria da Hotelaria.

Esta relação é definida pelas palavras do Secretário de Estado do Turismo:

-“Num sector e numa economia em que o próprio Estado habituou as pessoas a que o Estado é financiador, mecenas, licenciador, comprador, fiscalizador, regulador, não é fácil. Os empresários adaptam-se à realidade que têm. E adaptaram-se a um sistema que vivia com o Estado como motor e central.”.

O Secretário de Estado também reconhece a outra face da realidade:
-“No sector hoteleiro, os grupos que estão mais sólidos são os que precisam pouco do Estado e que tiveram uma estratégia de internacionalização. 
Conseguiram ter uma estratégia de sucesso, apesar do peso do Estado.” (1).

A modernização da relação tradicional entre o Estado e a Industria da Hotelaria começa a estar na agenda da Politica de Turismo e está com atraso em relação às exigências da Competitividade Estratégica da própria Industria da Hotelaria (2).


2.Ilações a Tirar de Factos a Observar e Quantificar

*Modelo da Oferta de Camas Paralelas na Cidade
A Oferta de Camas Paralelas na Cidade é investimento ligeiro e não apoiado pelo Estado, de pessoas e empresas em

-Apartamentos arrendados a turistas, pelo proprietário e empresas especializadas,

-Estabelecimentos de escala reduzida: Hostel, B&B, Guest House e Inn.
Duas observações:

-é caso único em que o discurso oficial não apoia iniciativas empresariais, com qualidade e contributo para a Balança de Pagamentos,

-fomentar Empresas de Exploração de Apartamentos é bom para a consolidação/sustentabilidade do negócio e para a Formalidade Fiscal.

*Tentativa de Quantificação 
Com base em quatro Operadores (Booking, Tripadvisor, Flipkey e Homeaway), temos:

-Apartamentos: Barcelona (10.482), Lisboa (3.129) e Porto (832) – neste caso, ignoramos quantos apartamentos são realmente comercializados, pois a inscrição no site é fácil e não implica sucesso,

-Hostels: (346), Lisboa (149) e Porto (65).

-Conjunto de B&Bs/Inns/Guest Houses: (493), Lisboa (237) e Porto (160).

*Questões em Aberto
O exemplo de Barcelona e a importância dos quatro Operadores Turísticos considerados permitem levantar três questões, que ficam em aberto:

-é possível concluir que Lisboa e Porto não são casos únicos de cidades a posicionar-se em mercados de importância crescente? – referimos os do Alojamento da Convivialidade e o do Holiday Rental,

-os números de Barcelona podem ser interpretados como prova de haver um potencial de crescimento significativo para Lisboa e Porto?

-qual o contributo desta oferta para atrair a Lisboa e Porto turistas que não se alojariam em Hotel e quem são estes turistas – por outras palavras, a oferta da Camas Paralelas é concorrente ou complementar da Hotelaria?

*Contributo Para a Reabilitação Urbana de Zonas Históricas
A localização dos Estabelecimentos/Instalações de Alojamento em Lisboa segue o padrão comum às três cidades e confirma a necessidade de olhar para esta Procura/Oferta do ponto de vista de

-animação de zonas como a Baixa e outras zonas históricas das Cidades,

-ligação deste esforço da Iniciativa Privada com a Reabilitação Urbana,

-sinergia/conflito entre Utilização Turística dos apartamentos e Arrendamento Urbano à População Residente.

A experiência e o bom senso mostram que todo o debate sobre estes e outros pontos deve ser precedido de quantificação da realidade e de especial cuidado nas comparações internacionais.

*Politica Para o País
Nas posições da AHP, há duas vertentes:

-é mais do legítimo que a AHP exija ao Governo a regulação do mercado do alojamento turístico com equidade e o combate à informalidade fiscal, os dois pilares da concorrência desleal,

-diferente é o caso da AHP solicitar apoio do Estado na gestão da Procura/Oferta de alojamento turístico, no controle da Distribuição online e no “inibir” o aumento da oferta de Holiday Rental – é um tema polémico e a exigir debate.

Compete ao Governo construir a Politica de Turismo que escute as posições da AHP, mas tenha uma visão da diversidade da Procura/Oferta de Alojamento Turístico. Assim, como referimos antes e explicamos em outro post (ATNC4), a Procura e Oferta de Alojamento Turístico Não Classificado devem ser

-tratadas num contexto nacional, com destaque para o Algarve, e não no único contexto urbano de Lisboa e Porto,

-apoiadas por Fiscalidade Competitiva, que represente mais receita para a Iniciativa Privada e Estado e contribua para a competitividade da Oferta.
Esta é uma das inovações que o País espera do Governo. 

*Prioridade do Ministério da Economia
O fim primeiro da Política de Turismo consiste em facilitar a missão da Iniciativa Privada no maximizar a Contribuição do Turismo Para a Economia, como demonstraremos na Segunda série de posts. Em Portugal,

-o mais importante indicador desta Contribuição é o da Receita do Turismo na Balança de Pagamentos, na medida em que,

-só esta Receita exige o Investimento e cria a Procura que, de maneira sustentada, contribuem para o Emprego e para o PIB.

No respeito deste princípio, o Ministério da Economia

-deve quantificar a Procura/Oferta e compreender o potencial de criação de valor e por uma Oferta adequada a uma Procura nova e que talvez não viesse a Portugal se não existisse esta oferta,

-em função desta quantificação, deve facilitar o empreendedorismo e inovação (low tech, mas inovação) no investimento e exploração de Hostels e do conjunto de B&Bs, Inns e Guest Houses, mais de Apartamentos do Holiday Rental,

-defender a Formalidade Fiscal como instrumento para criar, a médio e longo prazo, actividades económicas competitivas (a evasão fiscal é dopping de curto prazo) e para defender a concorrência leal.


A Bem da Nação

Albufeira 25 de Novembro de 2013

Sérgio Palma Brito


Notas

(1)Entrevista do Secretário de Estado do Turismo ao jornal Sol de 9 de Abril de 2013.


(2)A expressão é de Michael Porter em Competitive Strategy – Techniques for Analyzing Industries and Competitors, um livro de tremenda actualidade para compreendermos a Industria da Hotelaria. 


Camas Paralelas na Cidade – Factos a Observar e Quantificar

O presente post é o quinto de uma série de seis (Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto) posts sobre o tema:

Camas Paralelas na Cidade – Quando Factos Contrariam Narrativas

O presente post tem dois objectivos:

-Observar as Camas Paralelas na Cidade com base na amostra possível,

-Quantificar indicadores comuns aos elementos da amostra.

Em pano de fundo está a nossa preocupação em

-dar uma ideia do trabalho profissional necessário para dispormos de informação objectiva sobre o Alojamento Turístico Não Classificado.

*Dimensão Politica do Post
O presente post é também um alerta para o facto do Decreto-Lei sobre Alojamento Local (Primeiro) poder ser elaborado

-com base em narrativas desligadas da realidade, e

-sem informação objectiva de apoio à tomada de decisão por quem o elabora.

Voltamos a chamar a atenção para erro dramático que o Governo pode cometer:

-legislar com base em narrativas e não em factos, sobre as “Camas Paralelas na Cidade” e aplicar a legislação à realidade do Alojamento Turístico Não Classificado do Algarve.

Ignoramos até que ponto há a consciência do que este processo

-pode representar uma ameaça para as actividades económicas que pretende regulamentar, e

-por via disso diminuir a Contribuição do Turismo para a Economia e prejudicar o interesse do País.


1.Observar a Realidade

*A Observação Possível
A observação consiste num percurso pelos sites de quatro Operadores (Booking.com, Tripadvisor, Flipkey e Homeaway), acompanhado por algum trabalho no terreno. Procuramos identificar traços marcantes em

-Tipo de Alojamento Turístico em que o Estabelecimento/Instalação se integram,

-para cada Tipo, uma amostra de estabelecimentos/instalações permite ter uma ideia da sua qualidade aparente, com base em fotografias e avaliação de utilizadores,

-Localização de estabelecimentos/instalações na cidade.

Utilizamos o Inglês (UK) em todas as consultas, para apresentar o que um turista residente n Reino Unido lê. No texto, utilizamos as designações em inglês.

*Tipologia da Oferta de Alojamento das Camas Paralelas da Cidade
É possível identificar os Tipos de Alojamento Turístico das Camas Paralelas da Cidade.

No Alojamento Colectivo, há quatro Tipos de Estabelecimentos “ligeiros”, no sentido em que não representam investimento importante em construção, mas sim investimento ligeiro em reabilitação urbana:

-Bed & Breakfasts – versão qualificada do tradicional Quarto em Casa Particular, com pequeno-almoço, em exploração familiar e sem empregados,

-Guest Houses – idêntico ao anterior, mas sem pequeno-almoço,

-Inns – Estabelecimento algo similar ao B&B mas com exploração estruturada e empregados,

-Hostels – estabelecimentos de camaratas e alguns quartos, com exploração estruturada e empregados.

No Alojamento Privado, temos um único Tipo:

-a versão qualificada do tradicional Apartamento arrendado pelo proprietário ou agencia profissional, no mercado do Holiday Rental,

Em relação ao modelo mais conhecido, há diferenças:

-não encontramos Promoção Imobiliária destes Estabelecimentos e Apartamentos, mas sim recuperação de património e reabilitação urbana,

-a maioria dos Apartamentos não resulta de Utilização Turística de Residências Secundárias quantificadas pelo Recenseamento da Habitação (Link) mas sim da recuperação de Apartamentos Vagos. 

As designações utilizadas não estão consensualizados e variam segundo o operador.

*Duas Actividades Económicas da Industria da Hospitalidade
Estamos perante duas actividades económicas diferentes da Industria da Hospitalidade:

-Estabelecimentos Ligeiros de Alojamento Colectivo,

-Holiday Rental (Vacation Rental) ou, na terminologia das Estatísticas de Turismo, Casas e Apartamento arrendados a turistas pelo proprietário ou empresas especializadas.

No Holiday Rental, a Flipkey (único operador que dá esta informação) dá um ideia sobre o recurso a uma empresa especializada: a percentagem de Gestão por Property Manger varia entre 46/49% em Porto e Lisboa e 77% em Barcelona.

*Tipo de Alojamento Turístico Por Operador  
A Booking.com utiliza quatro Tipos de Alojamento Turístico que integram a tipologia apresentada antes:

-Hostels, Apartments, Guest Houses e Bed and Breakfasts.

A Tripadvisor utiliza apenas Hotels e Holiday Rentals. Duas observações:

-em Holiday Rentals, no caso de Lisboa e Barcelona, reduz Holiday Rentals a Holiday Apartments, e no caso do Porto a Villas (?),

-em Hotels, detalha por Bed and Breakfasts e Inns, e Speciality Lodging (onde inclui Hostels, Apartments etc).

A Flipkey oferece Vacation Rentals em Lisboa e Porto. Em Barcelona oferece Vacation Rentals, Apartments Rentals & More.

A Homeaway oferece Apartments & Villas em Lisboa e Costa de Lisboa, Apartments & Cottages em Porto City, e em Barcelona and Province oferece Apartments & Villas.

*Observações Sobre a Oferta
O percurso pelos sites confirma três padrões comuns:

-Estabelecimentos e Apartamentos atraentes e com apresentação profissional,

-ligação frequente a reutilização de património e reabilitação urbana,

-oferta tornada possível por a utilização turística ser mais rentável do que o actual Arrendamento Urbano, para além da fuga ao fisco.
Estas características parecem confirmar o interesse em

-analisar esta oferta de alojamento em função das dinâmicas urbanas nas zonas históricas das cidades – a versão urbana da integração do turismo no território.
Identificamos ainda outros três padrões:

-avaliação significativa pelo número de contributos de hóspedes, com valor acima de 8, muitas vezes acima de 9,

-preço mais baixo, em linha com uma procura com menos rendimento disponível e com a evolução económica e social de países emissores,
-oferta inovadora e diferente da dos Hotéis, a indiciar que esta diferença pode contribuir para atrair turistas que os hotéis não atraem – um dos pontos que mais exige ser aprofundado.

*Localização na Cidade
Nas três cidades e para todos os Tipos de Alojamento analisados, a localização das Camas Paralelas

-está de acordo com o padrão da procura por destinos de cidade: alojar perto dos lugares a visitar e onde as experiências têm lugar,

-contraria a narrativa da “imobiliária” como origem da oferta de Apartamentos 

– em nenhuma das localizações existe actividade de Promoção Imobiliária.

A título de exemplo, a figura seguinte ilustra, no caso da Tripadvisor, a localização de Hotels e Holiday Rentals em Lisboa.




2.Quantificar a Realidade

*A Quantificação Possível
Consultámos quatro operadores (Booking, Tripadvisor, Flipkey e Homeaway) com base numa estadia entre 11 e 16 de Dezembro de 2013, em três cidades: Porto, Lisboa e Barcelona.
Utilizamos o Inglês (UK) em todas as consultas, para apresentar o que um turista residente no Reino Unido lê. No texto, utilizamos as designações em inglês.
Os números apresentados têm variações quotidianas sem significado. Admitimos que, feita a pesquiza em outra altura do ano e para outras datas (por exemplo, em Março, para Agosto), a variação possa ser mais relevante.
Há um padrão comum a todas as avaliações:
-o número de Barcelona é superior ao de Lisboa e este superior ao do Porto, com “superior” a variar segundo os operadores,
-Apartamentos refere uma Unidade de Alojamento e Estabelecimentos inclui várias – a comparação directa entre uns e outros não é possível.

2.1.Booking

*Booking: Número de Instalações/Estabelecimentos Por Tipo e Por Cidade
O Gráfico 1 ilustra, no caso da Booking.com, o número de Apartamentos e Estabelecimentos Por Tipo e Por Cidade.

Gráfico 1 – Booking: Número de Instalações/Estabelecimentos Por Tipo e Por Cidade

(unidades)


                            Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida no site

Importa reter que a Booking anuncia:

-mais de 366.000 “hotels, villas and more …”.

Depois, insiste em “More than just hotels!” e anuncia

-53.000 Apartments,

-19.000 Villas,

-11.000 Resorts,

-8.000 Hostels.

Se fizermos as contas, teremos cerca de 275.000 Hotéis. A actividade da Boking tem sobretudo a ver com Estabelecimentos de Alojamento Colectivo (Hotels, Hostels e Resorts).

2.2.Tripadvisor

*Tripadvisor: Número de Instalações/Estabelecimentos Por Tipo
O Tripadvisor começa por escolher entre Hotels e Holiday Rentals. Nos Hotéis, inclui Hostels e o conjunto de BB & Inns. O Gráfico 2 ilustra o número de Instalações ou Estabelecimentos Por Tipo de Estabelecimento.

Gráfico 2 – Tripadvisor: Número de Instalações/Estabelecimentos Por Tipo

(unidades)


                             Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida no site

A importância do número de Apartments na Tripadvisor exige investigação adicional sobre a sua utilização ou não e qual o movimento de hóspedes.

3.3.Flipkey

*Flipkey: Número de Vacation Rentals
O Gráfico 3 ilustra, no caso da Flipkey, o número de Vacation Rentals Por Cidade.

Gráfico 3 – Tripadvisor: Número de Vacation Rentals Por Cidade

(unidades)


                           Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida no site

Ignoramos se há cross selling dos mesmos apartamentos entre Tripadvisor e Flipkey, dada a ligação entre as duas marcas.

*Flipkey: Units Available, Property Management e Apartments
O Gráfico 4 ilustra, no caso da Flipkey, o número de unidades Available em relação às existentes. No seio das unidades Available, constatamos que

-a percentagem de Apartments é de 92% no Porto, 82% em Lisboa e 90% em Barcelona,

-a percentagem de Gestão por Property Manger é de 46% no Porto, 49% em Lisboa e 77% em Barcelona – a diferença de Barcelona parece indicar um mercado menos fraccionado do que o de Porto e Lisboa.

Gráfico 4 - Flipkey: Units Available, Property Management e Apartments

(units)


                            Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida no site

2.4.Homeaway

*Homeaway: Uma Síntese
Do Relatório referente a 2012, citamos [o sublinhado é nosso]:

-“HomeAway, Inc. and its subsidiaries operate the world’s largest online marketplace for the vacation rental industry. Vacation rentals are fully furnished, privately owned residential properties, including homes, condominiums, villas and cabins, that property owners and managers rent to the public on a nightly, weekly or monthly basis. […]

As of December 31, 2012, we operated our online marketplace through 44 websites in 13 languages. In 2012, according to our internal metrics, our websites attracted approximately 600 million website visits. As of December 31, 2012, our global marketplace included more than 710,000 paid listings of vacation rentals.”.

*Homeaway: Villas, Apartments and More  
O Gráfico 5 ilustra, no caso da Homeaway, o número de Villas, Apartments and More de Porto, Lisboa e Barcelona, que a Homeaway comercializa.

Gráfico 5 – Homeaway: Número de Villas, Apartments and More Por Cidade

(unidades)


                            Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida no site

2.5.Comparação Entre Cidades

*Unidades de Holiday Rentals Por Cidade e Por Operador
O Gráfico 6 ilustra, no caso de Holiday Rentals, o número de unidades por Cidade e por Operador.

Gráfico 6 – Número de Unidades de Holiday Rentals por Por Cidade e por Operador

(unidades)


Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida nos sites

As designações são diferentes mas todas referem o mercado do Holiday Rental.

*Total de Holiday Rentals Por Cidade
O Gráfico 7 ilustra o Total de Holiday Rentals por Cidade, para o conjunto dos quatro operadores. Neste caso,

-o número de Holiday Rentals de Barcelona é mais do triplo do de Lisboa e este quase o quádruplo do Porto, assumindo que não há Holiday Rentals comercializados por mais de um operador.

Gráfico 7 – Total de Holiday Rentals, Hostels e (B&Bs, Inns e Guest Houses) Por Cidade

(unidades)



                              Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida nos sites

Estes números devem ser lidos com muita prudência, pois estar listado pelo operador não significa fazer negócio significativo. Feita esta reserva, há duas leituras

-mais de três mil “Apartamentos” em Lisboa é um número excessivo,

-Lisboa tem menos de um terço da oferta de Barcelona e o potencial de crescimento existe.

Sem dispormos de quantificação mais sólida, o debate vira estéril especulação intelectual.

*Total de Hostels e do Conjunto de B&Bs, Inns e Guest Houses, Por Cidade
O Gráfico 8 ilustra o Total de Hostels e do conjunto de B&Bs, Inns e Guest Houses, por Cidade, no conjunto de dois operadores (Booking e Flipkey).

Gráfico 8 – Total de Hostels e do conjunto de B&Bs, Inns e Guest Houses, por Cidade

(unidades)


                            Fonte: Elaboração própria com base em informação obtida nos sites

Estes números

-são a soma de designações similares de Estabelecimentos da Booking e Flipkey,

-podem incluir o mesmo estabelecimento,

-repetem o padrão de Barcelona Superior a Lisboa e esta cidade superior ao Porto, mas com “superior” menos importante do que nas comparações anteriores.


A Bem da Nação

Albufeira 25 de Novembro de 2013

Sérgio Palma Brito


Notas

(1)Declarações da Presidente Executiva da AHP a Publituris Hotelaria de 1 de Outubro de 2013.

(2)Publituris Hotelaria de 1 de Outubro de 2013.

(3)Nota informativa sobre a reunião dos órgãos sociais da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, em 31 de Outubro de 2013. Ver https://drive.google.com/file/d/0B9yEd1P9CtlCNkFaZURWOTNaRXc/edit?usp=sharing
É significativo que a «limpeza de requisitos” proposta pelo CFO do Grupo Pestana (ver post) não figure entre as “questões que mais preocupam a indústria hoteleira”.

(4)Declarações ao jornal Sol, em 30 de Agosto de 2013


(5)Publituris Hotelaria de 1 de Outubro de 2013.