Segundo o Jornal de Negócios, “O conselho de administração da TAP (1), nos últimos anos, não tem conseguido travar a descapitalização do grupo. […] propõe ao accionista a entrada de dinheiro de 385,3 milhões de euros. Ao Negócios, fonte oficial da companhia explicou que esta proposta em nada se prende com o processo de privatização. "A administração precisa pedir que o accionista resolva a situação. Isto é feito todos os anos (2)", detalhou.”. Ver (http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=573259&pn=1).
O cidadão português, “accionista forçado” da TAP SGPS, merece melhor informação, por ser cidadão e por se arriscar a ainda ter de pagar para o Governo vender a TAP SGPS (3). Para sabermos um pouco mais, recorremos ao Relatório de 2011 da PARPÚBLICA – Participações Públicas, SGPS, S.A. É uma Sociedade Gestora de Participações Sociais, de capitais exclusivamente públicos e que é instrumento do Estado para actuação em domínios, de que destacamos dois:
-Gestão de participações em empresas em processo de privatização ou privatizáveis a prazo;
-Desenvolvimento dos processos de privatização, no quadro determinado pelo Governo.
*Grupo TAP – Situação Financeira
Apresentamos os pontos pertinentes do Relatório da Parpública [os sublinhados são nossos]:
-“Na ausência de medidas estruturais visando a recapitalização da empresa e persistindo as condicionantes estruturais de custos globais e marginais com ausência de sinergias que afectam negativamente os negócios do Grupo, a TAP manteve em 2011 uma trajectória negativa”, a qual “coloca os capitais próprios do Grupo TAP (antes de interesses não controlados) abaixo dos € 350 milhões”;
-“A dívida remunerada do Grupo manteve-se nos 1,2 mil milhões de euros”, uma redução de € 46 milhões em relação a 2010.
Destacamos o parágrafo final:
-“A evolução que se vem registando há vários anos e as limitações legais a um envolvimento público na capitalização directa da TAP (4), colocam a reprivatização da empresa como imprescindível para a criação de condições que garantam a sustentabilidade dos negócios da empresa, em particular num contexto recessivo da actividade económica e de grande instabilidade dos mercados financeiros.”.
*Grupo TAP – Resultados de Actividade:
Apresentamos os pontos pertinentes do Relatório da Parpública:
-“O ano de 2011 revelou-se fortemente negativo para o Grupo TAP que encerrou o exercício com um resultado líquido negativo de € 76,8 milhões, significativamente pior do que o prejuízo de €57,1 milhões registados no ano anterior.”;
-“Este desempenho negativo verificou-se mesmo ao nível do transporte aéreo”, com um lucro de € 3,1 milhões de euros, quando, em 2010, tinha sido de € 59,2 milhões;
-“ a actividade de handling encerrou o ano com a SPdH (5) a apresentar resultados negativos de € 11,1 milhões”, ainda assim melhores que os o prejuízo de € 43,6 milhões, em 2010;
-“a redução de efectivos ocorrida da SPdH (474) corresponde a quase 70% da redução total verificada ao nível do Grupo TAP e que foi de 718” (6);
-“a área de negócio com contributo mais fortemente negativo para o Grupo TAP continua a ser a manutenção e engenharia desenvolvida no Brasil”, com um resultado líquido negativo de € 62,7 milhões, ainda assim inferior aos € 73,1 de 2010.
*Nota Final
Entre a objectividade sintética do Relatório da Parpública e o Relatório do Grupo TAP, mais a sua excelente máquina de Comunicação, falta-nos uma informação completa e isenta sobre um dos mais importantes Grupos de empresas do País e sobre a mais emocional, potencialmente conflitual, politicamente já envenenada e mais difícil das Privatizações.
Este post é rudimentar contribuição para uma melhor informação.
Brevemente, dois posts
-um sobre a formação/venda da SPdH, a concorrência com a Portway e a degradação do nível de serviço no Aeroporto da Portela, entre final de 2006 e início de 2008,
-outro sobre a TAP – Manutenção e Engenharia Brasil, S.A., apresentada como “investimento estratégico” e, pelo menos nos prejuízos, realmente estratégico.
A Bem da Nação
Albufeira 14 de Agosto de 2012
Sérgio Palma Brito
Referências
(1)No Grupo TAP não há “conselho de administração”, mas sim Conselho Geral e de Supervisão e Conselho de Administração Executivo – supomos que o “comunicador” é este último.
(2)É um ritual do género de Cantar as Janeiras à porta de quem não tem dinheiro e, tendo, não o pode dar – como é dito adiante, o Estado não pode, directamente, recapitalizar a TAP (ou poderia, em parceria com um privado, mas teria de o encontrar e acompanhar, pelo menos a 50%).
(3)Num certo clima de euforia, ninguém admite, pelo menos publicamente, o cenário de «o que o Estado recebe não paga a capitalização mais a dívida».
(4)É a versão profissional da inutilidade superveniente do “conselho de administração” Cantar as Janeiras, na Rua de S. Bento – muito provavelmente este cantar é uma formalidade legal ou o acautelar o futuro com «nós bem avisámos».
(5)Handling ou Goundhandling é a Prestação de Serviços de Assistência em Terra. A SPdH é uma empresa formada a partir da TAP e conhecida pela marca Grounforce – na actualidade, já é controlada pela iniciativa privada.
(6)Cerca de 400 destes trabalhadores estavam sediados em Faro, onde eram pagos para nada fazer, por a SPdH não ter companhias aéreas que escolhessem os seus serviços … por efeito da concorrência da Portway, do Grupo ANA – no Transporte Aéreo o Estado foi o concorrente do Estado, chegando a ter prejuízos em ambas as empresas. Brilhante!
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