O Algarve às Sextas (2012.01.13)
A Especialização da Economia Regional no Turismo

A Mutação do Turismo no Algarve está na origem da Especialização da Economia Regional. Só 1999, a CCRA reconhece que a capacidade competitiva do Algarve se constrói “pela adopção clara de opções de especialização económica centrada no complexo de actividades do turismo e do lazer” (1). Esta posição rompe com a proposta de Diversificar a Economia para “contrariar” ou “contrabalançar” o turismo ou “em alternativa a este”, mas não tem consequências práticas, face à força do politicamente correcto.

→ A Politica de Turismo – da Inadequação ao Prejudicar a Economia do País
Portugal não é o único país em que a Politica e Serviços de Turismo definem a Economia do Turismo a partir dos Estabelecimentos de Alojamento Turístico Classificado: “Short-term accommodation services are considered so important for tourism that many countries consider the establishments providing food and beverage services and travel agency services as constituting their whole tourism industry.” (2).

Reduzir a “whole tourism industry” apenas a estes Estabelecimentos é possível em países onde a oferta de turismo está isolada da envolvente social e cultural (Republica Dominicana, Tunísia, Egipto, entre outros) ou em casos especiais (Maldivas).

Esta opção é ESTRUTURALMENTE INADEQUADA às exigências da regulação pública da Economia de Turismo numa Área Turística como o Algarve e da competitividade desta. Esta opção dura do inicio da década de 1960 até à actualidade e é fonte de todos os erros, lacunas e omissões da Intervenção Publica na Oferta de Turismo do Algarve.
Ainda caso do Algarve, esta opção tem consequências gravosas para a Economia do País, na medida em que uma importante parte da Economia do Turismo é ignorada ou hostilizada por esta politica de Turismo.

→ Definição Alargada de Turismo: a Iniludível Opção Cultural e Politica
Os Estabelecimentos Hoteleiros de propriedade indivisa exigem regime especial, por serem de capital intensivo, longo período de retorno e grande capacidade de gerar valor. Dito isto, Politica e Serviços de Turismo não podem continuar capturados pelos interesses destes estabelecimentos. O interesse nacional exige que fomentem a cadeia de valor de uma Definição Alargada da Economia do Turismo.

A Definição Alargada da Economia do Turismo integra os Estabelecimentos Hoteleiros, não se deixa capturar por eles e inclui outras realidades. Começa por considerar os Residentes nos Países mercado da Oferta de Turismo e não apenas os Nacionais nesses países: explicita a Procura da Diáspora Portuguesa, realidade incontornável da Economia do Turismo do Futuro.

Inclui, sobretudo, toda a cadeia de valor do Turismo Residencial real, incluindo toda a oferta existente no Algarve – sem este alargar de horizontes, ninguém compreende a realidade da Economia do Turismo do Algarve e, muito menos, é capaz de observar o Futuro.

Por fim, inclui a atracção de Reformados do Tempo Livre, em residência temporária ou imigração formal e residência permanente.

A quintessência desta Definição Alargada da Economia do Turismo é o resultar da procura de bens (duradouros e não duradouros) e serviços cuja aquisição é financiada por transferência de recursos do exterior. Como veremos, a definição tem base na Economia, mas não é economicista.

→ Números Sobre a Definição Alargada de Turismo no Algarve 
Em 2012, a grande maioria da investigação, estudo e opinião sobre o Algarve ignora ou hostiliza a Definição Alargada da Economia do Turismo e ainda menos a quantifica. Seguem números rudimentares, para suscitar a curiosidade e estimular os investigadores e estudiosos profissionais.

Sabemos que, em 2011, há no Algarve cerca de 145 mil Fogos de Uso Sazonal (estimativa muito prudente), representando, pelo menos, cerca de 700 mil camas de Alojamento Turístico Privado e 100 mil camas de Alojamento Turístico Classificado. Acrescentamos outros indicadores (3).

Em 2010, na Balança de Pagamentos, a Definição Alargada da Economia do Turismo representa, pelo menos, cerca 63% dos 7,6 mil milhões de euros das Receitas de Viagens e Turismo. No Algarve, esta percentagem parece ser superior. No caso da Economia de Turismo do Algarve, é particularmente grave não haver avaliação do Investimento Directo de não Residentes em Casas do Tempo Livre e das transferências de Pensões e outros rendimentos para Reformados do Tempo Livre.

Em 2010, no total das Viagens Turísticas de Residentes em Portugal, em Turismo Interno, o Alojamento Turístico Classificado representa 48,7% do Número Total de Hóspedes e 20,6% do Número Total de Dormidas.

Em 2010 no Algarve, há 2.0 milhões de Turistas Residentes em Portugal, que se repartem igualmente (1.0 milhão cada) entre Alojamento Turístico Classificado e Não Classificado. Os 14.4 milhões de Dormidas geradas por estes hóspedes têm repartição diferente: 3.8 milhões em Alojamento Turístico Classificado e 10.5 milhões em Alojamento Não Classificado.

Em 2010 no Algarve, cerca de 2.4 milhões de Turistas Não Residentes. Destes, 1.7 milhões é hóspede do Alojamento Turístico Classificado e os restantes 0.7 milhões aloja-se no Alojamento Turístico Não Classificado.

Quando teremos a Universidade a investigar e estudar e a CCDR a fomentar “isto”? A responsabilidade social destas instituições deve ser, positiva e francamente, questionada – tema para próxima Sexta Feira.

→ A Economia Turístico Residencial do Algarve
A dinâmica económica, social e cultural da Economia do Turismo do Algarve, na sua Definição Alargada, é indissociável de, desde a década de 1970, o Algarve ter deixado de ser uma Terra de Emigração para ser uma Região que atrai Imigração (de Portugal e do Estrangeiro), que assegura o crescimento da População Residente, apesar dos Saldos Fisiológicos negativos.

A maior consequência desta dinâmica de atracção de população é a formação de uma Economia Turístico Residencial, que integra a Definição Alargada da Economia do Turismo e a atracção de população residente.

Contrariamente ao que faz a CCDRA quando analisa os Resultados Provisórios do Recenseamento da Habitação, temos de recuar a 1950/1977 para entender a dinâmica que está em causa (4). Não recuar a 1950/1970 é argumento, por abstenção e omissão da realidade, do “saber” politicamente correcto sobre o Algarve.

É este o quadro para compreendermos os 190,1 km 2 do Total de Solo Urbano + Turístico” e o território comprometido com a Edificação Dispersa – estes números exigem ser confirmados e detalhados pela CCDRA (5).

→ De Ver o Que se Sabe a Ver o Que se Imagina
A recuperação da grave crise da Economia e Sociedade do Algarve começa por uma crise cultural: sobre o passado e presente, a elite da Região vê o que se sabe e, sobre o Futuro, parece estar a ver o que se imagina.

Quem sabe, não vê a dinâmica da Economia Turístico Residencial do Algarve – fica incapacitado de responder à pergunta elementar “como criar valor a partir dos activos existentes, tangíveis e intangíveis?”. Quem sabe, não observa a Especialização da Economia Regional, nem se recorda das palavras de 1968: “especialização da Economia não é Concentração” (6).

Quem sabe, parece estar a ver o que imagina: Agricultura, Floresta, Pescas, Industria de Ponta e Alto valor Acrescentado e Pólo de Serviços Avançados. Fica incapacitado de responder à pergunta elementar “porquê ainda não concretizámos as propostas de 1990 e ainda não percebemos a sinergia entre a Definição Alargada de Turismo e a atracção de talentos?”.

→ E o Futuro?
O leitor continua com pressa em conhecer o Futuro? Hoje, graças à Vodafone, todos conhecemos a Hubel e o Engº Humberto Teixeira. O leitor quer saber onde tudo começou e o tempo que perdemos em conversa sobre “recursos endógenos”? Tem de ir ao Algoz e recuar a 1970, quando Lindsey e Andrew Henley Welch criam os Viveiros do Foral e foram pioneiros na Nova Agricultura do Algarve. Prestemos a este casal a homenagem que merece.

Quer uma versão algo mais erudita? No início do século XVIII, em Monte gordo, são catalães que introduzem a muito mais eficiente arte xávega na pesca da sardinha e inovam na sua preparação de modo a que estas durem “muito tempo em bom estado” (7).

Sérgio Palma Brito


Referências
(1) Comissão de Coordenação da Região do Algarve, Estratégia de Desenvolvimento Para a Região do Algarve: 2000 – 2006, Faro, 1999, p. 6
(2) United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Statistics Division, UNWTO – World Tourism Organization, International Recommendations for Tourism Statistics, Madrid and New York 2008, ponto 6.23, p. 57
(3) Números com base em INE – Estatísticas de Turismo / Estatísticas dos Transportes e Banco de Portugal – Balança de Pagamentos. Há estimativas nossas identificadas pelo “cerca de”, que as antecede
(4) ver CCDRA http://www.ccdr-alg.pt/ccdr/parameters/ccdr-alg/files/File/documentos/noticias/Censos_20110930_vf.pdf e, em alternativa, O Algarve na Florida da Europa, em http://sergiopalmabrito.blogspot.com/2011/07/oferta-do-turismo-do-algarve-nos.html
(5) Estes números são apresentados durante a Revisão do PROTAL e exigem confirmação pela CCDRA
(6) Obra da Nota 1
(7) Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1789 – 1815, Banco de Portugal, 1991, respectivamente, Tomo III p. 252 e Tomo IV p. 199

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