É mau começar
por mim, mas tem que ser. Aljustrel está a 35km de Beja e Beja é parte da minha
infância, adolescência (sexto ano do Liceu e primeiro namoro) e juventude de
antes do exilio (foi de Beja que telefonei para o Porto poucos dias antes do
exilio). Já nessa altura, Évora era outra cidade e eu ficava entre o triste e o
revoltado por Beja ficar para trás. Antes de tudo o mais, nos últimos anos vivo
com tristeza o atraso que Beja acumula e que é tão bem sintetizado na frase de Florival
Baiôa Monteiro*.
*Os dois
erros fatais da petição que só cria ilusão
Há tempos,
não assinei a petição da Plataforma Alentejo sobre Estratégia Integrada de
Acessibilidade Sustentável do Alentejo nas ligações Nacional e Internacional** – aqui Alentejo é sobretudo o Baixo
Alentejo de Beja. Não assinei por ter visto muitos documentos e estudos (quantos
estudos foram para o lixo?) como este – uma espécie de carta de criança ao Pai
Natal com enorme lista de projetos não estudados, não justificados e sem
qualquer hipótese de financiamento. Teria sido mais fácil assinar e não apanhar
pancada por não o fazer, mas sou assim.
Ao erro Pai
Natal junta-se o inevitável erro aeroporto: “Recorde-se que o aeroporto de Beja
representa uma vantagem para os voos intercontinentais com destinos a estas
regiões [Lisboa, Algarve, Andaluzia e Estremadura espanhola] que não dispõem de
aeroportos para este efeito, como suporte à economia do Alentejo, em
crescimento, sendo sempre uma resiliência e suplemento para o Aeroporto de
Lisboa.” – isto é pura fantasia e descredibiliza qualquer documento em que
apareça.
Tudo bem,
dois erros, mas Que Fazer, como se interrogaria Lenine se estivesse entre nós?
*Lisboa e Faro,
aeroportos de Beja para atrair pessoas, atividades e empresas
Aeroporto de Lisboa
a 174 km e o de Faro a 147km não faz do alegado aeroporto de Beja (na realidade,
pequeno terminal civil) uma alternativa ou complemento a estes aeroportos. Faz
muito, mas muito mais, põe Beja acessível pela enorme conectividade aérea
destes aeroportos. Esta vantagem comparativa tem de virar competitiva por duas
ações: ferrovia e rodovia à partida de Lisboa e rodovia à partida de Faro (aqui
esqueçam a ferrovia).
Esta vantagem
competitiva na acessibilidade só se traduz em criação de riqueza se Beja
iniciar um baby system (no sentido em que começa pequeno e vai
crescendo) de atração de pessoas, atividades e empresas. A experiência da Hi
Fly potenciada pela promoção da ANA, uma parceira importante e não inimiga por
cegueira ideológica) ajuda o baby a crescer. Mas é preciso que a Câmara tome as
medidas para as pessoas poderem vir para Beja – alojamento e serviços. A Câmara
deve ser a dinamizadora deste projeto.
Neste
contexto e com este argumento, as forças vivas de Beja têm de concentrar
esforços na eletrificação da via férrea (mais Intercidades) e rodovia, ambas um
escândalo inaceitável. O governo vai ter de ceder.
O aeroporto?
Esqueçam de vez o terminal em espaço rural. Concentrem toda a energia na reconversão
da Base Aérea em plataforma de empresas e serviços que necessitem de uma boa
pista.
Fecho com nota
pessoal. Para este projeto, contém comigo para apoiar, manifestar ou atirar
tomates aos governantes que venham a Beja sem ser para formalizar a rodovia e
ferrovia.
A Bem da Nação
Lisboa 26 de
Junho de 2019
Sérgio Palma
Brito
*Expresso de 22 de Junho de 2019