Porque Diabo a Condor não voa para Faro desde 2008?

De entre notícias sobre rotas aéreas, retemos a da Condor acrescentar duas rotas às que já opera para as Canárias. A notícia levanta pergunta imediata: porque Diabo a Condor não voa para Faro desde 2008? A resposta mostra que, entre 1995 e 2014, o número de hóspedes residentes na Alemanha no alojamento classificado passa de 453k a 272k (menos 40%). Esta descida é inaceitável em si e ainda mais porque o mercado emissor da Alemanha é o mais importante da Europa.

*A Condor no Thomas Cook Group plc
A Condor é uma companhia charter, fundada em 1956 por investidores institucionais, com destaque para a Lufthansa que em 1959/1960 adquire 100% do capital. Desde há muitos anos, a Condor é associada ao operador Neckerman, o segundo do mercado da Alemanha depois da TUI.

Hoje, a Condor é uma companhia aérea de capital detido a 100% pelo Thomas Cook Group plc e no qual ocupa lugar de destaque. Em 2014

-tem uma frota de 40 aviões dos quais 12 Boeing 767/300,

-transporta 7,2 milhões de passageiros, menos cerca de 4 milhões do que a TAP mas com RPK de cerca de 90% do da TAP, o que denota um grande peso das rotas intercontinentais.

*A Condor no Aeroporto de Faro
É como companhia do operador Neckerman que a Condor opera para Faro até 2007. O gráfico 1 ilustra a evolução do número de passageiros transportados para Faro entre 1995 e 2007 – não dispomos dos números anteriores a 1995. Neste gráfico dois passageiros representam um turista – em 2002, a Condor traz ao Algarve 70.000 turistas do mercado emissor da Alemanha.

Gráfico 1 – Passageiros da Condor no aeroporto de Faro
(milhares)



Fonte: Elaboração própria com base em informação da ANA

Da história da Condor e destes números retemos:

-uma evolução positiva entre 1995/2002, seguida de queda brusca até à irrelevância dos números de 2007,

-a Condor não voar para o Algarve desde 2008.

*Notas sobre a Condor no aeroporto de Faro
Ao longo destes anos e em proporção variável, a Condor transporta passageiros da Neckerman, de outros operadores e de seat only. Estes últimos ganham com a liberalização do transporte aéreo na Europa em 1993.

A queda de passageiros a partir de 2002 é indissociável da incapacidade da hotelaria (alojamento classificado) do Algarve atrair turistas do mercado da Alemanha (gráfico 2):

-o número de hóspedes residentes na Alemanha na hotelaria do Algarve cai de maneira sustentada desde 1995 para mínimo de 213k em 2009 e ligeira recuperação para 272K em 2014.

Gráfico 2 – Hóspedes residentes na Alemanha na hotelaria do Algarve
(milhares)



Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

A queda dos operadores de package holiday do emissor da Alemanha para o Algarve

-não é susceptível de ser explicada pela “concorrência das low cost”,

-a partir de 2002 parece ter a ver com decisão comercial no seio da Neckermann,

A suspensão da operação para Faro coincide com a formação do Thomas Cook Group plc em 2007 e integra a queda da operação do grupo para o Algarve.


*Oferta do Algarve, mercado da Alemanha, a Condor e o canário
Nas minas de carvão havia um canário cuja vivacidade ou desfalecimento era indicador da ausência/presença de monóxido de carbono que seria fatal para os mineiros. No Algarve da actualidade, a Condor é como um canário cujo regresso indicará que a hotelaria do Algarve é capaz de atrair turistas residentes na Alemanha:

-se a hotelaria for competitiva, a Condor volta a voar para Faro.

Desde o início da década de 2000 (vai para quinze anos) é evidente que posicionar a oferta do Algarve no mercado emissor da Alemanha exige fazer algo diferente de ‘mais do mesmo’. 

Depois da crise de 2008/2009 este ‘algo diferente’ tem de ser ‘ainda mais diferente’.

A responsabilidade em inovar e recuperar posição no mercado da Alemanha é das empresas privadas, por si ou em parceria na ATA e concertação com Turismo de Portugal e ANA. 

O instrumento deste novo posicionamento é um plano de marketing & vendas a três ou mais anos, com objectivos realistas,
programação da oferta ligada à distribuição e promoção de vendas, e responsabilização dos parceiros envolvidos.


A Bem da Nação

Lisboa 23 de Outubro de 2015  


Sérgio Palma Brito

Portugal destaca-se nos rankings do mercado de turismo do Reino Unido

O turismo é um dos mercados mais competitivos da economia mundial e, de entre os países que o integram, o mercado emissor do Reino Unido é dos que mais contribui para essa competitividade.

Antes e publicarmos uma síntese deste mercado em 2014, avançamos com os rankings de deslocações (turistas), dormidas e gastos. 
Portugal ganha lugar de destaque:

-é sexto no ranking das deslocações e quarto nos rankings de dormidas e gastos.

Para compreender melhor o que isto representa é preciso ter em conta que

-os destinos Espanha e França jogam num campeonato à parte,

-fora destes destinos, em deslocações Portugal só é ultrapassado pela Republica da Irlanda (outro caso à parte) e dois grandes destinos: Itália e Alemanha,

-em dormidas e gastos, Portugal só é ultrapassado pela Itália e ultrapassa Grécia, Turquia e por aí adiante.

Duas notas finais:

-a seriedade da informação estatística do International Passenger Survey é reconhecida internacionalmente,

-estes são números do País, que devemos reconhecer como tal e não devem ser ligados com performances empresariais do género “estes números não chegam às empresas”.

Para informação mais detalhada ver a série de posts publicada em 2014:

-Portugal no Mercado de Turismo do Reino Unido – Introdução


E agora os rankings

Gráfico 1 – Portugal no mercado do Reino Unido: deslocações

(milhares)



Fonte: Elaboração própria com base em Office of National Statistics, International Passenge Survey


Gráfico 2 – Portugal no mercado do Reino Unido: dormidas

(milhares)



Fonte: Elaboração própria com base em Office of National Statistics, International Passenge Survey


Gráfico 3 – Portugal no mercado do Reino Unido: gastos

(milhares de libras)



Fonte: Elaboração própria com base em Office of National Statistics, International Passenge Survey


A Bem da Nação

Lisboa 3 de Outubro de 2015

Sérgio Palma Brito



A TUI Travel da actualidade e o que exige ao turismo do Algarve


Depois de para aí trinta anos de consolidação (por crescimento orgânico, fusões e aquisições) e integração vertical (companhia aérea, distribuição em High Street e online, alojamento e cruzeiros), a TUI Travel é extraordinário caso de sucesso. O Thomas Cook Group, o outro operador turístico que a acompanha na consolidação atravessa problemas financeiros e internos que põem o seu sucesso em causa.

Fiona Downie substitui o histórico Duarte Correia na direcção da TUI Portugal e Cabo Verde e faz declarações que exigem atenção.  O que Fiona Downie diz sobre estratégia parece um discurso da vulgata corrente sobre turismo, mas não é. 

Na ocorrência é a estratégia que faz o sucesso da TUI, talvez o único operador turístico de package holiday que em 2007, quando se consolida, é capaz de reconhecer a fraqueza estratégica em que assenta e de a ela reagir (brevemente neste blogue).

Esta é a estratégia que desafia o Algarve a responder à

-“necessidade de desenvolver experiências únicas em destinos que se pretendem modernos, e nos quais o controlo de custos, as relações com os fornecedores e o empenhamento e envolvimento das equipas são pedras basilares”.

Parece mais um exemplo do frequente discurso fácil sobre turismo, mas não é. É a realidade do mercado a entrar-nos pela casa dentro.

A ‘nova’ companhia aérea da TUI integra todas as companhias aéreas dos operadores consolidados (desde a Britannia da Thomson, à Air2000 da First Choice, passando pela Hapag-Lloyd Flug da ex-TUI Alemanha e acabando na simpática Arke da Holanda do senhor Arke ou a Fritidsresor da Suécia).

Esta companhia aérea concorre com “low-costs como a easyJet, Ryanair ou Norwegian”. A Fiona não diz que:

-quando fizer business sense, os clientes do package holiday dos operadores TUI voam numa dessas ou outras companhias – o que põe em causa a dicotomia ‘low cost contra charter’ de uma das guerras estéreis sobre o turismo do Algarve,

-a companhia aérea tem a 7ª maior frota na Europa, com 13 Dreamlineers e planos para 17 em 2019.

Mais informação em posts já publicados e no documento em curo de elaboração sobre a acessibilidade aérea competitiva a Portugal.

A Bem da Nação

Lisboa 3 de Outubro de 2015

Sérgio Palma Brito


Ver mais em

http://www.ambitur.pt/tui-preve-crescer-5-ate-2020-com-produtos-unicos-e-diferenciadores/#sthash.yLiIQRND.dpuf