O país
assiste atónito e perplexo aos dez dias de greve dos pilotos decidida pelo SPAC,
para que seja oferecido a pilotos 20% no capital da TAP privatizada – há
outros, mas este é o ponto em que as negociações rompem.
A origem
desta reivindicação remonta a 10 de Junho de 1999, quando os presidentes da TAP
e do Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil subscrevem um “texto” (assim o
designa a PGR) durante as negociações do Acordo de Empresa. Nele admitem que a
participação dos pilotos no capital da empresa privatizada seja entre 10% e 20%,
com direito a administrador executivo. Os signatários não ignoram o decreto-lei
de 1998 que prevê a venda, e não oferta, de 10% do capital da empresa a todos os
trabalhadores. Apesar da inevitável assessoria jurídica, violam a lei ao exigir
percentagem superior a 10%, só para pilotos e a título gracioso. Sem divulgação
dos documentos, ignoramos se o ministro João Cravinho conhecia o texto e não
matou a fantasia à nascença.
Em 2012 os processos de privatização da ANA e TAP não
respeitam regras de rigor, transparência e defesa do interesse publico. No
início de Abril, SPAC e João Cravinho dirimem argumentos na imprensa sobre a
validade do texto. É neste quadro que o governo comete erro político grave
quando, ainda em Abril, remete a decisão sobre os 20% dos pilotos para o futuro
accionista privado.
A 2 de Agosto é aprovado o decreto-lei sobre a privatização
da TAP. O SPAC é provocante ao
informar que “os pilotos não têm necessidade de concorrer a esta oferta pública
de venda, uma vez que, como se sabe os pilotos da TAP aceitaram uma solução
negociada”. Nesta fase, o governo já conhece o parecer da PGR e a determinação
do SPAC, mas insiste no erro de não matar politicamente o assunto.
O Presidente
da Republica demora a promulgar o decreto-lei em 18 de Setembro, mas também ignora
o envenenar de um problema que só não perturba a privatização da TAP porque
esta falha em final de Dezembro.
Importa
destacar algumas das conclusões do Parecer da Procuradoria:
-a
ampliação da percentagem de acções reservadas aos trabalhadores a mais de 10% ou
o estabelecimento de quota reservada a categoria especial de trabalhadores por
acto infralegal seria inconstitucional e ilegal;
-os subscritores do texto não podiam
ter qualquer expectativa legítima de que na reprivatização da TAP as regras
sobre a participação dos trabalhadores em geral, e dos pilotos em particular,
fossem estabelecidas fora da lei;
-o texto não é susceptível de produzir
efeitos perante terceiros além dos subscritores;
-mesmo na hipótese de se considerar
que teria existido culpa in contrahendo
por parte da TAP na formação do AE de 1999, por ter gerado uma suposta
expectativa ao SPAC, […] a responsabilidade adveniente teria prescrito
decorridos 3 anos sobre a entrada em vigo do Decreto-Lei n.º 34/2000, de 14 de
Março.”;
-por fim, “O texto de Junho de 1999 não
constitui fonte de obrigações jurídicas para o Estado no processo de
reprivatização da TAP.”.
Os pilotos sabem
que a TAP é diferente da CP, Metro ou Carris e que a greve de dez dias conduz a
uma de duas situações: ou uma privatização ainda mais desvalorizada em que só o
accionista privado ganha ou a recapitalização pelo estado, precedida de
restruturação ‘negociada’ com a Comissão e de efeitos imprevisíveis sobre a
empresa.
Os pilotos
sabem que nunca obterão 20% do capital da TAP. Os pilotos são profissionais com
atributos e treino para reagir com objectividade em situações extremas. Como
explicar então que o SPAC alimente uma obstinação quase ao nível da de criança
birrenta filha de pais laxistas?
Por outras
palavras, o que faz
correr o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil?
A Bem da
Nação
Lisboa 2 de
Maio de 2015
Sérgio
Palma Brito
Nota 1 – O
Parecer da PGR é votado a 19 de Abril de 2012, é homologado a 25 de Julho de
2012 e publicado no Diário da República de 30 de Abril de 2013 (aqui). Não compreendemos a publicação do
Parecer nove meses após a homologação, sobretudo perante a constante provocação
do SPAC.
Nota 2 –
Não referimos as acusações do SPAC e de José Manuel Fernandes a João Cravinho
porque são guerrilha menor face ao contexto legal e politico dos 20% de capital
para os pilotos.
Nota 3 – Este
post é atípico por ser opinativo e não incluir a base analítica que sustenta a
opinião. Esta virá a seu tempo?
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