Não há falta de água no Algarve, apenas falta coragem e determinação

 

*seca e falta de água são conceitos diferentes a não confundir

No Algarve não há falta de água.

Há períodos de chuvas abundantes a gerar inundações e a alternar com períodos de chuvas insuficientes a originar secas.

Nos anos de chuva, chove mais na Serra do que no Litoral e mais nos semestres húmidos do que nos secos.

Em termos médios a precipitação varia

-entre a Serra e o Baixo Algarve (1 277 e 406mm), com 653mm de “valor médio ponderado para todo o Algarve”, 

-entre os semestres húmido e seco (80% e 20%).

[CCDRA – Anexo J, 2003, Revisão do PROTAL]

*Geomorfologia agrava desequilíbrios naturais e justificam gestão

O declive do trecho montanhoso das Ribeiras do Algarve é, em geral, acentuado e formado por um substrato rochoso pouco permeável, pelo que a maior parte dos cursos de água “possui um regime torrencial com caudais nulos ou muito reduzidos durante uma parte do ano”.

Em consequência desta realidade, nas palavras do saudoso Manuel Gomes Guerreiro,

-“O problema de armazenamento de água na serra algarvia e a sua distribuição pelo litoral semiárido, embora constitua um empreendimento de êxito económico e social indiscutível, vem sendo adiado desde o tempo dos árabes”.

[Diário de Notícias de 1984.09.23]

*Conhecer a pluviosidade da Região

A água depende da pluviosidade pelo que esta deve ser medida e conhecida, e também

-evolução do indicador mais importante da Vida na Região é ignorada,

-as alterações climáticas são invocadas a propósito e despropósito.

Qual a instituição regional que acompanha a evolução da pluviosidade?

Que espera esta instituição

-para a divulgar?

-para recuperar dados históricos (século XX) que devem estar algures?

Sem estes dados, os de anos recentes não são suficientes para avaliar o efeito das alterações climáticas.

E as alterações climáticas são utilizadas a torto e a direito para justificr o quer que seja.

*Opinar é facílimo, conhecer exige um mínimo de esforço

A opinião é legitima e livre.

Falar sobre a água na Região exige conhecimento, fruto de algum trabalho.

Sugiro que o aprendiz opinador opinante comece pela magnifica síntese que o eng.º Pedro Cunha Serra liderou sobre SOLUÇÕES PARA O REFORÇO DA OFERTA DE ÁGUA NA REGIÃO ALGARVIA, para a Universidade do Algarve, em 2020.09.16.

aqui

Esta síntese devia ser tema obrigatório no ensino secundário.

*Procura de água para variados fins e duas ações necessárias

Ao todo terão sido utilizados cerca de 237 hm3 de água na região assim distribuídos (gráfico 1).




Há três observações:

-o golf representa cerca de 6,4% do total e não justifica que a sanha justiceira nele concentre a atenção,

-a agricultura com 56,7% é o maior consumo, repartido por inúmeras explorações,

-o consumo urbano representa 33,9%.

Para além de economia em todas as atividades, golfe incluído, há duas grandes ações de ampla mobilização geral a desenvolver:

-as explorações agrícolas são em grande número e a maioria de reduzidas dimensão, o que dificulta ou impossibilita recurso a técnicas sofisticadas de poupança de água que verão ser obrigatórias para as de grande dimensão,

-as pessoas, instituições e empresas devem ser mobilizadas em permanência e recusar o péssimo hábito de só ligar ao assunto quando de secas e esquecer mal chove.

*Soluções que irão ser desenvolvidas

Das soluções analisadas pelo eng.º Cunha Serra, destacamos três.

1.Captação no Guadiana a montante de Pomarão e adução até à albufeira de Odeleite

-não aumenta a capacidade de armazenamento,

-implica negociação com os vizinhos espanhóis, que vão querer mais água,

-fica dependente dos desenvolvimentos no Alqueva, em expansão acelerada.

A esquecer.

2.Barragem da Foupana (afluente da ribeira de Odeleite), já prevista pela Direção Geral dos Serviços Hidráulicos em 1970 (1970, não é erro).

Poderiam ser explorados algo assim como 40 hm3/ano com aumento da capacidade de armazenamento.

Qualquer barragem apanha com tiro de barragem pelo ambientalismo radical de facha científica, que assusta qualquer decisor político sem coragem.

Não há que ter medo. São um tigre de papel.

Esta barragem deve ter prioridade total.

Só não é incluída no PRR por cobardia política e, é certo, por uma questão de prazo, por não ser de execução imediata.

3.Dessalinização é a solução querida, adorada diria, pelo pensamento dominante e pelos que têm a responsabilidade de ‘executar’ os recursos do PRR.

É fácil de encomendar e garante para aí €50 ou €60 milhões do PRR ‘executados’.

Tem o inconveniente de ser contra o interesse da Região - os mais de €40 milhões podem ser utilizados na requalificação da oferta publica de turismo.

Os contribuintes da Região devem estar muito atentos ao impacte ambiental, ao preço da água e à amortização do que agora é oferecido pelo PRR.

Apesar de ser uma guerra quase perdida, é guerra a levar para a frente.

*Balanço Procura/Oferta de água na atualidade e em 2050

Duas observações sobre o Balanço Procura/Oferta de água (gráfico 2):

-na atualidade o é positivo em 30,5hm3,

-em 2050, já considerando um cenário de alterações climáticas, será negativo em -58hm3.

Os 40 Hm3 da albufeira da Foupana quase resolvem o problema.




*Conclusão – em 2050 só há deficit hídrico se os algarvios deixarem

Por outras palavras,

-com duas campanhas serias de poupança de água mais a albufeira da Foupana, o Algarve não terá falta de água nem de dessalinização,

-só falta fazer, à atenção de CCDRA, Associação de Municípios do Algarve, ERTA e Universidade do Algarve.

 




Lisboa 31 de maio de 2023

Sérgio Palma Brito

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