Mário Candeias trabalha agora no estrangeiro, ganhou a
liberdade da palavra e está de volta. Nestes tempos de euforia e de sucessos
que se sucedem sucessivamente são precisas vozes independentes que nos tragam à
terra. Comento a opinião de Mário Candeias no Expresso* e recorro ao mesmo
estilo telegráfico que ele utiliza.
O autor não destrinça o que na economia do turismo é indústria
da Hotelaria do que é o conceito abrangente que integra a imobiliária turística
e o alojamento gratuito por familiares e amigos. Nisto não se diferencia do mainstream.
Que diabo, ignora Quita do Lago, Vale do Lobo & Arredores, mais Vilamoura e
as zonas mais populares? E o Alojamento Local?
Cito: “Esta indústria terá começado no dia em que ele [Adolfo
Mesquita Nunes] tomou posse, aparentemente.”. Admiro, respeito e gosto de AMN
desde o voto no Parlamento sobre casamento de pessoas do mesmo sexo e desde o
dia em que um puto com ar reguila é SET pelo CDS e defende ideias que eu
defendo desde 1977. Dito isto, a indústria, seja ela a da Hotelaria ou a do ‘turismo
abrangente’ não começa com AMN.
Cito: “A atual SET viu o Plano de Turismo, que erradamente
rotulou de ambicioso, ser vulgarizado pela performance efetiva da indústria.”.
A atual SET faz surf na onda do turismo, faz bem e não persegue pessoas. Não
lhe peço mais, gosto muito do estilo, e com este ministro e esta geringonça, já
muito longe foi – veja-se o Alojamento Local. Do Mário esperava palavra
demolidora do próprio conceito de Plano (ou Estratégia) Nacional de Turismo,
que urge dinamitar.
Cito: “O Turismo de Portugal aparenta ser um bureau
meramente administrativo, sem capacidade de gerar uma única ideia disruptiva e
muito menos de instigar a indústria a persegui-la. Desinspirador.”. Com as
exceções que confirmam a regra, concordo mas com o atual ministro e geringonça esta
cena, que dura há tempo demais, vai continuar. Há anos ainda havia um
departamento de estruturação do ‘produto’, seja lá o que isto for e … o surf é
o que é sem esse departamento.
Partilharia a crítica às Escolas de Turismo por na verdade
pouco mais serem do que escolas técnicas, umas mais Superiores do que outras e muitas
nem isso. O turismo não justifica uma Nova Tourism School, mas sim que as
business schools tenham módulo facultativo sobre turismo.
Cito, concordo e bato palmas: “Os fundos de restruturação de
ativos hoteleiros não acrescentaram valor ao posicionamento do país ou dos
locais onde operam.”. Uma ocasião falhada para a via da consolidação da indústria
da Hotelaria.
Cito: “Não houve consolidação dos players hoteleiros ou de
viagens. A indústria continua demasiado fragmentada e pouco sinérgica. […].Temos
receio de jogar o jogo dos grandes.”. Feita uma Análise Estratégica da indústria
da Hotelaria, a politica pública deve apoiar a consolidação, libertar as
barreiras à entrada e fomentar a saída de estabelecimentos obsoletos de empresários
incapazes de os reinventar. O manter vivos estes estabelecimentos e proibir
novos implica o que MC diz a seguir: “O resultado é termos produtos obsoletos
em zonas prime ou zonas prime inexploradas e de baixo retorno.”. Isto e muito
mais por a inovação ser de “Difícil de digerir para ambientalistas e para o
Portugal turístico de Miguel Sousa Tavares.”.
Por fim cito: “O Banco de Portugal e o Instituto Nacional de
Estatística medem a indústria de modo básico, assente em dois ou três
indicadores mal apresentados e pouco consequentes. Seria assertivo saber qual a
rendibilidade das receitas do turismo, por região e por segmento.”. Caro Mário
Candeias, luto por isto desde 1977 quando regressei do exilio. Sabe porque
diabo isto não existe? Por não haver procura de informação por governo,
administração, universidade, opinião pública e também, e para nosso desgosto, da
iniciativa privada. Quando não há procura, não há oferta
Parabéns pela opinião e continue. Abraço!
A Bem da Nação
Lisboa 4 de Agosto de 2018
Sérgio Palma Brito
*Turismo Quando o bom é inimigo do ótimo, Expresso 4 de
Agosto de 2018, em