População residente e turismo em Lisboa 1960/2011

Entre 1960/2011, Lisboa perde 254 mil habitantes (31,7%), o que parece muito, sobretudo quando a população de Barcelona cresce 45 mil habitantes (2,9%). Acontece que

-no mesmo período, o Centro Histórico perde 193 mil habitantes (63,5%), a Zona crítica de despovoamento perde 120 mil habitantes (73,2%) e a freguesia do Castelo perde 1.535 habitantes (81.2%).

-na realidade, só nos vinte anos entre 1981/2001, Lisboa perde 243 mil habitantes, porque entre 1961/81 a população ganha 6 mil habitantes.

Vamos esmiuçar três pontos:

-Lisboa perde de população na diversidade de evoluções de diferentes freguesias antigas,

-padrão de perda de população no Centro Histórico e Zona crítica diverge do seguido pela população de Lisboa,

-População de Lisboa estimada pelo INE e comparada com a do Algarve.


Este post é apoiado pelo documento “Informação útil a quem opina sobre turismo e Lisboa” (aqui). Recomendamos leitura dos Princípios Gerais do blogue (http://sergiopalmabrito.blogspot.pt/p/apresentacao.html).


1.Lisboa – perda de população na diversidade de evoluções

*População de Lisboa entre 1960/2011
Na evolução da população de Lisboa entre 1960/2011 (gráfico 1), há três períodos. Entre 1960/1981 a população de Lisboa aumenta ligeiramente, com perda de 33k residentes na década de sessenta (saldo de emigração/imigração) e ganho de 39k na de setenta (regresso dos portugueses das colónias?),

Nos vinte anos entre 1981/2001 Lisboa perde 243k habitantes, na realidade a perda que marca o meio século em apreço. Nos dez anos seguintes (2001/11) Lisboa apenas perde apenas 17k habitantes.

Gráfico 1 – População residente em Lisboa entre 1960/2011 (milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

*Entre 1960/2011 – ganhos e perdas de população
O gráfico 2 ilustra a variação entre 1960/2011 da população das freguesias de Lisboa que mais ganham ou perdem população. Um facto salta à vista:

-freguesias da Zona crítica de despovoamento perdem população e freguesias da periferia do concelho ganham população.

Gráfico 2 – Variação da população de freguesias de Lisboa 1960/2011


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

*Freguesias que ganham e perdem população
O gráfico 3 ilustra a evolução da variação decenal da população de Lisboa (a azul), das freguesias que ganham população (grenat) e das que perdem população (amarelo torrado).

Gráfico 3 – Evolução decenal da população Lisboa entre 1960/11 (milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

Deste gráfico destacamos,

-a década de 1960, com freguesias a perderem 147 mil habitantes e outras a ganhar 105 mil – serão lisboetas a emigrar para o estrangeiro e provincianos a migrar para a capital?

-na evolução na década de 1970 a explicação da divegência pode residir na instalação dos portugueses que fogem das colónias,

-na evolução das três décadas seguintes domina a perda de população, a ritmo naturalmente decrescente, no que parece ser “profundo processo de suburbanização endógeno das últimas décadas” de que fala Paulo Trigo Pereira (aqui), mas certamente não por efeito do turismo.

O leitor deve preocupar-se com uma explicação séria da evolução que o gráfico ilustra. As nossas sugestões são o que são, talvez mais sólidas do que muitos dos palpites que ouve e lê, mas ainda assim sugestões.  

*Freguesias na variação entre 1981/2001 e 2001/11
Consideramos (gráfico 4) a evolução da população nas freguesias em que a população mais diminui durante os vinte anos de queda brusca (1981/2001) e mostramos o que acontece nos dez anos de quase estabilização (2001/11).

Gráfico 4 – Freguesias na variação entre 1981/01 e 2001/11 (habitantes)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

Do destacamos:

-quase todas as freguesias que mais população perderam nos vinte anos anteriores estabilizam a perda de população entre 2001/11, com excepção de Santo Condestável, Ajuda, S. João, Benfica e S. João de Brito que perdem mais de 1.000k habitantes cada uma,

-Sta. Maria dos Olivais que passa de uma perda de -15.531k habitantes a um ganho de 4.626 habitantes,

-duas freguesias com evolução positiva no século XXI e forte perda nos vinte anos antes: S. Jorge de Arroios e S. Sebastião da Pedreira que são freguesias contíguas, conhecidas como área de residência de imigrantes.


2.Perda de população: Centro Histórico e Zona crítica divergem

O gráfico 5 é sobretudo informativo, mas dá uma primeira imagem da diferença entre o padrão de evolução da população da cidade e o da evolução da população no Centro Histórico e Zona crítica:

-perda de população no Centro Histórico e Zona crítica que é muito mais importante do que na Cidade,

-diferença acentuada na variação decenal dos anos de 1960 e 1970.

Gráfico 5 – População da Cidade, Centro Histórico e Zona Crítica (habitantes)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

A variação da população em índice (gráfico 6) é mais elucidativa porque atenua o efeito da diferença de escala no gráfico em quantidade. Assim,

-nas décadas de 1960 e 1970, Lisboa ganha um ponto base, mas o Centro Histórico perde 28 e a Zona crítica 36 – é fundamental conhecer as dinâmicas que explicam esta diferença,

-entre 1981/2001, Lisboa perde 33 pontos base, mas o Centro Histórico e Zona crítica, apesar da perda dos vinte a anos anteriores, perdem 31 e e 32 pontos base, respectivamente,

-na década de 2000/11, a população de Lisboa perde dois pontos base, mas as do Centro Histórico e Zona crítica perdem cinco.

Gráfico 6 – População da Cidade, Centro Histórico e Zona Crítica (1960=100)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

O gráfico 7 compara, em quantidade, a variação decenal da população dos três territórios em causa e reforça as observações anteriores:

-a grande diferença no padrão de evolução da população residente da Cidade por um lado, e residente no Centro Histórico e Zona crítica por outro, ocorre durante as décadas de sessenta.

Gráfico 7 – Variação decenal população da Cidade, Centro Histórico e Zona Crítica (milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação


3.População de Lisboa: INE e Algarve

*Evolução anual população de Lisboa e modelos estatísticos do INE
A quantificação pelo INE da evolução anual da população de Lisboa segundo os Anuários da Região de Lisboa (gráfico 8) levanta questões:

-a queda de população entre 2005/10 é questionada pelo Recenseamento de 2011 e parece resultar de modelo estatístico desligado da realidade,

-a evolução entre 2012/15 parece resultar da aplicação do mesmo modelo e constatamos que, com a excepção de 2013, os números anuais não corrigidos coincidem com os corrigidos … enquanto esperam pelo Recenseamento de 2021 que os corrigirá.

Gráfico 2.8 – População de Lisboa em valores anuais não corrigidos (milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em INE - Anuário Estatístico da Região de Lisboa

O gráfico 9 com valores anuais revistos da população de Lisboa com base nos recenseamentos de 1991, 2001 e 2011 e correcção dos resultados do modelo estatístico com o Recenseamento de 2011.

No quadro do presente documento, a evolução da população de Lisboa pode interessar para termos uma noção da influência do crescimento da economia do turismo. Em nossa opinião este exercício não faz grande sentido por

-a escala da população de Lisboa não permitir identificar a influência do turismo no crescimento da população da Cidade.

-inquérito junto de quem trabalha em actividades turísticas poderá dar uma ideia da influência directa do turismo na população da Cidade – este esforço parece possível e susceptível de dar informação útil.

Gráfico 9 – População de Lisboa valores anuais corrigidos (milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em INE

*População de Lisboa e turismo – o precedente do Algarve
A comparação da evolução da população residente no Algarve e em Lisboa (gráfico 10) mostra que

-no Algarve o desenvolvimento do turismo inverte um processo de despovoamento que teria sido fatal para a Região,

-em Lisboa, o turismo tem menor escala e muito menor componente de promoção imobiliária, mas retém e atrai população – a questão é saber quanta e onde se aloja.

Gráfico 10 – População residente em Lisboa e Algarve (1950=100)


Fonte: Elaboração própria com base em INE, Recenseamentos da Habitação

Sobre o Algarve, citamos Território e turismo no Algarve:

-“Se esta região estivesse unicamente dependente da sua dinâmica natural, tenderia a perder progressivamente população, como consequência do acentuado declínio da sua fecundidade. Até ao ano 2000 perderia cerca de 90.000 habitantes”*.

Não perdeu 90.000 habitantes no que passaria a ser um Nordeste transmontano com praias. Ganhou 183.000, para atingir 451.000 habitantes em 2011.


A Bem da Nação

Lisboa 23 de Fevereiro de 2017

Sérgio Palma Brito

*J. Manuel Nazareth, Unidade e Diversidade da Demografia Portuguesa no Final do Século XX, Portugal: os próximos 20 anos, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1988.


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