Onde pode o diabo encontrar 33.000 unidades de Alojamento Local em Lisboa?

O discurso bipolar sobre o sucesso do turismo em Lisboa ou o desastre a que conduz entrou em impasse de onde não sairá. Urgente e pertinente é o debate, com base analítica sólida e espirito aberto, sobre as exigências do sucesso do turismo em Lisboa e arredores e o seu contributo para a economia, sociedade e cultura. É neste debate que queremos participar.

*Factores que ofuscam debate das exigências do sucesso do turismo em Lisboa
O debate, com bases analíticas sólidas, sobre as exigências do sucesso do turismo está a ser ofuscado e dificultado pela opinião mainstream, em discurso light que ignora ou deforma a realidade na exploração de temas populistas do tipo ‘excesso de turistas e de hotéis’, ‘plastificação da cidade e perda de identidade’ & similares.

Este debate está também a ser enviesado pela defesa de interesses corporativos da parte mais conservadora da indústria da hotelaria, que vê na concorrência do alojamento local a fonte maior dos seus problemas. A hotelaria é decisiva para o sucesso do turismo em Lisboa, mas há alojamento turístico para além da hotelaria e a sua regulação deve visar a criação de valo económico, social e cultural e não proteger esses interesses. Voltaremos ao assunto.

*Os 33.000 “homes and apartments” da Airbnb em Lisboa
Quando a Bloomberg ecoa “33.000 homes and apartments” da Airbnb em Lisboa, muita gente acredita piamente e daí parte para as duas ‘tartes à la crème” que denunciamos: i) discurso mainstream sem base analítica e enviesado, ii) excesso de oferta e concorrência maligna à hotelaria. Isto desfoca-nos do que é essencial.

O gráfico ilustra a evolução do número de Alojamentos Familiares (INE, Recenseamentos da Habitação) de utilização “residência permanente e secundária” e “vagos”, numa amostra de dezanove freguesias ‘antigas’ da urbe histórica de Lisboa. Assim:

-em 2011 e antes do arranque do crescimento do Alojamento Local em Lisboa, nestas dezanove freguesias, temos 3.375 Alojamentos Familiares de residência secundária e 7.524 vagos, num total de 10.899 unidades.

Gráfico 1 – Utilização de alojamentos familiares em 19 freguesias da urbe histórica
(unidades)

Fonte: Elaboração própria, com base em INE, Recenseamentos da Habitação

Em 2011, há 323.076 Alojamentos Familiares no concelho de Lisboa (Recenseamento da Habitação). O gráfico 2 ilustra a sua repartição entre Residência Principal e Secundária e Vagos. Estas duas utilizações totalizam 84.618 alojamentos.

Em teoria, há lugar para os 33.000 da Airbnb. Na realidade não é assim. Como ilustraremos em futuro post, a maior parte fica longe da urbe histórica, onde se concentra o alojamento local. 

Por exemplo, não parece haver muito alojamento local na freguesia de S. Domingos de Benfica, com os seus 5.000 apartamentos de Residência Secundária e Vagos.

Gráfico 2 – Repartição dos alojamentos familiares de Lisboa por utilização (2011)
(Unidades)

Fonte: Elaboração própria, com base em INE, Recenseamentos da Habitação

Chegado aqui e com a maior abertura de espírito (podemos estar errados), pedimos resposta a uma pergunta:

-onde diabo na cidade de Lisboa pode haver 33.000 unidades de Alojamento Local na Airbnb?


A Bem da Nação

Lisboa 8 de Junho de 2016

Sérgio Palma Brito


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