David Boderman (1942/2024) e a Ryanair

 

Para muitos, a Ryanair é obra de Michael O’Leary e têm razão. Mas a Ryanair não existiria como existe sem o financeiro que a apoia em momento difícil e de que é Presidente durante 24 anos.

É um financeiro especial para uma empresa especial.


O Financial Times lembra David Bonderman (1942-2024) como “private equity’s globetrotting rock star” e que “founded TPG in 1992 and within a few years had become one of the private equity industry’s seminal figures”.

É um financeiro fora do comum. Tem vasta cultura e alguma atividade académica, recupera peças importantes do património e é diferente.

Segue estudos russos na University of Washington, aprende árabe e estuda islamismo na American University in Cairo.

Mais, “After graduating from Harvard in 1966, Bonderman taught law at Tulane University in New Orleans and then joined the civil rights division at the US Department of Justice under President Lyndon Johnson.”.

Nas empresas que recupera não se fica pela finança e vai à substância do negócio. Financia disruptores como Uber, Airbnb e Spotify. E por aí adiante.

Michael O’Leary, CEO da Ryanair’s, reconhece:

-“We were all proud and very privileged to have met, worked with and known David Bonderman over a 24-year period. He was a visionary leader, a giant of the airline industry (and many other industries as well!) and none of Ryanair’s success would have been possible without his sage but prescient advice, his calm and visionary strategic thinking, and his willingness to wear dishevelled clothes and attend Rolling Stones concerts.”.

 


João Vieira Pereira erra clamorosamente sobre a TAP, mas vale a pena questionar

 

Do editorial do Expresso de 2024.12.12, citamos o texto em figura.

 


Deixemos Carlos Tavares entregue ao deleite patriótico e ocupemo-nos das declarações de JVP.

 

1.“Seria sempre melhor ter uma TAP independente”!

A sério?

JVP ignora que

-a competitividade das companhias aéreas da Europa passa pelo reforço dos três grandes grupos existentes, entalados entre as grandes empresas dos EUA e do Golfo no longo curso e as low cost no médio curso,

-a TAP independente não tem massa critica para sobreviver no ultra competitivo mercado do transporte aéreo da Europa.

2.”do que nas mãos de um gigante da aviação que, na primeira hipótese, transformará a empresa [TAP] numa low cost ou numa transportadora regional”!

A sério?

JVP ignora que

-a Iberia evitou a insolvência com a fusão com a British Airways no IAG, que a capitalizou após duro acordo com os sindicatos e posterior investimento que a rentabilizou,

-a IAG (da BA e Iberia) adquiriu a AerLinngus e a fez crescer para patamar nunca imaginado,

-o IAG tem a sua atividade low cost pura concentrada na Vueling.

JVP ignora ainda que o Grupo Lufthansa

-valorizou a própria Lufthansa, a Austrian Airlinee, a Swiss e a Brussels,

-tem a atividade low cost na Eurowings,

A Brussels tem estatuto ambíguo pela sua fraqueza congénita e um mercado nacional entalado entre Schipol e Charles de Gaule.

3.JVP tem do mundo empresarial a visão de um bloquista imberbe

-adquirir empresas para as destruir,

-quando a realidade é adquirir para criar valor e realizar sinergias.

4.TAP “forte, bem gerida e que tenha genuínas preocupações com o interesse nacional”

JVP ignora que

-a TAP ´uma transportadora aérea europeia sujeita a regulação europeia que limita o Auxilio de Estado e, no caso da TAP, o exclui durante os próximos oitos anos,

-o interesse nacional é protegido por uma TAP competitiva e consolidada num dos três grandes grupos.

5.O problema que temos é o diretor do nosso semanário de referência [ou que era de referência] ser capaz de afirmar estes dislates.

E saí ser importante o desmontar o que diz.

 

Post da serie Análise crítica de algumas ideias e palavras correntes

O hub Brasil da TAP em Lisboa é resiliente e nenhuma companhia o leva para Madrid ou Tombuctu

 

1.Esta é a parte de mercado de companhias aéreas nas rotas Europa Brasil, avaliada por número de lugares oferecidos.

Três notas

-o Número de Lugares parece favorecer a TAP, se comparado com outros indicadores,

-a TAP não é líder nas rotas de Rio e São Paulo, as mais rentáveis,

-ainda assim, é uma performance a assinalar.

 

Fonte – Elaboração própria com base em Nota da TAP 2024.10.30.

2.Importância e resiliência do hub Brasil da TAP

O gráfico permite termos uma ideia da importância da TAP para cada um os grupos, em particular para o Lufthansa Group, que tem a menor parte do mercado

Europa/Brasil.

O tráfego da TAP assenta em ter sido escolhida pelo Governo português para operar as rotas Brasil a partir de Lisboa, segundo o Acordo Bilateral Portugal Brasil em vigor.

Este Acordo permite que os governos dos dois países indiquem duas companhias aéreas que podem voar para os aeroportos do outro, isto é três em Portugal e inúmeros no Brasil.

Deve ser o Acordo Bilateral mais desequilibrado no planeta Terra e só compreensível se formos à sua génese. Ver o meu livro TAP que futuro – como chegámos aqui?! (Colibri 2020, pp.108-117).

A crescente comunidade brasileira em Portugal gera uma procura para a rota ponto a ponto que reforça o tráfego de transferência e não está ao alcance de outra cidade da Europa.

Não há frase mais errada do que dizer “a Iberia leva o hub da TAP para Madrid”!

Enquanto não houver um acordo de Céu Aberto entre a União Europeia e o Brasil, mais nenhuma companhia aérea europeia pode operar para todos os aeroportos do Brasil como só a TAP pode.

3.E o hub com a América do Norte?

Entre a União Europeia e os EUA há uma política de Céu Aberto, mas

-no caso do Lufthansa Group, as rotas dos EUA para Lisboa não canibalizam o tráfego para Francoforte ou Munique,

-o mesmo não se pode dizer do Grupo AF/KLM ou do IAG, apesar da canibalização não ser total.

4.Ainda o Lufthansa Group

Em 2022.01.27 publicámos o post “Por que razão faz sentido o Grupo Lufthansa adquirir a TAP e quais as implicações para a TAP?” que, e geral, se mantém atual.

As reservas sobre a Margem Operacional da TAP estão ultrapassadas enquando durar a atual performance da TAP.

Ver

https://sergiopalmabrito.blogspot.com/2023/09/porque-razao-faz-sentido-o-grupo.html

5.Lisboa 17 de dezembro de 2024

 

Post da série Análise crítica de algumas ideias e palavras correntes

Substituir o avião pelo comboio – onde estamos?

 

Pode o comboio diminuir o tráfego de passageiros no aeroporto de Lisboa?

1.A hipótese do comboio diminuir o tráfego de passageiros no aeroporto de Lisboa foi levantada ao ponto de questionar a necessidade da sua construção. E até haveria uma política europeia de interditar voos que pudessem ser substituídos pelo comboio. Em nenhum momento foi apresentada base analítica sólida a confirmar estas afirmações.

Vamos ver o modelo teórico da substituição do avião pelo comboio e sua aplicação possível a Portugal. Apresentamos casos concretos em que avião e comboio disputam a procura e em que o mercado decide. Por fim, damos uma ideia do contexto europeu.

2.Em França, o modelo da substituição do avião pelo comboio é o seguinte:

-até às 3 horas de viagem, o comboio é a escolha dominante,

-a partir de 6 horas de viagem de comboio, o avião é claramente a escolha dominante,

-entre 3 e 6 horas, a perda do recurso ao comboio acentua-se.

Estas conclusões são confirmadas pelo bom senso.

Gráfico 1

 


Fonte – Apresentação do eng.º Carlos Fernandes no recente Congresso da AFEDERSIT.

3.A aplicação deste modelo à geografia da Península Ibérica é ilustrada pelo gráfico seguinte.

Gráfico 2


 

Fonte – Apresentação do eng.º Carlos Fernandes no recente Congresso da AFEDERSIT.

 

4.O gráfico seguinte ilustra os Corredores Planeados do Projeto de Alta Velocidade em Portugal.

Gráfico 3


 

Fonte – Fonte – Apresentação do eng.º Carlos Fernandes no recente Congresso da AFEDERSIT.

Em termos práticos,

-Lisboa/Porto e Porto/Vigo em AV estarão operacionais em 2032 e Lisboa a Madrid em 2034,

-no caso do Porto, os corredores planeados para a Alta Velocidade exigem viajar via Lisboa,

-o caso do aeroporto de Faro será analisado em post posterior.

5.Parece ser ideia corrente a do comboio como alternativa ao avião como algo de novo e inovador que é necessário impor.

As pessoas não são estupidas e desde há muito que gerem a alternativa avião/comboio com racionalidade.

Esta gestão é mais significativa quando a alternativa ferroviária é realmente uma alternativa.

O OAG consagrou um texto a este assunto e dele respigamos as rotas onde o número de frequências desceu mais de 40% entre 2000/2023.

Gráfico 4


 

Fonte – Elaboração própria com base em OAG.

Todas estas rotas são do mercado doméstico dos países em causa e so há Alta Velocidade de 300+km/h entre Madrid e Barcelona.

Em síntese,

-assim haja políticas publicas que criem a alternativa ferroviária ao avião, as pessoas aderem sem ser necessário ‘proibir’ ou pregar,

-os preços tenderão a diminuir, algo de incompreensível para o pensamento dominante em Portugal.

6.A nível da União Europeia não encontrámos traça de política ou regulamento sobre a substituição do avião pelo comboio.

As propostas do governo dos Países Baixos em reduzir o tráfego aéreo em Schipol têm implícito o alargar do recurso ao avião.

O leitor interessado em aprofundar este tema, pode começar por consultar:

-Transport and environment report 2022 digitalisation in the mobility system: challenges and opportunities

-How fast are rail trips between EU cities and is rail faster than air?

As ideias sobre esta substituição pareciam estar limitadas ao Pentágono do desenvolvimento económico da Europa.

Gráfico 5


 

A referência ao Pentágono não é descabida.

O Relatório da Comissão Técnica Independente está baseado em duas realidades do Pentágono transpostas para o descampado de Samora Correia, num País pobre e no extremo ocidental da Europa:

-um aeroporto hub de duas companhias e com projeção megalómana de tráfego,

-a criação de uma Cidade Aeroportuária no modelo de Schipol (Amesterdão) e Francoforte.

Ver https://drive.google.com/file/d/12RghWNJshebQR9Lf8wXlWKAX9B-XNrsO/view?usp=drive_link

 

7.O gráfico 4 mostra como a substituição do avião pelo comboio ocorre fora do Pentágono, assim haja importantes aglomerações urbanas e oferta de transporte ferroviário que concorra com o avião.

Na abundante literatura sobre Modelling the spatial structure of Europe, que escapa ao âmbito deste blogue, sugerimos o modelo do projeto ESPON.

Gráfico 6


Fonte – https://archive.nordregio.se/en/Metameny/About-Nordregio/Journal-of-Nordregio/2006/Journal-of-Nordregio-no-3-2006/Viewpoint---Lets-say-farewell-to-the/index.html

 

7.Declaração de interesses – em 2008, na qualidade de diretor geral da Confederação do Turismo Português, acompanhei o Estudo da Deloitte sobre a sustentabilidade do tráfego na linha de Alta Velocidade Lisboa/Madrid.

A sustentabilidade da exploração, adquirido um desvio de passageiros do avião para o comboio, dependia de a nova oferta ferroviária gerar uma nova e importante procura turística.

O que por sua vez, dependia da capacidade a oferta de turismo desenvolver programa de marketing & vendas em ambas as aglomerações, com destaque para a de Madrid.

Quem viver verá.

 

Lisboa 11 de dezembro de 2024

 

Post da série Análise crítica de algumas ideias e palavras correntes

 

Neeleman não é o que dizem – frota e rotas da TAP são disso a prova

 

A emissão de obrigações obriga a TAP publicar longo documento de informação que ganharia em ser divulgado ao grande público.

Este documento é a fonte dos factos que apresentamos.

1.Em 2020.02.13, David Neeleman recorda o “O plano de reestruturação que apresentámos ao governo português foi pensado com base em aviões que ainda não existiam e pensando em rotas que ainda não tinham sido testadas” e “Eu sabia que estes aviões seriam game changer”, aviões que mudam as regras do jogo. (Observador).

As rotas não testadas são as do hub dos EUA com o acordo de código repartido com a JetBlue, que Neeleman operacionaliza em seis meses.

Os aviões que ainda não existem [a voar, entenda-se] são os de uma frota nova, mais eficiente (os ‘neo’) e, sobretudo, mais adequada ao mercado da TAP, em especial os A321LR. 

Passados anos, os factos dão razão a Neeleman, como mostramos a seguir.

2.A frota e a rota fazem da vantagem comparativa do aeroporto de Lisboa as vantagens competitivas da ‘TAP de Neeleman’:

-“The geographical advantage of our Lisbon hub is particularly evident in its routes to the Americas. Lisbon is approximately 430 km closer to the North American East Coast (measured by the distance to key North American airports) and approximately 1,250 km closer to the South American continent (measured by the distance to key South American airports) than our key competing European hubs such as Madrid, Paris, London, Amsterdam and Frankfurt” (p.136).

Fica claro,

3. A frota da TAP é a que Neeleman apresentou à Airbus no âmbito do plano de recuperação da Empresa e para a qual a Airbus contribuiu com 227 milhões de Costumer Finance – outro assunto a esclarecer.

Recordamos que o então ministro PNS criticou violentamente a compra de muitos aviões, as carpideiras choraram o abandono da encomenda de 10 A350 e a máquina trituradora que arruína Portugal remeteu o caso para corrupção.

Sobre a frota, a TAP reconhece:

- “we beleive is one of the most eficiente fleets in the industry” (p. 131).

4.Esta frota compreende

-os A330neo, que a Empresa inaugurou, são 68% da frota em junho 2024 e serão 88% em 2027 (p.130)

-os A320LR, que fazem das vantagens comparativas do aeroporto de Lisboa vantagens competitivas para destinos no Nordeste do Brasil e, sobretudo, Costa Este dos EUA.

Esta vantagem passa a ter agora concorrência com os A320XLR, que permitem oferta similar a partida dos grandes hubs de Madrid, Londres, Paris, Amesterdão e Francoforte

5.As rotas então não testadas permitem que o hub de Lisboa sirva a América do Norte e a TAP não esteja só dependente do hub Brasil

Fonte – Elaboração própria com base no Documento referido antes. Nota – ASK é Available Seat Kilometers.

6.Entre os Risk Factors que enfrenta, a TAP refere “We rely on partner airlines for codeshare, interline and loyalty arrangements and the loss of a significant partner through bankruptcy, consolidation or otherwise, could adversely affect us.”.

Em 2016.01.21 e perante a queda de dois mercados tradicionalmente fortes para a companhia, o Brasil e a Angola, os novos acionistas anunciam “TAP quer fazer dos Estados Unidos o novo Brasil(JNegócios). Menos de seis meses mais tarde, David Neeleman consegue o que muito poucos conseguiriam, um acordo de code-share com a JetBlue, “companhia da cidade de Nova Iorque”, com hubs em Nova Iorque (Kennedy) e Boston (Logan) (2016.06.01 informação TAP).

Citamos:

-“In North America (the U.S. and Canada), JetBlue and Air Canada provide us with access to 58 “offline” cities during the summer season. In South America, our partnerships grant us access to 34 “offline” cities in Brazil during the summer season, reinforcing our existing service to 11 Brazilian focus cities, and further reinforcing the “halo effect.” (p. 128)”.

 

7.O gráfico da Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos mostra como a receita gerada por residentes nos EUA poderá colocar este país no TOP4 dos países cujos residentes geram mais receita

-em 2016 (code share Jet Blue) passa a novo ritmo de crescimento,

-entre 2019/20 cai com a Pandemia,

-Arranca a crescer em 2021 e ‘explode em 2022 e 2023.

Fonte – Elaboração própria com base em Banco de Portugal.

A variação anual deste indicador ilustra a evolução referida antes:


Fonte – Elaboração própria com base em Banco de Portugal.

Lisboa tinha uma capacidade de atração de turistas desconhecida do mercado. David Neeleman abre este mercado à oferta de turismo de Lisboa e do País.

8.Tudo farei para que os portugueses conheçam a obra do empreendedor que evitou a insolvência desordenada da TAP.

E para situar a pequenez da visão de grande parte do nosso mundo político.

Este é apenas um exemplo do que estamos e vamos continuar a fazer.

 

Post da série Análise crítica de algumas ideias e palavras correntes

Sérgio Palma Brito

 

A TAP muito bem posicionada entre companhias aéreas da Europa

 

O gráfico representa a evolução 2022/2023 da margem operacional das companhias aéreas da Europa.

A margem operacional é

-a diferença entre receita e despesa operacionais em percentagem da receita,

-um bom indicador da ‘saúde’ da empresa e da sua capacidade em aguentar coques negativos (perda de receita e/ou aumento da despesa).


Em 2018/2019 a margem operacional da TAP estava entre um e zero.

Em 2023 a margem operacional da TAP

-está acima da média europeia e mundial,

-por um lugar, não está no TOP10.

Outro gráfico mostra que a margem operacional da TAP está pouco abaixo da IAG, mas acima do Lufthansa Group e da Air France-KLM. Isto é, a margem operacional não é óbice à aquisição da TAP por cada um destes três grupos.



 Problema em aberto:

-os Acordos de Empresa não afetam a competitividade do custo unitário ou da Margem operacional,

-em 2025 parece haver um regresso a pré Plano de Reestruturação que pode comprometer estes resultados.

‘Pode’ por não termos insuficiente nem capacidade para analisar os números.

Por seu lado, o CAPA destaca:

-“Europe's leading airlines typically report margins above the average for the European market, but cannot escape the cycle as it starts to show signs of peaking in 2024.”.

Quem viver, verá!


Post da série Análise crítica de algumas ideias e palavras correntes