Ajudemos o Instituto Nacional de Estatística e não degradar a sua imagem


As Estatísticas de Turismo – 2018 não deviam incluir o indicador ‘Chegadas de Turistas a Portugal 2017/2018’ porque o Inquérito ao Turismo Internacional de que deveria resultar não foi realizado. O valor publicado resulta de modelo estatístico aplicado aos resultados de um ITI realizado em 2016. Se o governo não disponibiliza ao INE os meios humanos e materiais para realizar o mais importante dos inquéritos, tal deve ser dito claramente e não escamoteado. Esmiuçamos isto em 4 pontos:

-a ausência de procura exigente está na base da parca Informação Estatística do Turismo,

-na ausência de um Inquérito ao Turismo Internacional que satisfaça todos os requisitos de qualidade, o INE nada deve publicar,

-sem um bom Inquérito ao Turismo Internacional continuamos a ignorar as dinâmicas sociais e económicas na base do alojamento e despesa de 7,5 milhões de turistas,

-já que temos o número de 7,5 milhões de chegadas de turistas, tentamos avaliar a sua verosimilhança.

Declaração de interesses. Utilizo as Estatísticas de Turismo do INE desde 1969 (50 anos? Venha lá essa medalha!) e dei muitas e variadas provas de ser um ‘Amigo do INE’. Dou-me ao trabalho de criticar quando tenho forte motivo para o fazer, mesmo tendo a consciência de não ser escutado.

*Sem procura qualificada e exigente, a informação estatística sofre

A não feitura regular do ITI é o elemento mais evidente da fraqueza estrutural da Informação Estatística do Turismo e de um ‘centro de saber’, frutos da ausência de procura qualificada e exigente por parte de política, administração, iniciativa privada, universidades opinião publica e sei lá que mais. Na ausência desta procura, não há a Informação Estatística do Turismo necessária ao Conhecimento, Competitividade e Posicionamento da Economia do Turismo. Como é possível não haver esta procura exigente ou não se manifestar ruidosamente?

A nível mais terra a terra, a conversa ou discussão dominantes sobre a Economia do Turismo começa por sofrer desta insuficiência de Informação Estatística e da Business Intelligence que as complete, o que as compromete à partida.   Em Abril de 2014 publiquei um post sobre “Informação Estatística do Turismo – Instrumento de Conhecimento, Competitividade e Posicionamento” uma Proposta Para Debate – 1ª versão. É evidente que não houve debate e ainda menos segunda versão, mas mantenho o que escrevi, com a consciência de muito provavelmente ser o único cidadão que se preocupa com isto.

*A informação que não devia constar das Estatísticas do Turismo

As Estatísticas de Turismo assentam essencialmente em dois Inquéritos. O que é feito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e Outros Alojamentos data dos anos cinquenta (ou sessenta), tem sido melhorado, mas continua fiel a ‘Estabelecimentos, quartos e camas’ e ‘Hóspedes Dormidas e Proveitos Totais e de Alojamento’, mais uns acrescentos – é raro haver uma série estatística com esta longevidade, o que é bom. Desde 2009, há o Inquérito às Deslocações dos Residentes. Nas Estatísticas de Turismo, ambos são apresentados com dignidade e é dada informação sobre Conceitos e Metodologia.

O Inquérito ao Movimento de Pessoas nas Fronteiras (Inquérito ao Turismo Internacional em 2016) tem existência atribulada desde o tempo em que recolhia informação junto de agentes da PIDE pouco dados a estatísticas. Foi sucessivamente manipulado e utilizado para propaganda do titular da pasta que anunciava sempre “O melhor ano turístico de sempre”. Existiu com dignidade entre 2004/08 por iniciativa do secretário de Estado Luís Correia da Silva, e ressuscitou em 2016 como Inquérito ao Turismo Internacional, mas sem a força 
e vigor que devemos exigir.

Este Inquérito não aparece nas Estatísticas de Turismo - 2018 com a dignidade dos outros dois. Acontece que em menos de uma página o INE publica o quadro seguinte, baseado em modelo que extrapola os resultados de 2016.



Em nossa opinião esta opção do INE é inaceitável. Se não há meios para repetir um bom Inquérito ao Turismo Internacional, o INE nada publica e refere não haver meios para o realizar. Simples.

*Há 7,5 milhões de Turistas Não Residentes que desconhecemos

O gráfico 1 compara o número de Chegadas (turistas) do quadro anterior com o número de Hóspedes no Total dos Alojamentos Turísticos segundo o inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e Outros Alojamentos. Segundo o INE, a diferença de 7,5 milhões de Turistas Não Residentes alojaria em Casa de Férias de sua propriedade, Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos, e Alojamento Local com menos de 10 quartos.

Esta massa de turistas tem a ver com dinâmicas que continuamos a desconhecer da Economia do Turismo, nomeadamente

-investimento de famílias de emigrantes portugueses e cidadãos estrangeiros em residências secundárias de uso sazonal, a evoluir para residência habitual durante a reforma,

-Alojamento Gratuito por Amigos que alojam de emigrantes portugueses e cidadãos estrangeiros de visita a Portugal,

-Casas de Férias dispersas, no Interior do País e no caso especial do Algarve, a Villa with a pool, um dos alojamentos turísticos que melhor posiciona a Região.

Sem um bom Inquérito ao Turismo Internacional continuamos a ignorar esta dimensão da Economia do Turismo.

*Serão mesmo 7,5 de turistas

O número em si é pouco relevante e só serve para notícias tontas na comunicação social. Uma vez que INE o publica e dá algum detalhe, assinalamos alguns pontos:

-em 2018, há 19 milhões de deslocações turísticas ao estrangeiro por residentes em Espanha, mas não sabemos quantos vêm a Portugal.

-o fiável International Passenger Survey do Reino Unido quantifica jjj deslocações turísticas a Portugal, 2.320 milhares, abaixo dos 3.500 milhares do 
INE.

-os 1,6+0,4 milhões da Alemanha parecem possíveis, já os 1,4 milhões de residentes em França parece algo de exagerado.


Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo – 2018.



A Bem da Nação

Lisboa 14 de Agosto de 2018

Sérgio Palma Brito


A Hotelaria do Algarve perde os turistas que herdou da crise de Turquia e Egito?


O regresso ao Mediterrâneo Leste dos turistas que a insegurança afastou para o Algarve seria a explicação da ‘crise’ que é voz corrente a Indústria da Hotelaria do Algarve atravessar (a seguir, Indústria ou Hotelaria). A quantificação rudimentar que segue ajuda a balizar opiniões que, como este texto, sofrem com insuficiência de Informação Estatística e de Business Intelligence, e ausência de Análise Estrutural da Indústria (1) o que dificulta o diálogo produtivo.

Sublinhamos mais uma vez que este movimento pendular tem apenas a ver com as deslocações de estadia (long stays) para Faro e em nada influencia o crescimento das deslocações de tour urbano e cultural (city breaks) para Lisboa e Porto.

Analisamos as chegadas de Visitors à Turquia por nacionalidade e Hóspedes não Residentes nos Estabelecimentos da Indústria e suas Dormidas. No Algarve utilizamos amostra de 19 mercados emissores que em 2018 representam 96,6% do Total de Hóspedes Não Residentes e das suas Dormidas. Na Turquia focamo-nos nos mercados emissores de Reino Unido, Alemanha e Holanda, onde a Indústria do Algarve enfrenta as maiores dificuldades.

Antecipamos a conclusão geral. O regresso dos Turistas ao Mediterrâneo Leste parece ter lugar e algum significado no mercado do Reino Unido, muito pouco no da Alemanha e Holanda. Certo é haver outros fatores a explicar a evolução do número de Hóspedes Não Residentes e suas Dormidas destes mercados e estes fatores não estarem a ser tidos em conta.

O presente texto é redigido de boa fé, mas não foi revisto por terceiros. Pode conter erros, que o leitor mais amigo nos fará chegar.


1.Visitors que chegam à Turquia entre 2003/2018 - variação anual

O Ministério da Cultura e Turismo da Turquia apenas divulga em inglês o número de Visitors à Turquia por nacionalidade. Ignoramos se Visitors inclui Excursionistas e nacionalidade quer dizer País de Residência como mandam as normas. Dito isto e no caso dos mercados emissores em apreço Excursionistas são irrelevantes, mas País de Residência é pertinente por residir na Alemanha elevado número de emigrantes turcos.
Os gráficos 1 e 2 ilustram a evolução entre 2003/18 das chegadas de Visitors à Turquia por nacionais do Reino Unido, Alemanha e Holanda. Com variações próprias a cada mercado, os três conhecem crescimento sustentado até 2015 e variações atípicas depois – 2015 é o único ano de viragem significativa. O mercado mais importante é o da Alemanha, o Reino Unido representa cerca de 50% do da Alemanha e o da Holanda cerca de 22%. Não apresentamos a parte destes mercados no total por este incluir muito movimento de países atípicos.






Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia.

O gráfico 3 ilustra, para os mesmos mercados, a variação do número de Visitors nos anos de 2015-2018. A queda importante e brusca em 2016 com réplica em 2017 e recuperação em 2018 são mais visíveis do que nos gráficos 1 e 2. A variação anual da Alemanha em 2014 é importante e positiva e compara com variações insignificantes e negativas do Reino Unido e Holanda.


Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia.


2.Hotelaria do Algarve – Hóspedes Não Residentes e suas Dormidas

*Variação anual entre 1996-2018
Breve apresentação da Indústria com a evolução 1996-2018 da variação anual de Hóspedes Não Residentes e suas Dormidas. O gráfico 4 mostra que entre 2009/2016 o número de Hóspedes Não Residentes na Indústria cresce a ritmo que não conheceu antes. Este crescimento coincide com o ‘das low cost’, apesar de todo o mal que delas os entendidos disseram – uma avaliação objetiva teria evitado muito desperdício de energia e erros que pagamos agora. O número de Hóspedes tem quedas em 1999 e 2009, cresce a bom ritmo até 2016 com picos em 2014 e 2016. Cresce menos em 2017 e cai (-11k) em 2018. A evolução é preocupante, mas não dramática.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.

O gráfico 5 ilustra a evolução das Dormidas dos mesmos Hóspedes, influenciadas pelo número de Hóspedes e Estadia Média. A descida de 2018 (-196k) é a menor das setes descidas desde 1996. De novo, a evolução é preocupante, mas não dramática. O facto de, em 2018, os -11k Hóspedes gerarem -196k Dormidas exige pesquisa adicional.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.

*Variação 2017/2018 por mercado emissor da Amostra
A análise por mercado emissor da Amostra em Hóspedes e Dormidas (gráficos 6 e 7) confirma que a crise reside nos mercados do Reino Unido, Holanda e Alemanha. Isto não é novidade para muitos leitores, mas ficamos com ideia dos números em causa. Retemos desde já que, em 2018, uma queda de 77k turistas no Reino Unido gera uma queda de -549k Dormidas, o que já é quase dramático.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.


3.Mercado Emissor do Reino Unido


O mercado do Reino Unido é o mais importante e muitas opiniões sobre ‘o Algarve’ são reflexo do que acontece neste mercado. Os gráficos 8 e 9 ilustram a variação anual de Hóspedes e Dormidas do mercado do Reino Unido e permitem contextualizar o ‘efeito Turquia’.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.

A comparação do mercado do Reino Unido na Turquia e no Algarve (gráfico 10) mostra:

-variação no mesmo sentido em 2014,

-perda da Turquia e subida do Algarve em 2015 e 2016,

-queda de ambos em 2017 e, finalmente queda de -77k Hóspedes e subida de 596k Visitors que podem estar relacionadas.


Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia e INE – Portugal.


4.Mercado emissor da Alemanha

Os gráficos 11 e 12 ilustram a variação anual de Hóspedes e Dormidas do mercado da Alemanha no Algarve para contextualizar o ‘efeito Turquia’.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.

A comparação do mercado da Alemanha na Turquia e no Algarve (gráfico 13) mostra:

-em 2014 um grande crescimento de Hóspedes na Hotelaria e variação insignificante, mas positiva, nos Visitors na Turquia, e em 2015 o mesmo tipo de variação mas em sentido inverso – que concluir?

-em 2016 há a grande queda de Visitors na Turquia e em 2017 queda importante, mas o crescimento de Hóspedes no Algarve é quase insignificante em 2016  e ridícula em 2017,

-em 2018, a queda de hóspedes de -22k pouco terá a ver com a subida de 928k Visitors na Turquia.


Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia e INE – Portugal.


5.Mercado emissor da Holanda

Os gráficos 14 e 15 ilustram a variação anual de Hóspedes e Dormidas do mercado do Reino Unido e permitem contextualizar o ‘efeito Turquia’. O mercado da Holanda é o menos importante dos três mercados em causa e registamos variações frequentes de Hóspedes e Dormidas ao longo dos anos em análise. Certo é haver perdas de Hóspedes desde 2014 (de Dormidas desde 2013) com crescimento em 2016 em linha com o de muitos outros anos e a perda mais importante de todas em Hóspedes e Dormidas em 2018 – caso para comentar não identificarmos quando os residentes na Holanda se refugiam no Algarve, mas parece sabermos que em 2018 regressam à Turquia.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.


Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo.

A comparação do mercado da Holanda na Turquia e no Algarve (gráfico 16) mostra:

-variações no mesmo sentido em 2014 e 2015 e em sentidos inversos entre 2016-2018,

-nestes três anos, as variações de Hóspedes no Algarve são insignificantes em relação às de Visitors na Turquia.


Fonte: Elaboração própria com base em informação do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia e INE – Portugal.


A Bem da Nação

Lisboa 12 de Agosto de 2019

Sérgio Palma Brito


Notas

(1)Ver post sobre “Informação Estatística do Turismo – Instrumento de Conhecimento, Competitividade e Posicionamento” uma Proposta Para Debate – 1ª versão” de Abril de 2014. A Indústria é mistura de estabelecimentos competitivos e obsoletos, de boa gestão e ausência dela, de degradação de estabelecimentos que degradam o mercado etc. e também de renovações fantásticas, de contexto de excelência ou de envolvente urbana, de grupos hoteleiros e de estabelecimentos independentes e por aí adiante – em conhecermos esta realidade o debate sobre a Indústria está prejudicado.



Incerteza sobre o futuro da base Ryanair em Faro – Quarta-Feira 8 de Agosto às 9:30


Este blogue não comenta a atualidade, mas o Turismo do Algarve passa por uma situação que obriga a intervir. O presente post é, com alguns arranjos, o texto publicado ontem (hoje é 2019.08.09) no Facebook e, sobre o fecho da base da Ryanair em Faro, apresenta sobretudo factos.

1.O Algarve é uma Área Turística do Mediterrâneo e destino turístico maduro, com pontos fortes, mas sérios pontos fracos que diminuem a sua competitividade, traduzida em falta de capacidade de atração em segmentos de mercado em que já foi forte e na franja mais qualificada dos atuais millennials & similares.

2.A governação publica do turismo, quer na linha Ministério, Secretaria de Estado e Entidade Regional que na base autárquica de Albufeira, Loulé, Portimão e Lagoa (para aí 75% do turismo na Região), com a exceção de algumas exceções, tem estado ausente ou tem tomado opções inadequadas à dinâmica da procura/oferta de turismo.

3.A iniciativa privada não apoia nem reforça uma intervenção abrangente da procura/oferta (a imobiliária turística continua marginalizada) e, a não reforçar dramaticamente uma voz regional, está reduzida a infinitesimais influências nos gabinetes.

4.O caso Ryanair mostra que governação pública e iniciativa privada não assumem a realidade da procura/oferta de turismo, os seus pontos fracos e ameaças, indo ao ponto de se deslumbrar com awards e outras festividades que alimentam a ‘politica da euforia’. No Algarve, não há lugar para esta política e quem persista nela compromete ainda mais o futuro.

5.É este contexto que explica a inexistência de um sistema de key account management que acompanhe os grandes parceiros do turismo, e que no caso da Ryanair deveria ser em parceria com a ANA Aeroportos (Esta, com o seu profissionalismo dispõe deste sistema).

6.Não havendo este sistema, apostamos que ninguém soube ou ligou ao anúncio da Ryanair de 16 de Julho, nem ao de 31 de Julho, este sobre avaliar as bases que dão prejuízo ou pouco lucro e cuja manutenção será discutida por O’Leary com os aeroportos – ou a governação publica diz claramente que soube e atuou, ou cometeu erro muito grave.

7.A Ryanair despede 100 trabalhadores de Faro (nos 900 divulgados) e tudo o que sabemos sobre ‘fecho da base’ vem do suspeito, neste caso, Sindicato de Pessoal de Voo, líder do combate à Ryanair. O Sindicato dominou a comunicação social porque esta se deixa dominar e por não haver nem voz alternativa do governo (ministério da Economia), nem da Região (Entidade Regional) nem da iniciativa privada.

8.No dia sete (quarta), pelo meio dia, o Presidente da ERTA mostra pouco ou nada saber e vem com o discurso do ‘não há de ser nada’ – se nada sabe e minimiza é grave, se fez teatro então vá a correr para o D. Maria II porque é excelente a representar.

9.Ao fim do dia, ‘fonte’ do Ministério da Economia (caramba, porque não o ministro ou a secretária de estado, o assunto não é grave?) diz não haver apoio dado à Ryanair, o que é falso (houve incentivos importantes, justificados, públicos, mas não divulgados) e, na ocorrência, é irrelevante.

10.A esmagadora maioria dos comentários que lemos escapam todos ao problema real que está na base de qualquer decisão da Ryanair – a decrescente capacidade de atração do destino Algarve, salvo exceções pontuais, que pode comprometer o futuro do turismo na Região tal como o conhecemos hoje.

11.Só voltamos a falar do assunto quando tivermos informação fidedigna.


A Bem da Nação

Lisboa 9 de Agosto de 2019 pelas 12:00

Sérgio Palma Brito


O aeroporto de Faro no contexto da Península Ibérica -Ibiza e mais


Para intervir em debate sobre o turismo do Algarve importa situar o aeroporto de Faro no contexto da Península Ibérica. Começamos com amostra de aeroportos pertinentes, observados em apenas seis gráficos, com o intuito de suscitar questões e não de dar respostas. É exemplo de base estatística rudimentar de apoio a análise da informação de Business Intelligence de que não dispomos.


1.Proximidade entre aeroporto de Faro e Ibiza

O ranking dos aeroportos da Amostra pelo indicador número de Passageiros (gráfico 1) revela:

-o caso excecional de Palma de Maiorca (29k) e também de Málaga (19k), este com mais do dobro de passageiros do que o de Faro,

-um segundo nível com Alicante (14,0k), Gran Canaria (13,6k) e Tenerife Sul (11,0k) – ver a seguir Alicante e Tenerife Sul,

-Faro (8,7k) surge depois e perto de Ibiza (8,1k),

-por fim aeroportos menores, com Tenerife Norte (5,5k) limitado pela construção do de Tenerife Sul.



Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.

No ranking do crescimento do número de Passageiros entre 2001/2018 (gráfico 2),

-de novo liderança de Palma de Maiorca e Malaga, com Alicante a aproximar-se,

-Porto ilustra o crescimento de um aeroporto de cidade e de deslocações de Tour urbano e cultural mais de Visitas a Familiares e Amigos pela Diáspora e tem o dobro de passageiros de Sevilha,

-depois temos Gran Canaria, Sevilha e Faro com Ibiza a aproximar-se,

-Tenerife Sul é último com crescimento anémico (1,9k).


Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.

Os dois indicadores indicam alguma proximidade entre os aeroportos de Faro e Ibiza, que o gráfico 3 ilustra. Em 2016 e 2017, Faro destaca-se, mas 2018 levanta a interrogação sobre Ibiza conseguir ou não a liderança que nunca teve. Há que ter em conta que

-Faro tem cerca de 10% de passageiros que são regresso de outbound mais turistas para Huelva e Alentejo,

-Ibiza com cerca de 110.000 habitantes está longe dos 10% de Faro e ainda menos em quantidade – o que só agrava a performance de Faro,

-daqui resulta que, em turismo recetor, o aeroporto de Ibiza é mais importante do que o de Faro,

-no Algarve há ainda turistas residentes em países que permitem o acesso rodoviário, mas neste post apenas consideramos aeroportos.
Portugal e alguns países europeus, poucos, mas há.


Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.



2.Aeroporto de turismo só recetor e recetor/emissor

O gráfico 4 ilustra a evolução 2001/2018 em Índice Base 2001 do número de passageiros dos aeroportos da Amostra.


Fonte – Elaboração própria com base em ANA Aeroportos e AENA.

Deste gráfico, destacamos:

-a liderança de dois aeroportos de cidade (Porto e Sevilha) ou próximo (Tenerife Norte), com short breaks ou deslocações turísticas de tour urbano e cultural em turismo recetor e emissor,

-a boa performance de Faro e Ibiza e a de Malaga que não sabemos situar com base na informação de que dispomos.

Em post futuro, analisamos a diferença entre o crescimento de city short breaks (tour urbano e cultural) e long stays (estadias em local aprazível, na ocorrência, praias).

O gráfico 5 ilustra a evolução entre 2001/2018 do número de passageiros nos aeroportos de Tenerife Sul e Alicante. Na evolução de Tenerife Sul com apenas turismo recetor e domínio de long stays e alguns congressos e incentivos, há

-estagnação entre 2001/2015, que estará ligada a problemas estruturais das long stays no Mediterrâneo (ver próximo post),

-crescimento atípico entre 2015/2017 e queda em 2018 que o ano de 2019 confirmará ou não – parece ser um caso de transferência de turistas do Mediterrâneo Leste (Turquia),



Fonte – Elaboração própria com base em AENA.

No caso de Alicante,

-o aeroporto de Alicante serve uma cidade com cerca de 300k habitantes, uma Região com cerca de 1,8 milhões e a Área Turística de Benidorm com cerca de 70k habitantes – é estruturalmente diferente do de Tenerife Sul,

-a Crise de 2009 quase não se faz sentir e há queda atípica em 2012, retoma de crescimento em 2012, que acelera entre 2015/2017, e desacelera em 2018,

-as três fases de crescimento a partir de 2012 poderão resultar do crescimento da procura europeia por city short breaks e/ou transferência de turistas do Mediterrâneo Leste, MAIS todo o turismo emissor de importante população residente.

Entre 2015/2017, Tenerife cresce 2,1 milhões de passageiros (1,1 milhões de turistas em recetor) e Alicante 3,1 milhões de passageiros ou 1,6 milhões de turistas em recetor/emissor. No que toca a transferências de e para o Mediterrâneo Leste, são números que nada têm a ver com a evolução dos mercados de Reino Unido, Alemanha e Holanda em Faro.


3.Nota final

O texto parece confuso e não é de leitura fácil? Certamente falha nossa, mas também eventual falta de prática ou excesso de leitura fácil de ‘explicações’ simplistas, que dominam a abordagem do turismo do Algarve.

É normal que entre 2001/2018 o número de passageiros nos aeroportos de Cidade cresça mais do que o dos aeroportos de Áreas Turísticas do Mediterrâneo, com quase meio século de crescimento. Dito isto, parece haver um dado estrutural a que se tem dado pouca atenção:

-os orçamentos para viagens das famílias da classe média não são elásticos, antes eram apenas consagrados a long stays em Áreas Turísticas e desde o início do século são repartidos com city short breaks, novidade e mais apelativos em termos de experiências.

Certo é a estadia média de Hóspedes Não Residentes na Hotelaria do Algarve diminuir desde 2001 ou 1995 (gráfico 6) – a hesitação entre 1995/2001 deve-se aos valores atípicos de 1999 e 2000 que estão a ser avaliados.


Fonte – Elaboração própria com base em INE.



A Bem da Nação

Lisboa 2 de Agosto de 2019

Sérgio Palma Brito