Dois mitos têm tido vida longa. O do moderno turismo do
Algarve ter começado em 1965 com a inauguração do aeroporto de Faro e se ter
posicionado com ‘os cinco hotéis de cinco estrelas’ – D. Filipa, Balaia,
Algarve na Praia da Rocha e Penina.
Neste post desmontamos o primeiro mito. Brevemente
desmontaremos o segundo.
1.Se há ano de começo do moderno turismo do Algarve é 1962,
quando, em abril, o Governo decide que
-“As despesas resultantes da construção e equipamento
do aeroporto de Faro, previsto no II Plano de Fomento, serão feitas com
dispensa no cumprimento de todas as formalidades legais,
incluindo o visto do Tribunal de Contas”;
Nota – A importância da decisão justifica a peta
política, o aeroporto não está previsto no II Plano de Fomento para 1959-1963.
O compromisso público de Salazar em construir o
Aeroporto de Faro marca o «antes» e o «depois», no novo turismo do Algarve.
O Aeroporto de Faro vai ser a base da integração do
Algarve na Bacia Turística Alargada do Mediterrâneo e reforça a sua ‘área de
pesca’ (‘catachment area’) de influência, além Guadiana e a Norte da Região.
2.O porquê da decisão de Salazar?
Encontramos a “dispensa no cumprimento de todas as
formalidades legais” em outro momento, a quando da criação do Serviço
Transportes Aéreos Portugueses para ligar a Metrópole ao Império.
O que leva Salazar a tomar esta decisão. Na ausência
de investigação de historiador, avanço duas razões
-a carência de divisas, agravada pelo inicio da Guerra
Colonial em Angola,
-o exemplo da Costa do Sol espanhola, iniciada dez
anos antes e consagrada pelo governo de Fraga Iribarne.
3.O catalizador para a iniciativa privada
O turismo do Algarve não arranca com a abertura do aeroporto
de Faro em 1965, arranca com a decisão de Salazar para que seja construído em
Abril de 1962!
Esta decisão leva empresários a investir em
empreendimentos com imobiliária turística e que ainda hoje marcam a nossa
oferta.
Ministro das Obras ignora Serviços de Turismo, cria o
Gabinete Algarve e licencia had hoc Vilamoura, Vale do Lobo, Vila Lara,
Prainha, Salvor, Torres de Alvor, Penina, Areias Douradas, Praia Maria Luísa.
Decide elaborar o Plano Regional do Algarve destinado
a ordenar a rápida expansão residencial e turística fácil de prever e
formalizado em decreto-lei específico.
4.Plano Regional do Algarve define a grelha do que
deve ser a Intervenção Pública
Ordenamento do Território no Plano Regional do Algarve –
compatibiliza ‘conservar’ e ‘desenvolver’
Planeamento Urbano de resort e pioneiro a promover sinergia
entre imobiliária turística, golfe, hotelaria e urbanismo turístico de resort.
Captar mais valias imobiliárias para financiar
infraestruturas urbanísticas públicas.
Controlar o preço dos terrenos em tempo de rápida
valorização, com consequências negativas.
Dinâmica turística em relação com Relatório Grupo de
Trabalho nº 13 da preparação do Plano Intercalar de Fomento 1965/1967.
5.Em meados de 1964, o ministro das Obras Publicas é
obrigado a afastar-se do PRA, que perde ímpeto e fica reduzido a um Relatório e
Mapas que o pensamento sobre o turismo do Algarve ignora.
Captar mais valias e controlar preços do terreno levam
Salazar a demitir Duarte Pacheco que incluíra estas medidas no Plano de
Ordenamento da Costa do Sol.
Salazar é o responsável direto do desordenamento urbano no
Algarve e Costa do Sol, como é no do resto do País, tema fora do âmbito do
presente post.
6.Em 1962, eu já militava no Partido Comunista clandestino,
o camarada Ângelo, e já era ativista do movimento Estudantil integrando a
direção da AEIST durante os dois anos seguintes.
Mais precisamente, participava ativamente no Dia do
Estudante de 1962.
Em 1964 sou expulso do IST e denunciado à PIDE. Em 1965, a
PIDE retira-me o adiamento do serviço militar e a possibilidade de ser oficial.
Sou soldado da Companhia Disciplinar de Penamacor com condenados de delito
comum.
Deserto, dou o salto e sou reconhecido como Refugiado
Político na Bélgica.
Salazar só não destrói a minha vida porque consegui
sobreviver e criar nova vida. Paguei o preço de combater pela liberdade e para
que houvesse comida, vestuário, casas, escola e saúde para todos… como na
Bélgica.
Não branqueio Salazar, reponho a verdade dos factos.
Lisboa 26 de novembro de 2024
Post da série Análise crítica de algumas ideias e palavras
correntes
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