Formação de uma TAP diferente – a gestão profissional de 2001/15


A partir de 2001 a TAP vive o tempo da gestão profissional (1). Acaba o tempo da gestão de génese político partidária, por gestores que desconhecem o negócio do transporte aéreo.

Nunca é demais lembrar que a evolução ‘da TAP’ entre 2001/2014

-começa por a gestão profissional evitar a insolvência da empresa, apesar da ajuda do Estado que recebe em 1994.

Neste período, a evolução ‘da TAP’ é marcada por

-uma estratégia empresarial alternativa da ‘transportadora aérea nacional’,

-evidente sucesso operacional – em 2014 a TAP é o triplo da TAP de 2001,

-evidente insuficiência dos resultados financeiros do Grupo TAP,

-uma avaliação polémica da gestão profissional, condicionada pela privatização de 2014/15.

O gráfico 5 sobre o resultado líquido do exercício entre 2001/2014 é o fio condutor da nossa análise da TAP no período da gestão profissional.

 

*Informação ao leitor
O presente post tem versão em PDF está disponível (aqui).

O leitor deve estar informado sobre os Princípios Gerais do blogue.

A lista dos posts sobre a TAP já publicados pelo blogue está acessível aqui.

 

1.Estratégia empresarial de 2001 e “inversão do ciclo – 2000/2005”

*Contexto da estratégia empresarial de 2001
No âmbito da privatização da TAP ligada à Swissair, o ministro Jorge Coelho apoia a contratação de uma gestão profissional para a TAP, num daqueles raros momentos de clarividência do accionista estado.

No virar de 2000/2001, a TAP é caracterizada por “volume de perdas”, “falta de capital próprio”, “gestão de tesouraria aturadíssima”. Fernando Pinto recorda que em 2000,

-já “havia duas grandes questões, uma era o volume de perdas e a outra era a falta de capital próprio” (2).

Sobre 2001, retemos

-em 2 de Maio, a TAP apresenta, à Comissão Europeia, um Plano de Reestruturação aprovado pelo Governo Português, consignando as linhas orientadoras subjacentes à via de recuperação,

-“A melhoria dos resultados comerciais alcançados tem sido um factor decisivo para a sua [da TAP] sustentabilidade.”,

-a privatização assume “elevado grau de urgência” porque “é a via para a reestruturação e a consolidação financeira da TAP.” (3).

Depois da importante ajuda do estado em 1994, accionista estado e sindicatos insistem na narrativa e modelo de negócio da ‘transportadora aérea nacional’ e levam a TAP de novo à insolvência em 2000/2001 (aqui) e desta vez, sem que o estado a possa evitar, porque a frase final da decisão da Comissão de Julho de 1994 ainda está viva:

-“Em conformidade com a legislação comunitária, Portugal se abstenha de conceder mais auxílios à TAP.”.

Em nossa opinião, não tem sido dada a devida relevância ao que acontece:

-a partir de 2000, a gestão profissional da TAP evita a falência da empresa e inicia o período que vem a designar de “inversão do ciclo – 2000/2005”.

A estratégia empresarial definida em 2001 orienta esta inversão e explica o sucesso operacional da TAP até à actualidade.

*Significado, importância e actualidade da estratégia empresarial
Ignoramos a cobertura explícita que o accionista estado tenha dado à nova estratégia para a TAP, concebida em função das exigências do mercado e em ruptura com o modelo de negócio da transportadora aérea nacional. É possível que o alívio politico que resulta da gestão profissional ter evitado a insolvência e a pouca importância que em Portugal se dá a ‘estratégias’ possam ter contribuído para o governo deixar a gestão profissional definir uma estratégia de ruptura.

O governo de Durão Barroso mostra como a estratégia não é pacífica para o accionista estado, quando o novo presidente Cardoso e Cunha quer demitir a gestão profissional (aqui). Não é por acaso que Cardoso e Cunha retoma a estratégia da transportadora aérea nacional, sem consequências visíveis porque o governo Santana Lopes decide a favor da gestão profissional e Cardoso e Cunha é substituído (4).

Na privatização da TAP em 2014 há uma estranha coincidência entre governo e críticos da privatização, de que o Manifesto contra a privatização da TAP é o melhor exemplo:

-cada um à sua maneira e mais o Manifesto do que o governo, retomam a quintessência da ‘transportadora aérea nacional’, por vezes designada por companhia de bandeira.

A estratégia de 2001 transforma a TAP com uma rede que “depende ainda, em grande medida, dos mercados tradicionais no interior de Portugal e no estrangeiro” (5) numa verdadeira “companhia aérea internacional”.

*”visando, constantemente, o retorno para os seus investidores”
No Relatório de 2001 (6), no ponto “Estratégia empresarial” o “Perfil” explicita a estratégia empresarial da TAP [ver a seguir] e começa por um destaque a reter:

-“A TAP terá como foco o serviço de Transporte Aéreo e actividades afins, visando, constantemente, o retorno para os investidores e a liderança no nicho de mercado em que actuar.”.

O “visando, constantemente, o retorno para os seus investidores” é uma evidência que volta a ser referida em relatórios posteriores, mas depois leva sumiço em todas as intervenções sobre a TAP, como se a TAP passasse a beneficiar de indulgência que não a obrigue a remunerar o capital.

Esta omissão é relevante porque quebra um mecanismo fundamental na relação entre accionista, gestão e trabalhadores (aqui).

*TAP rentável em mercado aberto e sem ajuda do Estado
Desde de 2001, há uma contradição que não conseguimos explicar com base em factos:

-é evidente que a ‘a Europa’ obriga a TAP a ser empresa rentável em mercado aberto e sem ajuda do Estado, o que tem consequências profundas na empresa, na envolvente politica e partidária que exerce a função de accionista e na opinião pública,

-mas esta evidência não figura nem nos destaques nem na estratégia e não é devidamente tida em conta – em 2015, muitas partes interessadas no processo continuam a assumir que ´o estado paga’.

O que é certo é

-a TAP ir operar em mercado aberto e sem ajuda do Estado, mas sem a disciplina imposta pelas exigências da rentabilidade e da remuneração dos investidores.   

*A estratégia de 2001
Citamos a síntese da estratégia que marca a TAP de 2001 à actualidade:

-“A TAP-Air Portugal é uma companhia aérea internacional que opera, ligando a Europa a África e às Américas, a partir da sua base operacional em Lisboa, cidade que, devido ao posicionamento geográfico, constitui uma plataforma de acesso privilegiado aos mercados que a companhia serve.

Na disponibilização do serviço aos seus Clientes, a Empresa mantém a sua forte ligação a Portugal, atitude que corresponde ao nicho de mercado onde a sua posição competitiva é mais sustentada, operando em complementaridade com uma ampla interligação a uma rede global, através de uma boa articulação com as suas parcerias em code-share (voos em código repartido).

A TAP-Air Portugal tem como principal actividade o transporte de passageiros e carga, mediante a disponibilização de um serviço na linha da tradicional hospitalidade portuguesa, promovendo a fidelidade dos seus clientes. Paralelamente, contribuem para os resultados da Empresa, o desenvolvimento de actividades de serviço a terceiros, através da intervenção nos negócios de Manutenção e de Handling e, ainda, a participação em actividades complementares, visando o controlo da “cadeia de serviço.” (7).

Entre 2000/2005, o “Esforço de turnaround” assenta em cinco eixos: Desenvolvimento de operação hub and spoke, Adesão à STAR Alliance, Esforço agressivo de redução de custos, Alienação de negócios não core e encerramento de rotas não rentáveis e Esforço de comunicação interna e externa (8).

*Viabilidade da TAP exige importante operação de longo curso
A viabilidade da TAP como empresa de nicho mas escala significativa exige que a rede de voos intra europeus seja completada por tráfego significativo no longo curso. Esta é a lição do sucesso da TAP da guerra colonial e de parte do insucesso do modelo de negócio da ‘transportadora aérea nacional’.

Reconhecida a inviabilidade congénita da ‘ligação a Macau’, esfumada a associação com a Swissair (aqui), a gestão profissional da TAP vai tirar partido de um mercado em forte crescimento:

-o da ligação entre Europa e América Latina mais África, na ocorrência Brasil, Angola e Venezuela, mas agora no já testado modelo de hub and spoke – sem o hub intercontinental de Lisboa, deixa de existir a TAP como a conhecemos.

A mera coincidência da nacionalidade brasileira da gestão profissional facilita muito a compreensão da oportunidade do Brasil, reforçada pelo quase desaparecimento das ligações entre o Brasil e a Europa pela Varig e, depois, pela Trans Brasil (9).

 

2.Sucesso na operação da TAP

*Crescimento da actividade da TAP com foco no longo curso
O gráfico 1 ilustra a evolução de PKUs e passageiros da TAP entre 2000/14 (10). Mais do que destacar o duplicar do número de passageiros, importa sublinhar que

-o número de PKUs da TAP é multiplicado por três, o que representa um crescimento de quase ‘duas TAPs de 2001’.

Com efeito,

-o PKU dá uma imagem mais realista da operação, porque contabiliza os quilómetros percorridos por todos os passageiros pagantes,

-o ritmo de crescimento de PKUs ser superior ao do número de passageiros é um primeiro indicador do aumento da utilização dos aviões em longo curso.

Gráfico 1 – Evolução de PKUs e passageiros da TAP
(mil milhões e milhões)


Fonte: Elaboração própria com base em Relatórios do Grupo TAP e TAP (2014)

O gráfico 2 ilustra a evolução do número médio de quilómetros voado por passageiro. É um indicador quase caseiro e nada habitual mas sintetiza a evolução de PKUs e de passageiros. O seu crescimento sustentado mostra

-um dado essencial: o crescimento do longo curso,

-um dado preocupante: a sua estabilidade desde 2010, porque a sustentabilidade da TAP depende do longo curso.

Gráfico 2 – Número médio de quilómetros por passageiros da TAP
(kms)


Fonte: Elaboração própria com base em Relatórios do Grupo TAP e TAP (2014)

*PKUs por Sector de Rede de Linha
A TAP publica os ‘PKUs por Sector de Rede de Linha (Voos Regulares)’, indicador que nos dá uma primeira informação sobre a repartição da actividade da TAP por continentes e regiões autónomas.

A diferença de escala obriga a analisar a evolução deste indicador em dois gráficos (11). Do gráfico 3 retemos

-a estabilidade e ligeira descida do Atlântico Sul desde 2010,

-a descida estrutural da Europa entre 2003/2010, ao ponto de absorver o efeito da Crise de 2008/2009, e ligeiro crescimento a partir de 2010 – em tempo de companhias low cost, este crescimento é de assinalar.

Gráfico 3 – Sector de Rede de Linha entre continentes
(percentagem em métrica da TAP)

 
Fonte: Elaboração própria com base em Relatórios do Grupo TAP

Do gráfico 4 retemos

-a descida estrutural da percentagem das Regiões Autónomas que em 2013 está em quase metade do valor de 2003.

-a diminuição das Regiões Autónomas em percentagem indicia perda de importância na repartição da actividade da TAP, mas não necessariamente diminuição de tráfego, porque o aumento do número de passageiros pode compensar a diminuição percentual no total.

Gráfico 4 – Sector de Rede de Linha – Atlântico Centro/Norte e Regiões Autónomas
(percentagem em métrica da TAP)


Fonte: Elaboração própria com base em Relatórios do Grupo TAP

 

3.Hub intercontinental de Lisboa

*Sem hub não há TAP
A rentabilidade da TAP de antes do 25 de Abril depende das ligações de longo curso entre o Continente e as colónias operadas sem concorrência e alimentadas pela procura da guerra colonial e de algum crescimento da economia.

A decisão da Comissão em 1994 impõe uma TAP concentrada na Europa e com a operação de longo curso minimalista que a sociedade e economia de então suportam. Accionista estado e gestores procuram expandir a operação de longo curso com base na rota de Macau e da companhia feeder Air Macau, aparentemente mais baseadas em retórica do que em estudo do mercado. Retórica à parte e falhada o que seria a absorção da TAP pela Swissair, em 2000 a TAP está à beira da insolvência.

Não é por acaso que, com o recuo dos anos o relatório do Grupo TAP de 2011 reconheça o “Desenvolvimento de operação hub and spoke” como primeiro factor do “Esforço de turnaround na Inversão de ciclo” entre 2000/05. O hub intercontinental de Lisboa, assente na procura dos países da Europa do Norte e de países emergentes (Brasil, Angola e Venezuela), dá à TAP a dimensão que tem hoje. A realidade é simples:

-sem o hub intercontinental de Lisboa, a TAP não seria a companhia que é, estaria reduzida à operação intra europeia e alguns voos intercontinentais – seria presa fácil de aquisições e fusões.

Exigir que o accionista privado ‘garant o hub’ é erro duplo:

-só uma TAP competitiva está em condições de poder garantir o hub, seja o accionista da empresa o estado ou um privado,

-o hub é parte da TAP como a conhecemos, sem ele esta TAP deixa de existir e a que vier a existir tem a sobrevivência em causa.

*Riscos do hub intercontinental de Lisboa
A importância do hub no qual assenta a sustentabilidade da TAP justifica cuidadosa avaliação de riscos e ameaças. Na ausência de divulgação deta avaliação por trabalho profissional, registamos evidências esquecidas:

1-Riscos na formação da procura na Europa do Norte e nos três países fundamentais: Brasil, Angola e Venezuela – entre 2014/2015 o risco destes três países aumenta da maneira que sabemos.

2-Riscos ligados à interpretação e aplicação dos acordos bilaterais entre o estado português e os países de América Latina e África.

Não esquecemos Angola e a TAAG, mas destacamos o caso do Brasil em que o acordo bilateral Portugal/Brasil, entre outros, dispõe:

-“As empresas designadas de ambas as Partes Contratantes terão justa e igual oportunidade de exploração dos serviços acordados nas rotas a operar entre os seus respectivos territórios.” (12).

Basta o Brasil indicar as duas empresas que cada estado pode designar e a TAP terá de repartir tráfego e em conjunto com elas “deverão manter uma estreita relação com a procura de transporte nas rotas especificadas”.

3-Riscos de concorrência de outras companhias aéreas europeias a partir dos grande hubs da Europa do Norte ou na concorrência do modelo de ligação ponto a ponto a partir de outros aeroportos europeus.

Esta concorrência incidirá sobretudo nas rotas entre Europa e os aeroportos de Rio de Janeiro e São Paulo, onde o segmento mais rentável das deslocações de negócio é mais importante. 

4-Riscos de reputação da TAP com origem na instabilidade social e recurso a aviões envelhecidos, caros em combustível e sem appeal.

Neste contexto, a eventual perda da encomenda dos A350 seria um golpe no futuro da TAP, de consequências porventura dramáticas.

*Operação do hub intercontinental de Lisboa
De memória, recordamos datarem do início da década de 1980 as primeiras tentativas da TAP vender na Europa do Norte passagens para o Brasil. Com a gestão profissional, a operação de Hub-and-spoke é o primeiro ponto da fase de Inversão de ciclo (2000/2005) [ver ponto 1], que continua a beneficiar da vantagem comparativa do aeroporto de Lisboa, mas é apoiada por

-liberalização de direitos de tráfego aéreo na Europa,

-crescimento da procura na Europa e no Brasil, Angola, Venezuela, Moçambique.

A vantagem comparativa do aeroporto de Lisboa nas ligações com o Brasil resulta da sua posição geográfica que permite a ida e volta em 24 horas, mas é comprometida por o aeroporto não ter sido concebido para uma operação de hub.

A figura 1 ilustra a evolução do Tráfego em transferência pelo hub de Lisboa a partir do ano 2000.

Figura 1 – Tráfego em transferência pelo hub de Lisboa

 
A TAP não divulga o número de passageiros e impede a análise em quantidade. Dito isto, destaca

-em 2013, o número de passageiros em transferência no aeroporto de Lisboa tem incremento da ordem dos 160% em relação ao valor inicial,

-a atractividade do posicionamento geográfico da plataforma, consolidando o seu caráter como hub intercontinental, suporte da rede operacional de linhas da TAP,

-continuação da operação no Porto, como hub operacional da Companhia, uma actividade iniciada em 2006. (13).

*Nota sobre a base da TAP no aeroporto de Lisboa
A base da TAP em Lisboa nasce com a empresa, está interligada com o hub, e é objecto de análise específica no post sobre Contributo da TAP para o País (aqui). Já vimos que base e hub estão interligados porque

-“Hub connectivity complements airport connectivity by generating transfer traffic – which supports direct connectivity and also stimulates cost efficiencies and economic growth.” (14).

 

4.Evidente insuficiência dos resultados financeiros do Grupo TAP

*Resultado líquido (2001/2014)
O gráfico 5 ilustra a evolução do resultado líquido do exercício da TAP SA entre 2001/14 e dá-nos o fio condutor para avaliar o desempenho da empresa.

Gráfico 5 – TAP, resultado líquido do exercício (2001/2014)
(€ milhões)

 
Fonte: Elaboração própria com base nos relatórios anuais da TAP SA e do Grupo TAP  

Constatamos que

-depois da estabilização da empresa pela gestão profissional, a evolução positiva entre 2007/2010 é interrompida pelo resultado atípico de 2008, seguida de queda em 2011 e retoma em 2012 e 2013, interrompida em 2014,

-o desastre de 2008 é exemplo de resultado anómalo mas frequente na aviação civil,

-só o futuro dirá se o resultado de 2014 é atípico ou indicador de algo de mais grave,

-o resultado líquido acumulado entre 2001/2014 é de €-47.5 milhões, indicia uma empresa ainda frágil, mas deve ser contextualizado com a performance de outras empresas – ver sobre A TAP no contexto do transporte aéreo internacional (aqui).  

A evolução entre 2001/2014 mostra a fraqueza de argumentos como

-afirmar que desde 2009 a TAP SA dá lucro, omitindo que em 2008 o resultado líquido é de €-209 milhões e que o acumulado entre 2001/2014 é de €-47.5 milhões.

*TAP SGPS e TAP SA – evolução do capital próprio
O gráfico 6 ilustra a divergência na evolução do capital próprio de TAP SGPS e TAP SA. Não aprofundamos a análise desta divergência por falta de meios, mas registamos que  

-no processo de privatização há alguma confusão entre Grupo TAP (ou TAP SGPS) e TAP SA no que toca à recapitalização que está na origem da privatização (15).

Gráfico 6 – Evolução do capital próprio de TAP SGPS e TAP SA
(€ milhões)

 
Fonte: Elaboração própria com base em relatórios anuais do Grupo TAP e informação TAP

*Grupo TAP – Resultado Líquido acumulado por empresas
O gráfico 7 ilustra o resultado líquido acumulado pelas empresas do Grupo TAP entre 2003/14.

Gráfico 7 – Resultado líquido acumulado por empresas (2003/14)
(€ milhões)

 
Fonte: Elaboração própria com base nos relatórios anuais do Grupo TAP  

A SPdH já não é problema e a parte de capital ainda detida pelo Grupo TAP é susceptível de decisão empresarial sem intervenção da política.

A Manutenção Brasil é um problema isolado e identificados. Em entrevista ao Diário Económico, o CEO da TAP

-começa por afirmar que “hoje, conhecendo tudo o que aconteceu não teria tomado essa decisão. Se regressasse àquela época e com os dados que na altura tinha na mão tomaria uma decisão igualzinha”,

- e conclui “Está em recuperação? Está! Fechar, diria que sairá mais caro do que o período de recuperação que ainda temos pela frente.” (16).

*TAP SA – EBIDTAR
O gráfico 8 ilustra a evolução dos EBITDAR da TAP SA entre 2003/13 (17). O valor dos EBITDAR é utilizado para estimar o valor da empresa, fora de circunstâncias próprias ao mercado. Na mesma entrevista, o CEO da TAP lembra que o valor atribuído à TAP pela Swissair é exemplo destas circunstâncias:

-“havia uma disputa por posição de mercado dentro da Europa. Nessa altura os valores não eram nada ligados aos valores reais da empresa. Ou seja, fazendo a multiplicação pelos múltiplos que teríamos naquela época e se tirássemos a dívida, o valor era negativo. Sem dúvida nenhuma. No entanto, ia ser pago um valor até interessante pela TAP, naquelas condições. Mas era uma questão de mercado, era uma disputa sobre quem agarrava aquela posição na Europa.”.

Gráfico 8 – TAP SA: EBITDAR
(€ milhões)

 
Fonte: Elaboração própria com base nos relatórios anuais do Grupo TAP  

 

5.A TAP da gestão profissional

Neste ponto esboçamos duas avaliações diferentes mas interligadas:

-a da TAP da gestão profissional, a partir da definição/implementação da estratégia de 2001, dos resultados operacionais e financeiros,

-a da equipa de gestão que dirige a TAP desde 2001.

Em nota final negamos que a TAP da actualidade seja, no seu conjunto, um caso de sucesso.

*Estratégia empresarial adequada ao mercado
O choque positivo da gestão profissional

-começa por evitar a fatal falência da TAP se a empresa continuasse na senda dos resultados negativos de 1999 e 2000.

Depois, o desenvolvimento da empresa assenta na definição e implementação de estratégia empresarial adequada às exigências do mercado e que

-rompe com o modelo de negócio de ‘o estado paga’ e com a narrativa de ‘a TAP garante’ da ‘transportadora aérea nacional’.

Esta ruptura é indispensável à viabilidade da empresa mas não é aceite por accionista, sindicatos e trabalhadores em geral, e opinião pública.

*Resultados operacionais da TAP
O sucesso operacional da TAP entre 2001/2014 traduz-se em

-ganhos de eficiência na utilização da frota e gestão de recursos humanos,

-criar o hub intercontinental de Lisboa sem o qual a TAP não seria o que é ou, pura e simplesmente já não existiria,

-multiplicar o número de passageiros por dois, mas o de PKUs é multiplicado por três o que representa acrescentar ‘duas TAPs de 2001’ à de 2001.

A actual voragem de interesses, protagonismos e fantasias que distorce a análise da TAP esquece, minimiza ou nega os bons resultados operacionais da empresa.

*Resultados financeiros das empresas do Grupo TAP e do Grupo 
Entre 2001/2014, o resultado líquido acumulado em cada uma das empresas do Grupo TAP é de

-€-0,4 milhões na TAP SA,

-€-134,5 milhões na SPdH,

-€-276,8 milhões na Manutenção do Brasil.

Ao nível do Grupo TAP (TAP SGPS),

-o resultado líquido acumulado entre 2001/2014 é de €-480,5 milhões,

-o capital próprio é de €-512 milhões.

Estes resultados financeiros são medíocres, fazem do Grupo TAP uma empresa frágil, desvalorizam a TAP SA e exigem importante reforço do capital.

*Accionistas, gestores e trabalhadores
Para podermos avaliar ‘a TAP da gestão profissional’ ( e não a gestão profissional da TAP) e de entre milhentas definições de empresa, retemos uma que é clássica mas parece ser adequada ao Grupo TAP:

-a empresa é uma comunidade de accionistas, gestores e trabalhadores que partilham a realização dos mesmos fins, para benefício comum, da empresa e do País.

Em nossa opinião, esta relação é pervertida pela nacionalização que

-gera o accionista ‘estado português politico partidário, instável e irresponsável’,

-a consequente sucessão de gestores de génese politico partidária e em conhecimento do negócio da aviação,

-o poder excessivo dos sindicatos, com destaque para o dos pilotos, conscientes que no fim ‘o estado paga’.

Em nossa opinião,

-a inegável degradação do Grupo TAP e TAP SA, de que a greve de dez dias dos pilotos é ícone, tem origem na degradação desta relação e o accionista estado é o primeiro responsável.

*Avaliação da gestão profissional
Depois de esboçarmos a avaliação da TAP dos anos da gestão profissional, ocupamo-nos agora da avaliação da equipa de gestores que dirige a TAP desde 2001.

Desde há meses e de uma maneira profundamente desequilibrada os mais variados órgãos de comunicação social dão voz a movimentos da sociedade civil e representantes sindicais sem contraditório à altura, quando o há. Este tsunami de desinformação tem uma raiz comum:

-o ataque à equipa da gestão profissional da TAP, na pessoa do CEO Fernando Pinto.

Neste momento ainda ignoramos o montante do preço a pagar por esta distorção da realidade.

Em nossa opinião e fora o evidente erro do negócio ‘VARIG/Manutenção’ (são indissociáveis), a equipa liderada por Fernando Pinto fez um excelente trabalho na TAP – a estratégia com o hub intercontinental e os resultados operacionais justificam a avaliação.

Neste trabalho, a aquisição da Manutenção do Brasil é erro ‘descomunal’ pelas consequências que tem e não pode ser ignorado. Ao longo de quinze anos outros erros são fatalmente cometidos, mas não são estes erros que explicam a degradação dos resultados financeiros da TAP.

O accionista estado é o primeiro responsável

-por retirar a exigência da gestão remunerar o capital e não assumir as exigências da TAP estar obrigada a ser rentável em mercado aberto e sem ajuda do Estado,

-pela relação directa e politizada que alimenta com ‘sindicatos fortes’, a qual bloqueia a adaptação da TAP às exigências do mercado e enfraquece a intervenção da gestão,

-pela incapacidade em privatizar a TAP (desde 1994), e de capitalizar a empresa quase desde sempre, mas com mais acuidade desde 2009.

O fraco accionista faz fraca a forte gestão. Chegados aqui, a nossa crítica à gestão reside em não encontramos indicação de se ter fortemente imposto ao accionista, quite a provocar uma ruptura e evitar o tão tradicional ‘ser cozido em lume brando’. Gostaríamos de ter visto uma tomada de posição idêntica à que CEO da Finnair toma em entrevista ao Financial Times (18).

*A TAP não é um caso de sucesso
Goste-se ou não, só uma grande falta de rigor permite afirmar que a TAP de 2015 é um caso de sucesso, quando a empresa é privatizada num processo confuso, com timing politico errado e enfraquecida pela perspectiva de um definhamento que a levará à insolvência.

Ainda menos é possível reconhecer este sucesso e defender uma estratégia inspirada no modelo da obsoleta ‘transportadora aérea nacional’ , como acontece com o Governo, oposição, Manifesto contra a privatização da TAP e opinião publica politicamente correcta.


A Bem da Nação

Lisboa 4 de Maio de 2015

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Gestão profissional designa uma equipa de gestores com provas dadas na gestão de companhias aéreas. Designa também a equipa que começa a gerir a TAP a partir de 2000/2001 e é liderada por Fernando Pinto, membro do então Conselho de Administração, mais Administrador Delegado e CEO do Comité Executivo. Neste comité reúne cinco vice-presidentes: Michael Conolly, Luiz Mór, Manoel Torres, Jorge Sobral e Ângelo Esteves. Na realidade o grupo que chega a ser designado de “guarda pretoriana da privatização” apenas inclui Pinto, Conolly, Mór e Torres – ver a revista E (do Expresso) de 28 de Fevereiro de 1982. A referência a ‘da TAP’ pretende avisar o leitor sobre a dificuldade que por vezes encontramos em destrinçar TAP SA e Grupo TAP ou TAP SGPS. Sobre Jorge Coelho, ver também a revista E.

(2)Declarações a OJE, 8 de Fevereiro de 2010.

(3)Relatório da TAP referente a 2001. A seguir, “Decisão da Comissão de Julho de 1994” é a designação corrente de

94/698/CE: Decisão da Comissão, de 6 de Julho de 1994, relativa ao aumento de capital, garantias de crédito e isenção fiscal existente em favor da TAP. Ver


Sobre ruptura com a estratégia da ‘transportadora aérea nacional’ lembramos que, na definição desta estratégia em 1985, a TAP ‘garante’ (para utilizar palavra da actualidade) “estabelecer ligações permanentes com as comunidades portuguesas mais significativas” e “com os países de expressão oficial portuguesa”, assegurar “transporte para as regiões autónomas” e ser “dinamizador da actividade turística nacional” – ver ponto 1 do Post1 (aqui).

(4)Ver TAP Portugal, Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre e Gestão de Empresas por José Manuel Tavares dos Santos Bom, Faculdade de Economia, Universidade Nova de Lisboa, 2015.

(5)Segundo a decisão da Comissão de Julho de 1994.

(6)Relatório da TAP SA referente a 2001, ponto sobre o Perfil [da companhia].

(7)Relatório, da TAP SA referente a 2001. O texto da estratégia parece óbvio, mas vale pela implementação que a estratégia teve.

(8)Relatório de 2011,p. 47. O Relatório de 2001 refere que esta estratégia é operacionalizada em cinco vertentes: incremento da Receita, redução de Custos, aumento da Qualidade dos Serviços prestados, mudança de Processos e melhoria da Organização, Valorização e Desenvolvimento dos Recursos Humanos. Há uma diferença entre a proposta de 2001 e como é vista em 2011.

(9)A Varig é uma companhia de referência e opera várias rota entre o Brasil e Europa; a partir do virar do século entra em declínio e em 2006 dá lugar à GOL. A Trans Brasil ainda opera rotas entre Brasil e Europa, mas a sua falência é decretada em 2002. Nota – informação de conhecimento pessoal e confirmada na Wikipedia.

(10)PKU designa Passageiro-Quilómetro, definido como o “Número total de passageiros multiplicados pelo número de quilómetros voados.”, segundo o Relatório do Grupo TAP referente a 2013.

 (11)Os relatórios não dão a definição deste indicador. Retemos o que é evidente: a importância das referidas áreas geográficas no transporte de passageiros pela TAP.

(12)Resolução da Assembleia da República n.º 38/2003 Aprova o Acordo sobre Serviços Aéreos entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, assinado em Lisboa em 11 de Novembro de 2002.


Apesar da extensão, citamos os três primeiros pontos do Artigo 12º sobre Capacidade:

“1 - As empresas designadas de ambas as Partes Contratantes terão justa e igual oportunidade de exploração dos serviços acordados nas rotas a operar entre os seus respectivos territórios.

2 - Na exploração dos serviços acordados, as empresas designadas de cada Parte Contratante deverão ter em consideração os interesses das empresas designadas da outra Parte Contratante, por forma a não afectar indevidamente os serviços prestados por estas últimas na totalidade ou parte das mesmas rotas.

3 - Os serviços acordados oferecidos pelas empresas designadas das Partes Contratantes deverão manter uma estreita relação com a procura de transporte nas rotas especificadas e ter como objectivo principal a oferta, com uma taxa de ocupação razoável, de capacidade adequada às necessidades reais e razoavelmente previsíveis, incluindo as variações sazonais, do transporte de passageiros, bagagem, carga e correio, embarcados ou desembarcados em pontos nas rotas especificadas no território da Parte Contratante que tenha designado as empresas.

Citamos o nº 1 do Artigo 3º sobre Designação das empresas:

-“1 – Cada Parte Contratante terá o direito de designar até duas empresas de transporte aéreo para explorar os serviços acordados nas rotas especificadas. A notificação de tal designação deverá ser feita, por escrito, por troca de notas diplomáticas, pelas autoridades aeronáuticas da Parte Contratante que tiver designado a empresa às autoridades aeronáuticas da outra Parte Contratante.”.

(13)Relatório do Grupo TAP referente a 2013, p.35 e sobre Conectividade de hub, ver o post (aqui).

(14)Ver post conectividade e Airports Council International, Airport Industry Conectivity Report, 2004/2014, 2010, p.27. Ver pos citado na Nota (13).

(15)Ver 1º post de III Parte).

(16)Ver entrevista de Fernando Pinto ao Diário Económico em 30 de Março de 2015 (aqui).

(17)Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, Amortization and Rent. An approximate measure of a company's operating cash flow based on data from the company's income statement. Calculated by looking at earnings before the deduction of interest expenses, taxes, depreciation, amortization, and rent. Similar to, but less common than, Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization.

(18)Ver Financial Times online em 26 de Janeiro de 2015 (Finland must consider loosening gip on Finnair, says CEO), com base em entrevista do CEO Pekka Vauramo à ‘dead tree edition’, do jornal, na usual expressão do online (aqui).

 

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