Turismo – “factor de riqueza” ou “meio seguríssimo” de “simples propaganda política” ?


Pires de Lima é ministro sensível à economia. Não esperávamos que o que há de alucinogénio na política nacional o levasse a privilegiar a politics (politiquice é aborrecido) sobre a economia.

Aconteceu com a oposição às Taxas Municipais de Turismo de Lisboa e ao novo Centro de Congressos. Parece estar a acontecer com a descriminação de Lisboa no Fundo de Apoio a Congressos – ver vitor-costa-critica-discriminacao-de-lisboa-no-novo-fundo-de-apoio-a-congressos.

Pires de Lima não é o primeiro nem será o ultimo a utilizar a exposição mediática do turismo para esquecer o “factor de riqueza” e optar pela “simples propaganda política”.

Tem antecedente ilustre, que recordamos.

António Ferro também faz esta opção, mas clarifica o dilema. A 13 de Fevereiro de 1940, dez dias após ter recebido as novas competência em matéria de turismo, optimista e determinado começa por reconhecer a importância económica do turismo:

 -“É uma indústria que, na sua evolução, só pode favorecer Portugal e os Portugueses. Mas podendo ser um factor de riqueza para as empresas particulares que o exploram e para as terras onde se desenvolve ou venha a desenvolver-se, pode ser igualmente uma grande fonte de riqueza para o próprio Estado, industrial do turismo por outros caminhos, não pelas taxas mínimas que percebe mas pelas estradas de oiro que a sua acção inteligente pode abrir.”. ”.

Depois, distancia-se da economia:

-“Mas estes são, afinal, os aspectos materiais do problema, os mais banais, os mais conhecidos, mas não, de momento, os que nos interessam.”.

Define a prioridade:

-“Se o turismo é um problema sério, e não um simples passatempo, é porque está ligado, directa ou indirectamente, a quase todos os problemas nacionais, contorno indispensável da nossa renovação, seu necessário acabamento. O turismo perde assim o seu carácter de pequena e frívola industria para desempenhar o altíssimo papel de encenador e decorador da própria Nação […] O prestígio internacional duma nação é consequência, em certos aspectos, da sua organização de turismo. Não tenhamos ilusões! […] O turismo, é portanto, além dum indiscutível factor de riqueza e de civilização, um meio seguríssimo não só de alta propaganda nacional como de simples propaganda política.”.

Feitas as habituais referências aos nossos recursos e potencial turísticos, António Ferro elogia a obra do Regime e fixa um objectivo:

-“Agora, sim, podemos começar a fazer turismo, podemos imediatamente enfrentar o problema e estudá-lo a valer […] Se nos compreendermos, como espero, se percebermos que a nossa finalidade é comum, poderemos realizar uma grande obra, transformar Portugal, em poucos anos, no país número 1 do turismo, numa Suíça com menos encenação, mais rústica”.

Pires de Lima ainda não chegou a Portugal vir a ser o “país número 1 do turismo”. Até às legislativas ainda pode chegar.

 

A Bem da Nação

Lisboa 28 de Novembro de 2014

Sérgio Palma Brito

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