O hub intercontinental de Lisboa e a viabilidade da TAP

 

O hub intercontinental de Lisboa é decisivo para o futuro da TAP, mas nenhuma das partes interessadas publica estatísticas ou elabora estudos que nos informem sobre o que é este hub. Compreendemos o silêncio de TAP e ANA Aeroporto, já não aceitamos o da ANAC como Autoridade (ou falta dela) Reguladora e o de universidades.

Quebramos este silêncio com um post que tem o mérito de existir. Tem erros? Tem. É insuficiente? É.  Convidamos os críticos a informar as pessoas interessadas melhor do que nós.

O ‘hub and spoke’ é um modelo de operação de rotas aéreas que visa aumentar a oferta de destinos ao consumidor via transferência de voos num aeroporto central onde minimiza o tempo de espera do passageiro. Na realidade, é introduzido em Lisboa durante o período em que a Swissair, no âmbito da privatização em curso da TAP, já influenciava a operação da TAP e, entre outros, contrata a equipa de Fernando Pinto.

A partir de 2001, a inovação de Fernando Pinto consiste em captar o tráfego Brasil/Europa para a TAP e hub de Lisboa, por conhecer o mercado e tirar partido da falência da Varig. Neste modelo, o passageiro de hub apenas fz escala em Lisboa.

A partir de 2016, a inovação de David Neeleman consiste em captar o tráfego EUA/Europa para o hub de Lisboa, muito com base em acordo com a JetBlue e seus hubs em Kennedy e Boston. E passa a valorizar a escala em Lisboa.

A privatização de 2015 incluía financiamento pelo grupo chinês HNA e Lisboa hub nas rotas China com as Américas. Estes projetos falham com os problemas do Grupo HNA.

*Tráfego de hub intercontinental no aeroporto de Lisboa

Partimos

-da estimativa que 20% do tráfego de passageiros no aeroporto de Lisboa tem origem no hub intercontinental e que esta percentagem é constante no tempo,

-do facto de um turista a utilizar o hub representa 4 passageiros para as estatísticas aeroportuárias (dois desembarques/embarques, incluindo equipagens e passageiros que geram ou não receita para a companhia aérea).

O tráfego de hub intercontinental acelera o crescimento a partir de 2014 em linha com o tráfego intraeuropeu. Desconhecemos a origem deste acelerar do crescimento.


 
Fonte: Elaboração própria com base no tráfego do aeroporto de Lisboa (ANA Aeroportos) e estimativa pessoal.

Este tráfego é decisivo para a TAP e muito importante para a ANA Aeroportos, por ser 200% a pagar taxas elevadas e a fazer compras na zona comercial do aeroporto.

*Importância do hub intercontinental de Lisboa para TAP

A importância do hub intercontinental para a TAP tem duas dimensões:

-a mais importante e de muito longe é a de viabilizar a TAP pelo resultado operacional e líquido que gera – sem o tráfego de hub, a TAP não é viável,

-a de contribuir para viabilizar rotas que não seriam rentáveis apenas com o tráfego ponto a ponto de origem e destino Portugal.

Tem efeito marginal de permitir tráfego de carga no porão, gerando receita e resultado positivo (a verificar).

Um turista de hub representa 2 Passageiros TAP (dois embarques de passageiros que geram receita). No caso presente incluímos também os passageiros que não geram receita, como equipagem e convidados, por dividirmos os passageiros ANA Aeroportos por 2. Aeroportos e companhias aéreas têm métodos diferentes de contagem estatística.

 

Fonte: Elaboração própria com base no tráfego do aeroporto de Lisboa (ANA Aeroportos) e estimativa pessoal.

*Importância do hub intercontinental de Lisboa para a oferta de turismo do País

O passageiro de hub

-nada contribui diretamente para a oferta de turismo de Lisboa ou do País quando se limita a fazer transferência entre voos no aeroporto,

-contribui se for incentivado a fazer uma escala de um ou mais dias em Lisboa,

-contribui indiretamente por viabilizar rotas e frequências com trafego ponto a ponto, sem o qual a rota não seria rentável e seria cancelada.

Um turista de hub representa 2 Passageiros TAP (dois embarques de passageiros que geram receita). Aeroportos e companhias aéreas têm métodos diferentes de contagem estatística.

  


Fonte: Elaboração própria com base no tráfego do aeroporto de Lisboa (ANA Aeroportos) e estimativa pessoal.

*Receita de Viagens e Turismo em parte gerada pelo hub

A Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos gerada por residentes nos Brasil e EUA tem duas origens:

-tráfego da TAP que, no caso do Brasil é dominante e de muito longe, gerado direta ou indiretamente pelo tráfego de hub,

-tráfego de companhias aéreas desses países que, no caso dos EUA tem algum significado.

Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal

Na base deste tráfego está a capacidade de atração de destinos turísticos do País, com destaque para Lisboa, mas não só.

A Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos ilustra

-o evidente efeito do hub EUA/Europa a partir de 2016, combinado com o crescente poder de atração do destino Lisboa,

-no caso do Brasil, o crescimento da Receita pode em boa parte ser fruto da qualificação da oferta da TAP que começa em 2016 e arranca depois com os Airbus 330neo e 320 LR.

A TAP opera no Brasil por ser indicada como uma das duas companhias que o Acordo Bilateral de 2007 (melhorado recentemente) – é um ativo do País e da TAP a que acresce o valor da marca TAP no Brasil. Em caso de insolvência da TAP, este valor não tem alternativa low cost e exige ponderada consideração.

No caso dos EUA e apesar de haver companhias americanas a operar, o crescimento do tráfego a partir de 2016 resulta muito do hub EUA e do code-share que David Neeleman acorda rapidamente com a Jet Blue. Em caso de insolvência da TAP, este tráfego pode ser visto como concorrente ou complementara ao de outras companhias full service a operar no Atlântico Norte. Não será um ativo tão seguro como o do Brasil.

*Dormidas na Hotelaria e Alojamento Turístico de Lisboa em parte geradas pelo hub

Nos gráficos que seguem,

-Hotelaria é limitada aos Estabelecimentos Hoteleiros.

-Alojamento Turístico inclui Estabelecimentos de Alojamento Local com mais de 10 unidades.

As Dormidas de residentes do Brasil e EUA nas outras unidades de Alojamento Local não é considerada, mas parece ser considerável.

Nem todas as Dormidas são geradas por passageiros TAP, mas uma boa parte é. No cenário de insolvência da TAP, este é o negócio que tem de ser acautelado.

 


Fonte: Elaboração própria com base em INE via Associação Turismo de Lisboa.

 


Fonte: Elaboração própria com base em INE via Associação Turismo de Lisboa.

 

*Nota Final

A finalizar esta informação rudimentar sobre o hub intercontinental de Lisboa, apenas um apelo:

-que muitos façam mais e melhor do que eu.

 

Lisboa 1 de setembro de 2021

 

Sérgio Palma Brito