Mais uma
greve dos pilotos da Lufthansa é excelente ocasião para introduzir o Lufthansa
Group aos leitores deste blogue. O post divulga o papel que o LG pode vir a
taer na acessibilidade aérea competitiva a Portugal.
Esta é mais
uma greve dos pilotos da Lufthansa num processo longo e sem fim aparente à
vista – segundo o Jornal de Negócios esta “foi a 13ª paralisação em 18 meses” (aqui). A greve é
sobre o regime de pensões, mas “the real agent provocateur and the common
underlying irritant for Lufthansa's unions is the introduction of low cost
operations into the group” (1).
Como
veremos nos próximos posts sobre o International Airlines Group (IAG) e Air
France/KLM Group, as suas FSC enfrentam problemas similares com a operação low
cost, o estatuto do pessoal e o nível e financiamento das reformas
*O Lufthansa Group
A figura 1
ilustra a estrutura do LG, formado pela Lufthansa, Germanwins, Eurowings, Swiss
e Austrian Airlines do mercado DACH (Deutchsland, Austria e Suíça) e os 50% que
o LG detém no capital da Brussels Airlines. A estrutura combina multi-hub e
multi-produto, com relevante operação low cost nas Wings.
Figura 1 – Estrutura do Lufthansa
Group
Fonte: The Way
Forward, Julho de 2014 (2)
O gráfico 1
ilustra o número de passageiros do Lufthansa Group em 2014 (3). Para dar uma
ideia, em 2014 o número de passageiros da TAP é de 11,1 milhões. As Lufthansa
passenger Airlines incluem a Lufthansa, Germanwings e ‘regional airlines’ que
supomos inclui a Eurowings de antes da transformação estratégica que
descrevemos a seguir. A Brussels Airlines não é incluída.
Gráfico 1 – Passageiros do Lufthansa
Group em 2014
(milhões)
Fonte: Elaboração própria com base em Lufthansa Group
Investor Relations
*Ver explicação no texto.
O relatório
do Lufthansa Group referente a 2014 é mais completo:
-“The portfolio also includes the low-cost airline
Germanwings and the equity investments in the carriers Brussels Airlines,
JetBlue and SunExpress.”.
*Segmentos Business e Private
O LG divide
o mercado entre Business e Private, englobando nesta categoria as deslocações
por motivo do que o INE designa por ‘lazer, recreio e férias’, ‘visita a
familiares e amigos’ (VFA) e ‘diversos’ (saúde, religião, educação e outros).
Neste
mercado,
-“O segmento
Private de deslocações cresce mais depressa do que o segmento Business e é dominante
quer nas rotas intercontinentais (75%) quer nas do continente europeu (79%)”.
Em
documento a publicar brevemente (Introdução ao turismo) relacionamos estes dois
segmentos com a diversificada quantificação de deslocações turísticas por
‘motivo principal da deslocação.
*Lufthansa e concorrência nos 5 hubs
da Europa
O gráfico 1
ilustra a parte de mercado das FSC nos cinco principais hubs da Europa (4).
Fora o caso especial da Turkish Airlines,
-a
Lufthansa é a FSC com posição mais dominante no hub respectivo e isto apesar de
opera um segundo hub em Munique.
Gráfico 2 – Importância das FSC dos
três grupos nos seus hubs
(em % do total de available seats)
Fonte: Elaboração própria com base em CAPA, Air
France-KLM SWOT, 10 de Julho de 2015 (3)
*Duas dimensões da estratégia da LH
Nas rotas
intercontinentais a estratégia do LG é pacífica:
-clarificar
as rotas que alimentam os hubs de Munique e Frankfurt,
-reforçar a
qualidade do serviço de primeira classe e executiva,
-intensificar
“joint-venture partnerships with leading airlines” para tirar partido do crescimento
das maiores economias do mundo – USA, China, Japan and Canada (5).
Diferente é
o caso da estratégia do LG para as rotas ponto a ponto europeias e
intercontinentais [sobre estas, ver a seguir]. A figura 2 ilustra a estratégia
do LG nestas rotas.
Figura 2 – Rotas ponto a ponto na
Europa e a “wings Family”
Fonte: The Way
Forward, Julho de 2014
*Concorrência e contexto legacy da
Lufthansa
A Lufthansa
enfrenta a concorrência estrutural, no sentido em que não é passageira, de LCC
nas rotas ponto a ponto europeias e das Gulf Carriers nas rotas
intercontinentais de FSC.
Esta
concorrência só passa a ser problema porque, a exemplo das FSC em geral e das
dos três grandes grupos em particular, a Lufthansa enfrenta uma herança de
problemas (daí a frequente designação de legacy
carrier):
-estatuto
(salários, benefícios e intervenção) do pessoal com destaque para pilotos,
-custo e
financiamento do sistema de reformas,
-apesar dos
progressos da década de 2000, consolidação insuficiente do mercado europeu que
é fonte de underperfomance (6).
Na
abordagem e minimização destes problemas o LG está em atraso em relação ao IAG
e à frente do Air France/KLM Group (próximos posts).
*Germanwigs e Eurowings nas rotas
ponto a ponto da Europa
Germanwigs
e Eurowings estão integradas no LG desde há anos, mas só recentemente são
objecto de definição estratégica que a figura 1 ilustra.
Em 2012, a Lufthansa
decide transferir para a Germanwings as rotas europeias que não ligam com os
hubs de Frankfurt e Munique. O processo começa em 2013 e está concluído (7). Esta
transferência pode representar sinergia para o Grupo porque a Germanwings tem
custos de operação inferiores aos da Lufthansa, mas não é isenta de problemas
de legacy:
-a
Germanwings tem custos de operação que a afastam dos das verdadeiras LCC e os
seus pilotos têm regime laboral idêntico ao dos pilotos da LH.
Por outro lado, os pilotos da
Eurowings operam fora do acordo colectivo da Lufthansa e da Germanwings e os
custos de operação são 20% abaixo dos desta, o que coloca a Eurowings nas LCC.
A decisão em curso é de
-transferir
55 rotas da Germanwings para a Eurowings a partir da estação de Inverno,
-abrir bases
da Eurowings na Áustria e Suíça.
Em teoria,
o Grupo pode esperar sinergias
-de rotas
operadas pela Lufthansa passarem a sê-lo pela Germanwings e rotas que esta
opera passarem para a LCC Eurowings,
-com bases
na Alemanha, Áustria e Suíça a Eurowings é o embrião de uma LCC pan-europeia,
factor crítico de sucesso para expansão futura para uma escala significativa.
*Opiniões sobre a Eurowings
Segundo a
Bloomberg,
-“Lufthansa seeks to make the operation into Europe’s
third largest point-to-point carrier, even as the two biggest low-fare
competitors, Ryanair Holdings Plc and EasyJet Plc, look at Germany for
expansion. Ryanair wants to triple the number of jets it operates in the
continent’s largest economy to as many as 80 within five years.” (8).
Em Setembro
de 2014 Michael O’Leary, CEO da Ryanair, tem uma opinião crítica:
-“One of the reasons we’re expanding so quickly in
Germany is because Air Berlin is continuing to cut back on short-haul European
destinations and focus more on Gulf routes. There is also Lufthansa that has
some bizarre plan about establishing a new low-fare airline. Unfortunately
[Lufthansa] started with a high-fare airline called Germanwings and they’ll
need to do a lot more than call it that and paint it yellow to make it a
low-cost carrier.” (9).
*Wings longhaul nas LHLCC
Em Julho de
2015, a Eurowings solicita ao United States Department of Transportation a
licença para uma companhia aérea estrangeira operar entre a Alemanha e os EUA.
É o início da implementação da rede intercontinental da Eurowings, que se junta
à emergente industria das Longhaul Low Cost Carrier – LHLCC (10).
Citamos o
CEO do Lufthansa Group
-“ To this end, a Letter of Intent has been signed with
SunExpress, a joint-venture company of Lufthansa and Turkish Airlines, under
which the intercontinental services to be offered under the Eurowings brand
will be flown under the air operator certificate (AOC) of SunExpress
Deutschland and with SunExpress Deutschland cockpit and cabin crews. The first
intercontinental destinations to be served will include points in Florida,
Southern Africa and the Indian Ocean.” (11).
A Europa já
conhece a expansão para LHLCC da Norwegian e os problemas que a companhia
enfrenta (tema de próximo post). A Eurowings intercontinental é um passo na
formação desta nova industria.
*Portugal em tudo isto
O gráfico 3
ilustra os passageiros nas rotas entre a Alemanha e Lisboa, Porto e Faro.
Constatamos:
-a
Lufthansa voa para Lisboa, Porto e Faro e a Germanwings para Lisboa e Faro.
Num futuro
próximo
-a
Eurowings com as suas bases no mercado DACH pode estar a voar para os três
aeroportos se os destinos regionais tiverem capacidade de atracção para esta
procura e em função de eventual concorrência da Ryanair,
-a Lufthansa
concentrará a procura de hub intercontinental, o que levanta a possibilidade de
eliminar Faro para a Eurowings (12) e questionar a rota do Porto em função da
contribuição desta para alimentar o hub intercontinental.
Gráfico 3 – Passageiros
Lufthansa/Germanwings Lisboa, Porto, Faro
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em várias fontes e
valores aproximados
Como
veremos em outro post,
-a visão de
Portugal como destino turístico nos mercados emissores mais importantes passa
por identificar as companhias aéreas mais dinâmicas e com mais potencial de
crescimento.
No caso do
mercado da Alemanha, temos de pelo menos considerar Ryanair e Eurowings.
A Bem da
Nação
Lisboa 10
de Setembro de 2015
Sérgio
Palma Brito
Informação ao leitor
Notas
(1)CAPA, Lufthansa’s Eurowings goes to America; will
the pilots unions allow US DoT to issue an exemption?, 24-Jul-2015. Ver
Sugerimos a leitura de CAPA, Lufthansa SWOT: new low
cost platforms are smarter strategy than resorting to protectionism,
9-Apr-2015. Ver
(2)The Way Foward designa Lufthansa Group, The
Lufthansa Group – The Way Forward, Carsten Spohr, Chairman of the Executive
Board & CEO, July 2014.
(5)Ver documento da Nota (2).
(6)CAPA, Europe's airlines underachieve in profit
margins, but LCCs typically perform better than FSCs, 3-Apr-2015. Ver http://centreforaviation.com/analysis/europes-airlines-underachieve-in-profit-margins-but-lccs-typically-perform-better-than-fscs-217527
(7)CAPA, Deutsche Lufthansa AG unveils new strategy,
10-Jul-2014. Ver
(8)Bloomberg
em 8 de Junho de 2015. Ver http://www.bloomberg.com/news/articles/2015-06-08/lufthansa-ceo-targets-service-savings-in-germanwings-crash-wake.
(9)Michael
O’Leary, CEO da Ryanair, em 24 de Setembro de 2014 na conferência de imprensa
sobre a colaboração com o GDS Amadeus. Ver
(10)CAPA, Lufthansa’s Eurowings goes to America; will
the pilots unions allow US DoT to issue an exemption?, 24-Jul-2015. Ver
(12)Segundo
informação não oficial, o voo da Lufthansa para Faro é justificado para os
passageiros gastarem as milhas que acumulam em programas de fidelização.