O presente
post é apenas um conjunto de notas para ajudar os utilizadores das estatísticas
do tráfego aéreo de passageiros em Portugal. O post tem como primeiros
destinatários os leitores dos posts que este blogue consagra ao transporte
aéreo.
Os gráficos
apenas ilustram a definição dos indicadores utilizados e não a realidade que
quantificam – na sua maior parte já foram analisados em posts do blogue. Dito
isto, alguns gráficos têm o efeito colateral positivo de fazer a realidade
entrar pelos nossos olhos e ir direitinha ao cérebro.
*Informação ao leitor
O presente
post tem versão em PDF está disponível (aqui).
1.Introdução
*Estatísticas dos Transportes do INE
– dois tipos de indicadores
O INE
publica dois tipos de indicadores do tráfego comercial dos aeroportos, apenas
em base anual e com o excessivo atraso das Estatísticas dos Transportes:
-por
tráfego internacional, territorial e interior,
-por companhias
aéreas nacionais e estrangeiras.
Nos dois
casos o INE detalha o número de passageiros por “embarcados, desembarcados e em
trânsito directo”
Há duas
maneiras de apresentar o número de passageiros:
-do ponto
de vista do gestor aeroportuário e INAC, conta o número total de passageiros,
-do ponto
de vista da análise que pretendemos fazer, utilizamos sempre o número de
passageiros desembarcados, cerca de metade do total.
*Passageiros em trânsito
O INE
apenas quantifica o número insignificante de passageiros em trânsito-directo (em
2014, é 0.08% do total), definido como
-“Passageiro
que, após uma breve paragem, continue a sua viagem na mesma ou noutra aeronave,
mas com o mesmo número de voo.” (NOTA).
(NOTA)Utilizamos
os conceitos e nomenclaturas definidos em INE – Estatísticas dos Transportes,
Capítulo IX – Metodologia, Conceitos e
Nomenclaturas, edição referente a 2013.
O INE não
quantifica o que é verdadeiramente importante nos passageiros em trânsito e de
que dá duas definições que aparentemente se diferenciam apenas pelo “lapso de
tempo determinado”:
-“passageiro
transfer - Passageiro que utiliza o aeroporto
com o único fim de fazer a sua transferência, para continuação de viagem no
mesmo avião em que chegou ou noutro, mas com diferente número de voo, e dentro de
um período de 24 horas.
-passageiro em trânsito indirecto ou em transferência -
Passageiro que chega à infra-estrutura aeroportuária considerada, numa aeronave
com um determinado número de voo e parte num lapso
de tempo determinado nessa aeronave ou noutra, mas com diferente número de
voo.”.
O que está em causa no aeroporto de Lisboa é termos
informação sobre os passageiros do hub intercontinental da TAP e que são “passageiro
em trânsito indirecto ou em transferência”. Na ausência desta quantificação, um
passageiro Europa/Brasil é contado duas vezes como desembarcado no ‘tráfego
internacional’ e nas ‘companhias nacionais’ – quando desembarca da Europa e no
regresso, quando desembarca do Brasil.
Reconhecemos que, muito provavelmente, esta divulgação
violaria o segredo estatístico ao informar sobre apenas um agente económico, na
ocorrência a TAP.
*Tráfego comercial regular e não
regular
O INE
divulga um terceiro tipo de indicador:
-o do
número de passageiros no tráfego comercial regular e não regular, com detalhe
por companhias nacionais e estrangeiras, mas apenas para o conjunto dos
aeroportos.
Em 2013, o
total do tráfego não regular é de 715 mil passageiros desembarcados, dos quais
691 mil em tráfego internacional – destes, 88,9% são transportados por
companhias estrangeiras.
Sem o
detalhe por aeroporto, pouco mais podemos afirmar para além de Faro poder ser o
aeroporto mais importante, seguido do Funchal.
2.Estatísticas por tipo de tráfego
*Introdução
O INE
define três tipos de tráfego aéreo:
-“tráfego aéreo internacional – Tráfego aéreo efectuado entre o território
nacional e o território de outro Estado ou entre territórios de dois ou mais
Estados em escalas comerciais.
-tráfego
aéreo interior – Tráfego aéreo efectuado no interior do Continente (entre
aeroportos de Porto, Lisboa e faro), assim como dentro de cada uma das Regiões
Autónomas.
-tráfego aéreo territorial – Tráfego aéreo que se realiza entre o Continente
e as Regiões Autónomas ou entre as duas Regiões Autónomas.”.
*Tráfego internacional nos quatro
principais aeroportos
Gráfico 1 – Passageiros
desembarcados em tráfego internacional
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
*Tráfego territorial e interior por
aeroporto dos quatro principais
Até há
muito pouco tempo, o tráfego territorial e interior eram assegurados por
companhias nacionais. Este monopólio deixa de existir no tráfego interior no
Continente /Ryanair a voar entre Porto/Faro e Porto/Lisboa) e no tráfego
territorial (Easyjet no caso da Região Autónoma da Madeira e Easyjet e Ryanair
no caso da Região Autónoma dos Açores).
Na nossa
análise do transporte aéreo até 2014, mantemos a hipótese do monopólio de
companhias nacionais. A partir de 2015, esta simplificação passa a ser
problemática.
Gráfico 2 – Porto: tráfego
territorial e interior
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
Nota – Em 2003 há claramente um erro.
Gráfico 3 – Faro: tráfego interior
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
Nota – O tráfego territorial de Faro é esporádico e
insignificante. O crescimento do tráfego interior a partir de 2010 resulta da
ligação Porto/Faro pela Ryanair.
Gráfico 4 – Funchal: tráfego
territorial e interior
(milhares)Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes
Nota – O tráfego interior do Funchal resulta da ligação
Funchal/Porto Santo.
Gráfico 5 – Lisboa: tráfego
territorial e interior
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
3.Estatísticas por companhias
nacionais e estrangeiras
Gráfico 6 – Porto: passageiros
desembarcados por companhias nacionais e estrangeiras
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas
dos Transportes
Gráfico 7 – Faro: passageiros
desembarcados por companhias nacionais e estrangeiras
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
Nota – As companhias nacionais sempre foram pouco importantes
no tráfego internacional de Faro e parecem estar a caminho da insignificância.
Gráfico 8 – Funchal: passageiros
desembarcados por companhias nacionais e estrangeiras
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
Gráfico 9 – Lisboa: passageiros
desembarcados por companhias nacionais e estrangeiras
(milhares)
Fonte: Elaboração própria com base em INE –
Estatísticas dos Transportes
Nota – Em 2001 há claramente um erro.
4.Propostas simples para melhores estatísticas
-1ª
proposta – o INE, devidamente apoiado pela ANAC disponibiliza
-mensalmente
e duas semanas após o fim do mês, a informação sobre tipo de tráfego e tipo de
companhia, por aeroporto, eventualmente em números e sem meta informação,
-faz o esforço
adicional de detalhar cada tipo de tráfego por companhias nacionais e
estrangeiras.
-2ª
proposta – a ANAC, a exemplo de congéneres estrangeiras, passa divulgar números
anuais, antes do fim de Janeiro do ano seguinte, sobre chegadas e partidas por
aeroporto estrangeiro e quatro aeroportos de Portugal (mais eventualmente Ponta
Delgada).
-3ª
proposta – ‘forças vivas da investigação e estudo do turismo’, apoiadas por
Turismo de Portugal e Confederação do Turismo Português estabelecem um
protocolo com a ANA – Aeroportos para poder utilizar, mediante autorização caso
a caso e garantia de confidencialidade, as estatísticas por aeroporto e
companhia aérea.
Como
manifestação da nossa ingenuidade, chega.
A Bem da
Nação
Lisboa 20
de Abril de 2015
Sérgio
Palma Brito
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