A procura
por deslocações turísticas é o factor que dinamiza (driver) da acessibilidade aérea competitiva a Portugal. Da
insuficiente informação estatística disponível, retemos:
-entre
2004/2007 o INE estima que a média de deslocações turísticas a Portugal por mão
residentes e pela fronteira aérea é de 8.3 milhões, 9.3% abaixo dos 9.1 milhões
de passageiros desembarcados em tráfego aéreo internacional – diferença entre
estimativa de inquérito e contagem administrativa,
-a
prioridade a dar ao turismo receptor e, no seu seio, às deslocações por motivo
de lazer, recreio e férias (70% em 2007), profissionais e negócios (12%) e de
visita a familiares e amigos (15%), estas ligadas sobretudo à mobilidade da
diáspora.
A partir
desta base estatística e informação adicional, estimamos a quota do turismo
receptor no total de passageiros desembarcados em tráfego aéreo internacional
-70% em
Lisboa, 60% no Porto, 93% em Faro, 90% no Funchal e 75% na média dos quatro
aeroportos.
Apesar de
muito limitada, a análise dos hóspedes não residentes no alojamento
classificado e utilizando a fronteira aérea (estimados em 85% do total) mostra
duas tendências com reflexo na conectividade aérea dos aeroportos e sua gestão:
-a partir
de 2005, o número de passageiros desembarcados em turismo receptor cresce mais
rapidamente do que o destes hóspedes, alimentando de maneira crescente o
alojamento turístico não classificado em residência secundária (arrendada ou
por conta própria) e casa de familiares e amigos,
-a quota de
hóspedes residentes na Europa no número total de hóspedes não residentes
diminui de maneira consistente, de 88% em 2003 para 81% em 2013, pela procura
de residentes no Brasil, EUA e Canadá.
*Privatização da TAP e
acessibilidade aérea competitiva a Portugal
A série de
posts sobre Privatização da TAP e acessibilidade aérea competitiva a Portugal
compreende
I Parte
-Deslocações turísticas,
conectividade aérea e aeroportos em Portugal – o presente post
II Parte –
Reestruturação da TAP por accionista Estado ou privado
Três posts
em elaboração
-A TAP no
futuro – reestruturação ou insolvência?
-Reestruturação
da TAP pelo accionista privado
-Reestruturação
da TAP pelo accionista Estado
III Parte –
Processo de privatização da TAP
Três posts
já publicados:
A publicar
-Privatização
da TAP – pontos críticos do Caderno de Encargos
*Informação ao leitor
O leitor
deve
O leitor
mais curioso pode consultar a lista dos posts que temos vindo a publicar sobre
a TAP (aqui).
1.Turismo internacional em Portugal
– quantificação de 2004/2007
*Turismo receptor e emissor entre
2004/2007
No caso de
Portugal
-turismo receptor
resulta de deslocações a Portugal por não residentes, o que inclui as deslocações
da diáspora (emigrantes portugueses e dupla nacionalidade, mais segunda e
terceira gerações)
-turismo
emissor é o que resulta de deslocações ao estrangeiro por residentes em
Portugal, portugueses ou estrangeiros.
A linguagem
corrente refere sempre turistas. Utilizamos a designação deslocação turística
por ser a mais correcta por, ao longo de um ano, a mesma pessoa poder fazer
várias deslocações turísticas (3.a).
Registamos
uma diferença importante para o que segue:
-a
contribuição do turismo para PIB, Balança de Pagamentos (€9.3k milhões em 2013)
e emprego assenta em grande parte no turismo receptor e em menor parte no
turismo interno,
-o turismo
emissor contribui marginalmente para o PIB e negativamente para a Balança de
Pagamentos (€-3.0k milhões em 2013),
-o discurso
e política de turismo dominantes tendem a escamotear esta diferença (3.b).
Os gráficos
1 e 2 ilustram a evolução do turismo emissor e receptor entre 2004/2007 por
fronteira aérea e terrestre (4).
Gráfico 1 –
Turismo receptor entre 2004/2007
(milhões)
Gráfico 2 –
Turismo emissor entre 2004/2007
(milhões)Fonte – Elaboração própria com base em INE, Estatísticas do Turismo e Estatística dos transportes
*Turismo internacional – motivos das
deslocações turísticas
Segundo as
recomendações internacionais sobre Estatísticas de Turismo (5), uma deslocação
turística tem um motivo principal que a justifica. As deslocações turísticas
são quantificadas segundo
-três
motivos principais: i)lazer, recreio e férias, ii)visita a familiares e amigos,
iii)negócios e profissionais,
-um motivo
residual, frequentemente não detalhado e que inclui saúde, educação, religião e
outros.
O gráfico 3
quantifica, entre 2004/2007, as deslocações turísticas de turismo receptor e
emissor, por motivo de deslocação.
Gráfico 3 – Turismo internacional –
motivo de deslocações turísticas
(milhares)Fonte – Elaboração própria com base em INE, Estatísticas do Turismo e Estatística dos transportes
A figura 1
ilustra a nossa avaliação genérica da contribuição do turismo receptor e
emissor para Balança de Pagamentos, PIB e Emprego, segundo o motivo de
deslocação turística (6). O PDF desta figura está disponível aqui.
Fonte – elaboração própria com base em estimativa
informal
3.Turismo internacional e tráfego
aéreo internacional
*Resultados do inquérito de
2004/2007
O gráfico 4
ilustra a comparação, a nível nacional, entre 2004/2007 de
-passageiros
desembarcados de tráfego aéreo internacional, um indicador fidedigno por ser de
origem administrativa,
-deslocações
turísticas do turismo internacional pela fronteira aérea, com base no inquérito
do INE, uma estimativa em média 9.3% abaixo do número de origem na
administração.
Gráfico 4 – Turismo internacional na
fronteira aérea e passageiros desembarcados em tráfego internacional
(milhares)Fonte – Elaboração própria com base em INE, Estatísticas do Turismo e Estatística dos transportes
*Passageiros desembarcados tráfego
internacional – repartição por turismo receptor e emissor
Na ausência
de informação estatística oficial, estimamos a repartição do número de passageiros
desembarcados em tráfego internacional por turismo receptor e emissor, com base
na informação entre 2004/2007 e informações dispersas e informais por diversos
estudos de mercado sobre actividades aeroportuárias:
-quota de
turismo receptor no número de passageiros desembarcados em tráfego
internacional é de 75% a nível nacional, 70% em Lisboa, 60% no Porto, 90% no
Funchal e 93% em Faro (7).
*Turismo receptor pela fronteira
aérea – estimativa 2002/20013
O gráfico 5
ilustra a evolução entre 2002/2013 da estimativa do número de passageiros
desembarcados em tráfego internacional em Portugal, por turismo receptor e
emissor (8). Para o efeito dividimos proporcionalmente o total de passageiros
desembarcados por 75% (turismo receptor) e 25% (turismo emissor)
Gráfico 5 – Passageiros desembarcados
tráfego internacional por turismo receptor e emissor – total nacional
(milhares)
No caso do
aeroporto de Faro (gráfico 6),
-a
estimativa da quota do turismo receptor é de 93% e o número do turismo emissor
compreende também os turistas não residentes que desembarcam e embarcam em Faro
mas estanciam no chamado Algarve espanhol,
-a ausência
de procura por turismo emissor liga o sucesso do aeroporto de Faro ao da
procura externa pela oferta de turismo na região.
Gráfico 6 – Passageiros desembarcados
tráfego internacional por turismo receptor e emissor – aeroporto de Faro
(milhares)
No
aeroporto do Porto há sinergia entre turismo receptor e emissor para criar
massa crítica indispensável à actividade do aeroporto. A estimativa da quota do
turismo receptor é de 60%.
Gráfico 7 – Passageiros desembarcados
tráfego internacional por turismo receptor e emissor – aeroporto do Porto
(milhares)
No
aeroporto do Funchal a estimativa da quota do turismo receptor no total de
passageiros desembarcados em tráfego internacional é de 90%. É o caso em que a
estimativa é mais difícil, mas um erro neste aeroporto tem pouco impacte no
valor nacional.
Gráfico 8 – Passageiros
desembarcados tráfego internacional por turismo receptor e emissor –
aeroporto
do Funchal
(milhares)Fonte – Elaboração própria com base em INE, Estatísticas do Turismo e Estatística dos transportes
No
aeroporto de Lisboa, a estimativa da quota do turismo receptor no total de
passageiros desembarcados em tráfego internacional é de 70%.
Gráfico 9 – Passageiros
desembarcados tráfego internacional por turismo receptor/emissor – aeroporto de
Lisboa
(milhares)
*Integração da informação
A nossa
démarche passo a passo limita o interesse da informação dos cinco gráficos
anteriores. Esta informação ganha importância quando conjugada com a do número
de passageiros desembarcados por companhias aéreas nacionais e estrangeiras.
4.Hóspedes não residentes na
hotelaria e turismo receptor em tráfego aéreo internacional
*Hóspedes não residentes na
hotelaria e turismo receptor em tráfego internacional
O gráfico 10
ilustra a evolução 2002/2013 a nível nacional de
-estimativa
de hóspedes não residentes no alojamento turístico classificado e que utilizam
o avião, estimamos em 85% do total,
-estimativa
de passageiros não
residentes desembarcados em tráfego internacional (deslocações de turismo
receptor), estimados em 75% do total deste tráfego.
A primeira
estimativa assenta na observação e bom senso, procurando não prejudicar a
importância da fronteira aérea. A segunda estimativa resulta do ponto anterior.
Gráfico 10 – Não residentes em
Portugal – hóspedes na hotelaria e passageiros desembarcados em tráfego
internacional
(milhares)
A partir de
meados da década de 2000,
-o número
de passageiros desembarcados em turismo receptor cresce mais rapidamente do que
o de hóspedes não residentes e de tráfego aéreo,
-alimenta
de maneira crescente o alojamento turístico não classificado em residência
secundária (arrendada ou por conta própria) e casa de familiares e amigos.
Em 2013,
-o número
de passageiros que escolhe alojar no alojamento não classificado é estimado em
4.297 milhares,
-o
alojamento gratuito em casa de familiares e amigos e em residência secundária
por conta própria serão as modalidades mais utilizadas, podendo haver ainda
casas arrendadas das chamadas camas paralelas.
Podemos
afirmar que
-o
crescimento de hóspedes na hotelaria não está ameaçado por falta de procura do
turismo receptor em tráfego aéreo internacional.
*Hóspedes na hotelaria por continente
de residência
A macro
análise dos hóspedes na hotelaria por continente de residência é rudimentar mas
revela aspectos importantes da influência sobre a conectividade aérea.
O gráfico
11 mostra que entre 2003/2013 (9), o número de hóspedes na hotelaria
-cresce
31.7% no caso dos residentes na Europa e 150% no caso dos residentes nos outros
países,
-cresce em
valor absoluto 1.528 milhares no caso dos residentes na Europa e 1.004 milhares
no caso dos residentes nos outros continentes.
Gráfico 11 – Hóspedes na hotelaria –
Europa e outros continentes
(milhares)
O gráfico 12
mostra que
-a quota de
hóspedes residentes na Europa no número total de hóspedes não residentes
diminui de maneira consistente, de 88% em 2003 para 81% em 2013.
Gráfico 12 – Hóspedes hotelaria –
quota de hóspedes residentes na Europa no total de hóspedes não residentes
(%)
O gráfico 13
completa os dados anteriores e ilustra a repartição, entre 2003/2013, dos
hóspedes por cada um dos outros continentes.
Gráfico 13 – Hóspedes hotelaria –
repartição por outros continentes
(milhares)
Comentário
-domina e
cresce a América (Norte, Centro e Sul) e destaca-se a Ásia,
-os números
de África são ainda insignificantes e mostram quase ausência de crescimento,
-os
residentes em Angola estão ainda fora das estatísticas do INE, mas têm
importância relevante no crescimento da receita de viagens e turismo na balança
de pagamentos (post
e, post) e justificam atenção especial (post),
-idem para os
residentes na China, com importância decisiva no turismo internacional.
*Hóspedes residentes fora da Europa
por país de residência
O gráfico
14 ilustra a repartição de hóspedes residentes na América por país de
residência. Há três casos diferentes:
-Brasil, o
mais importante e maior ritmo de crescimento,
-EUA, quase
estagnado entre 2001 e 2013, mas crescimento interessante desde 2008 e grande
potencial a exigir atenção,
-Canadá,
quase estagnado desde 2001, mas com algum potencial.
Gráfico 14 – Hóspedes hotelaria
residentes na América – repartição por país
(milhares)Fonte – Elaboração própria com base em INE – Estatísticas dos Transportes
A Bem da
Nação
Lisboa 17
de Fevereiro de 2015
Sérgio
Palma Brito
Notas
(1)Turismo
internacional integra o turismo receptor e o emissor.
(2)Analisamos
o período entre 2002/2013, mas consideramos dois outros períodos de tempo
(2004/2007 e 2003/2013) em função de estatísticas disponíveis pelo INE.
(3.a)Esta
metodologia mostra o erro de análises baseadas em turistas que optariam entre
‘turismo cultural’ e ‘Sol e praia’. A mesma pessoa pode deslocar-se a Portugal
para estanciar na praia, visitar uma cidade em lazer, ou em negócios ou ainda
vir visitar familiares na província – a deslocação turística e a experiência
que cria são situacionais e muito raramente pessoais.
(3.b)Ver
ponto 1.1.Conta Satélite do Turismo em INE, Estatísticas de Turismo de 2007, a
estimativa do Consumo do Turismo Interior. Turismo interior agrega o receptor
(não residentes a deslocar-se em Portugal) e turismo interno (residentes em
Portugal a deslocar-se no País). O INE considera que turismo receptor só inclui
deslocações turísticas por outros motivos que não o de negócios.
(4)O INE
apenas realiza o Inquérito ao Movimento de Pessoas nas Fronteiras entre 2004 e 2007. O Inquérito é
descontinuado em 2008, o que ilustra a indiferença com que governo,
administração, iniciativa privada, universidades e opinião publica pelo facto
do “Travel & Tourism Competitivness Report – 2013, do World Economic Forum,
classifica Portugal em 72º lugar no que respeita à qualidade e cobertura da
informação estatística, disponível para o sector do Turismo.” – citado a partir
de PwC, Desafios do Turismo em Portugal 2014. Ver indicador
5.4.Comprehensivness of anual T&T data em The Travel and Tourism
Competitiveness Report 2013.
(5)Remetemos
o leitor mais curioso para
Quadro Conceptual de 2010 (TSARMF) – Tourism Satellite
Account: Recommended Methodological Framework 2008, United Nations, Department
of Economic and Social Affairs Statistics Division e UNWTO, Eurostat e OECD,
Luxembourg, Madrid, New York, Paris, 2010.
e para
Recomendações de 2010 (IRTS) – International
Recommendations for Tourism Statistics 2008, United Nations, Department of
Economic and Social Affairs Statistics Division e UNWTO (United Nations World
Tourism Organization), New York, 2010.
(6)As
avaliações nesta figura assentam na informação estatística disponível e na
nossa avaliação pessoal sobre a contribuição para a economia do País.
(7)Esta
estimativa parece razoável mas pode ser corrigida por quem disponha de
informação adicional ou interpretação diferente da informação disponível. Não
desceríamos a este nível se o País dispusesse de Inquérito ao Movimento de
Pessoas nas Fronteiras.
(8)O total
é nacional mas o detalhe por aeroporto apenas considera os quatro grandes
aeroportos do turismo em Portugal – a diferença é mínima.
(9)Consideramos
o intervalo 2003/2013 por só a partir de 2007 o INE dar o detalhe de Hóspedes
por Continente.
Sem comentários:
Enviar um comentário