Não TAP a crítica aos erros e omissões do governo na privatização da TAP


Segundo o Público*,

-a “Associação ligada ao movimento Não TAP os Olhos moveu um processo contra o Estado por considerar que o caderno de encargos é ilegal. E espera uma decisão antes que a companhia seja vendida. […]

O Supremo Tribunal Administrativo prepara-se para julgar uma acção e uma providência cautelar interpostas pela Associação Peço a Palavra, ligada ao movimento Não TAP os Olhos, em que se pede que a privatização da transportadora aérea seja suspensa.”.

Esta notícia justifica e inspira os comentários que seguem

*SPAC, PS e Não TAP os Olhos - um duplo fio condutor

As manobras do SPAC, as últimas declarações de António Costa e agora esta acção do movimento Não TAP os Olhos têm um mesmo e duplo fio condutor:

-impedir a privatização da TAP nos termos e tempo decididos pelo governo,

-ignorar ou escamotear as consequências da capitalização da TAP pelo Governo segundo condições da União Europeia – quem viver, verá e não será bonito.

Mesmo no cenário de haver mais de um candidato credível à privatização (no dia 15 de Maio saberemos) estas movimentações podem fazer falhar todo o processo em curso.

Depois saberemos o preço a pagar pelo programa de reestruturação imposto pela União Europeia e implementado pelo accionista estado.

*Apurar responsabilidades

Esta decisão judicial obriga que desde já o governo

-identifique o responsável pela elaboração do Caderno e Encargos,

-e o responsabilize pela defesa em tribunal e por todos os custos para o Estado português.

É um consultor? É a malta do gabinete? É um governante práfrentex? Alguém tem de ser!

*Governo – mentira ou incompetência?

Desde a liberalização dos direitos de tráfego aéreo no espaço comunitário (1993) e da Decisão da Comissão de 1994, sabemos que

-estar obsoleto o modelo/narrativa em que ‘o estado paga’ a TAP que ‘garante’ o “estabelecer ligações permanentes com as comunidades portuguesas mais significativas” e “com os países de expressão oficial portuguesa”, assegurar “transporte para as regiões autónomas” e ser “dinamizador da actividade turística nacional”,

-a TAP tem de ser uma companhia rentável em mercado aberto e sem ajuda do Estado.

Desde 2009, ainda no governo de José Sócrates, a descapitalização da TAP inicia uma trajectória crescente e insustentável. Chegados a uma situação extrema, o governo

-não clarifica a opção entre capitalização pelo accionista estado ou privado,

-não justifica as razões válidas da opção pelo accionista privado como a mais eficiente solução para viabilizar a TAP,

-enrodilha-se em argumentos falaciosos sobre ‘serviço público’ e ‘garantias’ e não é capaz de dizer a verdade.

Teria sido muito mais simples e honesto o governo explicar uma opção

-o accionista privado, judiciosamente escolhido, é o que mais eficientemente faz da TAP uma companhia rentável em mercado aberto e sem ajuda do Estado.

*’o accionista privado garante’

Ainda não esquecemos as declarações de governantes sobre o accionista privado ‘garante’ num estapafúrdio remake do ‘garante’ da obsoleta ‘transportadora aérea nacional’.

Pois bem! O movimento Não TAP os Olhos apanha o governo em contrapé. A realidade é simples

-só a competitividade da TAP, publica ou privada, pode garantir rotas, hub, base de Lisboa, marca e tudo o resto,

-nenhum accionista pode ‘garantir’ o que o caderno de encargos exige e exige numa redacção cinzenta e com erros de semântica.

Esta é a base da providência cautelar e da acção em tribunal.

*Mais concretamente, os argumentos do Movimento

Segundo o Publico

-o caderno de encargos que serve de base à venda da transportadora aérea está “enfermado de ilegalidades e de cláusulas abusivas que serão impossíveis de cumprir pelo comprador”,

-entre as cláusulas consideradas ilegais está o requisito, imposto ao investidor privado no caderno de encargos, de manutenção da sede da TAP em Portugal, porque “atenta contra o direito de livre estabelecimento”, previsto no Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia,

-outro dos requisitos previstos no caderno de encargos, que obriga à manutenção da direcção da TAP em Portugal, “além de ilegal é impossível de controlar”.

O governo enleou-se em falsas garantias para iludir os portugueses. Agora tem a resposta de quem quis iludir.

*Supra sumo de apanhar o governo em contra pé – Serviço Público

Voltamos a citar o Publico

-Outra cláusula contestada nesta acção é a que diz respeito à capacidade para assegurar as obrigações de serviço público da companhia de aviação. Algo que a associação considera que atenta contra “o princípio da livre prestação de serviços”, igualmente previsto no Tratado da União Europeia, bem contra o direito a “decidir e definir qual a estratégia empresarial”.

Mil vezes criticámos o governo por iludir os portugueses com a referência a uma noção de ‘serviço público’ que

-não existe e, pior, liga com a de Obrigação de Serviço Público formalizada por regras da União Europeia e de Portugal e é já arcaica com a recente liberalização da rotas entre o Continente e os Açores,

-é incompatível com a exigência da TAP ser rentável em mercado aberto e sem ajuda do estado – esta evidência não tem sido suficientemente afirmada.

*Supra sumo de apanhar o governo em contra pé – o hub de Lisboa

Voltamos a citar o Publico

-Este argumento está directamente ligado ao que põe em causa outro requisito do caderno de encargos: a manutenção e desenvolvimento do actual hub (placa giratória) de Lisboa. “É ilegal e impossível”, já que “se a desistência de rotas depende apenas da estratégia da empresa, a manutenção de rotas, que garantam o hub, não depende exclusivamente da empresa”, considera-se na acção.

O governo neo liberal e um ministro vindo da iniciativa privada passam pelo enxovalho de ser um movimento contestatário a defender o abc da gestão:

-o hub é indispensável à TAP como a conhecemos, sem hub esta TAP desaparece e a que poderá substituir não resistirá à concorrência nas rotas intra europeias,

-de novo, só a competitividade da TAP pode garantir a sustentabilidade do hub, do qual depende.

*Nota final

O processo de privatização da TAP será recordado durante muitos e bons (ou maus, ou péssimos) anos.

E durante esses anos, todos terão de responder à pegunta:

-onde estava quando a TAP andou para ser privatizada.

 

A Bem da Nação

Lisboa 11 de Maio de 2015

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