TAP com 46 milhões de euros de resultado líquido negativo em 2014


O presente post é um comentário rápido ao resultado liquido da TAP SA em 2014. É raro este blogue fazer comentários pontuais, mas as circunstâncias exigem que o façamos.

A redacção deste post não seria possível sem a pesquiza e análise que temos vindo a consagrar à acessibilidade aérea a Portugal na qual a TAP se integra (aqui). As opiniões aqui expressas ainda podem ser objecto de alguma revisão, fruto desta análise ainda em curso.

 

*Informação ao leitor
O leitor deve

-estar informado sobre os Princípios Gerais do blogue.

O leitor mais curioso pode consultar a lista dos posts que temos vindo a publicar sobre a TAP (aqui).

 

*O prejuízo de 2014 no contexto dos anos de gestão profissional da TAP (2001/2014)
A TAP SA (não confundir com TAP SA SGPS, vulgo Grupo TAP) anunciou um resultado líquido negativo de €-46 milhões.

O resultado não é brilhante, mas deve ser compreendido no contexto dos catorze anos de gestão profissional da TAP, entre 2001 e 2014 (gráfico 1). Do gráfico retemos:

-depois da estabilização da empresa pela gestão profissional, a evolução positiva entre 2007/2013 é interrompida pelo desastre de 2008, seguida de recuperação com queda em 2011 e retoma em 2012 e 2013, agora interrompida pelo prejuízo de 2014,

-o desastre de 2008 é exemplo de resultado anómalo corrente na aviação civil e para o qual os accionistas de uma companhia aérea têm de estar preoarados,

-o resultado líquido acumulado entre 2001/2014 é de €-47.5 milhões e mostra uma empresa ainda frágil [ver a seguir].

Gráfico 1 – Resultado líquido da TAP SA entre 2001/2013
€milhões)



Fonte: Elaboração própria com base em Grupo TAP – Relatórios anuais

*Esclarecer dois mitos urbanos
A evolução entre 2001/2014 mostra a fragilidade

-de argumentos ‘pró TAP publica’ da TAP SA dar lucro desde 2009, omitindo o resultado líquido de €-209 milhões em 2008 e o acumulado entre 2001/2014 ser de €-47.5 milhões,

-da análise de Fernando Pinto durante a recente conferência de imprensa, quando considera o resultado de 2014 como um incidente na tendência de resultados positivos da TAP SA desde 2009, a tendência tem de recuar a 2001.

*Sobre a gestão profissional da TAP SA e Grupo TAP

A avaliação da gestão profissional da TAP entrou no turbilhão da zaragata sobre a privatização da TAP, com os sindicatos a dela dizerem o pior e os defensores da ‘TAP publica’ a excederem-se em elogios.

Em nossa avaliação, o essencial do mérito da gestão profissional é

-ter evitado a falência da TAP na senda dos resultados negativos de 1998 e 1999, o que não é pouca coisa,  

-a criação do hub intercontinental de Lisboa, sem o qual não existiria a TAP que conhecemos ou não existiria mesmo TAP,

-entre 2001/2013, o número de passageiros ter sido multiplicado por dois e o de KPUs por quase três (2.8, para sermos precisos) – no indicador operacional mais significativo, a gestão profissional acrescenta quase ‘duas TAPs’ à TAP de 2000.

A fraqueza do ‘accionista estado político partidário português’ explica muitas das limitações da gestão profissional ao

-permitir a descapitalização da empresa, desde 2001 até ao ponto de ruptura da actualidade (para não recuar mais no tempo),

-manter o desequilíbrio patológico no que deveria ser uma dinâmica virtuosa na relação entre accionista, gestão e trabalhadores,

-aceitar o desaparecer do ‘retorno para os investidores’, simultaneamente consequência e dinamizador desta dinâmica virtuosa.

O que desde sempre condiciona/impede o sucesso da TAP não é o mérito ou demérito da gestão profissional de 2001/2014, mas sim a intrínseca incapacidade do accionista ‘estado politico partidário português’. Esta crítica é focada e não ideológica; entre outros, reconhecemos o mérito do accionista estado da Ethiopian Airlines, com o seu hub de Adis Abeba.

*TAP, Finnair e Aer Lingus
Há duas companhias europeias que partilham com a TAP uma operação europeia de curto alcance e um hub especializado de ligações intercontinentais:

-com os Estados Unidos, caso da Aer Lingus com 15 mil milhões de KPU e 10 milhões de passageiros,

-com a Ásia, caso da Finnair com 25 mil milhões de KPU e 9 milhões de passageiros.

Estes números comparam com 28 mil milhões de KPU da TAP e 11 milhões de passageiros.

O gráfico 2 ilustra a evolução do resultado líquido de TAP, Finnair e Aer Lingus. Deste gráfico retemos:

-a volatilidade dos resultados e alguma correlação na sua evolução,

-anos de resultados extremos, positivos ou negativos.

O resultado líquido acumulado não é brilhante em qualquer dos casos, pois

-entre 2001/2014 é na TAP de €-47.5 milhões,

-entre 2003/2014 é na Finnair de €-118,6 milhões,

-entre 2001/2013 é na Aer Lingus de €-90,9 milhões.

Gráfico 2 – Resultado líquido de TAP, Finnair e Aer Lingus
(€milhões)



Fonte: Elaboração própria com base nos relatórios anuais (TAP) e Wikipedia (Finnair e Aer Lingus)

 

A Bem da Nação

Lisboa 26 de Março de 2015

Sérgio Palma Brito

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