Contribuição do Alojamento Não Classificado Para a Economia


O presente post é o Quinto de uma série de cinco (Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto, Quinto) sobre o tema:

Alojamento Turístico Não Classificado no Após Crise de 2008/2009

Esta é a Segunda de três Séries de posts:

-Camas Paralelas na Cidade – Quando Factos Contrariam Narrativas (Primeira),

-Alojamento Turístico Não Classificado no Após Crise de 2008/2009,

-Modelo e Identificação do Turismo Residencial em Portugal (Terceira).

 

Explicação Prévia

A Contribuição do Turismo Para a Economia tem ver com Balança de Pagamentos, PIB e Emprego. Um primeiro Relatório sobre o assunto (Aqui) mostra a dificuldade em quantificar esta Contribuição e a fragilidade dos números utilizados pelas mais diversas intervenções sobre Turismo.

A Contribuição do Alojamento Turístico, Classificado ou Não, Para a Economia tem duas componentes

-a mais directa é a da Despesa dos Hóspedes no seio do Estabelecimento ou Instalação em que alojam,

-a mais significativa é indirecta e resulta da Despesa dos Hóspedes fora do Estabelecimento ou Instalação em que alojam.

A falta de Informação Estatística e Conta Satélite do Turismo limita-nos a apenas

-apresentar factos sobre a Contribuição dos Hóspedes do Alojamento Turístico Não Classificado para Receita de Turismo na Balança de Pagamentos, Produto Interno Bruto, Emprego e Desenvolvimento Regional.

Com efeito, o presente post pretende ilustrar duas afirmações:

-os Hóspedes que escolhem o Alojamento Não Classificado têm influência significativa na Contribuição do Turismo Para a Economia,

-qualquer Politica que vise maximizar a Contribuição do Turismo Para a Economia, tem de fomentar/facilitar a criação de Valor pelos Estabelecimentos e Instalações do Alojamento Não Classificado, com destaque para os de Turismo Residencial.

Destes dois factos resulta uma conclusão:

-a Politica de Turismo que ignora/hostiliza o Alojamento Não Classificado, com destaque para o Turismo Residencial, não defende o Interesse Público.

 

1.Síntese das Observações e Análise

*Receita de Turismo na Balança de Pagamentos
Os €9.250 milhões de Receita de Viagens e turismo exigem o contributo dos cerca de 42% de Turistas Não Residentes que escolhem o Alojamento Não Classificado, com destaque para os Emigrantes Portugueses – uma regra de três simples dá €3.885 milhões.

A Receita não quantificada do Investimento Directo de Não Residentes em Residências Secundárias é gerada exclusivamente por Turistas do Alojamento Não Classificado.

O mesmo acontece com a Receita não quantificada de Transferências do Exterior Para Reformados Ex Não Residentes.

No caso da Receita de Transportes Aéreos Internacionais de Passageiros (sobretudo TAP), o contributo dos Turistas do Alojamento Não Classificado é similar ao da Receita de Viagens e Turismo, mais o aspecto qualitativo de contribuírem para a massa crítica indispensável ao Transpor Aéreo.

*Contribuição Para o PIB
Apenas encontramos quantificação parcelar e subavaliada do Alojamento em Residência Secundária Por Conta Própria:

-em 2005, dos €4.54 mil milhões do Valor Acrescentado Gerado por Industrias Características do Turismo, temos €1,47 mil milhões de Hotéis e Similares e € 443 milhões de Residência Secundária por Conta Própria.

-em 2005, a Formação Bruta de Capital Fixo é €545 milhões em Hotéis e Similares e de €622 milhões em Residências Secundárias Por Conta Própria.

*Emprego
Na Contribuição do Alojamento Turístico Para o Emprego,

-há um dado comum ao Alojamento Classificado e Não Classificado: a maior parte do Emprego é gerado fora do Estabelecimento ou Instalação onde alojam os Turistas,

-esta parte é ainda maior no caso do Alojamento Não Classificado porque há mais funções externalizadas (jardins, piscinas, segurança etc.).

A Conta Satélite do Turismo não quantifica a contribuição da Residência Secundária Para o Emprego Directo. No caso do Turismo Interno (ATCN2), sabemos que, entre 2009/2011,

-a Procura por Dormidas em Residências Secundárias de Utilização Turística representa cerca de 19 milhões de Dormidas, em comparação com cerca de 13 milhões de Dormidas no Alojamento Classificado.

Podemos concluir que o Contributo do Alojamento Não Classificado Para o Emprego não é inferior ao do Alojamento Classificado.

*Desenvolvimento Regional
Consideremos dois factos:

-o muito importante número de Dormidas do Turismo Interno em Alojamento Gratuito Por Familiares e Amigos e Residência Secundária Por Conta Própria nas Regiões do Êxodo Rural,

-a cautelosa extrapolação deste número para o Turismo Receptor.

Com base nestes factos, podemos sugerir que

-os Hóspedes do Alojamento Turístico Não Classificado desempenham um papel importante na Transferência de Recursos do Exterior para o território do Êxodo Rural.

Esta sugestão exige investigação adicional (desde logo, analisar a repartição por Freguesia das Residências Secundárias do Recenseamento) sobre o impacte no desenvolvimento Regional, mas há indícios fortes de não ser descabida. 

Admitimos que Desenvolvimento possa ser substituído por ‘menor desertificação e melhoria da qualidade de vida local’.

 
Os Pontos 2 a 5 são a Base Analítica da Síntese

 

2.Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos

2.1.Receita da Rúbrica de Viagens e Turismo

*Receita de Viagens e Turismo e Proveitos Totais da Hotelaria
O Gráfico 1 é já um clássico. Mostra a evolução 1996/2013 da Receita de Viagens e Turismo e dos Proveitos Totais de Não Residentes e de Residentes no Alojamento Turístico Classificado.

Retemos um facto já analisado antes (Aqui)

-um facto: a Receita de Viagens e Turismo tem valor e ritmo de crescimento muito superiores aos dos Proveitos do Alojamento Classificado.

Esta dupla diferença e os cerca da 42% de Turistas Não Residentes a escolher o ATNC (Segundo) implicam que

-os €9.250 milhões da Receita de viagens e Turismo exigem o contributo dos cerca de 42% de Turistas Não Residentes que escolhem o Alojamento Não Classificado, com destaque para os Emigrantes Portugueses.

Gráfico 1 – Receitas de Viagens e Turismo e Proveitos Totais no Alojamento Turístico Classificado (1996/2013)
(€mil milhões)


Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

Com base nos dois gráficos, concluímos que o valor anual e crescimento

 

2.2.Outras Rúbricas da Receita de Viagens e Turismo

*Residência Secundária – Investimento Directo de Não Residentes 
Está em causa

-quantificar o “Investimento imobiliário do exterior em Portugal Operações de aquisição/alienação, por não residentes, de bens imobiliários situados em território nacional.” (1),

-identificar e quantificar o valor das Transferências do Exterior para financiar as despesas com a Administração das Residências Secundárias.

Esta parcela da Receita de Turismo na Balança de Pagamentos é gerada exclusivamente por Turistas do Alojamento Não Classificado.

*Rúbrica de Transportes Internacionais de Passageiros
A rubrica “Transportes” da Balança de Pagamentos integra, entre outros, Transportes Marítimos, Aéreos, Ferroviários e Rodoviários. Os Transportes Aéreos são particularmente relevantes e está em causa a quantificação formal de uma realidade já conhecida:

-“Em 2011, o Grupo TAP viu reforçado o posicionamento do seu contributo para o volume das exportações nacionais, com uma contribuição global de EUR 2.063,5 milhões, em vendas e prestações de serviços no mercado externo, mais 15,7% que em 2010.” (2).

Esta parcela da Receita de Turismo na Balança de Pagamentos é, em proporção que desconhecemos, gerada por Turistas que escolhem o Alojamento Turístico Não Classificado.

*Transferências do Exterior Para Reformados Ex Não Residentes
Desconhecemos o valor que está em causa, mas o seu potencial justifica que a Politica de Turismo se preocupe com

-identificar as transferências para Reformados ex Não Residentes, e que imigram formalmente para Portugal,

-conhecer melhor o caso dos que de entre estes Reformados foram ex Emigrantes Portugueses.

Esta parcela da Receita de Turismo na Balança de Pagamentos é toda gerada por Turistas do Alojamento Não Classificado, de acordo com a visão mais larga da Economia do Turismo [Ponto 2.3 de Primeiro].

 

3.Contribuição do Turismo Para o PIB

*Valor Acrescentado Gerado Pelo Turismo em Percentagem do PIB
A Contribuição Directa do Turismo Para o PIB é medida pelo Valor Acrescentado Gerado Pelo Turismo. O Gráfico 2 ilustra evolução 2000/2009 do Valor Acrescentado Gerado Pelo Turismo.

A Contribuição Indirecta e Induzida do Turismo para o PIB representam uma percentagem superior, mas não são calculadas pelo INE (3).

Em Percentagem do Produto Interno Bruto entre. Constatamos:

-a percentagem passa de 3.6% a 3.7% entre 2000 e 2009 e está sempre abaixo de 4%, excepto em 2001, quando é de 4.3%,

-esta ordem de grandeza parece questionar o fundamento de ‘percentagens do Turismo no PIB’ na ordem dos dois dígitos, tão frequentes nas intervenções sobre Turismo.

Gráfico 2 – Valor Acrescentado Gerado Pelo Turismo
(€mil mihões)


Fonte: Elaboração própria com base em INE - Conta Satélite do Turismo 2000-2010 e Valor do PIB

Deixamos em aberto duas perguntas:

-o Valor Acrescentado Gerado Pelo Turismo é ou não o que melhor mede a Contribuição Directa do Turismo para o PIB?

-quais são as fontes das várias percentagens a dois dígitos da ‘contribuição do Turismo para o PIB’, frequentes no discurso corrente sobre Turismo?

*Valor Acrescentado Gerado Por Industrias Características
O Gráfico 3 ilustra a repartição do Valor Acrescentado Gerado em 2005 (€4.54 mil milhões) por Industrias Características do Turismo. Comentário:

-contrariamente ao que acontece no caso da Contribuição Para o Emprego [ver a seguir], a Industria mais relevante é a de Hotéis e Similares,

-o Valor da Industria das Residências Secundárias Por Conta Própria parece estar subavaliado. 

Gráfico 3 – Valor Acrescentado Gerado Por Industrias Características do Turismo (2005)
(€mil milhões)

 
Fonte: Elaboração própria com base em INE - Conta Satélite do Turismo 2000-2010

 

3.2.Formação Bruta de Capital Fixo

Quantificamos apenas a Formação Bruta de Capital Fixo por Hotéis e similares e Residências Secundárias por Conta Própria. O Gráfico 4 ilustra os números disponibilizados pela Conta Satélite do Turismo (4).

Gráfico 4 – Formação Bruta de Capital Fixo em Duas Actividades Características do Turismo
(€milhões)


Fonte: Elaboração própria com base em INE - Conta Satélite do Turismo 2000-2010

Entre 2000/2007, o valor médio anual da Formação Bruta de Capital Fixo é

-€545 milhões em Hotéis e Similares,

-€622 milhões em Residências Secundárias Por Conta Própria.

 

4.Contribuição do Turismo Para o Emprego

*Introdução
Na Contribuição do Alojamento Turístico Para o Emprego,

-há um dado comum ao Alojamento Classificado e Não Classificado: a maior parte do Emprego é gerado fora do Estabelecimento ou Instalação onde alojam os Turistas,

-esta parte é ainda maior no caso do Alojamento Não Classificado porque há mais funções externalizadas (jardins, piscinas, segurança etc.).

*Total de ETCs em Actividades Características do Turismo
O Gráfico 5 ilustra a evolução entre 2000/2005 do Total de Equivalentes Tempo Completo Remunerados em quatro Actividades Características do Turismo.

Gráfico 5 – Equivalentes Tempo Completo Remunerados em Actividades Características do Turismo
(milhares)

 
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Conta Satélite do Turismo 2000-2010

 
*Emprego Por Quatro Industrias Características do Turismo
O Gráfico 6 ilustra a evolução entre 2000/2005 do Total de Equivalentes Tempo Completo Remunerados em Actividades Características do Turismo.

Gráfico 6 - Equivalente Tempo Completo em Quatro Industrias Características do Turismo
(milhares)                                           
 

Fonte: Elaboração própria com base em INE – Conta Satélite do Turismo 2000-2010

*Emprego por Industrias Características do Turismo (2005)
O Gráfico 7 ilustra o número de Equivalentes Tempo Completo Remunerados, por Industrias Características do Turismo, em 2005.

Comentários:

-do Total de 353.2 mil ETCs apenas 55.3 mil (15.7%) trabalham nos Hotéis e Similares – os restantes 84.3% trabalham no exterior,

-os Restaurantes e Similares têm um contributo decisivo (174.1 mil ETCs) e as Agências de Viagem um contributo reduzido (8,5 mil ETCs),

-o número referente às Residências Secundárias não é tido em conta.

Gráfico 7 – Equivalentes Tempo Completo por Industrias Características do Turismo (2005)
(milhares)


*Nota – ETCs remunerados

Fonte: Elaboração própria com base em INE - Conta Satélite do Turismo 2000-2010

*Em Síntese

A Conta Satélite do Turismo não quantifica a contribuição da Residência Secundária Para o Emprego Directo. No caso do Turismo Interno (Terceiro), sabemos que, entre 2009/2011,

-a Procura por Dormidas em Residências Secundárias de Utilização Turística representa cerca de 19 milhões de Dormidas, em comparação com cerca de 13 milhões de Dormidas no Alojamento Classificado.

Podemos concluir que o Contributo do Alojamento Não Classificado Para o Emprego não é inferior ao do Alojamento Classificado.

 

5.Turismo e Desenvolvimento Regional

*Realidade da Politica de Turismo ‘de Facto’
Na análise de Residências Secundárias de Utilização Turística (Terceiro), identificamos duas dinâmicas que importa recordar:

-a mais antiga data da década de 1950 e resulta do Êxodo Rural ligado à Urbanização da População,

-a da década de 1960 resulta do Êxodo Rural ligado à Emigração para a Europa.

A Urbanização da População do êxodo Rural, em Portugal ou no estrangeiro, cria as condições da Formação da Procura por Alojamento Não Classificado no território do Êxodo Rural.

Esta é a base para explicar dois factos:

-Norte e Centro representam 61.7% dos 1.099 milhares de Residências Secundárias do Continente,

-depois de quase meio século de crescimento do Turismo, o Algarve apenas tem mais de 47.5% das Residências Secundárias do Alentejo.

*Repartição Regional das Dormidas do Turismo Interno
O Gráfico 8 ilustra a Repartição Regional em 2012 das Dormidas do Turismo Interno no Alojamento Classificado e Não Classificado.

Gráfico 8 – Dormidas do Turismo Interno no Alojamento Classificado e Não Classificado – Repartição Regional (2012)
(milhões)
 

Fonte: Elaboração própria com base em INE - Estatísticas de Turismo

*Em Síntese
A conjugação dos dados anteriores sobre o Turismo Interno e a cautelosa extrapolação para o Turismo Receptor leva-nos a sugerir que

-os Hóspedes do Alojamento Turístico Não Classificado desempenham um papel importante na Transferência de Recursos do Exterior para o território do Êxodo Rural.

Esta sugestão exige investigação adicional (desde logo, analisar a repartição por Freguesia das Residências Secundárias do Recenseamento) sobre o impacte no desenvolvimento Regional, mas há indícios fortes de não ser descabida. 

Admitimos que Desenvolvimento possa ser substituído por ‘menor desertificação e melhoria da qualidade de vida local’.

 
A Bem da Nação

Albufeira 1 de Abril de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Ver Manual de Procedimentos do Banco de Portugal (Ponto 722).

(2)Grupo TAP, Relatório e Contas referente a 2011, p. 30.

(3)Em Post futuro, explicamos a diferença entre Contribuição Directa e Indirecta do Turismo Para o PIB. O leitor mais interessado pode consultar as Recomendações pertinentes: Tourism Satellite Account: Recommended Methodological Framework 2008, United Nations, Department of Economic and Social Affairs Statistics Division e UNWTO, Eurostat e OECD, Luxembourg, Madrid, New York, Paris, 2010.


(4)Insistimos na necessidade de análise crítica dos números e, em particular, confirmar a subavaliação do valor das Residências Secundárias.

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