Consta que o
Parlamento se ocupa hoje do que o mainstream
imagina serem os problemas da TAP. Aproveitamos a deixa para informar os
leitores sobre a situação dramática a que a TAP chegou, a negação da realidade
que a isso a conduziu e a parceria estratégica com o Estado que a pode salvar.
*Conhecer o que está em causa –
resultados do Grupo TAP
Para
princípio de conversa e de qualquer ângulo que se aborde a TAP, não podemos
ignorar esta singela dimensão do desastre que a espreita:
-o valor do
‘resultado líquido acumulado’ entre 2003/2015 da TAP e das outras empresas do
Grupo aqui revelado pelo gráfico seguinte (1):
Gráfico
1 – Grupo TAP, resultado líquido acumulado entre 2003/2015
(€milhões)
Fonte: Elaboração própria com base em Grupo TAP,
relatórios anuais
O factor
mais decisivo na formação destes resultados reside na negação da realidade do
mercado e regulação em que a TAP actua por todos os que tiveram poder para
intervir na empresa.
*Qual realidade de mercado e
regulação é negada desde 1993?
Com o 25 de
Abril a TAP perde a função de soberania e metamorfoseia-se na fábula com duas
faces da ‘transportadora aérea nacional’:
-modelo de
negócio irresponsável: ‘o Estado paga’ permite à empresa receber fundos
públicos, acumular prejuízos sistemáticos e não ser objecto da transformação
profunda de que carece,
-sublimação
da irresponsabilidade: a TAP garante “estabelecer ligações permanentes com as
comunidades portuguesas mais significativas” e “com os países de expressão
oficial portuguesa”, assegurar “transporte para as regiões autónomas” e ser
“dinamizador da actividade turística nacional”.
Em 1 de
Janeiro de 1993, a liberalização do transporte aéreo no espaço da então
Comunidade Europeia
-transforma
a TAP numa transportadora aérea europeia que opera em mercado muito competitivo,
aberto à concorrência e sem ajuda do Estado,
-destrói o
binómio ‘Estado paga e TAP garante’ em que assenta a fábula da ‘transportadora
aérea nacional’.
No ano
charneira de 1994, a Comissão autoriza o aumento de capital da TAP no valor
actual de €1,4 mil milhões. Em Portugal ninguém leva o assunto a sério, e em
2000 a empresa está de novo à beira da falência que nem sequer o Estado pode
evitar.
O gráfico 2 ilustra o custo anual e o total da factura dos vinte e
cinco anos da fábula com duas faces:
-entre 1976
e 2000, o resultado líquido acumulado da TAP, actualizado a valor de 2014, é de
€-2,9 mil milhões.
Gráfico 2 – TAP -Resultado líquido
do exercício entre 1976/2000
(€milhões, actualizados a 2014)
Fonte: Elaboração própria com base nos relatórios
anuais da TAP EP e SA, actualizado pelo índice da Pordata
*Como a realidade continuou a ser
ignorada até à exaustão de 2015
Em 2000 e
no âmbito da falhada privatização da TAP com a Swissair, o então ministro Jorge
Joelho escolhe a equipa de gestores profissionais que evita a falência da empresa
e a gere (ou, melhor, aguenta) até hoje.
Como a
gestão profissional ‘aguenta’ a empresa, o accionista estado ignora dois dos
seus deveres elementares: i)impor
à gestão da TAP o rigor de remunerar o capital nela investido; ii)capitalizar a empresa e evitar que
esta sobreviva em condições inaceitáveis de investimento e tesouraria.
A situação
da TAP agrava-se em 2014/2015 e falência volta a ser eminente. Privatizar ou
não a TAP consiste de facto em decidir sobre quem a reestrutura e capitaliza:
ou o accionista privado segundo as regras do mercado, ou o accionista Estado
com desastrosa reestruturação imposta pela União Europeia.
Durante
estes quinze anos de vida da TAP SA
-o ‘resultado
líquido do exercício acumulado’ da empresa é de €-147,2 milhões, dos quais
€-145,7 milhões em 2014 e 2015 (2).
Gráfico
3 – Resultado líquido do exercício entre 2001/2015
(€milhões)
Fonte: Fonte: Elaboração própria com base em Grupo
TAP, relatórios anuais
*O governo do PS e a TAP em 2016
A imposição
do governo PS sobre capital e gestão estratégica da TAP perturba o funcionamento
normal de uma companhia aérea privada como são quase todas as concorrentes. Este
handicap é um facto, mas por muito isenta que seja a intervenção do accionista Estado,
há que estar sempre atento ao que impõe.
Algum
benefício a presença do Estado terá e já resistiu à primeira tentativa de
interferência politica forte na gestão de rotas e do hub de que depende a
sobrevivência da TAP.
A maneira
como é aceite a serôdia participação da HNA no capital da TAP e as perspectivas
que abre são outro teste positivo.
O teste
maior desta estrutura accionista é afinal o da própria empresa e tem a ver com
a sustentabilidade do hub intercontinental dependente do Brasil e do qual a
existência da TAP depende. O presidente da Câmara do Porto não quis ou não foi
capaz de perceber que vivemos tempos de ‘Tudo pelo hub, Nada contra o hub’.
*Evolução do Grupo TAP e das outras
empresas do grupo
Para
informação e deleite do leitor mais curioso publicamos a actualização a 2015 da
evolução 2003/2015 do resultado líquido do exercício do Grupo TAP e das outras
empresas do grupo.
Gráfico
4 – TAP SGPS - Resultado líquido do exercício
(€milhões)
Fonte: Fonte: Elaboração própria com base em
Grupo TAP, relatórios anuais
A SPdH SA, conhecida pela marca Groundforce de serviços
de assistência em terra, é um caso significativo, porque
-inverte uma sucessão insustentável de prejuízos no
seguimento de privatização imposta por regras da União Europeia a qual implica
um despedimento colectivo em Faro e alteração radical do regime de trabalho
herdado do tempo em que esta actividade era um departamento da TAP.
Gráfico
5 – SPdH SA - Resultado líquido do exercício
(€milhões)
Fonte: Fonte: Elaboração própria com base em
Grupo TAP, relatórios anuais
Sobre a Manutenção
Brasil continuamos a ignorar até que ponto
-a sua
aquisição pela TAP foi parte do generoso acordo bilateral de tráfego aéreo
entre Portugal e Brasil, que dá à TAP acesso a número aparentemente ilimitado
de aeroportos brasileiros … em troca de Lisboa e pouco mais,
-os prejuízos
anuais resultam de limitação local ao impor de boas regras de gestão pela TAP.
Certo é o
ano de 2015 desmentir o anunciado equilíbrio de contas da Manutenção Brasil.
Gráfico
6 – Manutenção Brasil - Resultado líquido do exercício
(€milhões)
Fonte: Fonte: Elaboração própria com base em
Grupo TAP, relatórios anuais
A Bem da
Nação
Lisboa 14
de Junho de 2014
Sérgio
Palma Brito
Notas
(1)O Grupo TAP é formado em 2003. Por coerência
contamos o resultado líquido da TAP SA desde 2003. No gráfico 3 contamos o
resultado líquido desde 2001, primeiro ano em que gere a TAP.
(2)Não adianta falar da imputação em 2015 de €vv
milhões da Venezuela. Prejuízo em 2015, foram contabilizados como lucro em
exercícios anteriores.
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